Somebody To You escrita por CarolHust


Capítulo 38
O Caso de Juvia Lockser. - Amargo.


Notas iniciais do capítulo

FINALMENTE estou de volta. Seja por mim ou por vocês, eu já estava agoniada. Desculpem-me pessoas, não foi por falta de tentativa. Depois que eu voltei da viagem (um mês atrás) eu tentei escrever, mas vieram as provas e eu nunca conseguia terminar. Como sempre, vocês continuaram incríveis, muito obrigada por isso. Um agradecimento especial a todos que comentaram, favoritaram e tudo mais (desculpas novamente por não colocar os nomes, mas não lembro exatamente por onde deveria começar). Agradeço a MinsinhaXD pela recomendação *3*.
Sobre o especial e os extras, divulgo no próximo capítulo. Não vou puder responder todos os reviews atrasados de todos os capítulos, mas vou tentar responder todos os do último. Pode parecer manjado já, mas é porque quando eu posto já estou meio acabada por escrever e largo o computador por horas.
Enfim, espero que gostem, amo vocês. A minha tentativa foi de transformar esse capítulo em algo mais leve, bem no clima da música mesmo. Trazer a sensação de um suspiro, algo assim.

Boa leitura ;)



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Talvez seja meio estranho eu voltar a descrever os eventos ocorridos considerando que ignorarei um grande período. Na verdade, as coisas acabaram por se resfriar – para além do sentido literal da palavra. O inverno em Magnólia transformava a cidade em um ambiente cinzento, as pessoas preferiam ficar em suas casas e se acolherem em seus suéteres e cobertores a saírem e enfrentarem o vento cortante, especialmente nas manhãs nevadas. Era uma estação para a família também, já que os momentos mais agitados eram quando nos reuníamos na sala de estar para assistir algum filme policial ou de suspense – os garotos vetaram os de romance e eu os de terror. Era divertido dividir o balde de pipoca gigante ou a grande manta velha que Ur achara em um dos armários.

Quanto a mim, bem, a maioria dos meus problemas e preocupações tomaram seus rumos para longe. Após o ocidente, minha recuperação e tudo o que veio como consequência do ocorrido no quarto de Gray, a sensação de plenitude finalmente pareceu nos alcançar. Claro que ela não foi instantânea, antes de chegarmos até a tal houve mais algumas ínfimas questões a se resolverem, como conversar com Ur sobre o que estava ocorrendo entre mim e seu filho adotivo – na época, ao menos para mim, era estranho repentinamente denominar aquilo um “namoro”, afinal eu mesma ainda me acostumava com a ideia. Isso fez com que, de ínfimo, o pequeno conflito me deixasse extremamente envergonhada.

Só para iniciar a explicação da situação, todo o resto do Casarão estava espiando a mim, o moreno e Ur por detrás da porta da sala onde estávamos - de um modo nada discreto, diga-se de passagem -, e Ul berrava “Hallelujah” enquanto preparava o almoço, criando a ironia propositalmente. Isso ocorreu aproximadamente dez dias após de eu receber a alta do hospital, graças ao fato de que tínhamos conseguido convencer os outros jovens a fingirem que não sabiam do ocorrido (e flagrado) por esse tempo. Nada tínhamos dito, para ser sincera, eles simplesmente haviam respeitado nosso silêncio. Nesse meio tempo, foram especialmente estranhas as refeições em grupo, nas quais eles ficavam nos encarando, esperando “a deixa” para que pudessem tocar no assunto.

Foi exatamente por conta desse clima que fazíamos questão de nos sentar separados, mas não fazia muita diferença: bastava nossos olhares se cruzarem que todos os outros jovens pareciam imaginar que o ambiente pegaria fogo, que iríamos começar a nos beijar ali mesmo. Pois é. Era inevitável a tentativa de evitar qualquer tipo de contato visual, então tivemos que nos conformar.

Ao observar a reação de Ur, quando fizemos o tal “comunicado oficial”, considerei a possibilidade de ela mesma saber da história, de mim e dele há muito tempo. Nunca tivera muita experiência com mães, mas já ouvira que elas por vezes entendiam o que se passava com um filho antes mesmo do próprio. Talvez imaginasse que, depois do ocorrido e dentro de todo o contexto pelo qual passamos, nós nos envolvermos fosse o mais provável. Era claro que já tinha ouvido a notícia de algum dos outros, mas ela pacientemente se sentou em uma poltrona e ficou esperando o momento em que nos sentíssemos confortáveis para falarmos. De um modo bem conciso, Gray o fez:

− Mãe... Então... Estamos saindo agora. – ele segurou meu pulso e ergueu meu braço como que para demonstrar o que acabara de dizer, enquanto com a outra mão coçava a nuca.

Senti vontade de chutar sua canela.

Ele não tinha melhorado muito no fator “sensibilidade”.

Não esperava algo muito diferente disso, de todo modo. No fundo, imaginava e desejava que ele estivesse tão constrangido quanto eu, apenas expressando isso de outro modo: as suas orelhas estiveram vermelhas o tempo todo. Isso era algo que ocorria inconscientemente, deduzi. Ele conseguia manter a feição de quem não se importava, mas elas o denunciavam para mim.

Ur, tentando ser o mais gentil possível, foi bastante carinhosa ao me dar um abraço apertado, segurar uma de minhas mãos, uma das dele e dar seu veredito final. Ela parecia mais animada do que preocupada com o novo relacionamento de Gray, e agradeci mentalmente por ela não ser do tipo ciumento. Para além disso, sua fala final foi bastante... Peculiar.

− Não se magoem, não quero mais ninguém chorando ou gritando por aqui. – seu olhar foi especialmente raivoso ao se dirigir a ele, até que esboçou um sorriso, nos soltando e rumando para outro do cômodo. – Ah... E não quero netos antes dos cinquenta, estão me entendendo?

Consegui ouvir o ruído que a panela do que quer que Ultear estivesse preparando fez ao cair no chão. Ele foi acompanhado, logo, por uma crise de riso histérica. Ur havia pronunciado a frase de modo carinhoso, mas era possível sentir a ameaça nas entrelinhas.

− Sintam-se sortudos por morarem juntos e saibam que isso já é mais do que a maioria tem. ­– ela apontou Gray. – Especialmente você. Concentre toda essa animação jovem na natação.

O moreno até tentou disfarçar ao revirar os olhos, buscando uma demonstração falsa de desprezo, mas não conseguiu esconder a vermelhidão nas bochechas. Quando Ur sorriu de modo cúmplice para mim, não consegui resistir a também rir do garoto, disfarçando o meu próprio constrangimento. Ela e Ultear definitivamente eram filha e mãe biológica.

Notei então o Fullbuster me observando de soslaio, ao que respondi parando de rir e sentindo meu rosto esquentar. Estávamos juntos, mas era tão... recente. Ainda não tínhamos nos tornado algo como Natsu e Lucy, que pareciam conseguir sentir a presença um do outros só com a mente e já eram tão íntimos que automaticamente nos passavam a ideia de um casal. Não que, em algum momento, eu tivesse imaginado que um dia fôssemos ser como eles: eu era desastrada demais, delicada de menos e ele um pouco duro demais para isso.

Era vergonhoso imaginar como teríamos de nos apresentar dali em diante, além do fato de eu ter que me relembrar que aquilo realmente estava acontecendo. Sim, sei que isso parece algo que uma garota meio iludida faria (geralmente com um complexo de inferioridade, para completar), mas... Não existe um “mas”, para ser sincera. Eu só estava tão feliz e havia desejado aquilo por tanto tempo que me era estranho ter que pensar em como seguir a partir daquele ponto, e não mais em como chegar a ele. Além disso, convenhamos que qualquer pessoa apaixonada é parcialmente idiota.

Quando Ur saiu da sala, sendo seguida pelos que nos que nos observavam por detrás da porta, ele caminhou em direção à saída, com um sorriso irônico, parando com a boca perto do meu ouvido.

− Acho que ela deveria se preocupar mais com você do que comigo. – ele disse com um sorriso confiante.

Há. Muito engraçado.

Desde que começamos a conviver mais e de um modo diferenciado ­– mesmo que sem que os outros soubessem −, Gray havia mostrado um lado provocador que eu antes não conhecia. Fazia graça de alguns de meus tombos ou de como eu o agarrara na primeira vez em que os beijamos.

Finalmente chutei-o como queria, de surpresa, enquanto ele rumava presunçosamente para fora local. Quando ele foi ao chão, reclamando, passei por cima das suas costas rindo de um modo bem evidente.

− Não poderia concordar mais.

Ele revirou os olhos, dessa vez porque se divertia, tentando se levantar. Já tinha notado que essa era uma das manias que o garoto tinha, o desprezo era uma das emoções que ele mais externava. Quando aceitou minha ajuda e se ergueu, parou por alguns segundos e então encarou nossas mãos unidas. Eu não sabia se deveria soltá-las ou não. Logo, ele pressionou e então deslizou a ponta dos dedos sobre minha palma, enquanto eu me arrepiava e notava-me suando.

Eu estava adorando tudo aquilo, por mais que possa parecer estranho. As provocações, as estranhezas, as pequenas implicações e as coisas inesperadas que eu ia descobrindo e sendo obrigada a encarar. O fato de ainda não estarmos acostumados a situações como aquela só tornava tudo mais excitante, havia todo um processo até realmente “sermos um casal”. Quanto ao modo como ele me tratava, não mudou muito em relação à anteriormente: ainda recebia as broncas, ele ainda era meio indiferente e eu ainda tinha que correr um pouco atrás, mas por outro lado ele ainda me esperava sempre que eu atrasava, ouvia minhas reclamações quando eu me irritava e não debochou dos novos cosplays que fui obrigada a vestir (e essa foi a maior cortesia que ele poderia ter me feito).

Tinha que aprender a esquecer-me do constrangimento fútil, sabia. Se ele estava finalmente tomando atitudes, eu deveria retribuir do melhor modo possível, para que pudéssemos, enfim, interagir com máxima espontaneidade.

Sorrindo, ergui-me nas pontas dos pés e dei-lhe um rápido beijo na face. Suas bochechas estavam geladas; eu não teria conseguido fazê-lo caso ele não tivesse se abaixado; ele riu de canto depois do ocorrido e me puxou para darmos “uma volta”: tudo era bastante agradável.

...

As provas, a neve e as roupas pesadas eram apenas algumas das coisas que chegaram a nós com a nova estação. Vieram também pequenas férias, alguns dias de cancelamento de treinos e o grande desejo de se manter dentro dos quartos e em nossas camas. Bem, não necessariamente na minha, o que era o caso do momento.

− Gray-sama, o que você acha da gente faltar a esse almoço?

Gray se ajeitou ao meu lado. Desde que eu acordara, ele estava com um dos braços sustentando minha cabeça e a perna esquerda entre as minhas. O cobertor cobria-me até os ombros e eu mantinha-me encostada ao seu peitoral, afastando o frio e a umidade que faziam questão de tomar conta de todos os locais possíveis. Minhas mão e pés, sempre dormentes e gélidos, ele havia guiado para os seus com o propósito de esquentá-los.

− Acho que não.

Chiei, insatisfeita com a verdade.

− Sabia que você ia dizer isso.

Estávamos no quarto dele, o que já tinha se tornado um hábito. Como nenhum de nós tinha o costume, tempo ou o desejo de sair frequentemente, a maioria das nossas tardes juntos eram passadas ali. Segundo Gajeel, éramos o “casal preguiça”. Bem, pelo menos nós sempre visitávamos piscinas aquecidas para nadarmos. E treinarmos. Mas para mim era mais do que o suficiente. Nossa paixão em comum era algo que acabava por nos unir.

Pode parecer algo supérfluo, mas eu adorava sentar em sua cama e ficar conversando com ele por horas, sozinhos. Ter a sensação de intimidade e liberdade suficientes para ir e vir no seu espaço pessoal era algo incrível, especialmente quando se falava de Gray Fullbuster. Era mais divertido do que qualquer encontro deitar-me ali com ele e simplesmente dormir, como fazíamos minutos antes, sentindo que aquele momento poderia ser pensado como algo “nosso”. Eu havia acabado por aprender quase tudo sobre o local, um pouco de videogame e ganhado/roubado uma camisa velha dele que eu podia vestir enquanto estivesse no Casarão, por mais que Gray não gostasse que os outros me vissem com ela.

Ele se levantou, o que me forçou a fazer o mesmo, e caminhou até pegar seu relógio na mesinha de centro. Bocejando, anunciou:

− Temos uma hora para chegarmos naquele restaurante.

Eu concordei, me encarando no espelho. Cabelos amassados, pijamas velhos e um garoto sem camisa atrás de mim. Gray sentia-se bastante confortável com poucas roupas, especialmente por conta da sua alta temperatura corporal. Durante a noite, quando eu sentia frio, me esgueirava para seus aposentos e ele nunca demonstrara pensar duas vezes sobre se vestir ou não. Ao chegar à sua cama, enquanto, em geral, ele já dormia, eu era recebida por um abraço quente, ocupando a área onde antes estava um de seus travesseiros.

O Fullbuster conseguia ficar incrível até ao acordar, o que me causava um pouco de inveja. Ele poderia simplesmente se vestir e rumar diretamente para onde iríamos, enquanto eu...

− Vou tomar um banho, espero que Freed já tenha saído para não ter que brigar com ele pelo chuveiro.

Sairíamos com todo o nosso grupo de amigos, o que incluía o garoto de cabelos verdes. Lucy, em uma tentativa de unir o grupo durante o recesso de inverno, nos convidara para um almoço em uma lanchonete de um amigo de seu pai. Como o ambiente provavelmente seria chique, eu tivera uma conversa especial com a loira sobre o nível do lugar, ao que ela me respondeu dizendo que eu poderia me vestir como quisesse. Tinha descoberto há poucos meses o quão rica ela realmente era, e desde então tinha um pé atrás antes de aceitar seus convites.

Ainda bem, Freed já tinha se banhado, o que acelerou tudo para mim. Vesti algumas das camisas e o casaco que eu comprara com Ul, penteei os cabelos e rumei para a cozinha em busca de um copo d’água.

− Pressa? – Ultear indagou.

Na mesa do cômodo, notei ao me virar, estavam ela e Rogue. Debruçavam-se sobre algum caderno cheio de anotações, as quais não consegui ler por estarem distante demais. Já tornara-se uma visão comum aquela: os dois, geralmente falando baixo em algum canto, ele muito envergonhado e ela a autoritária da relação.

− Estudando? – respondi com outra pergunta enquanto me servia.

− Atividade de física. – respondeu Rogue, com uma expressão de nojo.

O garoto tinha uma dificuldade especial na área de exatas, o que fazia com que quase todo fim de semana fosse necessária a ajuda de Ul para fazê-lo compreender alguns assuntos. Sempre educado, era incomum presenciá-lo demonstrar tanta rejeição a qualquer coisa. Não admitia, mas eu tinha a impressão de que se sentia envergonhado por saber menos que a namorada, parecendo determinado a mostrar resultados ao fim de cada uma daquelas sessões.

− Está vendo, uma namorada mais velha vem a calhar nesses momentos. – Ultear sorriu de modo convencido.

− Se eu não soubesse que iriam recusar, até os convidaria para viram conosco. – disse, depois de engolir uma boa quantidade do líquido gelado.

− Obrigada, Juvia.

− De nada, Rogue.

Mostrei-lhe um sorriso bem aberto e infantil. Rogue era extremamente fofo: seu jeito respeitoso, os cabelos amarrados em coque e a timidez eminente. Apesar de ser alto e supostamente ser imponente, ele também era bastante desajeitado. Ultear bagunçou suas mechas enquanto eu saía da cozinha.

­− É por isso que todo mundo acha você um alvo fácil, vê? – ouvi Ul comentar com ele e ri.

Gray estava me esperando ao lado da porta de saída, já coberto por casacos e ajeitando seu gorro. Gritei, me despedindo de Lyon, Chelia (provavelmente juntos) e de quem quer que estivesse no Casarão naquele horário. Freed não demorou a chegar e logo saímos. Apesar de dizer que odiava andar conosco e ter que encarar nossa “aura romântica”, coisa que eu nem sabia que existia, ele detestava mais ainda andar sozinho na neve.

Naquela tarde, as ruas eram uma imensidão branca, e tivemos bastante sorte que metrô ainda estivesse em funcionamento. Pegamos o vagão vazio e aproveitamos para nos sentarmos. Esfreguei minhas mãos uma contra a outra tentando obter algum calor: luvas não funcionavam muito comigo. O Fullbuster, calado, apenas observou-me. Soprei nas minhas duas palmas e voltei a atritá-las.

Ele odiava demonstrações de afeto em público, então nunca andávamos de mãos dadas ou nos beijávamos na frente dos outros, e geralmente era ele que iniciava tais contatos. Naquele momento, por exemplo, estávamos sentados lado a lado, mas era apenas isso. Por mais que às vezes eu desejasse que fosse um pouco diferente, eu também não tinha muito o estilo de quem gostava de andar abraçado ou coisas do tipo. Me odiaria se começasse a ser melosa, além de que seria muito constrangedor.

Foi uma surpresa quando ele levou minha mão até os bolsos do seu casaco e lá as deixou, esquentando-as. Não demonstrou nenhuma reação especial quanto a aquilo, e eu o agradeci para então voltar a encarar o chão, corada. Freed, ao meu lado, parecia um pouco cabisbaixo ao observar a cena.

Talvez fosse difícil estudar em um colégio em que quase não havia outros homossexuais, e os que se assumiam eram muito distantes do que seria alguém que poderia conquistá-lo. Laxus era inalcançável, e isso deveria ser mais frustrante do que minhas anrigas brigas com Gray. Se a maioria dos seus amigos não estivesse namorando, isso talvez não fosse problema, mas esse não era o caso. Poderia estar começando a pesar ser o único “sozinho”, ou se sentir sempre “uma vela”. Chelia ainda o fazia companhia enquanto estávamos em casa, mas ele parecia um pouco solitário. Tentei iniciar uma conversa qualquer para entretê-lo, e assim passamos todo o caminho até o restaurante.

­− Juvia! Olhos caídos! Verdão! – Natsu se lançou sobre nós assim que nos avistou.

Freed fugiu imediatamente do abraço. Não havia nada que ele odiasse mais do que os apelidos do rosado.

− Oi, Natsu... – gargalhei enquanto ele nos puxava para onde os outros estavam.

O ambiente era bastante estiloso, com mesas baixas no modo oriental e lustres que se assemelhavam a lanternas de papel. Todos estavam sentados, e fui de mesa em mesa cumprimentando meus colegas: os Strauss e Laxus, com o Raijinshuu; Gajeel, Levy, Jet e Droy; Meredy, Natsu, Lucy, Erza e Cana. Essa organização foi completamente modificada quando juntamos as mesas, as garotas de um lado e os garotos do outro, o barulho logo começando.

Eu? De quem você ouviu isso?!

− Me disseram que você iria mudar de escola, Lucy. – Meredy disse.

− Claro que não! Eu não iria deixar vocês, ou o colégio, ou Natsu...

He. – todas as garotas sorriram em conjunto.

A loira corou, encarando o garoto logo à sua frente, mas que não ouvia nossa conversa. Os “meninos” estavam mais interessados em esportes, fazerem confusão e em alguns assuntos como “quem eles achavam que repetiria o ano”.

− Até parece que vocês não se sentiriam do mesmo jeito! Juvia, Mira, Lisanna...

− Por que meu nome? Eu não estou em relacionamento algum, só para constar. – a última fez questão de ressaltar.

Todas nós fingimos concordar em uníssono. Já estava claro que, por mais que ela e Bickslow ainda não fossem nada sério, algo iria surgir daquelas saídas durante a tarde e noite. Notei algo estranho nesse momento:

− Vocês já pararam para pensar que coincidência? Quero dizer, em alguns meses a maioria de nós começou a namorar... Ou começou pelo menos alguma coisa. – lembrei-me da Strauss e de Erza.

− Verdade... Só não aconteceu nada mesmo com Levy, Meredy e Evergreen. – Cana disse, anunciando que não estava incluída nesse grupo.

Bem, não esperava que ela não tivesse saído ou se envolvido com pelo menos um dos garotos com os quais ou já a vira. Quando pus meus olhos na baixinha foi que me surpreendi: Levy parecia um bicho assustado, praticamente tremendo e toda vermelha.

− Levy? – Erza buscou uma de suas mãos.

A azulada recolheu-as antes que a Scarlet pudesse alcançá-las, o que foi estranho. Levy demorou certo tempo até resolver externar o que se passava em sua mente, o que fez com que os garotos se calassem e começasse a prestar atenção no que se passava também, o porquê do clima de tensão. Ela olhava o tempo todo na direção deles, mais especificamente para Gajeel, que simplesmente concordou com a cabeça.

− Bem, n-na verdade... – ela rumou até o lado do grandalhão e segurou uma de suas mãos. – Nós meio que estamos juntos.

Os queixos de Jet e Droy caíram.

Levy! Por quê?!

Ge-he.

Levy fracassou ao tentar mostrar um sorriso confiante, parecendo extremamente desconfortável. O assunto tinha surgido tão abruptamente que ela parecia meio confusa.

− Desde quando isso?! – foi uma pergunta feita por um grande grupo ao mesmo tempo.

− Meio que antes de qualquer dos outros casais aqui se formarem. – o moreno sorriu de modo presunçoso.

Eu também estava bastante chocada. Já imaginava que algo poderia ocorrer entre eles desde o início, mas esperava que não escondessem isso de todos uma vez que se tornasse oficial. Não era comum que nada permanecesse em segredo por muito tempo naquele grupo.

Gajeel... – eu rosnei.

O Redfox me olhou, um pouco hesitante. Encarei-o transmitindo uma mensagem subliminar: “depois conversaremos sobre isso.”. Ele concordou veemente, engolindo em seco, e logo começou a gritaria, a maioria indagando o motivo do silêncio deles. Levy, constrangida, mantinha as costas curvadas, mas parecia estar se divertindo com a situação.

− Mais alguém tem algo a confessar?! – Erza berrou.

Um, dois, dez segundos. Nada. Quando os garotos já tinham se voltado para Gajeel e eu pensava em retornar ao assunto anterior, uma mão vacilante foi erguida.

− Meredy?! – eu estranhei. – Você está com alguém?

Ela limpou a garganta e baixou o tom de voz, pronta para contar sua história para o grupinho de garotas que se mantinha atento. Realmente, não era muito agradável ter que anunciar seus envolvimentos amorosos a um público.

− Eu estive com alguém. Vocês queriam saber se eu me envolvi com algum garoto, não é? Não necessariamente teve amor no meio disso ou isso significa que estamos namorando. Nós só “ficamos”.

Um coro de ”Uous” foi ouvido. Meredy não parecia nem um pouco envergonhada em estar proclamando aquilo, não dava muito valor ao que ocorrera. Ela sorria, com as pernas cruzadas e se curvando para a frente.

− Com quem foi isso? Quando? Como?

Ela riu, notando a curiosidade de todas em sua volta. Talvez por nosso grupo ser composto apenas por casais sérios, era meio exótico vê-la relatar aquilo.

− Lembram... Do dia das nacionais? – dessa vez ela se dirigiu especialmente a mim e a Cana. – Eu já estava meio frustrada enquanto ocupava a posição de “vigia” para você, tenatava imaginar o que estava ocorrendo. Enquanto estava lá, alguns dos garotos que passaram me convidaram para a festa pós-competição da Blue Pegasus.

Ergui uma sobrancelha, desconfiada. Na verdade, eu e maioria das garotas. Todas conhecíamos a fama daquele colégio.

− Eu sei no que vocês estão pensando. − ela falou após uma pausa. – Mas depois que te levamos ao hotel, Juvia, depois de toda aquela confusão e de eu saber que provavelmente você iria querer ficar sozinha com Gray por algum tempo, eu precisava me distrair. Resolvi ir para a festa, e lá encontrei Eve.

Ela se silenciou como se a história tivesse acabado. Estranhou quando nós apenas nos aproximamos mais dela, esperando uma continuação. Era meio cômico como todas estavam interessadas nas suas “aventuras”.

− ...E?

− E-ele já tinha conversado comigo, tinha sido gentil. Acabou rolando.

− Meredy... ­– murmurei, preocupada.

− Eu não estou nem estava esperando nada dele, Juvia. Se ele pensou em mim com apenas uma garota qualquer, tudo bem, porque eu também o vi como um garoto qualquer. – ela foi mais firme na sua última resposta, mas depois recuou um pouco. ­– Só espero nunca mais ter de encontrá-lo, eu iria morrer de vergonha.

Meredy finalmente se permitiu ficar constrangida, e todas nós rimos quando ela se tornou da cor de um morango. Era diferente o modo como ela dissera encarar a situação do nosso, mas era apenas uma questão de ponto de vista. Desde que ela estivesse feliz, não poderíamos e nem teríamos do que reclamar.

Depois dessas e mais algumas revelações, do questionário que fizemos a Erza sobre Jellal e de alguns minutos de depressão ao imaginarmos que as aulas logo voltariam, a comida, pedida antes de chegarmos, foi servida e todos se calaram. Qualquer tipo de alimento parecia ter um efeito especial sobre Natsu, que tinha os olhos brilhando e não parava de encher seu prato. Em questão de pouco tempo, todos já estavam com barrigas estufadas e queriam voltar para casa e descansar.

− Nem gosto de pensar que na segunda estaremos de volta ao colégio... Por mais que Makarov e os professores sejam divertidos. – murmurei para Freed, enquanto caçávamos Gray pelos arredores do estabelecimento.

− Concordo. E além do mais Aquarius vai voltar com ódio no nível máximo... Provavelmente vai começar nos colocando para correr na neve, que nem no ano passado.

Preferi nem imaginar.

Com a demora do Fullbuster, Freed acabou desistindo e foi embora sozinho. Eu entendia o seu lado, ele já estava estudando antecipadamente os novos assuntos que seriam dados quando as aulas voltassem, por isso cada segundo era precioso. Gostaria de ter tido a sua motivação.

Continuei procurando por Gray, até o ponto em que me irritei. O moreno havia saído antes de nós e não consegui achá-lo próximo à porta ou dentro do restaurante, o que era estranho. Ele não havia me ligado ou enviado mensagens, muito menos avisado se iria para a casa de Natsu ou algo do tipo. Pisando forte na neve, passava em frente a um beco quando fui puxada para trás por um par de mãos.

Saltei com o susto, e rapidamente fui prensada contra a parede gelada do prédio atrás de mim. Eu já sabia de quem se tratava apenas pelo cheiro, mas o garoto ainda baixou o capuz do casaco, sorrindo, e se abaixou para pegar algo.

− Por que você sumiu, Gray-sama?!

− Fui comprar café. Quer? ­– ele não se importava com a minha revolta.

Me estendeu um dos dois copos que tinha em mãos. A bebida era de uma cafeteria próxima, que geralmente frequentávamos enquanto voltávamos do colégio nos dias em que não havia treinos.

Contrariada, aceitei o que ele me trouxera. Gray sabia que eu não iria rejeitar, por isso pedira exatamente o meu preferido: cappuccino com caramelo. Ele bebia sempre o café tradicional, por mim considerado sem graça. Juntos, marchamos em direção à estação, acabando por parar em um parquinho congelado.

− Obrigada, Gray-sama.

Realmente, a bebida estava me ajudando a me esquentar, o que ele admitira ser o motivo para ter saído e comprá-la. De vez em quando Gray me surpreendia com feitos como aquele. Sentamo-nos em balanços que provavelmente eram apenas para crianças e eu me balancei de leve.

− Você sabe que poderia simplesmente me chamar de “Gray”, não sabe? – ele questionou-me, enquanto balançava o copo em busca de algum resto de café.

Respirei fundo. Era um tópico estranho aquele.

− Eu sei... Mas acho que seria muito estranho, Gray, se do nada eu começasse a te chamar de um jeito diferente. Além do mais, eu gosto do apelido. – não sabia se deveria continuar, mas o fiz. − Gosto de ser a única a te chamar assim.

Ficamos em silêncio. Era possível ouvir o vento que castigava as árvores, já que não nevava mais. Quando tomei coragem para olhar para sua face, Gray tinha as bochechas completamente vermelhas. Eu sabia que ele também gostava do apelido, só não queria admitir. Tinha sido interessante chamá-lo apenas pelo primeiro nome após tanto tempo, tinha que admitir.

Notei quando ele começou a se inclinar em minha direção e sorri, fazendo o mesmo. Senti sua respiração quente em me rosto ao ele pousar uma de suas mãos em meu pescoço. Fechei meus olhos e me aproximei mais. Quando nossos lábios se tocaram, úmidos, ainda pude sentir os vestígios do café na sua boca.

O gosto amargo combinava com ele, no final.

Aquele era um bom começo.


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Notas finais do capítulo

Comentários? hehehe