Por Você escrita por Sylmara Carla


Capítulo 5
Capítulo 5




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Emily

Um ano atrás

Steven chegou em casa hoje cheio de mistérios. Mas, creio que são mistérios bons, visto que ele anda de um lado para o outro, rindo e dançando como Gene Kelly, sendo que só sem a chuva e o grande guarda-chuva amarelo. De qualquer modo não aguento mais de curiosidade. Eu deveria contrariar suas ordens de ficar no quarto e ir até a sala ver o que ele tanto apronta.

Qualquer que fosse essa surpresa, com certeza aliviaria o ultimo encontro que tive com papai e suas tentativas desesperadas de me trazer de volta à nobreza, como ele dizia. Argumentei que aquele mundo de luxo e poder, em nada se pareciam comigo. Falei sobre o Steven, não propriamente sobre ele, pois ele não me deu abertura para apresentar o meu novo amor. Começou a falar, que não adiantava eu arrumar alguém de um circulo social diferente para parecer descolada ou rebelde, que qualquer homem “pobre” tenho ciência de quem sou só estaria comigo ambicionando meu dinheiro, a herança que mamãe me deixou. Como tudo tratava-se de suposições de sua mente, se eu tivesse despejado que era o Steven desde o inicio teria poupado suas criticas e acusações sem fundamento, mas preferia desconsiderar cada virgula e deixa-lo falando sozinho e voltar a pensar em coisas mais agradáveis que suas vontades e preconceitos.

Steven era rico, um empresário de renome e um prodígio nos negócios. Ele vivia dizendo que em pouco tempo, triplicaria todo o patrimônio que o pai o deixou aos nove anos.

— Vamos Ems, feche os olhos. — ordenou com contentamento.

Sorri e fechei os olhos, enquanto ele me guiava pelos ombros.

— Não vale trapacear. — acrescentou.

Pela quantidade de passos e movimentos que fizemos, eu supus, e estávamos na sala. Ao sinal que ele deu para abir os olhos, surpreendi-me em dobro. Um clarao de velas aromáticas exalando o perfeito aroma de rosas vermelhas, contrastadas com centenas de pétalas espalhadas pela mesa e pelo chão. O jantar que Steven planejou estava dentro de todo e qualquer conforme.

O cardápio? Meu preferido, culinária francesa.

O vinho? Argentino como de gosto.

Em cima da mesa? Bem... Alem dos talheres e impecável porcelana inglesa, havia um estojo de joias em veludo azul.

Steven me olhou entusiasmado, balançou a cabeça incitando pegar o presente e eu ousei abrir o estojo contente. Me deparei com um lindo colar, acompanhado de um discreto e tão belo brinco, ambos em outro branco e diamantes.

— Para a mulher mais maravilhosa do mundo, para celebrar o amor grandioso que sinto por você.

***

Nova York, 12 de julho de 2011.

Apoiei minhas mãos sob a pia do banheiro. O meu desapontamento e milhões de duvidas pairando minha mente, refletiam no enorme espelho preso a parede, preso assim como eu, a um passado que deveria ser o meu presente. Sonhei por anos com esse futuro e hoje vivo das poucas lembranças que o trauma e o sofrimento ainda não corroeram.

Ouvi pequenas batidas na porta do banheiro. Tomei um impulso de coragem e saí.

— Você tem certeza que irá até o fim Ems? — perguntou preocupado.

— Sam! Mas que idiotice, você me pergunta isso umas quinhentas vezes ao dia. Claro que vou. Eu irei até o fim. Agora me ajude com esse colar. — entreguei-o o estojo com o colar dado por Aiden.

— Uau. — falou ao abri-lo. — Esmeraldas e diamantes. Isso deve valer uma fortuna. Ele deve estar muito apaixonado por você maninha.

— Não diga asneiras. Um homem como ele não tem coração e não se apaixona facilmente. Não seja bobo, não se engane com toda aquela diplomacia em conquistar alguém pelo papo galante dele.

— Se eu fosse mulher, por um colar desses, eu dava fácil.

— Você seria uma vadia, com certeza.

— Acho que a melhor profissão do mundo é ser puta. Você deveria tentar, porque ser viúva é chato. Ser uma viúva vingativa, além de chato é perigoso. — colocou o colar que ficou perfeito em mim.

— Você deveria ficar de boca fechada para eu não colar sua língua com cola instantânea. — levei minhas mãos ao colar, virando em seguida.

— Tem algum trabalho para mim?

— Não. Por hoje é só. Se eu precisar de algo eu ligo. — peguei a bolsa e saí.

***

A casa de Aiden era tal quais os recortes de jornal.

Quando passei pelos seguranças, tentei me concentrar. Estacionei o carro em frente à porta principal, um empregado veio diretamente abrir a porta para me ajudar a sair do carro. Agradeci acenando a cabeça discretamente e com um sorriso desconcertado.

Examinei a casa, o jardim e a quantidade de seguranças espalhados pela propriedade. A porta se abriu e uma empregada jovem me recepcionou.

— Senhorita Parker? Siga-me. O senhor Stone, já está a sua espera.

Voltei a acenar com a cabeça e sorrir da mesma forma, tentando parecer simpática e disfarçando meu nervosismo. Segui a empregada por uma sala que parecia ser do tamanho do meu apartamento. Repleta de esculturas e obras de arte renascentista. A empregada andava rápido demais, tentei acompanha-la de modo que não parecesse afobada, então andei enquanto observava tudo ao meu redor com máxima riqueza de detalhes.

Chegamos a uma sala, uma espécie de biblioteca — me surpreendeu que ele colecionasse tantos, sobre os mais diversos tipos de assuntos. Desde artes á esoterismo, o homem realmente era muito inteligente. — Aiden estava de pé ao lado do birô, com uma taça de vinho na mão. Após abrir a porta e observar minha passagem, a empregada deu as costas, cerrando-a atrás de mim.

— Eu não imaginei que o colar ficaria tão bem em você.

— Casa adorável.

— Gostou? Pode ser sua, se me der seu coração, eu lhe dou meu império em troca.

— Dispenso, porque acho que a Meg fará melhor proveito de tudo que você tem a oferecer e o coração dela talvez queira ser seu, tanto quanto o meu.

— Alimentarei esperanças.

— Esperança é como piranhas, se alimentar elas por tempo demais, um dia ela se alimentará de você.

— Gosto de você por inteira Emily. Mas gosto ainda mais desse mistério que me impõe. Nunca conheci uma mulher como você.

— Não existem... Mulheres, como eu.

Aiden me entregou uma taça de vinho. Tomei um gole enquanto sentava-me próximo a lareira. Com delicadeza, cruzei as pernas e me recostei na cadeira. Ele sentou-se junto à mim. Apesar de eu estar vestida elegantemente para ocasião, com um vestido na altura do joelho e o maravilhoso colar de esmeraldas e brilhantes, presenteado por ele, ele trajava um suéter e uma calça jeans. Suas coxas bem torneadas estavam no limite daquele tecido e quando ele sentou-se, indiscretamente o formato do seu membro veio à tona, me deixando um pouco sem graça, pois eu não esperava olhar para aquele lugar daquela forma.

Tentei desviar o olhar, e não deixá-lo perceber o que eu acabara de olhar.

— Então. Fale-me sobre a sua vida, seus planos...

— Minha vida não deveria ser o assunto de hoje, mas sim a sua.

— A minha? Porque a minha?

— O que pretende Aiden? Conquistar-me?

— Esse é o primeiro passo. Mas, a verdade é que preciso de uma esposa como você Emily. Jovem, bonita, sensual, atraente, de certa forma rica e que faça meu coração balançar exatamente como você faz.

— Diz isso à Meg também?

— Claro que não. Já lhe disse que Meg é um acordo, um negócio. Ela sequer foi para a cama comigo.

— Pretende ir para a cama comigo Aiden, receio que seja um pouco difícil isso acontecer. Não gosto de homens comprometidos.

— Não seja boba Emily. Sabe o quão agradável nós seriamos juntos? Além do amor que sentiremos um pelo o outro, os negócios do seu pai seriam diretamente influenciados, assim como sua fortuna duplicaria.

— Já lhe disse que não me importo com dinheiro ou negócios. O que eu quero certamente você não pode me dar.

— Mas, aposte que eu buscaria o céu se possível.

— Estou certa que sim.

— Encontre algo que queira. Eu a darei. — até mesmo sua cabeça numa bandeija? Pensei.

Conversa vai, conversa vem. O jantar foi suculento e proveitoso. Jantamos ali mesmo, sob a luz e o calor da lareira. Quando as empregadas vieram retirar os pratos, Aiden esperou que elas se retirassem e virou-me para ele, segurando firme em meus braços, beijou-me.

Fiquei sem fôlego, pois assim como mais cedo, ele me beijou firmemente, avançando minha boca lentamente. Sua língua macia sugava a minha num beijo profundo que estremeceu minhas intimidades pelo erotismo que ele provocava. Ele continuava a me puxar para junto dele, enquanto acariciava meus cabelos. Suas mãos desceram pelo meu pescoço e por fim me livrei daquele jogo impaciente de sedução. Aquele homem estava me deixando envolvida, a ponto de inibir minhas verdadeiras intenções. Se eu não aprendesse a dominar esses impulsos carnais, eu corria o risco de ser envolvida por algum tipo de sentimento ou prazer junto a esse monstro.

— Eu preciso ir.

— Durma aqui comigo.

— Não posso Aiden. Não posso, não devo e não quero.

— Mas, se não quer, porque me beijou?

— Oras, porque você é bonito, atraente. Eu sou humana e o sangue pulsa nas minhas veias. Assim como a ocitocina me deixou extasiada pelos seus encantos esta noite.

— Fique aqui comigo. — ele me encarou fixamente.

— Acho melhor não, você tem a Meg, e...

— Ora, esqueça a Meg. Eu já disso que não estou preocupado com ela e não a quero como gosto de você Emi...

Virei-me para Aiden e pus as duas mãos em volta do seu pescoço. Engoli em seco. Senti-me atordoada e travada em ambos os sentidos. Sequer pensava direito.

— Eu irei para casa esta noite. Sinto muito por nossos caminhos não terem se cruzado antes. Tenha uma boa noite querido. — beijei de leve o canto dos seus lábios. Peguei a bolsa e desfilei para a saída, movendo bem os quadris.

***

Cheguei em casa e fiz o mínimo de barulho possível, tentei evitar acordar Sam e ele me encher de perguntas e observações sobre meus planos ou que quer que seja. Ele não acordou e eu quase derrubei mil vasos no chão, porque quando você precisa fazer o máximo de silêncio é o que menos consegue? Acho que a namorada estava com ele e isso me deixou relativamente alegre.

O ritual para dormir seria o mesmo de sempre. Tomar um banho quente de espuma, retirar a maquiagem antes com o produto que Kim — a nova esposa do papai, com idade para ser minha irmã — trouxe-me da ultima viagem à Paris. Esse produto era de fato incrível e me poupava muito tempo. Fiquei pensando em mamãe, como ela era bonita e no quanto o papai fala que me pareço com ela. Físico e emocionalmente somos muito parecidas, é verdade. Logo me senti triste pelo pouco tempo que ficamos juntas, a doença a levou muito rápido. Seus olhos eram como gotas do oceano e eu sentia uma saudade quase infinita dela, assim como sentia de Steven agora.

Eu mal conseguia acreditar naquele jantar, naquele beijo. A situação estava saindo do meu controle porque eu começava a achar que meu ódio era grande o bastante para repelir qualquer emoção por aquele crápula do Aiden. Meu estômago ficava facilmente embrulhado só de pensar naquele homem me tocando novamente, infelizmente era o que eu teria que aguentar se quisesse ir até o fim, descobrir o que aconteceu a Steven e vinga-lo de alguma forma. Concordo com Sam, embora o reprima quando ele me diz que eu não sei em quê estou me metendo, ou que nem tenho articulado por completo o que irei fazer com as informações que vou coletando. Acho que ele me subestima ou acha que eu apenas estou encantada com as dezenas de filmes de 007 que assistimos outro dia. O bom é que Anna assiste achando que é mera diversão, para mim e Sam trata-se de treinamento e preparação para o que nos aguarda.

Estou vencendo lentamente. A pior parte que seria me aproximar dele e chamar a sua atenção já foi conquistada. Com o resto irei vendo o que fazer. O máximo de coisas que eu puder fazer para destruí-lo, eu o farei.

***

Me divirto esburacando cérebros
Vendo minha alma dando nome aos bois
Ei, não gosto deles, meu Deus, o que é isso?
Oh, surgem tantos hábitos obscenos quando a vadia voltar

(Elton John)

O vinho me fez dormir demais essa noite. O que me fez acordar mesmo, foi o celular que tocou insistentemente e pelo toque — The Bitch is Back (Elton John) — tive a nítida impressão que Meg estava impaciente por falar comigo. O que diabos ela queria às onze da manhã. Onze?

Como pude dormir tanto?

— A-Alô?

— Emily? Bom dia! Acordei-a?

— Graças a Deus! Acho que perdi a hora.

— Poderia vir até a minha casa, por favor?

— Claro! Mas, aconteceu alguma coisa?

— Prefiro falar pessoalmente.


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