A Morte está nos ossos escrita por Liv Marie


Capítulo 13
Epílogo




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Eles chegam ao outro lado, no meio de uma tempestade, separados uns dos outros.

 .::.

Emma abre os olhos e percebe estar nas proximidades de uma enorme árvore imensa e antiga, seu corpo dolorido pelo impacto sobre o solo duro enquanto a chuva fria cai sobre sua cabeça, encharcando-a completamente.

Ela imediatamente se senta, uma careta se formando em seu rosto apenas pelo pequeno esforço. É quase impossível enxergar claramente sob o aguaceiro, mas até onde ela pode ver, não há ninguém por perto.

Isto é, até ela ouvir alguém gritando. Emma pode facilmente reconhecer a voz, apesar dos uivos altos do vento.

A voz pertence a Ruby.

Colocando suas habilidades e força de vontade em ação, Emma começa a rastrear os gritos e não demora muito até que ela consiga encontrar a amiga grávida respirando com dificuldade em meio a uma clareira.

 – Ruby! – Emma chama seu nome assim que seus olhos a reconhecem, correndo em sua direção tão rápido quanto suas pernas lhe permitem.

Um sorriso surge como resposta nos lábios de Ruby, provocado por um inequívoco alívio quando ela vê Emma, mas este se desfaz quase de imediato quando mais uma contração lhe acomete, dando lugar a uma careta feroz e um grito alto.

 Imediatamente Emma reconhece os sinais, memórias mais recentes de Snow dando luz a Evan, e mesmo as mais antigas, de quando ela mesma passou pela dor do parto, agilizando a assimilação dos fatos.

Em seu caso, por mais que sua situação estivesse longe de ideal, Emma fora socorrida em um hospital (do presídio, mas ainda assim um hospital), com médicos, enfermeiras e principalmente: acesso a drogas poderosas.

 Snow não tivera a mesma sorte.

 Quando Evan veio ao mundo, era uma noite de inverno, e eles estavam refugiados em uma cabana caindo aos pedaços, longe de qualquer civilização enquanto hordas de mortos-vivos tomavam conta do que restava de Storybrooke.

Whale estava presente, o que foi de alguma ajuda, mas não havia qualquer medicação ou alívio a ser oferecida à sua mãe enquanto seus gritos eram amortecidos por uma trouxa de roupa cobrindo sua boca para não atrair a atenção indesejada de seus predadores e comprometer a segurança de todo o grupo.

 Emma se esforça para afugentar tais recordações. O mais importante agora é o bem estar de Ruby e o fato de que seu bebê está à caminho.

 Ótimo.

 O momento não poderia ser mais perfeito Emma pensa, embora não se atreva a dizer isso em voz alta. Se Mary Margaret havia se tornado assustadora quando estava dando a luz ao seu irmãozinho, não é preciso ser um gênio para fazer a matemática usando um lobisomem na equação. Mesmo Emma sabe disso. Motivo pelo qual, ela opta por se ater a outros detalhes.

 – Puxa vida, Rubes. Como você está se sentindo? – A loira se ajoelha ao lado de sua amiga, oferecendo-lhe a mão como suporte.

 – O que você acha? – O sarcasmo desaparece quando suas palavras são seguidas por outro gemido.

 – Certo. – Os olhos de Emma buscam nervosamente por qualquer sinal de onde elas possam estar ou dos demais integrantes do grupo. – Qual o intervalo entre as contrações?

 – Perto... demais... – Ruby responde antes de soltar um grito tortuoso e quase esmagar os dedos de Emma com um forte aperto de mão. – Onde está todo mundo? Killian--?

 – Eu não sei, Rubes. Talvez eles não estejam muito longe. Afinal de contas, você não estava. – Emma dá mais uma olhada ao seu redor, mas não consegue ver nada que possa vir a calhar ante as atuais circunstâncias e tampouco qualquer sinal do restante de seu grupo. – Você consegue se mover?

 – Sem chance. – Ela responde sem fôlego, seus cabelos molhados cobrindo seu rosto. Emma afasta suavemente alguns fios, a fim de olhá-la bem nos olhos.

 – Presta atenção Ruby, eu preciso ir procurar ajuda.

 – Não! – Ruby se opõe à sugestão de imediato, o pânico claro em seus olhos azuis. – Por favor, não me deixe sozinha, Emma. O bebê, este lugar, eu preciso de você aqui. Se eu me transformar... Eu preciso de você aqui para protegê-lo de mim.

 – Rubes, – Emma está prestes a argumentar, quando ouve algo. Olhando para cima, ela consegue apenas vislumbrar a alguma distância o esboço da figura de um homem. Ele é alto e parece estar carregando um rifle. – Que diabo é aquilo?

 Seguindo seu olhar, Ruby volta sua atenção na mesma direção, seus sentidos afiados e alertas, apesar de sua condição. Ela reconheceria o tipo em qualquer lugar, algo como medo gotejando sobre suas palavras quando estas escapam de seus lábios.

 – Emma, aquilo é um caçador.

 .::.

 Não seria a primeira vez que Hook acorda com o gosto de areia e sal em sua boca e uma dor de cabeça dilacerante.

Ele é um pirata afinal de contas.

O que não significa que ele aprecie a sensação desagradável da areia molhada e fria sob seu corpo e menos ainda ser coberto por uma onda de água gelada sem qualquer aviso.

 É difícil focar sua atenção em detalhes quando se está ocupado demais tentando não se afogar com água salgada, mas mesmo assim ele identifica vagamente um movimento à sua volta, embora não seja capaz de reconhecer quem ou o que se trate exatamente, seus olhos e pulmões queimando por causa da água do mar.

 Seu desconforto, embora familiar, apenas serve para assegurá-lo de que ele está mesmo ficando velho demais pra esse tipo de coisa, ainda que ele jamais pretenda admitir isso em voz alta.  O que não o impede de se sentir grato à criatura responsável por salvar seu lamentável traseiro, seja esta quem for.

 Por alguns instantes, Hook apenas se deixa levar, seu corpo derrotado pelo cansaço enquanto sua mente processa de forma quase inconsciente o fato de que esse alguém deve se tratar de uma alma misericordiosa; Talvez a Swan. Ela certamente tem um complexo de salvadora que parece sempre disposto a se manifestar nas horas mais oportunas.

 Mas então por que ela está mexendo na fivela de seu cinto?

 Ele e Ruby não chegaram a formalizar nada especificamente no que se refere ao grau de comprometimento de sua relação, mas Swan sabe a respeito deles desde o início e apesar de todos aqueles flertes que ele infligiu sobre ela no início de suas vidas compartilhadas, ela nunca chegou a mostrar qualquer interesse em seus avanços.

 E mesmo que esse seja o caso agora, este seria o mais impróprio dos momentos de qualquer maneira. Ele vai ser pai, pelo amor de Deus.

 Hook tenta abrir os olhos, emitir algum tipo de protesto, mas outra onda de água salgada lava seu rosto.

 Em seguida, ele sente um puxão. E, lentamente, seu corpo começar a ser arrastado para terra firme, através de seu cinto. Sua calça apertada torna todo o processo um tanto quanto desconfortável e doloroso, mas seus gemidos são ignorados pela força que se encarrega de removê-lo das águas.

 Em algum momento durante o percurso Hook perde a consciência novamente. E quando finalmente abre os olhos, é para se encontrar sob algum tipo de construção rudimentar que mal o protege do vento forte e a tempestade que parece estar apenas começando.

 Mas que surpresa, ele não se encontra sozinho. Ainda que não exatamente acompanhado.  Há um cavalo com ele. Ou pelo menos é o que parece. Um cavalo em miniatura, mas ainda assim um equino, disso ele não tem dúvidas. Hook não pode deixar de questionar: para que tipo de terra terá Regina os guiado afinal?

 E depois há uma voz – e a voz falando com ele pertence a... Uma menina. Uma menina?

 Ele arregala seus olhos azuis então, como se estivesse tentando enxergar o que quer que possa estar por trás desse quebra-cabeça, e a garotinha o encara de volta, claramente pouco impressionada com a figura que tem diante de si.

 É uma criança que Hook nunca viu antes. Ou será que sim? Ela parece familiar de alguma forma. Ele pisca duas vezes, confuso.

 Quando ela fala, é em um tom inquisitivo.

 – Com licença, – Ela ajoelha ao seu lado, os cabelos escuros e longos em completa desordem por causa do vento, bem como esforço de salvar sua vida muito provavelmente. Sua voz quase inaudível se perde entre os assobios do vento, mas ele vê o movimento de seus lábios e consegue compreender pedaços do que lhe está sendo dito.

 – Por acaso é você o salvador?

 Agora, ele não pode ter ouvido certo. Pode?

 Sua cabeça dói. Suas pálpebras cedem ao cansaço.

 Tudo fica preto.

 .::.

 Henry é acordado pela sensação quente da língua de Pongo lambendo seu rosto molhado.

 – Calma garoto! – Ele acaricia o dálmata e consegue se sentar, suas costas duras pelo impacto sofrido em sua queda. Em seguida, ele ouve um som estranho, quase abafado pela força da tempestade que está caindo.

 Um choro, Henry identifica. O choro de uma criança pequena. Sua mente imediatamente vai de encontro a Evan e ele não lhe é difícil localizar o garotinho não muito longe de onde ele está.

 Encolhido ao pé de uma árvore frondosa, ainda usando seu moletom amarelo ligeiramente encardido pela lama e a chuva, a presença de Evan se destaca entre os tons escuros do bosque que o cerca.

 Ao seu lado há um corpo.

 Henry seria capaz de reconhecê-la em qualquer lugar.

 Ele corre rápido, toda a dor física que ainda está sentindo, momentaneamente esquecida. Evan está chorando, Pongo começa a uivar e Regina, sua mãe, está desacordada no chão, completamente imóvel.

 Se ajoelhando ao seu lado Henry reza para encontrar qualquer indicação de que ela esteja respirando, sua mente funcionando a toda velocidade, tentando entender o que deu errado.

Poderia ter sido este o custo da magia?

Desde criança, Henry se recorda de ouvir falar sobre como o uso de magia sempre tem um preço, por vezes alto demais a se pagar, e enquanto toca o pescoço de Regina, sua própria respiração suspensa pelo temor do que irá ou não encontrar, Henry espera que a morte de sua mãe não tenha sido esse preço.

 Para seu alívio, ele é capaz de detectar um pulso fraco, quase imperceptível, mas que está lá. O que significa que ele precisa encontrar ajuda.

Rápido.

 – A Regina morreu? – A voz de Evan, pequena e cheia de medo, interrompe a linha de pensamentos de Henry. – Ela vai tentar me morder também?

 – Não Evan, ela vai ficar bem. Ela está ferida, mas vamos cuidar dela. – Segurando firme seu coelhinho de pelúcia, Evan funga tentando conter o choro.

Henry tenta manter a cabeça fria, se desesperar agora não vai ajudar ninguém. – Escuta, Evan, eu vou precisar de sua ajuda. E pra isso você vai ter que ser muito corajoso. Você consegue fazer isso? Posso contar com você?

 O menino parece inseguro, então Henry lhe oferece um sorriso encorajador antes de continuar. – Eu preciso que você fique aqui com a Regina. Você não precisa fazer nada, além disso. Basta ficar aqui com ela. Em guarda.

 – Você quer que eu defenda ela? – Ele pergunta em um fio de voz.

 – Sim, exatamente isso. Posso contar com você?

 Evan acena afirmativamente, embora ainda hesitante. Henry não tem alternativa, senão seguir em frente. – Agora preste atenção, você está vendo isso? Essa é a minha faca. Eu vou deixá-la com você. Então, se alguma coisa tentar te atacar, você se lembra do que eu te ensinei? O que você tem que fazer?

 – Eu corro sem parar e acho um esconderijo. – Ele responde sem hesitar, sua voz rouca e infantil parecendo deslocada em uma situação tão arriscada.

 – Isso, garoto esperto! Exatamente isso! – Henry lhe dá um rápido beijo no topo de sua cabeça antes de se levantar. – Eu tenho que ir buscar ajuda, ok? Mas já já estarei de volta.

 Antes que Henry possa se afastar, a voz de Evan interrompe seu curso. – Henry, onde tá a Emma? Ela disse que estaria aqui.

 Com o coração apertado, e tentando não deixar transparecer seus próprios temores, Henry responde com sinceridade. – Eu não sei, Evan. Mas garanto que onde quer que ela esteja, ela está fazendo de tudo para chegar até nós.

 Ao se distanciar, Henry olha para trás mais uma vez, oferecendo um último sorriso alentador para o menino antes de realmente começar a correr.

 Henry não tem certeza de para onde está indo ou mesmo o que está procurando, apenas de que precisa encontrar alguma coisa, qualquer coisa que possa ajudar Regina.

 É somente quando ele se depara com a estrada asfaltada que sua ficha começa a cair.

Esta não é a Floresta Encantada e sim um mundo muito parecido com o seu.

Até onde ele é capaz de identificar, este poderia muito bem ser o mesmo mundo.

 Até mesmo o cenário de repente, a vegetação, o terreno, tudo parece de alguma forma familiar.

 Seguindo a estrada ele finalmente enxerga algo. Um carro (definitivamente seu mundo!). Mais especificamente, uma viatura de polícia. A mesma parece desocupada e não há nenhum sinal do motorista em qualquer lugar nas proximidades. Henry tenta abrir a porta do veículo, mas a mesma encontra-se trancada.

 Se ao menos ele pudesse usar o rádio para chamar por socorro.

 Do bolso de trás de sua calça ele tira seu canivete suíço (presente de Emma em seu aniversário de 15 anos) e agradecendo por uma mãe que achou importante lhe ensinar alguns velhos truques para questões de sobrevivência e afins, ele se põe a trabalhar na fechadura do carro.

 Henry está prestes a abri-la quando ouve um clique familiar, a trava de uma arma sendo desativada; ele percebe sem ter que olhar, e então uma voz feminina anuncia o fato de que ele acaba de ser pego em flagrante.

 – Ponha as mãos para cima; Onde eu possa vê-las.

Suspirando pesadamente, Henry faz exatamente o que lhe foi ordenado.

 – Agora vire-se. Lentamente.

 Ao fazê-lo, ele se depara com uma jovem que não aparenta ser tão mais velha, ou mesmo mais alta do que ele. Ela está usando um uniforme.

 O uniforme de xerife.

 – Por favor, identifique-se. – Seus olhos puxados permanecem impassíveis enquanto o avaliam com cuidado.

 – Henry... Swan.

 – Muito bem Sr. Swan. Agora me diga, o que exatamente estava se passando pela sua cabeça quando você decidiu roubar o carro da xerife de Storybrooke?

 Henry está prestes a dar uma explicação quando as palavras dela finalmente são absorvidas por sua mente.

 Pera aí. O quê?

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Notas finais do capítulo

Primeiramente, um milhão de agradecimentos a todos que acompanharam essa história do começo até o fim. Para alguns foi uma jornada curta e até mesmo rápida, mas para quem aguardou as semanas e mesmo meses de hiato entre um capítulo e outro meus sinceros agradecimentos pela persistência e paciência! Espero que a espera tenha valido a pena!

Agora, talvez o mais importante: Essa história acabou?
A primeira parte dela sim.
Mas ainda há o que se contar. Afinal aonde foram parar nossos heróis? Irá Regina pagar um custo alto demais pelo uso de seus poderes? Será o bebê de Ruby e Hook menino ou menina?

Todas respostas que espero responder na próxima fase dessa história. E que, também espero, vocês possam acompanhar comigo.

Assim, gostaria de saber de vocês: O que vocês acham que deve acontecer? O que gostariam de ver? Muito do que está por vir já está planejado, mas é sempre bom ter um insight e encontrar até mesmo novas inspirações. Por isso, agora é a hora de vocês falarem. Coloquem para fora suas impressões, opiniões, até mesmo insatisfações... Lerei a tudo com a mesma atenção e cuidado.

E no mais, espero reencontrá-los em breve.

Mas, para quem leu até aqui. Uma cena bônus, pra fazer valer o esforço:

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Quando a tempestade atinge seu auge e não há mais nada que a pequena tripulação que restou no Jolly Roger possa fazer, senão esperar que ela passe, Snow pede licença para se retirar e se dirige ao porão do navio.

Trancado em sua cela, Charming identifica sua chegada no instante em que ela destrava a tranca da porta. Com os braços erguidos e o rosto pressionado contra as grades ele grunhe. Com um sorriso triste, Snow entra no cômodo embora não arrisque se aproximar muito. Tempestades sempre o deixam mais agitado.

Então, o que ela faz é sentar sobre um caixote de madeira e encarar a figura de seu marido por um longo tempo. Sua voz só encontra saída quando suas lágrimas já secaram em seu rosto.

“Eles se foram, Charming.”

Como é de se esperar, sua única resposta são mais grunhidos.

Snow sente a falta da voz de seu marido mais do que tudo. Mais do que seu cheiro ou sua presença no meio da noite. Só não mais do que o brilho de reconhecimento em seus olhos.

“Sabe, antes de partir, a Regina me procurou.” Ela conversa normalmente, como se ele pudesse compreendê-la. “Eu sei, também fiquei surpresa. E ainda mais com o motivo. Ela queria me dar isso.”

Abrindo a mão, Snow revela um feijão mágico. “Regina disse que eu iria me arrepender da escolha que estava fazendo. Que um dia eu perceberia qu-- que amor verdadeiro é mais do que um amor romântico. E então ela falou que, quando eu estivesse pronta para entender e aceitar isso, eu deveria usá-lo para encontrar minha família.”

Por um longo tempo, Snow encara o feijão em sua mão. Seus dedos acariciando sua superfície lisa. “Ela estava com tanta raiva, Charming. Não me refiro à Regina, mas a nossa filha. Não acho que algum dia ela possa me perdoar. E não estou certa de que ela deveria. Mas eu-- eu não...”

“Ela estava certa, a Regina. Ela ainda me conhece melhor do que qualquer pessoa. Eu não estou pronta para te deixar meu amor. Não ainda... Não enquanto tenho esperanças de achar uma cura. Então eu posso apenas esperar Charming... Apenas esperar que, quando eu estiver pronta, não seja tarde demais... E que aonde quer que a nossa família esteja, que eles estejam bem. E mais próximos de um final feliz.”


fim.