A Morte está nos ossos escrita por Liv Marie


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Aqui continuo, com um especial agradecimento a todos que leram e tiveram a generosidade de deixar seu recado.



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2.

Enquanto é possível notar que Henry mudou de forma substancial, especialmente na superfície, Emma parece ter permanecido exatamente a mesma pessoa, o que inclui a jaqueta de couro vermelho e seu irritante e exacerbado senso de confiança.

Ao menos desta vez, o seu timing não é completamente terrível.

Seu filho adolescente, entretanto, parece pensar o contrário.

"Ma, o que você está fazendo aqui?" Henry franze a testa e bate o pé no chão com força, da mesma forma que fazia quando era apenas um menino se sentindo contrariado por não poder ficar acordado até tarde. O gesto, por menor que seja, levando Regina a notar que apesar das aparências, reminiscências de seu filho ainda se encontram em algum lugar dentro do jovem rapaz.

"Puxa, eu não sei... Que tal: salvando o seu traseiro!" Emma limpa o sangue da lâmina de sua espada com um pedaço de pano e caminha em direção à árvore onde sua adaga ainda está presa. "À propósito, não há de quê."

"Nós não precisávamos da sua ajuda." Henry insiste, teimosamente, sacudindo a poeira de suas próprias roupas com aborrecimento estampado em seu rosto.

Emma sempre pode ver Regina em suas feições quando ele faz essa cara. Dado o número de vezes em que isso aconteceu ao longo dos últimos anos e da situação que eles estão enfrentando no momento, ela não acha isso surpreendente e tampouco adorável.

"A pilha de cadáveres diz o contrário, garoto." A loira inspeciona sua adaga antes de colocá-la em seu coldre e, em seguida, volta-se para Regina, encarando-a diretamente pela primeira vez. "Há quanto tempo, sua Majestade."

"Obrigada pela sua ajuda Miss Swan. É bom saber que suas habilidades com a espada finalmente melhoraram.” Regina avalia com fingida indiferença, subitamente incomodada com as manchas de sangue em suas mãos.

Sua expressão deve revelar seu desconforto, porque sem pensar duas vezes, Emma lhe entrega seu próprio pedaço de trapo sujo. A morena não esconde seu desgosto, mas dada a falta de opções, aceita o gesto.

"Eu tinha tudo sob controle." Henry insiste, ignorando a pequena troca entre suas mães. "Você precisa parar de me tratar como criança."

Revirando os olhos e chegando ao final de seu pavio notoriamente curto, Emma não se segura, apesar da presença de Regina. "Escuta Henry, se você não quer ser tratado como uma criança talvez devesse ter pensado duas vezes antes de se esgueirar no meio da noite e desobedecer a ordens estritas."

"Eu fiz o que tinha que ser feito. Você sabe que não havia outro caminho". Henry se defende, mas as palavras de Emma parecem tê-lo acertado em cheio.

"Talvez. Mas essa decisão não cabia à você." Mesmo que o tom de Emma seja mais suave, sua postura permanece rígida, deixando um clima desagradável entre os dois.

O garoto não parece ter uma resposta para isso.

"Está ficando tarde. É melhor a gente ir..." Henry diz e se põe a caminhar na frente, silenciosamente indicando que Regina e Emma devam acompanhá-lo, o que elas fazem sem hesitar.

Regina não tem nada a dizer por ora, ainda processando a cena que acabou de testemunhar e as possíveis implicações da mesma. Já Emma, desconfortável por ter sido pega em posição de ter que passar um sermão no garoto por ninguém menos que Regina, dá de ombros. "Adolescentes, huh?"

Regina permanece contemplativa então, a única resposta oferecida, pertencente ao som de seus passos no terreno cheio de folhas secas, enquanto elas seguem o filho.

.::.

"Talvez você possa me esclarecer sobre toda esta situação à qual estou a ponto de me engajar." A voz de Regina rompe o silêncio depois de quase uma hora viagem. Ela fala baixo, porém, de modo a não perturbar o adolescente mal-humorado que lidera o trio.

"O que exatamente o garoto lhe contou?" Emma responde no mesmo tom, com os olhos colados à figura de Henry.

"Muito pouco, temo eu." Regina decide não se concentrar no filho. "Essas coisas que nos atacaram há pouco, por exemplo, se revelaram uma desagradável surpresa."

"Então, ele basicamente pulou o prato principal." Emma deixa um suspiro escapar, incrédula. "Essas coisas são a razão pela qual estamos completamente ferrados."

Regina estremece ante o uso de tal linguagem, mas se abstém de censurar Emma, mais preocupada com o que ela tem a dizer. "O que eram eles?"

"Sério?" Emma interrompe a caminhada, um olhar de estupefação emoldurando sua expressão. "Você nunca se deparou com zumbis antes?"

Regina provavelmente deveria se sentir ofendida pelo tom de Emma. E talvez ela tivesse, se suas palavras não houvessem desbloqueado memórias tão terríveis de seu passado.

Ela pensa em Daniel, doce e gentil Daniel, sendo trazido da morte pelos esquemas de Victor. Suas mãos, tão frias, envolvendo seu pescoço e apertando com força até sua visão se tornar turva. Sua voz, incorporada pela dor, suplicando por misericórdia. O coração que não era realmente dele, pulsando de forma não natural dentro de seu corpo morto.

Regina estremece involuntariamente, as palavras amargas quando ela admite. "Não assim. Não dessa maneira."

Seja o que for que Emma lê em seu rosto, seus instintos dizem-lhe para não se intrometer, ao que Regina é silenciosamente grata.

"Bem, nós realmente não sabemos o que causou isso, ou como essa coisa toda começou, apenas como acontece. Seu coração pára de bater e, em questão de segundos, você acorda com um apetite especial por pessoas. Qualquer coisa viva na verdade. E a única maneira de matar essas criaturas de uma vez por todas é..."

"Com um golpe fatal na cabeça." Regina se lembra de Henry fazendo justamente isso, uma imagem que ela provavelmente nunca irá esquecer.

"Exatamente." Emma retoma sua caminhada, acompanhada por Regina. "Essa coisa não foi causada por magia ou nada parecido. Pelo menos, achamos que não, mas somente porque até onde se sabe, aconteceu em escala mundial. Storybrooke até permaneceu protegida por um pouco mais de tempo, por causa da barreira. Mas então, a barreira foi levantada e as coisas foram para o beleléu depois disso."

Regina absorve as palavras de Emma, tentando dominar seu espanto. Em todo o tempo em que viveu em Storybrooke, sempre em busca de sua vingança pessoal, ela nunca tinha considerado as ameaças oferecidas por esta terra. Especialmente nada de semelhante natureza.

"Quando tudo isso aconteceu?"

"Cerca de um ano depois que você foi condenada? É difícil guardar detalhes com a falta de meios e tudo o mais que aconteceu desde então. Pelo menos para mim... Mas tenho certeza de que Whale tem tudo cuidadosamente anotado em um calendário em algum lugar em sua alcova."

"E Storybrooke?"

"É uma cidade fantasma agora. Só que no caso, os fantasmas vagueiam pelo que resta da cidade caçando coisas vivas." Emma dá de ombros, como se a coisa toda fosse algo natural e não um conto de terror, o que Regina considera ser a parte mais terrível de todas.

Porque se Emma Swan se rendeu, ela não tem certeza do que resta para salvar.

"Então, para onde estamos indo?"

"Finalmente!" A pergunta de Regina é cortada pela voz de Henry ao anunciar a chegada ao seu destino. O bosque pelo qual o pequeno grupo cruzou a pé, dando lugar a uma estrada asfaltada e, em seguida, uma fina linha de areia cinzenta que vai de encontro ao mar.

Dentre alguns arbustos - um esconderijo bastante óbvio - um pequeno barco de madeira é revelado quando Henry começa a arrastá-lo para o mar com considerável esforço.

"Garoto, da próxima vez, tente uma cobertura melhor ok? Alguém poderia tê-lo encontrado, e então Merry Jerry teria virado história". Emma diz tirando suas botas e caminhando na direção do rapaz para lhe oferecer alguma ajuda ao levar o pequeno, mas pesado, barco de volta à água. "E, por falar nisso, você poderia pelo menos ter me dado umas dicas sobre esse seu plano, assim eu não teria que ter vindo atrás de você nadando feito um maldito Flipper".

"Vocês não podem estar falando sério!" Regina não faz qualquer esforço para conter sua incredulidade e dois pares de olhos esverdeados se mostram de repente alertas à sua reação. "Vocês não estão pensando que eu vou realmente colocar minha vida em risco embarcando nessa lamentável réplica de embarcação, não é?"

"Para falar a verdade, sim nós estamos. A menos que você esteja pensando em ficar aqui sozinha e começar uma fogueira, sua Majestade. O que eu não aconselharia, particularmente, porque você sabe... Zumbis!" Emma afirma sarcasticamente e é recompensada com um olhar letal.

Tentando apaziguar o que pode muito bem se tornar uma pesada troca de fogo, antes que a situação se complique, Henry se coloca entre as duas.

"Mãe, essa é a única maneira de chegar ao Jolly Roger".

"A menos que você não se importe em evocar sua sereia interior..." Emma acrescenta, resmungando para si mesma.

A explicação de Henry é dada pacientemente, como a uma criança, mas o que realmente toca Regina é o fato de ele tê-la chamado de "mãe" pela primeira vez em um longo, longo tempo.

Algo dentro de seu peito parece latejar. E, em seguida, a parte racional de seu cérebro recupera sua função.

"Jolly Roger?"

É Emma quem lhe proporciona a confirmação do que parece ser a ideia mais absurda de todos os tempos.

E também a única razão pela qual eles ainda estão vivos.

Longe dali, Regina vê o navio em meio a água azul, aparentemente intocado pelos horrores que tem assombrado essa terra. E pela expressão nos rostos de Henry e Emma, não lhe resta qualquer saída.

Regina suspira.

Isso definitivamente não era o que ela estava esperando.

.::.

O pôr do Sol está chamuscando o céu com tons de rosa e laranja quando eles finalmente se aproximam do navio de Hook. Henry e Emma fizeram a maior parte do trabalho - bem, todo o trabalho - depois de se recusarem a deixar Regina usar seus poderes para acelerar a viagem, por razões que ainda lhe escapam a compreensão. Certamente agora seu domínio sobre os seus poderes está sob controle, mas de alguma forma este não parece ser o único problema.

Um ponto em que Regina teria insistido se Emma não tivesse parado de remar de repente para lhe dar um aviso mais que direto.

"Esse é o fim da linha. Hora do show. Por favor, não importa o que você ouvir, deixe a parte da fala por minha conta, ok?"

Regina não tem a chance de se opor realmente, o pequeno barco sendo levantado por cordas enquanto vozes expressam alegria com o retorno dos navegantes, antes que ela possa sequer reagir.

Isto é, até a sua presença ser notada.

Então toda a alegria, de fato, todo o barulho desaparece, deixando apenas um silêncio carregado em seu lugar.

É quando tudo se torna claro, a começar pela discussão entre Emma e Henry em seu primeiro encontro na floresta. Não se tratava apenas de uma reprimenda porque o garoto havia ido atrás de sua mãe adotiva sozinho, colocando sua vida risco em um ato de rebeldia imprudente.

Era porque ele tinha ido sem o consentimento do restante do grupo.

E agora, aqui está Regina, em um navio, cercada por um imenso oceano, se deparando com uma recepção muito pouco amistosa. Não que ela não esteja acostumada a isso, estando ela mais do que familiar com o papel de vilã que constantemente lhe é delegado. Mas isso certamente vai tornar as coisas mais difíceis, afinal como ela pode resgatá-los quando claramente essas pessoas não confiam nela ou sequer desejam seu auxílio?

Felizmente, este é agora um problema que cabe à Emma Swan resolver.

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Emma não se surpreende em nada com a reação do grupo à presença de Regina. Apesar de todo o seu discurso sobre serem os mocinhos e ajudarem quem precisa essas mesmas pessoas certamente parecem dispostas a escolher um lado, sempre que é mais conveniente.

De fato, dado o histórico de Regina, o lado ao qual ela não pertence é quase sempre o mais conveniente. E também o mais seguro. O problema é que, até onde Emma sabe, anos se passaram, os tempos mudaram e as prioridades foram definitivamente alteradas. Então será que isso não conta para alguma coisa?

Aparentemente não tanto quanto Emma gostaria; um otimismo que ela só pode ter herdado de seus pais.

"O que esta bruxa está fazendo aqui?"

Grumpy é o primeiro a declarar seu descontentamento dando um passo à frente, posicionando-se na frente de sua mãe de forma protetora, enquanto Snow - aquela que supostamente teria mais razões para se opor à presença de Regina - para grande surpresa de sua filha, permanece impassível, seus olhos estudiosos fixos sobre a figura da ex-rainha.

Em verdade, Emma não pode exatamente culpá-la. Ela mesma foi pega de surpresa quando viu Regina pela primeira vez na floresta, passados todos esses anos. E isso não teve quase nada a ver com o fato de que ela havia acabado de matar um zumbi com as mãos nuas.

A mulher que eles agora têm diante de si está tão diferente; Não é de se admirar que o grupo não tenha sido capaz de identificá-la como a presença que acompanhava Emma e Henry em sua aproximação do Jolly Roger. Certamente suas maneiras parecem ter permanecido as mesmas, assim como sua “graciosa” personalidade, mas fisicamente, Regina poderia muito bem ser outra mulher.

Para começar as roupas impecáveis se foram, dando lugar a um manto cinza muito simples, o mesmo que ela recebeu em seu julgamento, só que muito mais desgastado e desbotado. Por mais limpo e cuidado que Regina possa tê-lo mantido todos esses anos – antes do sangrento embate que ela enfrentou anteriormente, isto é – seus trajes com certeza em nada se assemelham a alta costura que a ex-rainha sempre favoreceu em seu passado, seja este na Floresta Encantada ou Storybrooke.

Seu cabelo, que anteriormente havia sido mantido curto e impecável, está agora mais longo do que Emma se recorda de já ter visto, ondulado e irregular, apesar dos melhores esforços de Regina para domar as mechas escuras. E, é claro, há esta consistência pastosa que nunca pertenceu a seu tom de pele até então. O que, pessoalmente, Emma pensa que não combina com ela em nada, fazendo com que Regina pareça ainda mais frágil quando adicionado ao fato de ela estar tão magra.

No entanto, mesmo pequena como ela se revela sem seus saltos altos e aparentando ser capaz de ser carregada pelo vento com um mero sopro, com um único olhar e sem qualquer necessidade de palavras Regina vai do frágil ao sombrio, o que só pode significar um mau agouro se Emma não intervir rapidamente.

"Na verdade, é uma história engraçada", Emma fala em voz alta, comandando toda a atenção para si mesma, enquanto dá um passo a frente de Regina.

"Não posso dizer que partilhamos o seu senso de humor Swan." Hook diz bastante seco, ao lado de Ruby, que discretamente deposita a mão sobre sua adaga, ao que Emma não pode dizer se se trata de um gesto de mera precaução ou com diferente intenção.

Seja o que for, Henry parece notar a atmosfera pesada, ficando muito alerta ao lado de sua mãe adotiva.

"Vocês nem ouviram a história ainda." Emma não desiste, seus olhos afiados observando o grupo com cautela, enquanto seus lábios esboçam um sorriso artificial.

"Você não se lembra do que ela fez da última vez? E tudo o mais antes disso? Escuta irmã, esta bruxa não é nada senão más notícias." Grumpy defende com veemência.

"O anão tem um ponto. Você deve saber que nenhuma história com a Rainha Má termina com risadas, Miss Swan." Whale acrescenta com um sorriso malicioso, que provoca arrepios em Emma apenas pela sua aparência.

Seja quais forem as boas ações que ele tenha feito desde que foi resgatado, quando se trata do Doutor Frankenstein, Emma nunca consegue afastar a sensação de que algo não cheira bem. O seu 'especial' interesse em zumbis certamente não ajudando o seu caso ao longo dos últimos dois anos.

Assim, a reação de todos é consideravelmente pior do que ela tinha imaginado.

Emma ainda pode lidar com isso.

Ela certamente já passou por situações mais difíceis. O único problema é que qualquer que se seja a solução para o problema em questão, este ainda não se apresentou a ela.

Para seu alívio, esse é o exato momento em que Pongo surge latindo e saltando sobre Regina com nada senão o mais puro entusiasmo. Pega de surpresa, Regina cambaleia para trás, precisando da ajuda de Henry para manter o equilíbrio enquanto o dálmata saúda a ex-rainha com beijos molhados e latidos de alegria.

"Pelo amor de Deus, alguém pode controlar este animal?" Regina consegue reclamar em meio ao alvoroço provocado e Henry faz o seu melhor para fazer exatamente isso, enquanto todo mundo parece mais do que apenas um pouco surpreso com a espontânea expressão de afeto do cão para com a Rainha Má.

Emma está prestes a intervir em seu socorro também, quando, logo atrás de Pongo, tão rápido quanto suas curtas pernas o permitem, vem um pequeno menino de cabelos louros que a abraça pela cintura ferozmente.

"Você voltou!" O menino vibra oferecendo um sorriso imenso que faz o coração de Emma acelerar em seu peito, apesar de toda a tensão.

E como um encanto, a presença do garoto compele quase todo mundo de volta para seus cantos do ringue.

"Hey pirralho." Emma acaricia sua cabeça, com um sorriso carinhoso no rosto. Então, voltando ao seus sentidos, sua postura endurece quando ela comanda. "Henry, mostre à Regina meus aposentos. E certifique-se de levar Evan e Pongo com você."

"Emma," Snow está prestes a dizer algo, mas ela a interrompe.

"Agora não, mãe." Emma diz secamente então olha desafiadoramente para o resto da tripulação que a observa em silêncio, sua voz baixa e peremptória. "Agora todos vocês me escutem bem..."

Ao ser guiada por Henry e a criança que se parece notavelmente com Emma, a última coisa que Regina é capaz de ouvir antes de entrar no navio é o tom resoluto de Emma enquanto sua voz se eleva. "(...) e quer vocês queiram ou não, está decidido. Ela fica."

.::.

Apesar de valer-se de seu melhor tom autoritário, bem como suas habilidades de liderança, o debate acalorado entre o pequeno grupo de sobreviventes se prolonga por uma quantidade insuportável de tempo.

Por fim, Emma consegue sair vitoriosa, mas apenas por pouco e mesmo assim, muito disso se deve ao apoio de sua mãe.

"Fico feliz por você ter encontrado Henry antes que qualquer coisa ruim pudesse lhe acontecer." Snow diz deixando uma mão descansar sobre o ombro de sua filha, enquanto ela se senta em um caixote na popa do navio - um lugar ao qual Emma se acostumou a visitar sempre que seus pensamentos tornam-se muito barulhentos.

O lugar onde Snow sabia que ela estaria.

"É. Tivemos sorte de você ter notado a ausência do Henry tão cedo." Emma interroga com um olhar longo, à espera de uma confissão. Sua mãe não a deixa esperando por muito tempo.

"Sinto muito. Eu sei que foi uma coisa estúpida de se fazer; entregar a chave à ele. Mas você deve saber que eu só fiz isso porque sabia que você estaria lá para protegê-lo, certo?"

Snow parece genuinamente angustiada, o que faz com que a fúria de sua filha se abrande, mas não o suficiente para que Emma esqueça a gravidade de seu ato. "Foi uma grande merda. Algo muito ruim poderia ter acontecido, você sabe disso."

"Eu sei. E se eu pudesse, eu teria sido a pessoa a ir atrás de Regina para pedir sua ajuda, mas nós duas sabemos que se esse fosse o caso, eu teria voltado de mãos vazias." Snow explica ainda que não haja real necessidade. "E você sabe que a Regina é a única pessoa que pode nos ajudar agora."

"Sim, eu sei disso, Henry sabe disso e você sabe disso, mas o restante do mundo parece pensar o contrário. O que não facilita as coisas nem um pouco." Emma confessa, deixando transparecer o peso que vem carregando em seus ombros desde que ela trouxe Regina - e talvez até mesmo antes disso.

"Bem, eles aceitaram a presença dela por enquanto, e isso é alguma coisa." Snow tenta ser otimista e é presenteada com um olhar inquisidor por sua filha, como se ela estivesse tentando entendê-la e não conseguisse juntar todas as peças.

O momento dura menos de um minuto, o sarcasmo inconfundível de Emma permeando suas palavras, o que torna difícil distinguir o quanto do que ela está dizendo tem ou não um significado real.

"Claro, mas eu ainda sinto que deveria colocar ficar de guarda junto à sua porta ou podemos encontrá-la em pedaços ao amanhecer.”

"Oh querida," Snow sorri versadamente, uma centelha perdida há muito tempo em seus olhos quando ela lhe diz. "Você não tem que se preocupar com Regina. Se há uma coisa que eu tenho certeza que nem o tempo foi capaz de apagar é o fato de que ela é mais do que capaz de cuidar de si mesma."

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"O que está achando de seus novos aposentos, sua Majestade?" Emma brinca sem convicção ao lhe pagar uma visita após o jantar, finalmente se forçando a dar uma olhada em como a ex-prefeita está se adaptando ao seu novo ambiente.

"Já vi melhores." Regina responde, com simplicidade, sentada no beliche de Emma sem nunca perder a pose. "Mas certamente já vi piores também."

A humildade presente na observação de Regina é inesperada, abalando Emma em sua convicção e fazendo-a optar por uma abordagem mais séria.

Sua exaustão quase esmagadora também pode ter algo a ver com isso.

"Então... Agora você já sabe a história. Uma grande parte dela, de qualquer maneira... Ainda está disposta a tomar parte nisso?" Emma repousa o corpo contra a parede, os braços cruzados enquanto ela inspeciona Regina usando seu superpoder e outras habilidades de observação também. "Quer dizer, nós duas sabemos o que Henry espera que você faça, mas no final realmente só depende de você."

"Você faz soar como se fosse uma questão de escolha, quando claramente nem você, nem eu temos uma."

"Você está certa." Emma se entrega com um suspiro. "Mas eu ainda me lembro como é ter este grande peso jogado em seu colo, sem aviso prévio, então acho estava apenas tentando suavizar o golpe."

Regina não responde de imediato, sua figura estagnada em uma postura pensativa, até que as palavras, finalmente, parecem encontrar seu caminho.

"Foi assim que você se sentiu quando ele apareceu pela primeira vez à sua porta?"

As memórias de Emma emergem como a inundação de um rio.

O rosto de Henry, então, tão jovem, tão inocente. Sua insistência em lhe oferecer o título de salvadora quando ela tinha sido qualquer coisa menos isso; confiante de que ela iria fazer a coisa certa, acreditando mais nela do que Emma jamais foi capaz de acreditar em si mesma.

O passado jamais pareceu tão distante. E ao mesmo tempo tão presente.

"Você quer dizer esperando que eu realizasse o impossível?" Emma insinua com a compreensão exata do que Regina está falando. Um sorriso amargo florescendo em seus lábios quando ela lhe dá uma resposta. "É... Foi exatamente assim."

.::.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Não se preocupem, a história é mesmo SQ, mas acho que poderia adicionar Slow Burn na categoria. =P

Comentários e críticas são igualmente bem vindos. Até o próximo update! ;)



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