POV Jennifer

Sempre soube que pesadelos podem assustar as pessoas e até fazê-las acordarem. Mas nunca tive ideia do quanto eles são irritantes até hoje. Eles têm voltado com mais frequência do que imaginei que poderiam voltar, e quase toda noite tenho que sair da cama suada e assustada. E agora os fatos que neles acontecem tem se tornado imagens que não saem da minha cabeça.

Com meus pensamentos a mil, tento me concentrar no trabalho. Meu querido e não tão-amado chefe me entregou uma pilha de projetos que devo revisar para entregar na Câmara de Vereadores na parte da tarde. E isso nem é o que eu deveria estar fazendo. Inscrevi-me para o estágio nesta agência de viagens porque realmente achei que eu iria viajar pelo mundo, como dizia o anúncio. Muita inocência minha ou muita cara-de-pau deles?

Está quase no meu horário de almoço e revisei apenas dois projetos de seis. Minha cabeça está prestes a explodir e se eu não sair daqui agora, deste formigueiro de coroas obesos que estão neste trabalho desde mil e novecentos e bolinha, acredito que surtarei de vez.

– Estarei no Tony’s se precisar de alguma coisa, Sil. Também estou com meu celular – digo à Silvana, minha supervisora.

– O.K. Bom almoço – ela responde, educadamente.

Aceno com a cabeça e finalmente abro as portas para o paraíso. A grande e bela cidade de Lancaster, localizada no sul da Califórnia, no Condado de Los Angeles. Com uma população de 150 mil habitantes, nós temos o prazer de compartilhar o tédio e a invasão de privacidade com nossos amados turistas, que não são muitos.

O sonho de todo adolescente que mora neste fim de mundo é sair daqui e mudar para Vegas. A adorada Las Vegas, a cidade dos maiores e melhores cassinos do mundo. Um dia, quem sabe, não morarei na cobertura de um hotel bem luxuoso e com uma vista de tirar o fôlego?

– Ei, Jenn! – ouço alguém interromper meus sonhos impossíveis enquanto ando pela avenida principal, em direção ao Tony’s. Viro-me para saber quem me chamou – Jennifer!

Matt atravessa a rua com certa rapidez e vem em minha direção.

– Matt?! Achei que estava trabalhando...

– Pedi para o Sr. Popper me liberar mais cedo. Fui te buscar no trabalho, mas você já tinha saído... Queria fazer uma surpresa. Mas sabia que iria para o Tony’s – ele se aproxima e nós nos beijamos. Claro que estou indo para o Tony’s, penso. Conhecemo-nos lá.

– Ter você aqui já é uma surpresa – sorrio e ele pega minha mão.

Caminhamos em direção ao Tony’s, uma lanchonete estilo anos 70, com uma decoração de dar inveja. Ele me pergunta como foi meu dia enquanto nos sentamos e escolhemos o que pedir. Digo que foi normal, mesmo tendo consciência que foi um verdadeiro caos.

Almoçamos, ele me deixa no trabalho e eu volto para o formigueiro. As horas passam devagar, os projetos são revisados delicadamente, mesmo eu tendo vontade de tacar o computador na parede. Entrego-os para Sil, e peço o resto do dia de folga.

Com meu cachecol e meu casaco, atravesso o parque para chegar a meu apartamento. Ando devagar, observando cada detalhe das árvores, que estão lindas nesta primavera – minha estação do ano favorita. Quando o parque acaba e os arranha-céus voltam a dominar as ruas, vejo um táxi em frente ao prédio onde moro. De dentro dele sai um homem loiro e musculoso.