Por Você escrita por Sylmara Carla


Capítulo 3
Capítulo 3




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Emily

— Ems, você está se arriscando ficando próxima dessa gente. Eles são perigosos. — tentou me convencer mais uma vez inutilmente o meu preocupado e ansioso irmão.

— Sam... Não me subestime. Essa “gente” como você diz, arruinou minha vida. Não descansarei até fazer o mesmo com eles.

— Você parou para pensar que muita gente vai sofrer com essa vingança? Gente que nem merece?

— Efeitos colaterais. Existem, são necessários e não podem ser evitados quando temos um alvo.

— Para! Você está me assustando, nem parece com a minha irmã doce e delicada.

— Acostume-se porque ela não existe mais.

— O que te dá garantias que esse tal magnata, Aiden é o culpado pelo que aconteceu ao Steve? Nunca entendi direito.

— Steve deixou no cofre uma serie de documentos, diários e anotações que apontam o Aiden como seu inimigo e o único com interesses específicos na sua morte ou sumiço.

— Por quê?

— É isso que quero descobrir. O Steve tinha muitos negócios, a empresa está sempre em franco e avançado desenvolvimento comercial, atrai os olhos de muitos abutres, principalmente da concorrência.

— Jogo de poder?

— Sim.

— Eu sinto que há algo mais. A Coca-Cola jamais destruiria os donos da Pepsi por concorrência. Se eles tinham uma espécie de conflito, deve ser algo além de negócios empresariais. Devem ser outros negócios.

Emudeci. Diante do que Sam expôs, estava ficando cada vez mais nítido para mim, que nessa historia havia tantos mistérios quanto eu podia imaginar. Muitas das anotações do Steve não são claras o suficiente e sempre deixa uma espécie de incógnita. Não sei se ele apenas está falando sobre concorrência ou parceria. Quando Sam me levantou sua opinião, comecei a pensar que ambos escondiam algo secreto e que envolvia traição de alguma parte.

***

Março, 2010.

Fiquei mais tempo que o normal na cama, o sono me acorrentou essa noite. Ouvi por um tempo, a respiração descompassada de Steve. Ele estava cada vez mais estranho, e já não sabia o que o atormentava por dentro, mas que ele não deixava transparecer.

Aproveitei esse raro momento, já que não temos nos visto com tanta frequência por conta dos preparativos do casamento, para indagá-lo sobre essas percepções que tenho feito ao longo do tempo.

Faltam apenas três meses para o casamento, e sinto que apenas eu me sinto ansiosa ou talvez eu esteja maximizando todo esse nervosismo e querendo estendê-lo a todo mundo.

— Sabe o que as pessoas falam sobre o casamento? — perguntei.

— Não faço ideia.

— Não acredito, nem as coisas mais vis? Piadinhas sem graça?

— Nem isso.

— Pois bem, o casamento é um ritual de vinculo entre duas pessoas. Não sinto que existe vinculo ultimamente entre nós.

— Ems, você não quer dizer que eu esteja traindo ou deixando de amar você, certo?

— Não. De forma alguma, me sinto amada. Mas, me sinto excluída de algumas partes da sua vida. Como por exemplo, seus assuntos profissionais.

— Eu já me aborreço o suficiente com esses assuntos para estendê-los a você. Eu te amo...

— Tambem te amo. Estou te sentinto apreensivo, preocupado...

— É um acordo que irei fechar esses dias, me deixam um pouco pensativo se vai ser bom para empresa.

— Só isso? Você está passando por alguma dificuldade...

— Ems, está tudo bem. São apenas negócios.

***

Nova York, 11 de Julho de 2011.

Negócios... Negócios!

Terminei o relatório do que precisaria que Sam providenciasse nos próximos dias e enviei por e-mail, para deixar tudo ainda mais seguro. O mais difícil para mim, era criar todos os codinomes possíveis para não pôr em risco a minha identidade e/ou a operação. Encomendei uma vasta investigação da vida de todos os funcionários da cúpula da Stone, incluindo a tolinha da Meg.

Eu já tinha alguns palpites. Inclusive, eu já podia vislumbrar uma luz no fim do túnel quanto ao próximo passo que era me aproximar do irmão gêmeo recluso de Aiden. Sua maior vergonha ou segredo pode afirmar.

Aiden tem um irmão gêmeo. Jesse. Que está preso, por ter assassinado a esposa a sangue frio. Um escândalo que Aiden varreu para debaixo do tapete por conveniência, mas acabou sendo o trunfo que eu esperava para desestabiliza-lo socialmente.

Fechei o laptop, pus a capa e me dirigi à saída da casa, antes de ser interrompida por Ana, a noiva melancólica do meu irmão.

— Emily? Aonde vai? — perguntou Ana, curiosa com minhas saídas frequentes.

— Vou ao mercado Ana. Comprar algumas coisas que estão em falta.

— Não precisa. Já comprei tudo o que faltava.

— Como? — perguntei incrédula.

— Eu decidi que irei fazer um almoço especial para o Sam hoje.

— Ah. Entendi. Mas, mesmo assim tenho que ir ao centro, aproveitem o almoço e não se preocupem comigo.

— Mas, eu queria que você estivesse aqui porque eu tenho alguns planos.

— Vocês me põem a par depois. Adoraria participar, inclusive eu já ia no mercado comprar algum congelado para que o Sam tivesse o que comer, porque eu realmente terei um dia cheio hoje.

— Tudo bem então. Vou deixar alguma coisa pronta na geladeira tá?

— Ótimo. Agradeço-te um monte. — dei um beijo na bochecha dela e sai apressada querendo me livrar o mais rápido possível das suas especulações.

Ana é um doce sem duvidas. Fico feliz que o Sam tenha encontrado alguém a sua altura. Alguém que se preocupa que busca fazer o bem e amar sem medidas. Só espero que ela não atrapalhe meus planos ou prejudique o Sam nos seus afazeres, se não terei que me livrar dela também.

***

Aiden

Eu poderia tentar explicar o que sentia, mas Emily e ninguém entenderiam as reações mentais e físicas que ela me causa. Não queria ficar pensando em Emily o tempo todo, estou encantado, mas corro sério risco de ficar apaixonado, como nunca fui antes. Meg era minha noiva e se eu não for capaz de sentir por ela o que sinto agora por Emily, precisaria forçar uma espécie de civilidade em me separar dela.

— Interrompo?

— Não Sabrina, entre.

— A senhora Meg ligou, querendo saber se o senhor estará presente no jantar beneficente ao qual foi convidado.

— Sim. É muito importante. Mas antes, preciso que você providencie um majestoso colar de diamantes.

— Apenas diamantes senhor?

— Escolha o mais majestoso. Ele tem que ser surpreendente.

— Sim senhor.

Sabrina se retirou da minha sala e eu me preparei para sair. O jantar beneficente estava próximo e era muito importante para mim, me comprometi em fazer uma boa doação para construção de um hospital para tratamento do câncer infantil.

A vantagem de ser rico deveria ser essa. Modificar um pouco a existência vil e desconfortável dos outros, através do dinheiro. E através da Stone Corporation já consegui me envolver em varias questões sociais que vão desde a fome na África ao câncer infantil. Sinto-me aliviado, pois trazem um excelente retorno fiscal.

— Senhor Stone, boa noite. — me abordou a simpática empregada da segunda feira.

Seu olhar oferecido me deixava apreciar suas belas curvas e o belo seio que ela não escondia através de três botões entreabertos do uniforme. Dei-lhe um sorriso malicioso e pus meu paletó em suas mãos, junto a maleta. Segui direto ao quarto, para me arrumar e ainda dar tempo buscar Meg.

— Faça-me um favor. Ligue para senhorita Meg e pergunte se já está pronta e caso não esteja, diga que em vinte minutos estarei lá. Obrigado.

***

Avisar a Meg que chegaria a vinte minutos, não me livraria de ter que esperar mais uns cinco ou dez minutos para que enfim ela despontasse no alto das escadas com um sorriso incrédulo quanto a minha impaciência.

— Gostou do vestido?

— Está parecendo uma versão moderna de uma índia cherokee.

— Não acredito Aiden. Você tão entendido de arte e não compreende moda. Isso é um autentico Valentino.

— Está bonito. Mas muito americano.

— Vamos? — bufou.

Os olhares da festa voltaram-se a nós instantaneamente, conforme fomos adentrando o baile. Muitos executivos, celebridades e convidados conversavam entrosados e pararam imediatamente quando nos juntamos a Robert, meu sócio.

Tomei uma taça de champanhe nas mãos e senti uma mão suave tocar meus ombros.

— Meus parabéns senhor Stone. O baile está memorável.

Era Emily. Quase engasguei. Aqueles adoráveis olhos verdes me fitaram auspiciosos e eu tremi na base.

— Emily! — Estava de fato surpreso.

— Emily?! Não sabia que havia sido convidada. Você a convidou amor? — perguntou Meg.

— Não. Na verdade, meu pai é um dos apoiadores dessa causa tão importante.

— Seu pai? — Meg riu surpresa e com tom de zombaria.

— Embora não pareça, meu pai é Edward Parker.

— Ed? — cada vez mais incrédula.

— Você conhece a família de Emily? — perguntei.

— Sim. Ed e papai são amigos de longa data. Bem que ele me dizia que tinha uma filha arredia aos prazeres do dinheiro. Cada vez mais encantada. Tenho certeza que meu casamento será um show para a sociedade nova iorquina.

— Certamente, senhorita. — Emily respondeu.

— Meg. Somos do mesmo nível, embora você esteja trabalhando para mim. Seremos grandes amigas.

— Claro que sim. — Emily riu e desviou o olhar para mim, me encarando desconcertante novamente.

— Eu... Espero que aproveite a festa. — tremi.

—Estou aproveitando ao máximo. Está agradabilíssima.

— Olha, Joan está aqui. Eu já volto querido, com licença Emily.

—Toda.

Assim que Meg nos deixou, não hesitei em me sentir menos firme em relação à Emily, que agora parecia um carneirinho fácil a minha presa.

—Seu investimento é magnifico Aiden.

—Temos que nos manter preocupados com tais situações sociais tão aterradoras.

—Claro. Principalmente no incentivo fiscal do governo para quem se preocupa com questões sociais.

—Acontece com seu pai?

—Claro que sim. Meu pai não se importa com nada a não ser o próprio umbigo, porque se preocuparia com pobres criancinhas?

—Você não se incomoda de representa-lo sabendo que é mera atuação?

—Não. Porque se depender de mim não será. — Emily sorriu e inclinou a taça de champanhe em minha direção se retirando para o outro lado da festa.

Uma leve batida no ombro interrompeu meus pensamentos maliciosos quanto a Emily.

— Bob!

—A festa está perfeita para os negócios que planejamos. A parte chata serão os discursos melosos que você vai fazer.

—Eu? Pensei que fosse se comprometer quanto á isso.

—Claro que não. Você irá fazer mostrar-se demasiado preocupado com o câncer infantil, com essas pobres crianças que vieram aqui essa noite.

—Claro. Deixa comigo.

—Você tá meio tenso, Aiden. Algum problema?

—Não. Soluções apenas meu caro.

Dirigi-me ao palco principal e terminar com aquele circo o quanto antes. Apesar da habilidade espontânea que Aiden tinha em tentar me envolver no seu jogo de sedução, eu era ainda mais habilidosa em tentar fazê-lo acreditar que isso era possível e que eu era um alvo fácil. Uma conquista notória.

Quando todos os olhares se direcionaram ao palco, todos pareciam se amontoar como formigas. Cada um que conquistasse um espaço próximo à sua majestade.

Aiden subiu dois degraus correndo. Uma chegada de boxeador certo da vitória. Pôs as mãos nos bolsos da calça, todo grande líder e orador, tem essa mania de transparecer calma e controle das atenções.

— A cada ano, mais de 160 mil crianças são vitimadas pelo câncer em todo o mundo. A esperança dessas crianças é serem bem atendidas. Terem os melhores profissionais, equipamentos, medicamentos e tratamentos mais inovadores e de sucesso no mundo. O investimento da Stone Corporation é sem duvida, permitir que tais itens sejam alcançados. Eu concretizo a doação símbolo e pontapé inicial de 50 milhões de dólares, para construção de um hospital e centro de pesquisa da doença. E peço a todos os grandes homens e mulheres de negócios que estão hoje presentes, que haja com a mesma generosidade. Obrigado a todos. Tenham uma boa noite.

Continuei fitando e decorando cada mínimo movimento dele. Por um longo momento me perdi tentando compreender quais eram suas intenções. Pobres crianças que iriam pôr suas vidas em suas mãos, assim como o meu Steve.

Meg veio desfilando em minha direção, junto a Joan Rogers e sua sanguessuga social Marissa Sanders.

— Pois imaginem só senhoritas, que essa linda e deslumbrante moça é a organizadora do meu casamento. — tentou parecer amistosa.

As outras socialites continuaram a me fitar com desprezo.

— E acreditem quem quiser, é filha de Edward Parker.

— Incrivel querida. Que sendo filha do Ed... Ah claro, Emily! — falou Joan, muitas vezes eu havia visto ela em eventos sociais na casa dos meus pais.

— Joan, querida. — cumprimentei-a com os fatídicos dois beijinhos faciais.

— Inacreditável Emily. Mas eu sabia que a conhecia de algum lugar. Seus olhos me pareceram familiares. Mas, o que aconteceu para virar uma organizadora de casamentos? Não foi o trauma não é querida? — ameaçou a denunciar-me espontaneamente.

— Claro que não Joan. Eu sempre amei eventos e cerimonias, principalmente o casamento. Faço muito gosto. Independente. Bom, mas se me dão licença queridas. Eu tenho uma doação a oferecer em nome do meu papaizinho.

Enquanto eu assinava a doação, Aiden tocou meu braço firmemente.

—Emily. Eu quero vê-la amanhã.

—Não sei se estarei disponível Aiden.

—Não me interessa. Eu quero vê-la amanha. Estarei o dia todo na empresa e darei ordens para que tenha acesso pleno em qualquer horário.

Deu-me uma ordem. Uma intimação, clara e incontestável. O que ele queria, eu não sei. Mas, antes de qualquer ação, eu deveria arrumar uma forma de calar Joan. Que era uma ameaça clara a todos os meus planos e poderia denunciar o porquê da minha imersão nesse mundo.


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