Por Você escrita por Sylmara Carla


Capítulo 4
Capítulo 4




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Emily

Nova York, 12 de Julho de 2011.

O dia amanheceu frio e propenso a chuvas, não era um clima atípico, mas eu esperava um dia ensolarado para que hoje eu pudesse dar conta das mil e uma atividades que eu teria para preparar o casamento, que eu ajudaria mais a atrapalhar que concretizar.

O ar condicionado do carro me deixou com os lábios roxos e isso exigiu uma camada extra de hidratante labial. Meu celular tocou uma, duas e três vezes ou mais, eu olhava atenta ao volante e dava para ver que era da Stone Corporation. Sabrina com certeza já começava a ter um dia cheio com Aiden consumindo seu juízo a consumir o meu, para ter um horário no qual eu fosse aparecer. Por mim ele morreria sentado e esperando, pois não estava nos meus planos atender aos seus caprichos e nem ir lá. O visor do celular continuou acender, apagar, vibrar e tocar. Nem o banco carona aguentava mais. Liguei o rádio para contrapor aquele som irritante e segui para a reunião na floricultura, como se nada me atormentasse.

Hoje definitivamente, não era um dia dos melhores.

***

A floricultura parecia uma convenção de bruxas, não, pior ainda uma casa de répteis. Se levarmos em consideração as bolsas, sapatos e estampas das roupas, certamente era a segunda opção. Já havia uma certa caracterização, se é que ficou claro.

A questão é que todas as piores etapas do meu plano estavam ali, num mesmo ambiente, dando suporte uma a outra e me ameaçando integralmente: Joan, Meg e a sua mãe asquerosa que me olhava pelos cantos dos olhos cheios de colágeno.

Era simplesmente de tirar o fôlego.

Tentei analisar o ambiente, ainda de fora. Supondo que eu não estava atrasada, aqueles olhares curiosos vindo em minha direção deixava-me um pouco assustada com o que se passava por suas mentes ao me olhar. Não deveria temer a nada, ou então daria motivos para que elas me engolissem viva.

Bati a porta do carro. Passei pela porta de vidro. O doce aroma de flores campestres e a camada de vendo que atravessou meu corpo, me arrepiou o couro cabeludo. Maldito ar condicionado!

Levantei a cabeça, fechei os olhos e respirei fundo.

— Bom dia! — falei, abraçando a agenda junto ao corpo.

— Bom dia! — responderam em coro.

— Espero não tê-las feito esperar muito. — estava um pouco sem graça e sem uma maneira mais respeitosa de iniciar essa conversa.

— De maneira alguma Emily. Você foi pontual, como de praxe. Arrastei mamãe e Joan da cama, pois queria avaliar com mais calma as flores e opções de decoração, para não tomar muito do seu tempo. — respondeu entusiasmada Meg.

Fiz que sim com a cabeça e puxei uma cadeira para sentar-me, abrindo a agenda em seguida e estava pronta a anotar suas decisões.

O silêncio era unânime, exceto pela minha cabeça que falava e articulava mil ideias ao mesmo tempo.

— Não acredito nesse frio, estamos no verão! — quebrou o silêncio Joan.

— Pois é! O tempo está cada vez mais louco. — Meg completou.

— Que flor irá querer Meg? — perguntei.

— Hortênsias. Por toda a parte.

A vendedora da floricultura, logo se aproximou com uma pasta contendo valores, prazos e demais informações sobre a encomenda de flores, modelos de arranjo e tudo mais. Enquanto continuei discutindo com a mesma todos os detalhes, Meg saiu com sua mãe e Joan a tiracolo. Encontrei-as do lado de fora, onde admiravam algumas Gérberas.

— Meg me disse que você é filha do Edward Parker. — falou a megera da mãe da Meg. — De qual esposa você é filha?

— Elisabeth.

— Adorável. Lamentável que tenha nos deixado tão cedo!

— Sim.

— Ed é um grande amigo e parceiro nos negócios do meu marido. Diga-me, meu bem. Você também tem um namorado?

— Não. Não me sobra muito tempo ou interesse!

— Não é lésbica não é?

— Oh, não! — eu ri, foi imprevisível essa pergunta.

— Ótimo. Moças como você e minha filha, sempre terão um prestigio acima de qualquer moça. Desculpe Joan, você e Emily conseguiram um bom partido naturalmente, pelo status que asseguram, mas jamais terão um como Aiden.

— Ele já é meu. Consegui fisga-lo bem! — senti um riso frouxo sair dos lábios de Meg que apesar de segura, trazia consigo certo receio.

— Pensei que se tratasse apenas de negócios! — Joan quebrou o clima romântico e levou uma olhada severa da megera.

— Bem, eu tenho que ir andando. Ainda tenho alguns compromissos. Qualquer coisa me ligue hein Meg? — falei enquanto cumprimentava uma à uma e me afastei andando o mais rápido que pude ao carro.

Meu celular voltou a tocar. Os olhos de Meg não deixaram de me fitar. Ela cochichou algo à Joan e voltou seus olhos a mim.

***

Aiden

Como ela ousa não me atender?

Quem ela pensa que é?

Insisti em repetir essas perguntas, mas muitas vezes que interfonei a Sabrina e não obtive boas respostas quanto a um contato com Emily.

— Venha à minha sala imediatamente. — falei para Sabrina por telefone.

— Pois não senhor? — chegou apressada e ofegante.

— Cancele todos os meus compromissos para hoje!

—M-Mas, o senhor tem muitas reuniões importantes hoje, com investidores japoneses. O que devo dizer para eles?

— Qualquer coisa. Sua imaginação é fértil não? Toda mulher, tem uma imaginação bem fértil. Use-a! — falei enquanto pegava meu paletó.

— Se a senhorita Meg ligar ou aparecer?

— Diga a verdade!

— Que verdade?

— Que eu saí sem avisar para onde ia.

— E para onde o senhor vai?

— Não lhe darei motivos para mentir. Até amanhã!

***

Corri para a saída de emergência do prédio que dava no estacionamento privativo da cobertura. Não ter que passar pela entrada principal, pouparia que quando alguém questionasse meu paradeiro, desse artifício para especulações. Liguei para o celular de Emily, dessa vez era eu mesmo que insistira, mas foi em vão. Mais uma chamada encaminhada para a caixa de mensagem.

A noite anterior eu não consegui dormir. A cada vez que fechava meus olhos, era sua silhueta perfeita que eu vislumbrava. Minha mente continuou a ir mais longe, imaginando-a despida e envolta em meus braços. Era isso, estava loucamente apaixonado por Emily só não sabia o quanto louco estava ficando com aquelas emoções afloradas e o desejo incontrolável que sentia por beijá-la. Sua recusa, a espécie de repulsa que ela parecia me passar com seu olhar sempre investigativo, me deixava ainda mais alucinado. Eu precisava daquela mulher, queria possui-la de toda e qualquer maneira.

Cheguei a casa de Emily esperando encontra-la. Seu irmão me recebeu e foi muito educado em permitir que eu a esperasse no interior de seu lar.

— A Emily tinha uma reunião com um cliente hoje. Acho que era numa floricultura, se a noiva for decidida, creio que ela não demorará.

— Agradeço senhor Parker.

— Sam! O senhor Parker é o meu pai.

— Você e Emily, são avessos ao estilo de vida luxuoso do seu pai.

— Sim, a gosto e contragosto. Papai é um homem rígido, intransigente. Ele e Emily são muito parecidos, são obstinados em fazer-se compreendidos. Quando mamãe morreu, meu pai teve muitas mulheres. Nenhuma é o que dizemos de “aturáveis”.

— Emily é encantadora, sem duvida.

— Muito, não é porque é minha irmã, mas ela é sensacional.

— Ela tem namorado?

— Não. Ela cria uma espécie de barreira entre ela e os homens. Vem cá, e você é noivo não é? Da Meg Campbel.

— Sim.

— Nunca pensei que você fosse do tipo, que fosse se amarrar à alguém Aiden.

— Como assim?

— Digo. As revistas mostram você um garanhão incurável, um exemplo a quem quer ser eternamente solteiro.

Ri, porque era exatamente assim que eu gostaria que todos me vissem. Ouvi a porta bater e o olhar assustado de Emily ao derrubar as chaves no chão, foi sem dúvida a melhor parte daquela visita.

— Bom, eu já vou indo. — o irmão de Emily saiu apressado.

— O que faz aqui Stone? — Emily me indagou contrariada.

— Eu tentei fazê-la vir até mim o dia inteiro. Como se recusou a atender o celular, a montanha vem a Maomé.

— Não gosto desse seu método invasivo. Embora eu esteja trabalhando para você, isso não faz de mim uma de suas funcionárias passiveis de controle.

Antes que ela destilasse ainda mais o seu veneno e revolta. Puxei-a para junto de mim, envolvendo meus braços em sua cintura. Senti sua respiração ofegar junto à minha. Por milímetros de distância da sua boca, inclinei a cabeça para beijá-la quando ela se afastou instantaneamente.

— Diga logo o que quer! — gritou impaciente e desconcertada.

— Queria lhe dar isso! — entreguei-a um estojo de jóias.

— O que é isso?

— Abra!

Quando ela abriu, ficou encantada naturalmente.

— Um colar! Por que me deu? O que espera com isso?

— Calminha! É apenas um presente, algo para que se lembre de mim.

— É um presente muito caro! Eu não quero.

— Eu insisto que aceite.

— Não fica bem eu aceitar. Além do mais, essa é uma joia muito valiosa, eu nem teria onde usá-la porque não gosto de festas.

— Aceite jantar comigo em minha casa hoje à noite. Será totalmente discreto e terá a oportunidade de usá-lo e me deixar vê-la com ele.

— Eu já disse que não espere me conquistar. Porque ambos não estamos disponíveis.

— Eu sei que está disponível e por você, eu já disse que me livro da Meg.

— Como pode falar assim? Não vê que ela o ama?

— Não seja tola. Meg está comigo por interesses. Ambos temos muito a ganhar, mas reconsidero que não consigo pensar em outra coisa desde que a conheci. Por favor, Emily. Apenas um jantar.

— Um jantar. Nada mais que isso e não espere me beijar, ou me levar para a cama. Fui clara?

— Perfeitamente. As nove?

— Combinado. Agora vá!

Quando Emily se virou para me levar até a saída, puxei seu braço trazendo-a para junto de mim. Seu cabelo cheirava maravilhosamente à cerejas, seus lábios roseados, seu perfume adocicado e encravei meus lábios no seu. Senti que ela comprimiu um pouco os lábios na tentativa de não me permitir beijá-los, mas acabou abrindo a boca e rendendo-se ao beijo. Foi intenso embora rápido. Por um momento, senti um calor aflorar meu corpo de baixo para cima. Seus ombros nus demonstravam sua pele de pêssego, brilhosa. Passei minhas mãos por eles, levando meus lábios a beijá-los em seguida pelo pescoço quando suas mãos me repeliram.

Saí olhando para trás com receio de deixa-la e talvez ter feito algo errado. Emily me lançou um olhar amistoso e com um sorriso bobo, fechou a porta, cerrando assim nosso contato por ora.


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