À Primeira Vista escrita por Sr Castiel


Capítulo 2
Capítulo I - Dylan - Preocupado


Notas iniciais do capítulo

Daqui para frente vai mudar um pouco, pessoal. Quem vai narrar os capítulos a partir de agora serão os dois personagens principais: Dylan e Nôah. Ele narra um e ela o seguinte, seguindo um padrão regular.
Esse capítulo é na perspectiva de Dylan. Espero que gostem dele. Deixem comentários quando acabarem de ler. Ah! E divulguem, pessoal. Quanto mais pessoas lerem, melhor e mais críticas eu recebo. Assim, eu posso melhorar em alguma coisa se você acharem que precisa! Isso incentiva muito!!!
Obrigado e divirtam-se! :)



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Capítulo I

Dylan

/Preocupado/

“Convicção – palavra que permite pôr, com a consciência tranquila, o tom da força a serviço da incerteza.”

Paul Valéry

Londres, algum lugar perto da floresta de pinheiros.

19 anos depois

DYLAN NÃO SABIA EXATAMENTE ONDE ESTAVA.

Ultimamente sua transformação para a forma de lobo estava muito mais fácil de controlar e isso o assustava ao mesmo tempo que o extasiava.

Sua vida mudou drasticamente quando, aos seus dezessete anos, seu pai lhe contou da “herança sanguínea” que recebiam quase todas as proles descendentes de seus ancestrais. Mas a Transformação não se limitava apenas à sua família, sendo possível que muitas famílias se entrelaçavam de muitas formas possíveis até mesmo tendo um mínimo de sangue ancestral, o que resultava a um lobo escondendo-se abaixo da superfície que é a pele humana.

A Transformação podia se manifestar de várias formas diferentes, desde uma situação de pura fúria até quando é preciso salvar alguém que está em uma situação de risco. Mas não eram com todos da família que acontecia, segundo seu pai. Dylan sabia que só ele e o pai de sua família podiam se transformar. Essa era a parte complicada e Dylan não se envolvia com esse tipo de coisa. Deixava para seu pai; líder da matilha formada por poderosos homens lobo. Eram um total de vinte e cinco.

Dylan ainda tinha muitas perguntas sobre a Transformação. Perguntas que, para ele, não tinham explicação. Como podia ser possível um lobo de quase três vezes a sua massa corporal irromper dele quando simplesmente se concentrava? Era esse tipo de coisa que não entrava em sua mente, mas a euforia da Transformação rapidamente jogava para segundo plano.

Sua forma de lobo era muito bonita. Dylan não sabia exatamente de onde vinha aquela cor, mas era um azul intensamente escuro, muitas vezes confundido com o preto da pelagem que seu pai tinha na transformação. Uma vez, seu pai lhe dissera que não havia regra exata para a origem da cor da pelagem do lobo, mas seu ele reconhecera a cor de Dylan assim que a viu. Seu pai dissera que identificava aquela cor sempre que estava acordado antes de o sol nascer, que ela aparecia no céu por apenas alguns segundos antes de este se tingir das cores fortes e quentes do despertar do sol. Ele era enorme, maior que um humano adulto em pé. Seus olhos eram do mesmo tom azul elétrico de quando era humano.

Dylan não costumava prestar muita atenção nas fronteiras, por isso, quando era sua vez de fazer a patrulha para a matilha, ele sempre se via mais longe do que devia ou podia ir. Seu pai já lhe dissera para se acalmar e se controlar, ele não podia ir muito longe. Na primeira vez que se transformou Dylan correu tanto que quando se assustou e parou, já estava em Oxford. Ele não sabia como tinha percorrido tantos quilômetros em tão pouco tempo.

– Foi imprudência minha deixar você sair correndo assim já na primeira vez, meu filho, mas você não pode mais fazer isso. – Seu pai lhe disse logo que Dylan se transformou pela primeira vez. Ele se sentiu assustado, não entendia direito como os poderes de lobo elevavam sua força e velocidade numa categoria superior ao que ele conhecia.

Rapidamente, notando a ausência do filho, se transformou para encontrá-lo e o guiou de volta à sua casa. Ele sabia que seu pai não estava brigando, apenas ensinando. Era difícil ter uma matilha para administrar e ainda ter um filho com impulsos de lobo para controlar e ensinar a se controlar. Seu pai lhe explicara que era mais complicado controlar seus impulsos quando se tinha um lobo querendo substituir sua forma humana o tempo todo, mas que não era impossível.

Dylan aprendeu. Mas de vez em quando sentia algo que não conseguia controlar, uma euforia estranha, como se tivesse poder sobre o mundo e seus artifícios, algo que apenas o compelia para frente.

A velocidade era um dos pontos bons da Transformação. O espaço e o tempo não tinha importância quando estava correndo. Conseguia percorrer distancias inimagináveis quando estava em sua velocidade máxima. Tudo à sua volta parecia se perder em formas e cores.

Mesmo quando assumia sua forma lupina, ainda tinha consciência e pensamentos humanos. Era como se ele vestisse uma fantasia para uma festa, uma fantasia forte e quase indestrutível. A força que se apossava de seus membros na forma de lobo o fazia sentir ser capaz de mover montanhas e abrir crateras. Outra coisa que ainda o intrigava era que suas roupas deveriam se rasgarem quando se transformava, mas não era o que acontecia realmente. Elas desapareciam assim que ele mudava de forma e reapareciam exatamente no lugar quando voltava a ser humano.

Enquanto corria e ouvia apenas o som de suas patas, fortes contra o chão, e o da floresta ao seu redor, ele ouviu um uivo, com uma estranha entonação aos seus ouvidos ávidos a qualquer som perto ou longe de onde estava. Não era o tipo de uivo que se ouvia sempre, mas Dylan sabia o exato significado dele. SOCORRO. Dylan sabia que só quem estava na forma de lobo poderia escutá-lo. Mas não foi realmente o uivo em si que o fez parar de imediato, lançando terra e folhas em decomposição para frente, o som distante ecoando e ricocheteando em sua cabeça, quase como se tivesse sido marcado a fogo em seu cérebro, como se fosse uma consequência de um aviso que não dera ouvidos...

*“Você faz a escolha que tem que fazer no momento – Falou Magnus ao ouvido de Alec. – Torce para não haver consequências, pelo menos não consequências sérias.” A frase de um livro que havia lido há pouco tempo pulou em seus pensamentos como um aviso de seu erro. Um erro que ele havia sido avisado para não cometê-lo, não correr demais, não se distanciar demais. Era um uivo de seu pai.

Dylan achava aquela regra de os únicos a conseguir escutar o uivo de Socorro serem aqueles que estivessem transformados algo muito idiota de se inventar, mas não era hora de pensar em querer saber como as regras foram feitas. Em sua mente, ele procurou mais alguém que estivesse transformado, mas não encontrou ninguém.

Mais uma das habilidades da matilha quando estavam na forma de lobo era que podiam se comunicar por pensamento, o que facilitava totalmente o combate quando estavam lutando contra algum inimigo; os pensamentos passavam pelas mentes do bando como relâmpagos lançados do céu, rápidos e precisos. Mas naquele momento não achou ninguém ali. Nenhum outro membro do bando estava transformado. Dylan estava sozinho e impossivelmente longe de casa para salvar o pai do que quer que estivesse enfrentando. Mas ele era o filho do líder da matilha, não podia pensar em arrependimento, não naquele momento.

Outro uivo o paralisou no lugar e só então ele percebeu que desde que tinha parado não conseguira mover um músculo para voltar para casa. Mas se obrigou a voltar a correr. Tinha que conseguir a tempo.

Dylan pisava em lama e folhas e plantas em decomposição. Tinha plena consciência de alguns animais à sua volta, observando-o de longe, e os que estavam perto demais ou na sua frente saiam rapidamente pensando ser um predador. Com sua visão aguçada ele via as luzes da cidade à sua frente e se lembrou da quantidade de pessoas que estariam na rua e que o impediriam de chegar em casa de forma mais rápida. O cheiro de resina e pinheiro inundava seu nariz e ele sentia o ar úmido e frio da floresta à sua volta, clareando sua mente.

Ele parou bruscamente quando chegou perto da auto estrada. Não poderia mais continuar naquela forma. Quem passasse de carro ou mesmo a pé e visse um lobo tão grande correndo em direção à cidade não reagiria bem à visão. Dylan estava ficando sem tempo a cada segundo que passava, mas ele não podia arriscar o segredo do bando. Então se concentrou, procurando dentro de si a parte humana que estava sempre no mesmo lugar dentro dele.

Assim como a Transformação para a forma de lobo, o retorno à forma humana estava mais fácil também. Simplesmente, foi perdendo peso e tomando forma até estar completamente humano.

Era alto, quase um e noventa de altura. Com músculos de quem frequentava a academia regularmente, mas era tudo resultado de seu treinamento como lobo. Ainda usava as mesmas roupas que vestiu ao sair de casa no fim da tarde: bermuda jeans preta e camisa gola v também preta que fazia seus músculos sobressaírem sob a camisa. Cabelos mais pretos que a noite; pele clara e levemente bronzeada que contrastava com seus olhos azul elétricos.

De repente, sentiu que estava correndo. Correndo muito.

Um forte sentimento de desesperança tomava conta dele. Dylan não tinha ideia do que pudesse ter acontecido a seu pai – o lobo mais forte do bando, melhor em tudo o que fazia. Tinha que ser algo grande. Ele não queria acreditar que tivesse acontecido algo a ele, mas seu pai não soaria o alarme se não estivesse realmente precisando.

As luzes da cidade se avultavam à sua frente. Com sua super audição conseguia ouvir o zumbido dos muitos veículos que se amontoavam nas ruas de Londres. O trânsito deveria estar um caos naquela hora da noite, levando em conta que o fim de semana tinha acabado de começar e havia pessoas com todos os tipos de objetivos na cabeça, desde sair da cidade para encontrar parentes em outras cidades a chegar em casa o mais rápido possível e desmaiar na cama após um exaustivo dia de trabalho.

Dylan chegou em uma rua escura, mas não parou. Continuou correndo. Passou por uma rua secundária, desviando de latas de lixo e sacos plásticos no chão e se deparou com o centro da cidade ao fim do beco. Ele estava tão atordoado com a vontade de chegar em casa que ver tantas pessoas na rua, andando, correndo, entrando em cafés e lanchonetes com amigos, sorrindo e se despedindo, outras chegando e saindo para trocar de turnos em seus respectivos trabalhos, o fez perceber o quanto mais demoraria para chegar em casa.

Apenas dois táxis estavam parados ao meio fio, os motoristas em uma conversa animada. Dylan escolheu um e bateu no teto do carro, alertando ao motorista que estava com pressa para sair. O taxista, – um homem de meia idade, com um bigode grande o bastante para cobrir quase toda a boca, olhos pequenos e pele morena, vestido com um casaco por cima de uma camisa branca que parecia estar suja de algum molho amarelo –, não gostou muito do que o garoto fez, mas entrou no carro com um muxoxo de impaciência, despedindo-se do outro taxista.

Dylan conferiu os bolsos para saber se o dinheiro que colocara ali mais cedo ainda estava lá e sentiu um alívio quando puxou as notas do bolso.

– Te pago o dobro se conseguir chegar à 22st. Leste em menos de cinco minutos...

O garoto sabia estar pedindo algo impossível ao homem à sua frente olhando pelo espelho retrovisor, mas não sentiu vergonha ao fazê-lo. Era sua melhor opção para chegar em casa rápido.

– Duvido. – Foi a resposta. – Com esse trânsito?

Dylan jogou uma nota de cem euros no banco do carona e disse:

– É sua se calar a boca e pisar logo nesse acelerador.

O homem arregalou os olhos, desviando-os rapidamente do espelho retrovisor e pegando o dinheiro como se fosse alguma pista da cena de um crime.

Ele estava irritado e sabia que o motorista não tinha culpa alguma, mas não conseguia se controlar. Era quase como se sua parte lobo estivesse se fundindo à humana, transferindo toda a raiva animal, sobrepondo-se à parte racional.

Uma ideia do que podia ter acontecido veio à mente de Dylan tão rápido que ele sentiu uma leve vertigem...

Ele estava se lembrando de seu pai ensinando aos lobos mais jovens sobre algumas coisas que eles tinham que saber; sobre os diferentes tipos de inimigos, formas de se esconder e atacar...

– Uma coisa importante que vocês precisam se lembrar sobre os vampiros. – Dizia seu pai. – Sempre vivem em bando. Eles não conseguem viver sozinhos... são basicamente como nós. Criam laços com os vampiros do mesmo clã e é aí que está o problema. Quando atacam, o fazem em bando, e se há baixas no lado deles, eles se vingam.

Dylan se lembrava do pai dando ênfase em vingam e aquela palavra pulava em sua mente como um tumor alienígena que não deveria estar ali. Eles tinham combatido um clã de vampiros que estavam matando humanos por puro prazer há poucas semanas. Eram quatro no total, mas só dois conseguiram escapar dos lobos. O garoto nunca vira vampiros tão rápidos e ágeis em todo o tempo em que soube da existência deles. Sabia que quanto mais velhos, mais fortes e velozes eles seriam; alguns até tinham poderes diferentes de outros, poderes que davam algumas vantagens sobre o bando de lobos...

E se os outros vampiros voltaram para se vingar? Ele se perguntou. Mas...

­– ... mas nós já sabemos a tática usada por eles. Na maioria das vezes é sempre a mesma. Eles quase sempre atacam os mais novos do bando. – Ele disse aquilo olhando diretamente nos olhos de Dylan, como se quisesse passar o recado especialmente para ele. – Vampiros são astutos e têm uma memória perfeita. Quando veem um rosto, jamais o esquecem, a não ser, é claro, que não seja importante para eles.

Seria o momento perfeito para eles atacarem Dylan enquanto este estava na floresta, sozinho; sendo ele um dos mais novos e um alvo fácil longe dos outros.

Ele não queria pensar que poderia ser outra criatura a ir atrás de seu pai, algo que ele não conhecia e não saberia lidar quando e se chegasse a hora. Algum inimigo antigo querendo se vingar... forte o bastante para seu pai ter que pedir socorro. Aquelas palavras batiam em sua mente como e investiam contra as paredes de seu crânio, como se quisessem sair, loucas para encontrarem outro para atormentar.

O garoto sentia o sangue pulsando em seus ouvidos e ficou com medo de se transformar dentro do taxi... Respirou fundo... Ele não perderia o controle... Não ali.

– Você está bem, garoto? – Perguntou o motorista. Dylan olhou no espelho e viu que o homem o olhava, um pouco preocupado. Pelo espelho ele também viu o reflexo de seus olhos brilhando azuis na escuridão do carro. Ele se perguntou se o homem estivera prestando atenção nele o tempo todo, talvez cogitando a ideia de ter se metido numa roubada ao aceitar levar um garoto louco pela cidade.

– Est... Vai ficar! – Dylan falou, mas mais para si mesmo.

Respirou fundo mais algumas vez e conseguiu sentir sua pulsação voltando ao normal. Olhou ao seu redor e viu que o motorista costurava o trânsito com imprudência, avançando sinais quando podia e não se importando com os gritos e protestos dos outros na rua. Ele mal sentia os solavancos que o carro dava ao se desviar de um pedestre que atravessava a rua e outro carro que estava ao seu lado, fechando a passagem para o taxista virar a esquina.

Dois minutos depois, o carro parou em frente à sua casa e Dylan jogou mais uma nota de cinquenta no banco do motorista. Depois do que conseguiu fazer, o taxista merecia um pouco a mais pelo serviço. Saltou do carro, dizendo um obrigado rápido e chegou ao portão enquanto o táxi partia rua acima.

Enquanto abria o portão e entrava, não fez qualquer barulho. A casa à sua frente estava quieta e familiar, exatamente como a tinha deixado mais cedo. O portão se abria para uma passagem de pedras de granito grandes e brancas entremeadas por grama bem baixa. Um muro alto e reto que seguia rente ao portão traçava uma linha até os fundos onde não se podia mais ver. À esquerda, um jardim com palmeiras postadas em intervalos regulares e outras plantas menores entre uma e outra decorava sutilmente a frente da casa; um tapete de grama macia e extremamente verde cobria o chão e contrastava com o branco dos muros em volta. A casa era completamente albina e não tinha forma regular, tinha uma entrada pequena com luzes brancas que conferiam uma claridade maior ao recinto; o teto era baixo com placas de vidro transparente e mais algumas luzes; a porta também de vidro, mas de uma coloração escura com uma maçaneta de metal polido postava-se na parede à esquerda.

Dylan passou pelo caminho de pedra rápida e silenciosamente e chegou à porta de entrada. Pegou a chave no bolso e a abriu o mais devagar que conseguiu.

O interior da casa estava completamente escuro, sem nenhum sinal de que havia alguém ali. Ele não ligou a luz de imediato, nem mesmo se mexeu. Controlou a respiração e se concentrou tentando escutar algum barulho dentro de casa, algo que denunciasse a presença de mais alguém.

Nenhum barulho, nem mesmo de um coração batendo, nem sequer um cheiro.

Ele se apressou para dentro da casa indo até a parede e apertando o interruptor para acender as luzes. Não ficou nem um pouco surpreso quando seus olhos se acostumaram com a claridade súbita da sala. Sabia o que veria.

A sala era ampla e clara. A parede à direita era completamente de vidro dando uma vista perfeita do corredor largo de grama e pedras brancas que levavam aos fundos da casa; tinha um sofá branco largo projetando-se à esquerda da parede de vidro e à frente uma pequena mesa de centro totalmente preta encima de um tapete grosso e marrom, pouco mais escuro que a cor do chão de madeira lustrosa; almofadas pretas se amontoavam em cima do sofá, contrastando com a tonalidade clara; na parede oposta ao sofá havia um painel de madeira fixo à parede branca, exatamente da cor do tapete no chão, e fixada no painel estava uma televisão gigante; cinco quadros pequenos e quadrados em preto e branco, – dois à esquerda e três à direita –, retratavam diferentes fases da lua nas mesmas paisagens de fundo a cada lado da televisão; e, finalmente, embaixo da televisão, havia duas prateleiras da mesma cor do painel, com os livros de Dylan. Luzes brancas e fortes saíam de fissuras nas paredes.

O ambiente já iluminado não demonstrava que tivesse havido qualquer cena de um ataque ao pai de Dylan. Mas algo que não deveria estar ali, estragava a paisagem familiar a ele: perto da parede de vidro, repousada inocentemente no chão de madeira havia uma pena. Dylan ficou observando-a e percebeu que não conseguia parar de encará-la. Ele piscou, e se viu perto da pena, mais perto do que gostaria de estar.

De longe, a pena parecia algo inofensivo, mas quando o garoto notou o quão perto estava percebeu o perigo no objeto. Era grande, grande demais para ser de alguma ave comum, poderia ter o comprimento de quase todo o seu braço; branca com certo tom azulado. Quando Dylan aproximou a mão para pegá-la, esta brilhou intensamente com uma luz arroxeada. Era como se algo o avisasse que era perigoso demais pegá-la, ele imediatamente reconheceu como o instinto de lobo, o sexto sentido de seu animal interior. Então se afastou, e quando o fez, a pena voltou à cor normal, mas mesmo tendo se afastado, não conseguia desviar os olhos, como se ela o prendesse ali.

Foi então que percebeu. Estava completamente sozinho. Com esforço, desviou os olhos da pena mais uma vez e os fechou, tentando se concentrar. Contou até cem mentalmente e quando terminou, percebeu que estava mais calmo. Seus sentidos estavam em alerta total, sua visão, audição e olfato aguçados ao máximo, como se estivesse transformado em lobo. O ar à sua volta tremulava e estalava com a energia que emanava dele.

Logo que seus sentidos se intensificaram viu que enquanto andava em direção à pena no chão sem perceber, não viu um pedaço de papel amassado em cima do sofá.

Ele pegou o papel e se sentou antes de começar a ler. Estava escrito na caligrafia fina e inclinada de seu pai, mas as letras estavam tremidas, como se tivesse escrito rápido, como se soubesse que algo ruim iria acontecer...

Dylan,

Estava esperando por isso há algum tempo, mas não sabia quando viriam atrás de mim. Não fique em casa por muito tempo, se conseguirem me pegar aqui, tenha a certeza que voltarão por você. Sempre pensei que o afastamento de você e...

Não precisa ficar tão preocupado comigo – como se adiantasse eu te pedir isso –, mas se serve de consolo, eu estarei bem, eles não me matariam. Precisam de mim vivo. Será complicado para você quando eu me for, terá que ser mais forte do que eu fui. Me desculpe não poder dar muitos detalhes, mas é a única forma de você se manter protegido por enquanto. Mas não haverá como você fugir disso. Seus destinos já tinham sido escritos muito antes de vocês nascerem... ninguém poderia impedir que algo acontecesse.

Mas, Dylan, meu filho, em meio a tantas trevas, existe luz, sim, acredite! Você precisa ir o mais rápido possível para San Diego, na Califórnia. Lá moram duas pessoas que irão te ajudar. Não será muito fácil encontrá-las, mas não desista. NARCISA E SUA FILHA, NÔAH BLACK. Tome cuidado, Dylan, elas são vampiras; eu conheço Narscisa há muito tempo, ela não é lá muito calma. Aproxime-se delas com cautela.

Meus livros antigos são sua fonte de pesquisa agora, mesmo que você não utilize as informações deles agora... Mas você precisa aprender tudo o que puder sobre o que neles tem. Sei que você conseguirá passar por isso. Apenas siga seus instintos e, acima de tudo, seu coração, ELE vai te indicar o caminho certo. Lembre-se, ANJOS NEM SEMPRE QUEREM GUARDAR OU AJUDAR.

Você não conseguirá passar por tudo isso sozinho, acredite, será difícil. Nunca pensei que veria você tendo que passar por isso e, mais ainda, ME vendo fazer você acreditar que OS VAMPIROS SÃO ALIADOS QUANDO OS CONHECEMOS. ELES NUNCA FORAM NECESSARIAMENTE NOSSOS INIMIGOS. NÃO O TEMPO TODO.

P. S.: a essa altura você deve ter encontrado uma pena em algum lugar, ou, se não encontrou, procure-a, mas não encoste nela. Ela vai te transformar em pó se tocá-la. Faça uma linha com seu sangue em volta dela e depois queime essa linha, isso deve destruí-la. E não conte ao Will que me sequestraram, conhece o temperamento dele. Diga apenas que eu precisei fazer uma viagem urgente. Avise-o quando você partir. Amo você, NÃO SE ESQUEÇA DISSO!

/Sam

Logo após escrever seu nome do fim da carta, seu pai desenhara uma pequena lua crescente ao lado, selando sua assinatura e confirmando a Dylan todos os seus medos. O garoto notou também que havia algumas manchas e pequenas bolhas no papel. Ele estava com vontade de chorar, mas ainda segurava o choro com toda a sua força de vontade. E percebeu que as lágrimas eram de Sam, enquanto escrevia, despedindo-se do filho por tempo indeterminado.

Dylan releu a carta mais oito vezes, totalizando nove ao fim, tentando entender o que exatamente seu pai quisera dizer com cada uma daquelas palavras. Mas a maior parte ele não conseguiu entender. Não chegou a nenhuma conclusão. Anjos? Vampiros aliadas? Destino?

Perguntas fervilhavam em sua mente. Perguntas sem respostas. Fazendo-o ter uma dor de cabeça aguda, como se sentisse algo grande, crescendo dentro dela.

Ele se levantou. O rosto impassível a tudo. À dor. À perda. Às dúvidas. Tudo.

Em Londres tinha um exemplo claro do que ele estava passando. Quando um rei morria, seu filho, ou quem quer que fosse o sucessor do trono teria que dar um fim ao luto e tomar o lugar de direito, pois líderes não podiam simplesmente pensar em si próprios. Tinham um país para governar. Uma nação com necessidades que só um rei podia suprir. Eles dependiam das importantes decisões que o novo rei tomaria.

Will era como o segundo líder da matilha, como um βeta, sendo Sam um αlfa; e tinha um temperamento forte; não gostava de se submeter a qualquer decisão e tendia a mostrar um comportamento agressivo. Na ausência de Sam, era ele quem tomava as decisões. Mas Dylan não iria falar com ele agora, esperaria até que que resolvesse a data da sua viagem e diria tudo de uma vez.

Foi, então à cozinha. Tinha que destruir aquela pena, já que ele corria risco de virar pó enquanto ela ainda estivesse ali.

Um corredor largo e longo, com piso de madeira e paredes brancas com luzes brancas no teto a intervalos regulares levava aos outros cômodos da casa. E no fim do corredor tinha um portal grande e arqueado de madeira que levava à cozinha. A decoração era simples e escura como a sala de estar. Uma mesa de vidro com cadeiras acolchoadas estava à direita do cômodo, e era a única parte visível até Dylan acender as luzes. A claridade deu forma ao que antes eram contornos escuros: era amplo e o piso de madeira lustrosa brilhava e refletia as luzes do teto; mais à frente se postava um balcão de mármore negro com quatro bancos na frente; à esquerda a geladeira inox também brilhava; atrás do balcão havia outro balcão fixado à parede e um fogão em cima; nas paredes encontrava-se os armários e os utensílios de cozinha. Dylan puxou uma gaveta embaixo no balcão e pegou de lá uma faca de prata, a lamina afiada, refletindo o brilho das luzes no teto. Foi até o fogão e pegou o isqueiro que estava em cima, depois voltou até a sala.

Enquanto passava pelo corredor ficou olhando a faca em sua mão e pensando de onde vinha o mito de que prata feria lobisomens. Talvez fosse alguma magia antiga, mas a prata não lhe fazia mal nenhum. Mas ele se lembrava de seu pai falando que eles não eram lobisomens, não exatamente, tinha uma lenda antiga sobre a origem do lobo que eles se transformavam... Dylan afastou aqueles pensamentos. Não podia ficar pensando em seu pai daquele jeito. Entraria em desespero se o fizesse.

Chegando à sala, ele se abaixou perto da pena e colocou o isqueiro no chão; fez um corte na palma da mão, quase sem consciência da dor e da ardência provocada pelo ferimento, e deixou o sangue se acumular na palma, percebendo, admirado, que o ferimento logo começou a se curar, quase antes que ele tivesse sangue o suficiente para destruir a pena, que já voltara a brilhar arroxeada como um animal raivoso tentando assustar um possível predador.

Dylan passou o dedo no sangue na palma da mão deixando a faca perto do isqueiro e traçou, precisamente uma linha envolta da pena quando o interfone tocou. O barulho despertou Dylan que estava tão absorto na tarefa que esquecera completamente do que ia fazer naquele noite.

– Sim? – Perguntou, já sabendo quem estava no portão.

– Até parece que você não sabe quem é. – Disse uma voz de homem do outro lado, estava carregada do sarcasmo conhecido por Dylan há anos. E aquela voz ele conhecia; conhecia até demais. – Abre logo esse portão.

– Alex, sinto muito, mas não vou ao show – ele disse. Sua voz saiu áspera e impaciente.

Ele desligou o interfone. Não se lembrava de ter autorizado aquele movimento do seu braço. Dylan percebeu que não queria envolver Alex naquela história. Era muita loucura, e segundo seu pai, seria muito perigoso e...

Alex era seu melhor amigo desde... Bem, desde sempre. Contava tudo para ele. Foi uma tortura quando ele descobriu que podia se transformar em lobo e seu pai lhe dissera para não falar nada com Alex. Humanos não podiam saber do mundo sobrenatural. Essa era, a primeira e mais importante regra do bando, e, acima do bando, do mundo sobrenatural. Nem todos que tinham pessoas próximas que eram lobos na família viria a ser um lobo também. Não era algo de genética, era algo maior que isso... sem explicação. Eles sempre estudaram juntos, estavam sempre juntos. O pai de Dylan e o de Alex, – que também era um lobo –, se conheceram antes mesmo de os dois nascerem, e desde então eles eram melhores amigos. Foi um alívio para Dylan quando Alex lhe contou que podia se transformar e que seu pai havia dito que podia contar ao amigo, sendo que ele já se transformava há pouco tempo.

O interfone tocou mais uma vez, e Dylan, ainda parado no mesmo lugar, atendeu:

– Dylan abre esse portão agora se não quiser que eu o pule! – Alex trovejou do outro lado.

– Alex, pode ir sozinho – insistiu Dylan.

– O. K. – Falou Alex, desanimado.

– Sério? – Perguntou Dylan, surpreso. Alex não era conhecido por desistir.

– O. K. Já estou entrando – disse, impaciente. – E não vai gostar de saber o que vou fazer com a porta de entrada se não abri-la imediatamente.

Uma guerra civil acontecia na cabeça de Dylan naquele momento. Seu pai dissera que ele não conseguiria sozinho, mas ele não sabia a quem ele estava se referindo. Não podia contar a Alex; não podia envolvê-lo...

Uma batida forte na porta o sobressaltou. Dylan foi até a porta e a abriu sem perceber que estava fazendo com a mão ainda ensanguentada, sujando as chaves e a maçaneta. Alex avançou casa adentro visualizando a cena à sua frente e sua expressão mudou de zangado para dúvida e preocupação em menos de um segundo.

Ele e Alex tinham combinado de ir a um show da banda favorita deles, que estaria na cidade naquele dia. Dylan pensou que assim que terminasse a patrulha iria para casa e se arrumar para ir. Estavam muito empolgados; falando do show a semana inteira; iriam encontrar com os amigos lá...

Alex era alto, da mesma altura de Dylan tinha pele clara e era forte assim como o amigo. Tinha olhos castanhos claro e seus cabelos eram da cor da areia clara do deserto. Estava vestido completamente de preto; desde as botas até a calça e a camisa justa deixando com que os músculos se sobressaíssem.

– O... O que aconteceu, Dylan? – Alex perguntou, estreitando os olhos. Parecia tentar entender, mas sem sucesso. – Seus poderes de cura não...

– Não é isso. Aconteceu uma coisa muito ruim...

– Você está bem? – Perguntou, interrompendo-o.

– Estou. – Respondeu, respirando fundo e fechando os olhos. – Aconteceu uma coisa muito ruim com meu pai.

Alex levantou uma sobrancelha, pedindo para o amigo prosseguir com o relato, mas não tirava os olhos da mão de Dylan.

E ele o fez. Contou do uivo de socorro até a parte da carta que seu pai escreveu. Depois entregou a carta para Alex, que a leu, comprovando que não era brincadeira de Dylan.

– É mesmo a caligrafia de seu pai, mas como ele pode ter sido sequestrado? Quem fez isso?

– Minha cabeça parece que vai explodir e cada uma dessas perguntas vai sair para tentar achar as respostas elas mesmas. Não sei mais o que pensar. Já pensei na hipótese de ser aqueles vampiros, mas não havia nenhum sinal de luta na casa quando cheguei. Meu pai não lutou... Não sei porque, mas ele não lutou.

Dylan perdeu o fôlego e parou de falar. Viu que estava começando a entrar em desespero, o que não podia acontecer, porque assim que isso acontecesse, ele não conseguiria ir em frente e chegar a seu pai.

– Onde está a pena? – Perguntou Alex.

– Ali, – Dylan apontou perto da parede. A pena estava quieta, emitindo aquele brilho claro e misterioso.

Eles caminharam lentamente até a pena – parecia que depois que chegara em casa, tudo estava acontecendo lentamente para Dylan, como se o mundo estivesse desacelerando para ele conseguir assimilar tudo de uma vez. Mas ele sabia que não era assim que acontecia. O mundo estava girando exatamente como antes e Dylan precisava voltar a acompanhá-lo. Ela brilhou em roxo, mas agora uma cor mais escura, como se sentisse a presença deles se aproximando.

– Acho realmente que devemos destruí-la – disse Alex, se afastando.

Dylan olhou para trás e encarou o amigo. Ele estava com uma expressão estranha no rosto. Como se se sentisse mal por estar perto da pena. Mas Dylan apenas assentiu e pegou o isqueiro.

Assim que o fogo tocou a linha de sangue, a pena começou a pegar fogo ao mesmo tempo que o sangue em volta. As labaredas eram baixas e não pareciam afetar o piso de madeira e não produzia fumaça ou qualquer tipo de odor, tampouco. O fogo começou a mudar de cor, do laranja ao vermelho, passava pelo azul e terminava em branco e permaneceu completamente negro. Um assobio, no início baixo e depois tão alto como se tivesse um alto falante muito potente ao lado deles, percorreu a sala. Era como se um pássaro sofrendo estivesse dentro das chamas, queimando, morrendo... A visão de Dylan foi tomada por imagens rápidas e sem sentido; imagens escuras e sem nexo, deixando-lhe tonto por um momento, até que tudo desapareceu de uma só vez.

Quando Dylan olhou para trás, Alex estava se apoiando no sofá e parecia sentir a mesma sensação que tomava Dylan naquele momento.

Ele olhou para trás e viu que a pena não estava mais lá, mas uma sombra negra a havia substituído. Tinha o exato contorno de uma pena inclinada para a direita. Dylan estreitou os olhos, pensando estar imaginando aquilo, mas quando passou o pé em cima a marca não desapareceu. Continuou ali.

O garoto foi se sentar no sofá ao lado de Alex, que ainda parecia não acreditar no que havia se passado.

– Dylan, você acha que... – Alex começou a perguntar. Dylan conhecia o amigo, conhecia as expressões que se passava em seu rosto e conseguia desvendar cada uma; sabia o que cada uma queria dizer e ficou com medo. Alex era sempre o que pensava melhor, apesar de Dylan não ficar muito atrás nesse quesito, e ele não tinha cogitado o que o amigo estava querendo dizer.

– Não! – Exclamou Dylan, sem pensar, sem esperar Alex terminar de falar. Aos seus ouvidos, sua voz lhe pareceu muito convicta, quase forçada. – Ele não está morto...

– Como você explicaria o fato de não haver sinais de luta na casa? – Perguntou Alex. Sua voz beirando ao desespero. – Dylan ele sabia que ia ser pego e não avisou nada à matilha, não pediu ajuda... Somos uma família. Uma família com preceitos de ajudar um ao outro sempre que for preciso.

– Não colocou a gente em risco. – E olhou para Alex. Esperava que o amigo visse a situação do ponto de vista dele. – Meu pai é o líder e conhece uma situação de risco olhando de longe. Ele não colocaria qualquer um de nós em perigo para se salvar. Acho que ele não teve escolha; quem quer que o tenha pego já conhecia as fraquezas e cada movimento do meu pai. Nenhuma ação do inimigo foi em vão. Foi tudo perfeitamente calculado.

Alex se empertigou no sofá. Respirou fundo três vezes e fechou os olhos. Dylan conhecia aquele movimento, que Alex só fazia quando estava querendo se concentrar ao máximo; fazia sempre que precisava resolver uma situação impossível.

– Mas, Dylan, você acha que os outros estão em perigo? – Perguntou Alex, abrindo os olhos e encarando o amigo, como se procurasse a resposta no fundo de seus olhos. – Quem quer que tenha pego seu pai sabia das nossas fraquezas. Sabia como emboscar até o mais forte de nós...

– Não, acho que não. – Respondeu Dylan. – Se fosse o caso meu pai teria dito na carta. Os outros estão seguros. Eu é quem preciso ir. Se meu pai quer, me aliarei aos vampiros, sejam eles quem forem... – Dylan havia desviado os olhos do rosto de Alex. Não sabia porque, mas agora parecia claro. Ele estava com medo e não queria que o amigo visse isso em seus olhos.

– Acho que vindo de seu pai, a situação parece ficar pior, não é? – Perguntou Alex. – Quero dizer, nós sempre aprendemos que vampiros e lobos nunca se deram bem. Somos inimigos naturais, como água e fogo... Eles são nossa maior fraqueza, Dylan.

– Estou pensando a mesma coisa, Alex. – Dylan disse, voltando a olhar para o amigo. – Mas não tenho outra escolha. – Alex conseguia ficar numa mesma posição por horas se fosse preciso. Sem se mexer. E Dylan sabia que isso acontecia quando ele estava pensando. – Vou salvá-lo, Alex. Sei que vou.

Dylan sentiu algo estranho no ar. Como se muita estática estivesse em um só lugar. Um cheiro metálico encheu a sala e as luzes começaram a piscar. Era como se uma tempestade marinha estivesse se aproximando, algo forte e sem controle, como se o mar quisesse tomar toda a terra que encontrasse e tragando tudo que estivesse sobre ela.

Alex pulou para trás, olhando Dylan com uma expressão estranha no rosto. Dylan se levantou e olhou para os lados, tentando ver o que estava acontecendo.

– Dylan! – Exclamou Alex, encarando-o como se nunca o tivesse visto na vida.

– O que? – Perguntou, Dylan, alarmado, olhando para o amigo. – O que está acontecendo?

– É o dom, Dylan. – Respondeu. Como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

– É o que? – Dylan ainda não estava entendendo nada e a sensação de tempestade iminente não diminuía e nem passava.

– É também chamado de munus em latim. Eu li uma vez em um livro que seu pai me emprestou. É muito raro e só acontece entre os da nossa espécie... Nada é específico quando se menciona o dom, mas dizem que é uma força que qualquer lobo pode invocar de dentro de si. É manifestada por um tipo de aura mágica que cobre o lobo por completo, protegendo-o em sua missão. Mas não é fácil, tem alguma coisa a ver com convicção aterradora e auto sacrifício. Uma aura de poder é liberada quando a pessoa precisa entrar em uma situação de sacrifício ou algo assim. Não há registros de que já tenha acontecido com alguém... não de fato, alguns autores citam isso como lendas...

E Alex parou de falar. Entendendo o que se passava na cabeça de Dylan naquele momento, que ele tentava tanto esconder, e por um segundo enquanto Alex falava, ele achou que conseguiria.

– Dylan, você não está pensando em... – Começou Alex.

– Não tenho outra opção, tenho? – Respondeu Dylan com aspereza. – O que quer que aconteça comigo quando eu estiver salvando meu pai... o que acontecer... Para trazer ele de volta...

– Mas você não pode! – Alex falou, agora gritando. – Dylan você não pode se sacrificar! Você nem sabe o eu vai acontecer nem quando vai voltar... Você não pode pensar nisso!

– Eu não estou pensando, Alex! Não necessariamente em me sacrificar! – Dylan estava gritando também. – Vou fazer o que for preciso. Vou trazer ele de volta.

Naquele instante, algumas lâmpadas, que ainda estavam piscando, começaram a se quebrar fazendo muito barulho e uma chuva de cacos caiu sobre eles, que levantaram os braços para protegerem o rosto.

– Tudo bem! – Falou Alex mais calmo. O garoto olhou para o estilhaço de vidro à volta deles e depois para o amigo. – Vamos nos acalmar.

Dylan assentiu e percebeu o quanto sua respiração estava acelerada. Até aquele momento não percebeu que um zumbido baixo havia tomado conta de seus ouvidos, fazendo sua cabeça doer mais uma vez. Ele respirou fundo e fechou os olhos, retomando o controle de si mesmo

– Me desculpe – pediu Dylan. – Não sei o que aconteceu, eu...

– Não tem problema. – Alex estava com uma vassoura na mão juntando os cacos de vidro. Dylan nem se lembrava de o amigo ter saído da sala. – Você já sabe quando vai para San Diego?

– Não – respondeu Dylan. – Ainda estou pensando. – Dylan estava hesitante ao explicar para o amigo, mas sabia onde Alex queria chegar com aquela conversa. – E preciso te pedir um grande favor. – Completou, temendo estar dando falsas esperanças ao amigo. E quando seus olhos faiscaram brevemente, Dylan soube que ele entendera errado.

– É claro que sim! – exclamou Alex.

– Não, Alex – recomeçou. – Você não entendeu. – Dylan respirou bem fundo e disse: – Alex, eu quero que você proteja os outros enquanto eu estiver fora. – As palavras saíram rápidas demais, atropelando umas às outras, mas ele continuou. Sabia que se parasse não conseguiria convencer o amigo a ficar. – Preciso que você fique e ensine os outros sobre o que você sabe. Meu pai deixou claro que Will vai tomar seu lugar como líder temporário da matilha e eu não posso mudar as ordens do αlfa. Mas vou conversar com o Will e o convencerei que você vai ficar por conta do treinamento dos lobos, tanto dos mais novos quanto dos mais velhos. As ordens são dele, mas o treinamento será seu encargo. Todos sabemos que você tem potencial para ser o melhor entre nós. E você usará o treinamento para ficar de olho neles; ainda não estou convencido que aqueles vampiros foram embora e ainda tem a questão de que quem pegou meu pai pode voltar para pegar mais alguém... Era para eu ficar e ajudar o Will com as ordens para o bando, mas eu não posso. Preciso que você garanta a segurança de todos, mas eu também quero que você fique em segurança. Não sei quanto tempo isso irá demorar então... – Dylan parou de falar quando viu que Alex o encarava com certo divertimento nos olhos. – O que? – Perguntou, desafiando-o.

– Já acabou o discurso de macho αlfa? – Perguntou com um tom de deboche que fez os pelos da nuca de Dylan se eriçarem de irritação. Alex era conhecido no bando como o mais inteligente. Resolvia qualquer problema que pusessem na sua frente, rapidamente, sem falhas. Achava o esconderijo de inimigos mais espertos que nós, quando o resto já havia desistido de procurar a muito. E, com isso, ele pareceu ter desenvolvido um estranho comportamento. Alex tendia a banalizar situações que achava fácil demais para serem resolvidas. Brincava quase o tempo todo e a maioria dos outros lobos o acham irritante por isso. – Eu não vou fazer isso que você está me pedindo. Posso fazer qualquer outra coisa que me peça, desde que nós estejamos juntos para resolvermos tudo. Mas ficar parado, aqui, ensinando os outros lobos o que eu aprendi sozinho eu não vou. Nem se o seu pai me pedisse. – Alex acabou de falar e levantou o queixo aceitando o desafio.

– Alex, eu não confio em mais ninguém... Não como eu confio em você. – Dylan tentou de novo. – Sei que você pode fazer isso! Faça isso por mim. E eu poderei ir em paz, sabendo que todos estão bem.

– Falando assim até parece que você está caminhando para a morte, não é? – Perguntou Alex, com um sorriso fraco nos lábios. Dylan sabia que a pergunta havia sido retórica, mas a resposta escapou de seus lábios antes que pudesse impedir que saísse.

– Mas é o que o destino propõe. Quando ele é envolvido, a primeira coisa que devemos aceitar de bom grado é a morte. Porque é o destino que nos controla e não sabemos o que virá em seguida.

– Nem precisa tentar usar isso contra mim porque não vai dar certo. – Alex respondeu. – Eu não vou ficar... Tenho outra coisa para fazer...

– O que? – Perguntou Dylan, interrompendo-o. Sua voz aumentando de tom mais uma vez. – Fugir? Isso não é uma coisa que o Alex que eu conheço faria...

– Dylan, você é mesmo muito burro. – Alex o interrompeu. Mas permaneceu com a voz calma, quase um sussurro. Ele estava com o rosto impassível, sem mexer um músculo a mais do que deveria para falar. – Admiro o seu senso de dever e proteção, mas você não entende? Você não conseguirá sem mim. É claro que eu vou com você. – Finalizou ele.

Dylan sentia que algo grande estava para acontecer. Algo que não conseguiria impedir e poderia até matá-lo e estava levando Alex consigo, arriscando a vida do amigo. Mas ele tinha razão: Dylan nunca conseguiria sem Alex. Não iria deixá-lo. Ele precisava do amigo mais do que sabia ser verdade.

Naquele instante enquanto Alex esperava ser contrariado mais uma vez – e Dylan sabia que ele teria argumento para contradizer qualquer coisa que falasse –, a imagem de uma moeda surgiu em sua mente. Algo que não lhe ocorria há muito tempo...

– Está vendo isso aqui? – Perguntou seu pai, certa vez, quando Dylan ainda tinha nove anos de idade. Eles estavam no sótão da casa de fazenda de seu pai em Dartmouth. Sam havia pego uma moeda de dentro de uma gaveta de uma escrivaninha velha e empoeirada como tudo o que havia ali dentro. Dylan assentiu, olhando com curiosidade para o objeto. – Eu a encontrei dentro de um lago há muito tempo atrás quando salvei um amigo que estava se afogando. Você precisa entender, meu filho, que um dia você vai ter que escolher por quê lutar. Até encontrarmos um amigo de verdade, somos uma coisa incompleta. Quando encontramos, somos algo raro como essa moeda. Os dois lados juntos, inseparáveis, mas diferentes e cobrindo a guarda do outro com sua vida...

Dylan voltou a si e afastou aquela lembrança. Alex e ele eram como uma moeda. Dois lados diferentes, mas inseparáveis, se protegendo e lutando por um mesmo fim.


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Notas finais do capítulo

*Trecho de City of Heavenly Fire, tradução livre Cidade do Fogo Celestial. 1ª edição pela editora Galera. De autoria: Cassandra Claire.



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