Presente do Inverno escrita por Taichan


Capítulo 14
Um banho, por favor?




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"Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores."

— Canção do Exílio


A noite dormia no céu estrelado. Neve enxugava os cílios dos novos campistas. Acima da colina, os semideuses e o sátiro pairavam, observando a espetacular vista do acampamento. O lago a frente não parecia congelado, provado pela lua refletindo na água escura. Os chalés estavam com as luzes apagadas, cada um com um cobertor de neve no teto. O local parecia em paz, como sempre deveria estar.

Desceram deslumbrados, sempre seguindo os passos de Henry. Ele parecia nostálgico, mais jovem, mais vivo. Mas quem o olhasse o viria de forma diferente: indicava estar doente, com sua barba ruiva, antes rala, que crescera poucos centímetros na jornada, possuía pequenos pontos de neve, o rosto pálido e abaixo de seus olhos vermelhos. Em casa. Finalmente em casa.


Os semideuses, atravessando o acampamento, seguiam para uma casa que não podia ser identificava a cor ou se possuía detalhes mínimos, pois a lua tornava-a sombria. Henry bateu a porta, olhando em direção a uma floresta que havia ali próximo. As luzes acenderam. Passos pesados seguiram-se após. A porta sendo aberta, com a luz provocando-lhes os olhos, criando sombras atrás de seus corpos para revelar...

Um homem baixinho e gorducho os recebia. Suas feições indicavam irritação, e ele não parecia sentir frio. Usava uma cueca samba-canção e uma blusa regata de estampa de tigre, a qual se esticou-se ao enfiar a mão de baixo para coçar a barriga.

— Sabem que horas são? — perguntou, retoricamente. — Isso mesmo.

Os semideuses entreolharam-se com o sátiro, que também franzira a testa. Mas eles não haviam percebido que o homem se referira, com a última frase, para outra pessoa. Galopando, um homem apareceu atrás do gorducho e o fez retirar-se. Fechando a porta atrás de si, as garotas espantaram-se e recuaram ao perceber que o homem não possuía pernas — Não, não que ele fosse um fantasma. Não que ele flutua-se, e muito menos que fosse um sátiro. Da cintura para baixo, ele possuía o corpo de um cavalo branco...

— Henry, quanto tempo — cumprimento o cavalo, com um sorriso. — parece que trouxe novos semideuses... Além da conta.

A expressão dócil dos mil anos de idade no cavalo parecia querer reprovar, mas permanecia com a mesma cara. Os cabelos e barba eram cinzas, com pequenos fios brancos.

— M-Meu nome é Anny — gaguejou Anny, ainda surpresa. — Essas são minhas amigas, Angelina e Lucy.

— Quíron — inclinou-se o centauro, formalmente. — Sejam bem-vindas ao porto seguros dos heróis. Vocês parecem cansadas, então... — virou para Henry, que estava boquiaberto. — Levem-as para o chalé de Apolo.


Apolo, o Sol. Apolo, o Curandeiro. Apolo, o Poeta. Apolo, o Artista... Assim, ele abençoaria quem possuísse esse dom, certo?

Errado. Elas não iriam para lá por esse motivo. Não que Quíron soubessem de algum talento daquelas crianças, mas quando Anny olhou para as cabeças das amigas, ali refletia um simbolo amarelo. A luz era intensa, mas indecifrável. E, uma a outra, foram reparando isso. Seguiram para a ala dos chalés, quais formavam um imenso U, após Quíron falar que amanhã seguiria um belo dia, além que precisava conversar com Henry de manhã. O sátiro espantou-se, mas talvez fosse óbvio. Quanto tempo ele ficara fora? Nunca as havia contado isso. Entretanto, não era por esse motivo que o centauro queria conversar com ele...

— Quíron é o diretor de atividades do acampamento — contou Henry, chegando ao chalé 7. — E aquele homem gordo... Quer dizer, o primeiro homem que vocês viram, era Sr. D, diretor do acampamento — bateu na porta.

O chalé parecia dourado, e caso duvidassem, poderia ser de ouro sólido. Ninguém atendeu. Henry pensou em bater de novo, mas Angelina abriu a porta, que possuía uma harpa. Dentro, beliches vazias espalhavam-se pelo local. Mas vazio não era uma palavra para definir aquilo: um garoto saiu de baixo das cobertas, um pouco irritado.

Qualé? — rosnou ele, coçando o olho. — se vocês saírem, eu vou...

Ele parou. Tirou a mão do rosto e passou pelos cabelos loiros, observando melhor que eram novas campistas.

— Oh — ele soltou, levantado-se. Também usava pijama, mas aquele por menos possuía um porte atlético. — Bem-vindas! — apertou a mão de cada uma. Ele era baixinho igual a elas, talvez um pouco maior. — Acomodem-se!

As garotas o receberam com um sorriso, escolhendo as camas e pondo suas mochilas. Lucy pretendia dormir na beliche de cima, mas acabou encontrando outro morador ali. Escolheu outra.

— Deveriam tomar banho primeiro — sugeriu Henry, que parado ali, assemelhava-se a um pai que levava sua filha a uma nova escola. — Tome conta delas, Lee. Quase morri para trazê-las aqui.

— Pode deixar — disse Lee, sorridente.


Anny começou a bater na porta após vinte minutos que Lucy entrara no banho. Angelina parecia paciente, sempre aguardando sentada. Lee Fletcher estava deitado sobre a cama, bocejando.

— Henry vai ter problemas — disse Fletcher. — Trazer três semideusas de uma vez só? Da última vez que isso ocorrera...

— O que? — perguntou Angelina, pois ele havia parado.

— Uma morreu.


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Notas finais do capítulo

Eu não lembro a aparência do Lee Fletcher, até pesquisei, então não sei se ele é realmente loiro, baixinho, etc. Se estiver errado ou tenham mais informações sobre ele, TELL ME!!



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