Base da S.H.I.E.L.D, minutos depois.

– Sim, Sr. Presidente. Claro. Eu cuidarei pessoalmente disso. Sim, claro.– Resmungava Fury ao telefone. - Tenha uma boa tarde, senhor.– Disse, desligando o aparelho. Fury já estava se acostumando a ser cobrado repetidamente, e a situação era sempre desagradável. Girou na cadeira e olhou pro teto, estava tão cansado que poderia dormir ali mesmo. Porém, ouviu duas batidas na sua porta e uma voz anunciou em seguida: ''Agente Hill.''
– Entre.– Disse Fury, e a porta logo se abriu, revelando uma mulher ligeiramente pálida.
– O relatório sobre a garota de Nevada está pronto.– Anunciou. - Devo confessar que já li tudo e estou impressionada.
– É, o projeto dela é genial.– Comentou Fury, estendo a mão para alcançar os papéis que a agente trazia.
– Sim, os projetos são incríveis, mas não foi isso que me surpreendeu.– Disse ela lhe estendendo as pastas cujas capas traziam ''Clarence Jean Hummels''.
– Pode me adiantar esse assunto?– Pediu Fury, começando a folhear os documentos.
– Sim, sim, prepare-se.– Pediu ela, Fury esboçou certa curiosidade e lhe deu um aceno de mão para que começasse. Hill ligou um dos painéis da sala usando um controle remoto, logo a foto de Clarence apareceu na tela. - As primeiras informações sobre ela são simples: nasceu em Las Vegas, cresceu no subúrbio, não possui o nome do pai nos documentos, a mãe morreu cedo e ela foi dada pra adoção. Foi uma aluna brilhante no colegial e conseguiu uma bolsa na Universidade local.
– Não vejo nada de impressionante nisso, a não ser o espírito de superação da Srta. Hummels.– Interrompeu Fury.
– É, mas a coisa muda quando olhamos as informações sobre a mãe.– Disse Hill, e a foto de Gustine apareceu no painel. - Gustine Hummels, uma enfermeira que trabalhou por muitos anos como garçonete em um cassino. Nasceu em São Francisco, se mudou para Nevada ainda criança e foi uma funcionária exemplar do Bellagio...exceto, por uma advertência há cerca de vinte anos atrás. Ela passou a noite com um hóspede do hotel-cassino.
– E por que isso é impressionante?– Perguntou Fury, já impaciente.
– Por que nós dois conhecemos muito bem esse hóspede.– Começou Hill. - Anthony Stark.
Houve silêncio na sala. Fury pareceu se fechar em seus pensamentos, depois de algum tempo tornou a falar.
– Você acha que...
– Bem, pouco mais de seis meses depois ela se demitiu, estava grávida.– Disse Hill. - É uma equação muito simples, Gustine Hummels só deu a luz a um filho, no hospital de Las Vegas nove meses depois de ter sido advertida e quase demitida por se envolver com Tony.

– Bem, isso não quer dizer nada, eles se envolveram por uma noite, ela poderia ter um namorado, um marido...– Começou Fury.

– Nada disso consta nas informações. Era solteira e morava sozinha.– Informou Hill - Não podemos descartar encontros casuais, é claro.
– Acha que o Stark sabe?– Questionou Fury, que agora se levantava de sua cadeira.
– Duvido muito, por algum motivo essa garçonete nunca o procurou.– Disse a mulher. - Não sei por que o destino achou que essa situação seria engraçada, mas ele pode ter unido pai e filha.
– Impressionante.– Concluiu Fury, a foto de Gustine sumiu e a tela tornou a ficar preta. Hill saiu da sala em seguida, o homem leu e releu todos os documentos que ela tinha lhe entregado. Não havia mais espaço para dúvidas, e o próximo passo seria crucial.

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– Dr. Banner, tem certeza que está tudo bem?– Perguntou Clarence, enquanto eles desciam para o laboratório e garagem de Tony.
– Ah, sim, tudo bem sim, eu só não tive tempo para almoçar.– Disse Bruce, ajeitando os óculos.
– Eu lhe pagaria um almoço, mas tudo que tenho são barrinhas de cereal, aceita?– Perguntou Clarence, abrindo a mochila.

– Aceito sim, é...muito gentil.– Comentou Bruce com um sorriso nervoso. A simpatia entre os dois tinha sido imediata. Clarence não pode deixar de ficar nervosa com a ideia da dupla personalidade do Dr. Banner, mas logo isso foi deixado de lado. No laboratório, os dois encontraram um Tony Stark totalmente concentrado sobre uma mesa de desenho.

– Ai está você! Sabe o que vai ganhar de Natal, Bruce? Celulares descartáveis. Assim vamos deixar Fury longe do seu rastro.– Comentou ele sem tirar os olhos da mesa.

– Eu já pedi desculpas.– Resmungou Bruce. - Como eu ia saber daquele maldito sistema de interceptação?

– Você estava em uma base de uma super-agência do governo, você achou que eles teriam apenas uma cerca elétrica no quintal?– Questionou Tony, ironicamente. - Claire, venha cá, quero te mostrar o novo rascunho do Ultron.

A garota se aproximou, Bruce a segiu, mastigando a barrinha de cereal. Ela examinou os novos desenhos e ficou fascinada.
– Estão ganhando vida...incrível, você inverteu esses dois sistemas?– Questionou, Tony lhe explicou rapidamente a nova concepção do sistema central que seria o cérebro no robô, Bruce se limitou a ouvir.

– Vou digitalizar tudo, cada equação, Jarvis concertará qualquer equívoco.– Informou Tony. - Ei, por que você esta comendo enquanto trabalhamos?– Perguntou ele a Bruce, que acabara de engolir o restante da barrinha.

– Você também come enquanto trabalha.– Disse Bruce, dando de ombros.
As próximas horas se passaram entre várias conversas, muitos copos de café, vários números e testes com peças sobressalentes de Jarvis. Quando a noite caiu, Bruce, Tony e Clarence estavam reunidos em volta de uma pizza de calabresa da ''Barney & Linton'', um pizzaria de beira de estrada que Stark adorava. Quando o projeto de Clarence deixava de ser assunto, o papo girava em torno do incidente de Nova York. A garota ouviu aos relatos dos dois cientistas com um grande entusiasmo, Bruce não tinha muita coisa a declarar, mas gostou de encontrar uma boa ouvinte. Depois de acabarem a pizza, receberam a visita de Pepper e do pequeno Phillip, que logo voltaram para a casa, pois a criança precisava dormir.

– Ele só queria te ver antes de ir pra cama.– Disse Pepper ao marido.
Clarence via neles uma família quase ideal, amorosa como os Johnson jamais tinham sido. Os três voltaram ao trabalho, mas logo foram interrompidos pela voz mecânica de Jarvis.

– Senhor, o Agente Fury está se aproximando da casa.– Anunciou lentamente.

– Arg, eu achei que ele não vinha mais.– Declarou Stark, fechando a cara. Clarence soltou uma risadinha.

– Foi você mesmo quem disse que ele não desistia fácil.– Comentou ela.

– Bem, vamos recebê-lo, antes que ele invada meu laboratório.– Chamou Stark. Os outros dois lhe acompanharam até a sala de visitas. Não foi preciso esperar muito para que Nick Fury se juntasse a eles. Ele cumprimentou Clarence primeiro, apertando os papéis que trazia consigo.

– Veio avivar em nós o espírito patriota?– Perguntou Stark.

– Tenho algo a tratar antes de falarmos sobre o Ultron e como ele poderá beneficiar o governo dos...– Começou Fury.

– Certo, certo. Conhecemos esse roteiro, vamos ao assunto então.– Cortou Tony, se jogando no sofá. Bruce e Clarence ocuparam duas poltronas ao seu lado, Fury permaneceu de pé, sem saber como começar.

– Bem, Srta. Hummels...antes de mais nada, eu quero saber se o nome de sua mãe é Gustine Rosie Hummels. É esse o nome?– Perguntou, Stark se endireitou no sofá, prendendo a respiração e analisando cuidadosamente as palavras da garota.

– Sim, esse era o nome dela, por que?– Perguntou Clarence, calmamente, sem entender onde aquilo ia chegar.

– E-esse era realmente o nome dela?– Perguntou Tony, como se tivesse acabado de levar um tapa. A garota acenou que sim, sem compreender por que aquilo fazia tanta diferença.

– Bem, acho que não vou precisar refrescar sua memória, Stark.– Recomeçou Fury. - Quando sai daqui mais cedo, fui atrás de toda a informação acessível a respeito da senhorita.
Clarence pensou em protestar, mas no fim das contas já esperava por aquilo.

– Bem, a coincidência é enorme, mas Tony Stark...e sua mãe, se conheceram há alguns anos.– Disse, encarando Tony. - Há precisamente vinte anos. Quantos anos a senhorita tem?

– Aonde o senhor quer chegar?– Questionou Clarence. Bruce franziu a sobrancelha, olhando para Tony, boquiaberto.

– Vinte anos, a senhorita tem vinte anos, certo? Sei que sim.– Disse, começando a andar pela sala. - Mas, o ponto em que quero chegar é: Stark e sua mãe tiveram um rápido envolvimento amoroso...

– Impossível.– Disse a garota, que começava a achar a situação absurda. Olhou rapidamente para Tony, procurando um sinal de negação, mas não o encontrou no rosto do empresário. Quem Nick Fury pensava que era para falar da vida de sua mãe daquela maneira?

– ... e que mesmo que essa relação não tenha sido levada adiante pelo inconsequente Anthony Stark em sua juventude...– Fury continuou, e foi a vez de Tony interrompê-lo.

– Você pode ser minha...filha.– Disse, e a sala caiu num silêncio mortal.