"Eu observava seu sorriso doce, ela falava comigo com entusiasmo, parecia muito feliz. O cabelo liso e escuro, tão molhado, dava a impressão de estar grudado nos ombros, e a pele parda, macia, brilhava como bronze cheio de gotas de água. O lábio inferior era um pouco mais carnudo que o superior, um nariz empinado e redondo, olhos amendoados cor chocolate, além das maçãs do rosto altas. Deus! Que garota linda!

—Hey?! _ Ela me chamou.

— Ein? O que foi? _ Respondi como se acabasse de acordar.

— Algum problema? Estou falando com você, mas não responde.

— Ah, sinto muito, estava distraída...

— Com o quê?

— Com nada, com nada...

Abracei meus joelhos ao meu corpo e abaixando a cabeça, tenho certeza que estava vermelha como um pimentão, de tão tímida que fiquei.

— Se não quer falar, _ Disse ela estranhando _ tudo bem então.

— Certo. _Respondi timidamente.

— Aili, não acha que já estamos grandes demais para continuar tomando banho juntas?

— O quê?! Claro que não, por que acha isso? Amigas não podem se banhar juntas?

Ela deu uma risada curta e baixa:

— Está bem, se você diz...

— Admita que gosta de tomar banho comigo!

— Certo, certo. É divertido, principalmente porque... Eu posso apertar isso aqui!

Imediatamente ela veio para cima de mim apertando meus seios e rindo. Claro, tomei um susto e gritei:

— Amélia! Sai de cima! Me solta! Aaaah!!

— Ai sua chata, _ Respondeu emburrada_ é engraçado apertar estes seios tão grandes.

— Diz isso porque não há o que apertar nos seus!

Ainda em cima de mim, me abraçando, estava a me encarar e pareceu se entristecer, escondendo o rosto no meu peito.

— É brincadeira! Ei, ei! Me desculpe, eu os acho lindos assim, tá?

Levantou seu rosto sorrindo, e beijou o meu.

— Tenho inveja de você... _ Mudou de assunto Amélia.

— Por causa dos meus seios?

— Não, sua idiota! É que sua família tem bastante dinheiro, sua casa é enorme, você se veste bem, e ainda por cima pode tomar banho numa banheira enorme!

— Ué, você quase sempre está aqui, e todas as vezes toma banho nessa banheira enorme, não há motivos para ter inveja. E não somos ricos, boba!

— É mesmo... Somos tipo irmãs!

— E vamos tomar banho juntas sempre!

— Você é muito mimada, não vamos não!

— Chata!"

Três anos após essa conversa, aqui estamos nós, novamente dividindo a banheira. Senti que nossa promessa de amizade realmente duraria para sempre, e como naquela vez, eu a observava feliz, mas também lembrei que seu cabelo quando molhado parecia grudar nos ombros, agora eram nas bochechas, bem perto do queixo.

— Aili!? _ Ela me chamou.

— Sim?

— Você é sempre muito distraída, não muda nunca! Se está achando o assunto sem graça, diga para eu me calar, ok? _ Amélia parecia irritada.

— Não é isso, eu só estava me lembrando de umas coisas passadas...

— Ah... Como o quê?

— Seu cabelo era enorme na infância, depois você cortou na altura dos ombros, e agora ele é quase tão curto quanto o meu quando eu era pequena.

— Você ainda é pequena.

— Dá para me levar a sério? E na verdade, você que é alta!

— Não precisava se irritar! _ Ela riu alegremente. _ Mas eu nunca gostei do meu cabelo longo, minha mãe que não me deixava cortar. Aliás, o seu só cresceu! Hoje ele quase pode tocar sua bunda! Haha!

— Eu gosto!

— Eu também me lembrei de uma coisa!

— Que coisa?

— Eu disse que não iríamos ficar nos banhando juntas para sempre, acho que vou perder essa. Eu já tenho vinte dois anos, você dezoito, poxa...

— Eu já disse, você gosta.

— Aili, este ano, poderemos morar juntas?

— Estou procurando um emprego fixo, quando conseguir, prometo de dedinho que sim! _ Mostrei meu dedo mindinho para ela.

— Se falhar, arranco-lhe o dedo! _ Ela juntou seu mindinho com o meu.

Conforme os anos passam, minha admiração por Amélia só cresce, e meu amor por ela também. A única que sempre ficou do meu lado me ajudando, apoiando, e cuidando de mim como uma irmã mais velha. Ela é tão incrível e linda! E nem se arruma tanto para isso! Sempre sorridente, tentando animar as pessoas ao redor. Amélia, tão amorosa... Que garota incrível! O problema é que há alguns anos, eu venho sentindo algo diferente por ela, não sei se quero continuar sendo tratada como "irmã"...

Sua doce risada interrompeu meus pensamentos. Eu reconheço este som, é o riso pequeno e baixo que ela dá somente para mim.

— Estou a te observar já faz um tempo. _ Sorriu ela.

— O que foi?

— Você é muito pensativa, parece até estar viajando... E fica me encarando. Está pensando em mim?

Fiquei em silêncio por um momento. Eu precisava dizer algo, mas as palavras não saíam. Queria me expressar, me senti sufocada! Nem sempre era tão difícil dizer aquilo para Amélia. Olhei nos seus olhos, e percebi que ela estava me encarando com um sorriso de canto. Meu coração batia acelerado, me senti nervosa...

— Aili? _ Perguntou ela. _ O que houve?

— Amélia... Te amo!

— Eu sei. Eu também te amo “allium”.

Allium, é a planta preferida dela. Por conta do meu nome, "Aili", Amélia me chama assim há alguns anos, já que são parecidos.

Me senti aliviada por conseguir dizer aquilo para ela. Sem perceber, de tão animada, comecei a murmurar uma canção que cantávamos juntas quando pequenas.

— Até hoje não entendo porque canta quando está feliz. _ Disse Amélia. _ No entanto, é fofo... Aili, eu conheço essa canção!

Então senti que minha alegria rapidamente a contagiou, pois enquanto ela lavava minhas costas, murmurava comigo minha melodia preferida.