Undeniable escrita por quinchillin


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

a gripe me pegou de jeito. Arram, bem desse jeito mesmo.



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Palavras tem um efeito devastador, isso é fato.

Às vezes, elas machucam mais do que um belo soco.

Outras, elas fazem mais bem do que um abraço demorado.

Mas em muitas das vezes, na maioria delas, Quinn poderia dizer, as palavras causam uma ebulição.

Quinn já recebeu palavras muito ofensivas e dolorosas; na verdade, estar em um ringue de luta e apanhar sucessivamente doeria menos do que o efeito de certas palavras em sua vida.

E a falta de palavras?

Oh, Deus, a falta delas causam efeitos tão profundos quanto elas próprias!

Dizer as três palavras mágicas pode ser tão perigoso quanto não ouvi-las.

Dizer o que está incomodando pode ser tão nocivo quanto não dizer e ficar remoendo sentimentos ruins.

Quinn sabe de algumas palavras que ela nunca vai ouvir. As primeiras palavras de Beth, por exemplo, jamais serão dela.

Só que as palavras são armadilhas, muitas vezes. Elas caem da boca antes da hora. Outras só saem do casulo depois, atrasadas.

As palavras podem fazer o bem e o mal, na mesma proporção.

E o pior: depois de ditas, não há maneira no mundo de apagá-las da memória.

O que fica subentendido tem suas vantagens. Suas várias interpretações.

O que foi dito não. É o fim. Não há máquina do tempo para reverter a situação. Você disse - você arca com as consequências de tal.

E era isso que Quinn Fabray estava fazendo naquele pub, em uma sexta feira à noite.

Arcando com as consequências de suas palavras.

Mas quem disse que as consequências eram ruins? Elas eram apenas consequências.

Quinn as disse. As palavras finalmente saíram de sua boca, tão simples e certo quanto elas estavam em seus pensamentos. Foi instantâneo e incontrolável. As palavras armadilhas que ela não pode deter.

Ela chamou Rachel de “meu amor”. Porque isso era o que Rachel significava para ela.

Se foi essa a maneira que Quinn imaginou que chamaria Rachel assim pela primeira vez? Em um pub, com alguns amigos em volta, a música ambiente, a iluminação fraca e alternando entre luzes coloridas, o barulho da noite, jovens exalando diversão... Sinceramente?

Não importa.

Há pouquíssimo tempo atrás ela jamais imaginaria que Rachel a beijasse em um local público.

O quê? Rachel Berry correspondendo seus beijos? Pior: correspondendo à seus sentimentos?

Quinn já estava até acostumada com Rachel agindo assim: segundos depois seu despertador iria tocar e ela iria bufar, fazer sua higiene matinal, trocar suas roupas de dormir, arrumar seu material, tomar café e ir para aula. Era simples dessa maneira.

Rachel era um lugar inalcançável, assim como seu amor. Na verdade, para Quinn Fabray, o amor era impossível e inatingível. Ela jamais teria; jamais se sentiria amada da forma que deveria. Seus machucados estavam abertos e à mostra para provar isso.

Mas agora?

Rachel ergue as sobrancelhas, totalmente surpresa com o som que saiu da boca da loira. Com cada vogal e consoante que agrupadas, formaram aquelas palavras; e adicionadas de sentido, formaram uma linda frase.

Seu amor.

Quinn continua sorrindo para a morena, que sente seu coração pular dentro do peito. Essa sensação... é tão maravilhosa e cativante. Faz Rachel querer mais. Faz ela lembrar do porquê ela nunca ter desistido de Quinn, desde o ensino médio. Apesar do ensino médio.

Ela entrelaça seus dedos novamente debaixo da mesa, mas agora a sensação é diferente para ambas.




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Megan notou a mudança no semblante do casal ao seu lado.

Elas eram um casal, certo? Rachel ficou emocionada porque Quinn a chamou de “meu amor”, então isso faz sentido em sua cabeça.

Uma dorzinha incômoda se fez presente em seu estômago, e não era por causa das cervejas que ela havia tomado, e sim porque estava cada vez mais palpável que Rachel e Quinn tinham um relacionamento em algum nível amoroso e profundo.

E por que diabos Rachel tinha que ser tão linda e fofa ao demonstrar seus sentimentos?

“Quinn?”, Chad a chama, retirando a loira da intensidade do olhar de Rachel.

“E-eu...”, a loira olha para Naomi, que mantém um sorriso orgulhoso no rosto, “Eu... nunca sofri um grave acidente na infância, tirando os roxos ou machucados que eu fazia porque corria de um lado à outro”

“Sapeca...”, o garoto comenta e todas riem, “E você, Naomi? Eu já sei da sua história, mas creio que as meninas estão ansiosas para ouvir. É imperdível”

“Ha-ha”, Naomi mostra a língua para ele, “Bom, eu... uma vez, com onze anos, eu tinha acabado de voltar da casa do meu primo, que também era meu vizinho, e estava molhada por causa do banho de piscina que havia tomado. Quando eu peguei minha toalha para ir até o banheiro, eu vi que meu videogame estava ligado na tomada, e se minha mãe visse aquela cena, o gasto de energia desnecessário, eu iria levar uma bela bronca, então eu tive a ideia mais idiota do planeta”

“Você... Não...”, Megan questiona e Naomi esconde o rosto com as mãos.

“Sim, eu fui retirar aquela droga da tomada e como era criança e idiota, coloquei meus dedos molhados ali. Alguns segundos de eletricidade percorrendo meu corpo depois, minha mãe realmente brigou comigo e com razão. Queimei meus dedos e meu corpo ficou estranho pelo resto da noite”

Chad soltava uma gargalhada gostosa e Rachel tomou mais um gole de seu suco, sorrindo para Quinn.

“Naomi é tipo um mutante, por isso ela tem o cabelo roxo natural”, o garoto comenta recebendo alguns fracos tapas no ombro da amiga, “Ai, isso dói”

“É pra doer mesmo”

“Então agora a pergunta vai ser séria, garotas”, Chad engrossa sua voz e Naomi solta uma risada, revirando os olhos, “Guilty pleasures”

Rachel choraminga, “Oh, não”

“Só por causa disso, quem vai começar é você: Rachel!”, ele aponta o dedo para a morena.

Quinn olha para os olhos castanhos que ela tanto ama, e aperta ainda mais a mão da morena na sua.

“E-eu... acho que musicais. Musicais são meu guilty pleasures”, a morena afirma com a cabeça, e sua mentira se faz mais presente por causa disso.

Naomi estreita os olhos para a pequena, “Rach... você não engana ninguém com essa de musicais”

“Vamos lá, Rach, se liberte”, Chad sorri para a morena, “Divida com a gente seus segredinhos”

Megan solta uma risada, ansiosa pela resposta de Rachel. Se ela foi capaz de inventar algo para não responder imediatamente a verdade, certamente que sua resposta seria algo bem interessante.

Rachel se sente um pouco abafada, mas em sua cabeça este é o momento certo de dizer. Finalmente.

Mas isso não torna a confissão mais fácil.

“Bom, eu...”, ela passa a mão pela nuca, “...Quando eu estava no ensino médio, eu participei de vários grupos, dezenas deles, porque eu sei que aquela qualificação iria para meu currículo acadêmico. Mas eu nunca fui líder de torcida...”

Quinn franze a testa, virando seu corpo para a morena, para ver aonde isso vai parar.

Naomi, Megan e Chad estão extremamente curiosos, assim como Quinn. Rachel parecia tão desconfortável, mas continuava falando. E parecia que o guilty pleasure seria mais uma confissão.

Uma confissão para Quinn.

“E Quinn era líder de torcida das Cheerios, onde também estavam Santana e Brittany, que são nossas amigas...e, Brittany, ela...”

Rachel olha para Quinn, que tem sua expressão confusa.

Oh, Deus. Um Guilty Pleasure envolvendo Brittany? O que a loira poderia pensar sobre isso?

Mil coisas na verdade. Boas e ruins.

Palavras, Rachel Berry. Você fala pra caralho, onde estão suas palavras agora?

A morena suspira antes de terminar, “Britt gravou alguns treinos de coreografias que a Sue passava à vocês”, Rachel olha fixo nos olhos da loira, “E quando eu soube, por acaso, eu pedi uma cópia e ela me deu... e eu gosto de assisti-los de vez em quando...”

Espera, o quê?

“Espera, o quê?”, Naomi engasga com o gole de cerveja, “É sério, Rach?”

Rachel, completamente constrangida, sentindo sua mão suada sendo acariciada pela mão de Quinn, afirma com a cabeça, recebendo três pares de olhos surpresos em resposta.

Mas ela não se arrepende.

Agora Quinn sabe, melhor do que um dia Quinn descobrir ao acaso, quando ela fizer outra surpresa como a da noite passada para a morena e encontrá-la vendo a cópia dos ensaios no notebook, por exemplo.

Melhor assim...

Será?

Quinn mantém sua boca aberta, mas logo balança a cabeça para voltar à realidade.

Então Rachel tem uma cópia de um arquivo cedido por Brittany de alguns ensaios da coreografia que as Cheerios arduamente trabalhavam para executá-las com excelência...

Ela nunca, jamais, nenhuma vez, em nenhum momento, imaginou que existiria tal coisa.

Quinn sempre viu Santana ajudar sua namorada a mexer no próprio celular. E demorou alguns meses até Brittany enviar mensagens para os números corretos. Como ela saberia manusear uma filmadora?

E será que Santana sabia da existência desses vídeos?

Sinceramente... não importava.

A única coisa que Quinn conseguia sentir em relação à isso era gratidão.

Ela deveria agradecer à alguém... à algum deus, ou até a própria natureza. Ou aos pais de Rachel. Quem sabe até agradecer piamente à morena. Sair gritando pelas ruas o quão feliz ela estava.

Porque isso que Rachel a faz sentir... ia além de qualquer nível de sua expectativa.

Era infinitas vezes melhor.

“É minha forma de matar a saudade de você... eu assisto com frequência, principalmente quando você vai embora”, a morena diz baixinho e o coração de Quinn se aperta de amor.

“Você é tão doce, Rach”

A loira levanta delicadamente levanta o rosto de Rachel com a ponta do dedo, forçando-a a olhar em seus olhos. Rachel definitivamente está envergonhada, mas a reação de Quinn é melhor do que ela esperou, e isso ajuda o sentimento ruim a ir embora. Quinn passa a mão pelo ombro da garota menor, descendo-a até alcançar sua mão por baixo da mesa outra vez.

“Wow”, Chad ‘interrompe’ o momento das duas, “Isso definitivamente é revelador”

Rachel se permite sorrir e Naomi também.

Megan mantém suas sobrancelhas arqueadas.

Há tanto de Rachel que ela não sabe.

Rachel e Quinn estudaram juntas. Quinn foi líder de torcida, Rachel não. Será que elas viveram uma grande história e eram um daqueles casais que perduram depois do ensino médio, passando mil e uma dificuldades para se manterem unidos apesar de cursarem faculdades diferentes?

Quinn morava em New Haven, pelo amor de Deus. Há quilômetros e quilômetros de distância.

A garota baixinha de olhos azuis teve uma certeza, depois de ver e ouvir tudo aquilo.

Não se apaixone por Rachel Berry. Por tudo o que há de mais sagrado, não se apaixone verdadeiramente por ela. Ela pertence à outra pessoa.

Mas só esse pensamento fazia seu estômago arder.

Aquele pequeno animal selvagem incomodando a noite inteira: seu ciúmes.

Era incontrolável ao mesmo tempo que indesejável. Quanto mais Megan via o quanto Rachel e Quinn eram carinhosas uma com a outra, mais ela imaginava como seria se Rachel fosse carinhosa assim com ela...

A morena de olhos azuis deu mais um gole na sua cerveja.

“Megan?”, a voz de Chad a tira de seus pensamentos.

Ela pensa antes de responder, “Bom, eu... tenho todos os filmes de Jackass. Absolutamente todos que já foram lançados, e eu adoro assisti-los. Escondida, claro”

Todos na mesa soltam uma risada contida, menos Rachel.

“Eu totalmente amo Jackass!”, Chad comenta animado e tenta fazer um high-five com Megan, mas é impedido por Naomi, que segura a mão do amigo no caminho.

“Diz a lenda que Chad foi uma daquelas crianças que causou o fim do show, quando eles estavam na MTV”, ela sussurra fazendo Megan sorrir.

“Você realmente mandava fitas de você mesmo praticando os atos absurdos que eles?”, Quinn pergunta surpresa.

Ele passa a mão nos cabelos castanhos, “Eu meio que... ainda tento, reproduzir, algumas coisas que eles... fazem”

“Não!”, Megan põe a mão na boca, “Meu Deus, você é maluco”

Rachel sorria sem entender. Jackass... seria o ator Jack Black? Será que eles estavam se confundindo? E por quê Megan teria vergonha de assistir seus filmes?

“Vocês estão falando do Jack Black? O professor de Escola de Rock? O ator principal do filme O Amor é Cego?”, a morena pergunta com inocência e a mesa toda fica em silêncio, “O quê?”, ela pergunta depois de receber olhares confusos em sua direção.

Dois segundos depois Chad, Megan e Naomi explodem em uma gostosa e alta gargalhada.

Quinn ri também, com a boca toda aberta, seus bonitos dentes se mostrando. Rachel ama esse sorriso, é tão puro e sincero. É lindo, e a morena poderia ouvir esse som o resto de sua vida. Mas ela está realmente confusa sobre a razão dos risos.

“Q, eu falei algo muito idiota?”, ela pergunta franzindo a testa.

Quinn a abraça, de lado, passando a mão suavemente em seus ombros, e lhe beija a testa com delicadeza.

“Não, meu amor, você não disse nada de errado. Você só confundiu as coisas um pouquinho”

E aí está, outra vez.

Palavras e suas consequências.

Rachel não se importou mais. Ela não estava nem aí se ela confundiu a ordem dos planetas, ou se errou o nome de algum ator ou show idiota.

Quinn a chamou de meu amor pela segunda vez.

E Rachel amou.

Sorriu como se seus pais tivessem a levado para à Disneyland de surpresa.

Então ela voltou a ser Rachel Berry.

“Ok, chega de rir da minha falta de conhecimento sobre séries de televisão”, ela bebe um gole de se suco e Quinn acaricia ainda mais seu braço, “Naomi, eu quero saber o seu guilty pleasure”

Naomi limpa algumas lágrimas depois de rir tanto, e continua, “Eu acho que o meu guilty pleasure é... America’s Next Top Model”

“Oh, Deus”, Brad põe a mão sobre os olhos, brincando, “Naomi quer ser uma famosa modelo internacional agora”

Ela dá um tapa no ombro do amigo, “Claro que não, idiota. Eu não sei porque eu gosto de assistir... mas eu gosto. E ninguém sabe, só vocês, então...”, Naomi coloca o indicador sobre os lábios, em sinal de silêncio e todos sorriem.

“A trama é realmente interessante”, Brad comenta e recebe alguns olhares curiosos, “O quê? Eu já vi alguns episódios por causa da... história. Eu gosto como a eles desenrolam a história”

“Chad, é um reallity show”, Megan fala baixinho, segurando uma risada.

O garoto ruboriza, “Mas é tão triste quando uma delas é eliminada!”, ele argumenta em vão, vendo as quatro garotas olharem incrédulas para ele.

“Admite, Chad”, Naomi manda com sua voz autoritária.

“Ok, eu só assisti porque elas são gostosas”, ele abaixa a cabeça, mas sorri.

“Urgh”, Naomi bebe sua cerveja, “Você é um tarado, isso sim”

“Próxima pergunta, garotas”, ele desconversa, “O que teria em um encontro perfeito? Naomi?”

A garota de moicano pensa um pouco antes de responder, “Acho que um parque de diversões. Daqueles antigos, com uma roda gigante, crianças correndo, pais desesperados, adolescentes virgens com suas garotas de vestido, tiro ao alvo, música... Pra mim, isso seria um encontro perfeito”

Rachel deixa cair um pouco sua cabeça para o lado, “Own, Naomi é uma fofa”, ela diz fazendo Naomi corar.

“Megan?”, o garoto aponta para a morena de olhos azuis.

“Hmmm”, ela bebe mais um gole da cerveja, “Eu adoraria um parque de diversões também, iguais a muitos que existem na minha cidade, mas aqui em New York, acho que... um jantar em algum restaurante vegetariano, depois de ter assistido à algum filme... voltar caminhando para NYADA no fim da noite”, Megan baixa seus olhos, querendo afastar a imagem que surge em seu cérebro de algum dia levar Rachel para seu encontro perfeito.

“Rachel?”

A morena sorri. Ela já teve o seu encontro perfeito, e foi há pouco tempo.

“Meu encontro perfeito seria em um show do Passion Pit”

Quinn, que segurava sua mão por baixo da mesa, solta uma risadinha.

Oh, Deus. Ela tem que amar essa garota. Como ela pensou que deixaria de ama-lá em algum momento de sua vida?

“Temos uma fã de Passion Pit por aqui?”, Chad brinca e a loira levanta sua mão esquerda.

“Duas”

“Três”, Naomi completa.

“Quatro”, Megan acrescenta e Chad sorri.

“Eu odeio Passion Pit”, ele diz brincando e recebe olhares raivosos das garotas, juntamente com o porta-guardanapos arremessado por Naomi, “Isso é o que um homem ganha por dizer a verdade?”, ele choraminga fazendo as quatro sorrirem.

“Desculpa, Chad”, Naomi pede depois de arrumar o objeto na mesa novamente, “Eu acertei no seu braço mas era para acertar sua cabeça”

O garoto estreita os olhos para Naomi, “...Quinn, e o seu encontro perfeito?”

“Eu não me importo de não sair. Prefiro assistir um filme, ou algo assim. Desde que seja com a pessoa certa”, a loira diz suavemente e olha para Rachel, que cora.

“Onde vocês se vêem daqui há dez anos, crianças?”, Chad pergunta terminando de tomar sua cerveja.

“Eu me vejo expondo a maioria dos meus quadros em grandes galerias pelo mundo – porque alguns são super secretos e tal. E quem sabe tendo um negócio no ramo da arte”, Naomi responde orgulhosa.

“Ah, sim, você é tipo um Monet depois que tomou ácido. Você vai conseguir expôr sua arte na maioria dos lugares”, o garoto brinca.

“Idiota”

“Foi um elogio!”, ele recebe o olhar de desaprovação de Naomi e sorri, “Megan?”

“Eu me vejo atuando, óbvio, mas também quero participar de alguma coisa na produção. Me interesso por essa parte. Mas só quando minha voz sumir”, ela brinca, “Os aplausos e a resposta do público são meu combustível”

“Rachel?”

“Eu me vejo na Broadway. E também vejo meus dois Tonys na estante, além de alguns outros prêmios de escolha do público”, Rachel comenta envergonhada e sorri, “e eu vejo todos vocês na terceira fila do teatro”, ela olha para Quinn.

“Eu me vejo na terceira fila do teatro”, a loira diz e todos soltam uma gargalhada, “e sinceramente... eu me vejo formada, claro, e tentando terminar uma pós graduação, mas eu não sei exatamente com o que eu quero trabalhar. Nem como vai estar a minha vida, onde eu vou morar. Mas eu me vejo na vida de Rachel... eu quero estar na vida de Rachel daqui a dez anos. Eu sinceramente faria de tudo...”

Quinn olha para aqueles olhos que ela tanto ama, da garota que já foi alvo de seu ódio, sua atenção, seu ego ferido e seu coração. O quanto ela já machucou a morena nessa vida? E o que ela daria para voltar atrás e colocar juízo e esperança na garota que ela foi? Tudo. Quinn daria tudo o que tem importância se ela pudesse reparar o dano feito à Rachel.

Ela reconhece a absurda sorte que é estar aqui, numa sexta à noite, num Pub perto de NYADA, rodeada de amigos, e ao lado de Rachel. E além de reconhecer isso, ela luta para nunca mais machucar a pequena. Quinn quer manter essa relação daqui há um ano, dois, dez. Não importa.

Qualquer que seja a pergunta sobre seu futuro, sua primeira resposta será: eu me vejo na vida de Rachel Berry.

Se Quinn ainda morasse em Lima, essa seria sua resposta também.

Seria uma pequena participação; algo como ligar para saber notícias ou trocar e-mails. Mas sumir, desaparecer, nunca.

E Rachel... Rachel vai muito bem, obrigada.

“Gente, é quase uma hora da madrugada”, Chad boceja tirando as duas de seu momento outra vez, “E Naomi, se você não lembra, temos que estar acordados exatamente às nove da manhã para o projeto de campo do professor Robert”

“Nãããããããão”, Naomi se lamenta fazendo as meninas rirem, “Eu odeio aquele professor! Isso é um crime”

“Na verdade, eu estou exausta e com saudades da minha cama”, Megan comenta.

“Eu também me sinto cansada, e acho que já vou voltar para o dormitório”, Rachel comenta e olha para a loira, “Tudo bem pra você?”

Quinn boceja antes de responder, e Rachel solta uma gargalhada, “Você já tem a sua resposta”, ela sorri.

Eles pagam suas respectivas contas e caminham para fora do pub, que está lotado e mesmo assim não pára de chegar gente, deixando o local apertado e de difícil locomoção.

“Rach, Quinn e Megan: eu e o Chad vamos por esse caminho”, Naomi aponta uns minutos depois que eles começam a caminhar.

Rachel e Quinn mantém suas mãos juntas, “Você não vai dormir no nosso dormitório?”, a morena pergunta confusa.

“Na verdade não, como eu preciso acordar cedo amanhã eu acho melhor dormir no Chad. A colega de quarto dele não se importa”

“Na verdade Naomi está de olho nela, por isso que Naomi não se importa, e não minha colega de quarto”, o garoto comenta e fazendo todas sorrirem.

Naomi fica vermelha, “Algo como isso”, ela desconversa, “Eu vejo vocês amanhã? Quinn?”

“Oh, sim, eu pretendo passar o final de semana em New York...Se Rachel não se importar”

Rachel sorri, “Você sabe que eu jamais deixaria você ir embora”, ela responde baixinho.

“Então eu vou indo. O dormitório do Chad é na parte C, na direção leste, então vamos perder uns minutinhos caminhando”, Naomi sorri abraçando Rachel.

“Meu dormitório é exatamente lá”, Megan comenta, “Você fica no primeiro ou segundo andar?”

“Segundo”, Brad responde sorridente, “Somos vizinhos?”

“Sim”, a morena ajeita seus óculos, “Então acho que eu vou aproveitar a companhia para ir embora”

“Oh, claro”

Rachel e Quinn se despedem dos três amigos, não sem antes Megan abraçar Rachel bem forte e agradecê-la pela agradável noite. Quinn recebeu um breve abraço, mas o suficiente. Era ela que iria levar a pequena para casa, provavelmente enchê-la de beijos e abraços, e dormir abraçada à seu corpo quente, então Megan ainda tinha um pouco de receio de se aproximar da loira.

Chad piscou para as duas antes de abraçar de lado Naomi e Megan, uma em cada braço.

Quinn sorriu, “Chad é mesmo um galanteador”

Rachel e Quinn caminhavam lado a lado, e suas mãos se encostavam de vez em quando. A morena sorri e engancha seu braço no da loira.

“Eu amei nossa noite”, ela comenta animada.

“Eu também”, a loira responde no mesmo tom.

“Você gostou da Megan? E do Chad?”

Quinn hesita.

Sim, ela gostou de Megan. Ela não é tão perigosa quanto a loira pintou em sua cabeça. Na verdade, ela parece simpática e bem inofensiva. E não é nada como o monstro devorador de morenas baixinhas que Quinn imaginou na primeira vez em que seu nome foi citado. Também porque Megan é uma morena baixinha.

A garota maior sorri antes de responder, “Eu gostei”

Rachel está tão, tão feliz. Ela está em New York, pelo amor de Deus.

Ela pensa em seu primeiro dia de faculdade, quando ela estava estática, para no centro de seu dormitório cheio de caixas com seus pertences pessoais, e algo estava a travando de arrumá-los. Uma sensação ruim, uma angústia que só foi embora depois que ela ligou o skype para conversar com Quinn. A loira ordenou que ela arrumasse suas coisas finalmente enquanto ela contava sobre seu dia em Yale, e em alguns minutos, Rachel já estava dobrando suas roupas e pendurando seu quadro da Barbra na parede.

Ela pensa sobre o modo como Quinn sempre existe em sua vida, de uma forma ou de outra.

Há muito tempo atrás, como uma inimiga, e agora, nesse exato momento, como seu amor.

“Eu fico muito feliz de ver você assim, Rach”, a loira olha fixo nos olhos castanhos, “Saindo com seus amigos, se divertindo”

“Eu me diverti mais porque você estava aqui... você consegue transformar o comum em especial”, Rachel responde suavemente e o coração de Quinn acelera com aquelas palavras doces.

A loira boceja outra vez e Rachel encosta a cabeça e seu ombro enquanto caminha, “Eu quero continuar aquele jogo de perguntas que o Chad começou quando estávamos no pub”

Quinn franze a testa, sorrindo, “Mas você sabe tudo sobre mim”

Rachel tem um olhar apelativo que a loira não resiste por muito tempo. Na verdade, em dois segundos ela desiste.

“Claro. Pergunte”

“Quem foi o seu primeiro amor?”

Ops. Temos uma pergunta capciosa por aqui.

Quinn pensa um pouco antes de perguntar, “Você quer saber na infância? Ou depois?”

“Hmm... Os dois”, Rachel responde tímida, “Você teve algum amor na infância?”

“Na verdade não. Tinha esse menino, Jason, que quando eu tinha seis ou sete anos vivia querendo brincar comigo, indo lá em casa me chamar. Meu pai era amigo da família por questões políticas e minha mãe realmente gostava dele, mas eu não. Achava ele controlador e possessivo, mesmo ele tendo seus... oito anos”, ela ri.

“Wow”, Rachel sorri ainda deixando sua cabeça no ombro da loira, “Quinn Fabray destrói o coração dos meninos desde criancinha”

A loira estreita os olhos e finge um ataque de cócegas à cintura de Rachel, que se esquiva soltando uma gargalhada.

“Boba. Eu lembro dele porque sempre que eu voltava dos treinos das Cheerios ele estava na rua andando de skate. E eu fazia algo que não me orgulho muito...”, a loira termina baixinho.

“O quê?”, a pequena se anima, “Oh, Deus, o que você fazia Quinn?”

“Eu meio que fingia estar falando no telefone para não ter que dar oi para ele”, a loira diz sentindo seu rosto ficar vermelho, “Mas eu me arrependo, eu juro...”

Rachel ri abertamente, “Você não se arrepende”

“Não, eu definitivamente não me arrependo”, Quinn sorri, “O garoto era chato desde criança. Com certeza ele iria me importunar e para não existir momentos deselegantes eu inventei uma solução fácil e rápida que me levaria para casa mais cedo”

A diva se aperta mais em seu braço, “E depois...?”

“Bom, eu comecei a namorar Finn, e depois namorei Sam por um tempo”, a loira cora novamente, “Mas eu sempre fui apaixonada por você, mesmo quando estava com eles. Então, desde que eu me entendo por gente, eu nunca gostei de outra pessoa; pelo menos não da forma que acontece com você”

Toma, Rachel. Você meio que pediu.

A morena sente seu coração acelerar, “O que você mais gosta em mim...?”

Quinn sorri. Essa é uma questão tão fácil de responder.

“Tudo”, ela diz automaticamente e apesar de Rachel ter amado a resposta, ela revira os olhos.

“Quinn!”

“Você não especificou nada”, a loira responde segurando um sorriso brincalhão.

Rachel pára de caminhar, chamando a atenção de Quinn. Elas estão na frente da entrada principal de NYADA, onde alguns alunos ainda estão ali, e outras pessoas caminham arrumadas em direção à alguma festa.

“Vem, senta aqui”, ela diz puxando a loira para um banco e se sentando a seu lado, “Agora me responda sério”

“Por onde eu começo”, Quinn põe a mão no queixo fingindo pensar e Rachel sorri, “Eu gosto quando você está sendo você mesma. Eu quero dizer, quando você se sente à vontade e se solta, como hoje. Em um grupo de amigos que você confia. Você se permite e simplesmente fala o que vêm à cabeça, suas piadas, suas opiniões. Simplesmente só sendo exatamente quem é e eu gosto quando isso acontece”

A pequena suspira em resposta.

Bem na sua cara, Rachel. Pare de fazer perguntas como essa.

“Você sabe tudo sobre mim...”, a diva diz baixinho.

“Eu acho que sim”, Quinn se vangloria e Rachel ri.

“Eu quero dizer... você sabe minha cor preferida?”

“Azul”

“Comida preferida?”

“Paella Vegetariana que seu pai Hiram faz”

“Que você não quis comer quando esteve lá em casa naquela semana que passamos juntas em Lima!”, a morena briga.

“Me desculpe por isso... mas eu falei que havia comido algo que me fez mal antes e não queria estragar o jantar de vocês passando mal outra vez”, a loira pede com uma voz inocente e outra vez o coração de Rachel dá saltos em seu peito.

Incrível. Simplesmente incrível o efeito que Quinn tinha sobre seu corpo, sua respiração.

Ela avança sobre os lábios da garota maior, beijando-os delicadamente. É o primeiro beijo que elas trocam desde que foram até o pub com Megan, Chad e Naomi. Quinn estava morrendo de saudades.

Rachel move seus lábios suavemente, impondo passagem para sua língua encontrar a língua quente de Quinn, fazendo ambas gemerem com a sensação. Quinn leva sua mão até a nuca da morena, gentilmente acariciando.

Segundos depois Rachel as separa, um pouco ofegante.

“Meu filme favorito?”

Quinn solta uma gargalhada, acariciando o rosto de Rachel, “Até o porteiro de NYADA deve saber: Funny Girl. Que também é seu musical da Broadway preferido, apesar de você gostar das novas versões de West Side History”

“Minha matéria preferida no ensino médio?”

“Você era péssima em matemática, então eu vou dizer... Biologia”, Quinn fecha os olhos sorrindo, prevendo a expressão de Rachel.

A pequena abre a boca em espanto, “Eu não era péssima em matemática, eu só...”, ela estreita os olhos para a loira, “Sim, era biologia, mas não porque eu era ruim em matemática”, Rachel faz bico.

Quinn beija os lábios carnudos, dando vários e repetidos selinhos, até a pequena desfazer sua expressão.

“Tudo bem, meu amor, eu também sou ruim em matemática”, a loira diz abraçando a corpo pequeno e trazendo-o para mais perto de si.

Rachel sente os estragos que tais palavras sempre causam em seu corpo. Será que ela nunca vai se acostumar? Algum dia de sua vida Quinn vai chamá-la de “meu amor” e Rachel não vai sentir como se um vulcão entrasse em erupção dentro de si mesma?

“V-você me chamou de meu amor...”, ela comenta baixinho olhando diretamente para os olhos da loira.

“Eu chamei”, Quinn responde simplesmente.

“E essa é a terceira vez”

A loira solta uma gargalhada, “Sim, meu amor. E essa é a quarta”, ela brinca.

Rachel engole seco, nervosa, “Eu gosto disso”

“Eu também”

Elas se olham, em silêncio. Quinn mantém seu braço em torno do ombro da garota menor, traçando círculos com seus dedos, e Rachel treme.

“Você disse que daqui há dez anos ainda se enxerga na minha vida...”, a pequena diz baixinho.

Quinn brinca, “Você não?”

“Como você se enxerga? Eu quero dizer... como minha amiga, como algo”, ela suspira, “...a mais?”

“Eu falei com Naomi hoje, sobre algumas coisas”, a loira começa e Rachel presta total atenção, “e eu disse como há algum tempo atrás eu nunca achei realmente que eu iria... você sabe, beijar você e ter seus sentimentos românticos voltados para mim”, ela ruboriza, “E eu disse que mesmo se eu ficasse em Lima, nunca tivesse saído do armário, muito menos lidado de frente com a minha sexualidade, eu ainda queria estar na sua vida. Provavelmente trocaria alguns e-mails com você, ligaria de tempos em tempos... Mesmo se eu não tivesse coragem de...”

Quinn não consegue terminar de falar, porque simplesmente um choro se desprende e ela não evita. Lágrimas caem tímidas e Rachel vira mais seu corpo, encostando suas pernas e limpando cada lágrima que tenta cair com a ponta de seus dedos.

“Eu mandaria flores para você na sua estréia da Broadway, e um cartão dizendo que eu sempre soube que você ia conseguir. Se essa fosse a única forma de estar na sua vida, eu faria isso”

Rachel sente seu coração apertar.

“Mas essa não é a sua realidade, Quinn. Você está aqui, comigo, e não em Lima, não dentro do armário. Você sempre foi e sempre vai ser alguém presente em minha vida, de uma forma ou de outra”, Rachel diz doce ainda acariciando a bochecha da loira.

“Eu sei, é só que... pensar nisso dói”

“Então não faça... porque não é nem remotamente a verdade”

Quinn sorri, “Eu te amo, tanto, tanto, Rachel”, ela passa a mão nos olhos e limpando o choro pela última vez.

“Eu te amo, Quinn...”

Rachel responde de uma forma intensa e todo o interior de Quinn entra em chamas. É inexplicável a felicidade de ouvir essas palavras.

A morena segura a mão de Quinn entre as suas, antes de criar coragem o suficiente para dizer, “...E é por isso que eu quero namorar com você”


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Notas finais do capítulo

mas que barbaridade, tchê!