Sinto muito, mas estou te deixando... escrita por Bel Mattos


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Qualquer erro que queira reportar, mande uma mensagem ou comente mesmo, infelizmente, meu português tem dias que deixa a desejar....



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Ele nem acabou de descer a escada, se sentou ali mesmo no final, a casa de dois andares era idêntica as demais casas do bairro.Apoio u os cotovelos nos joelhos dobrados, passou as mãos pelo cabelo, parou com os dedos entrelaçados no pescoço, respirou fundo e por fim jogou a cabeça para trás soltando o ar que prendia nos pulmões. Deixou os braços caírem ao lado do corpo. Tinha que se entregar a realidade, ela não estava em lugar algum da casa e nem suas coisas no armário. Recolheu o papel amassado do ultimo degrau. Quando foi que o soltou? Não importava. Leu novamente a carta que ela deixou. A letra dela nunca foi uma maravilha para ler, mas ele sempre gostou, era charmosa como tudo mais nela.

De novo lia a carta, desta vez com mais atenção, afinal nas duas, talvez, três primeiras vezes que leu perdia o foco já com a primeira frase “sinto muito, mas estou te deixando”. O que mais o incomodava quando lia, era sentir que aquilo já era esperado da parte dela e ele sabia, mesmo antes de tentarem avisá-lo, mas ignorou. Ignorou o egoísmo dela disfarçado na rebeldia, ignorou que apesar do jeito divertido de garota que quer mudar o mundo, ela ainda tinha a visão de uma menina que foi mimada a vida todo e ganhou tudo pelas mãos da mãe. Mãe esta que neste momento devia estar a acolhendo em casa e apoiando a decisão de abandoná-lo. A mãe dela nunca gostou do garoto classe média baixa que queria ser advogado. A previsão da sogra se concretizou como uma maldição, ela não aguentou a vida de subúrbio com dinheiro em falta e responsabilidades de sobra.

Terminou de ler a carta, mais uma vez olhou para os degraus atrás de si. Não tinha mais o que fazer para comprovar que ela não estava mais lá, então esperou. Esperou seu peito doer mais, as lágrimas que estavam em seus olhos caírem, mas nada disso acontecia. Sentia-se mal, um idiota, triste, acabado, como se tivesse sido atropelado por um caminhão dirigido por ela. Porém, seus olhos nem se quer lacrimejaram, agora que o pânico esvaia-se de seu peito, ele se perguntava; quanto tempo já se sentia assim? Há quanto tempo já esperava por isto? Mentiria, se dissesse que não pensou no fim chegando, que á cada briga receava chegar em casa e ver que ela enfim desistiu dele, mas foram tantos messes, tantos baixos e mais baixos, e tantas satisfações, todas as vez que via ela lá o esperando, mesmo que mal-humorada e pronta para mais uma briga, mais ainda firme, sem fugir, aguentando com ele.

Agora seu peito doía. Lembrar-se dos dias que ela esteve lá quando ele esperava que fugisse, o fazia se perguntar por que ir agora, agora que as coisas estavam melhorando? Hoje eles, não brigaram, esta semana não tiveram motivos para discutir, viram filmes abraçados, compartilharam risadas, ele enfim estava sendo valorizado no trabalho, algumas dividas enfim tinham sido quitadas e a situação financeira estava se estabilizando, então porque ela se foi agora?

“Se eu não for agora, me acomodarei nesta situação estável que estamos entrando, e meus sonhos nunca estiveram nesta vida de subúrbio, você sabe disto.” Escreveu ela, como se tivesse dezoito anos, e o direito de ser egoísta. É claro que ele sabia, nunca se imaginou vivendo uma vida se subúrbio também, mas gostava da vida que tinha, nem tudo é como crianças de dezesseis anos sonham, mas não é ruim, pelo contrario, se surpreendeu com o prazer que sentia em chegar em casa, em ter uma casa de família. Por que ela não poderia ter a mesma satisfação? Só porque não era um apartamento no centro como os dos pais dela? Só porque isto significava nunca ser famosa, ou um estereótipo de sucesso? Era mais que isto, ela se apaixonou por um sonhador, um cara ambicioso que queria subir na vida, e hoje o que restava disto nele? Não queria ser rico, nunca quis, a diferença é que agora não buscava sucesso reconhecimentos, coisas para si mesmo, queria dinheiro e tempo em equilíbrio para ser tudo que as pessoas que ele ama precisasse, claro que gostaria de ser reconhecido, ter o nome escrito em algum canto, não desistiu destas coisas, destas ambições, elas só se tornaram menores, isto seria ruim? Não importava mais, não queria pensar nisto, não queria pensar nela.

Surpreendeu-se com a própria reação, não chorou, ou desesperou se, apesar de doer, era isto força? Maturidade, talvez? Não pode evitar um meio sorriso tristonho no canto dos lábios.Levantou-se, tirou a aliança e a colocou junto à carta na mesinha de madeira a sua frente. Ao lado da escada pegou o carrinho de bebê tirou da passagem e colocando em um canto. Foi à cozinha pegou uma cerveja na geladeira e enquanto a abria fazia o caminho de volta para escada subindo até o primeiro quarto à direita. Escorou no portal da porta, que antes estava semi-aberta, e ficou bebendo a cerveja, encarando o bebê de dois anos e meio que dormia profundamente sem imaginar o que acabava de acontecer. Ele pensava no tempo que ia demorar para ela voltar com a mãe querendo levar a filha embora. Ela não ia conseguir, não ia tirar dele a filha, ele era um advogado no final das contas. Além disto, sempre foi a pequena, sempre foi tudo pela pequena. Todo o seu mundo mudou quando ele a segurou nos braços pela primeira vez. Sua filha foi uma das primeiras coisas não planejadas que surgiu em sua vida desde que se tornou independente de seus pais, e ela tornou todos seus outros objetivos insignificantes. Podia não estar tão abalado e arrasado como esperava, mas, ainda precisava de algo para orientá-lo, uma luz para motivá-lo, algo por qual viver, e tudo isto, há muito tempo, resumia se aquela pequenina que dormia de forma angelical.


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Notas finais do capítulo

Olá, obrigada por ler. Se gostou visite meu perfil tem mais coisas que você pode gostar lá. Se não gostou visite meu perfil, tem outras histórias, talvez, algo diferente te agrade.att.



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