Castelo de Marte.

Kenshiro olhou pasmo para o teto aberto pelo relâmpago. Ele soltou uma risada maligna ao ver o resultado.

– Esses cosmos gigantescos... eles voltaram! Os Quatro Grandes ressuscitaram! Há,há,há!

Saito ficou assustado com a reação do colega.

– Para você estar assim, significa que...

– Sim, o sacrifício foi feito. – interrompeu Kenshiro.

– Quando colocou o selo neles?

Kenshiro se recuperou de seu momento de euforia e começou a falar.

– Apenas um pouco de cosmo foi suficiente. Basta me concentrar num local específico.

Saito ficou com uma cara de dúvida, mas achou melhor não perguntar.

Alguns momentos depois, ambos decidiram voltar para o castelo, mas no mesmo instante os Altos Marcianos foram abordados por uma Marciana Menor no caminho. Sua Galáxia tinha alguns detalhes listrados e a saia remetia a um abdômen de abelha dividido, com uma metade em cada lado. Nas costas, pequenas asas e seu elmo lembrava a cabeça do artrópode. Ela tinha pele morena, cabelos escuros e olhos âmbar.

– Sarah? – perguntou Saito.

Ela se abaixa e faz uma reverência.

– Senhores, eu estou indo ao Santuário.

– Para quê? Deseja morrer? – disse Kenshiro, em tom de desprezo.

– Não, senhor. Eu realmente tenho um bom motivo para ir ao Santuário ao invés dessa motivação estúpida. –respondeu Sarah, em tom de deboche.

– Como é?! –Kenshiro ficou furioso com tal desaforo, e quando partiria para cima dela, Saito o impediu.

– Pode nos dizer a sua motivação?

– O Santuário matou uma pessoa importante para mim. Não importa quem aparecer, eu o matarei!

– E essa pessoa é...? – questionou Saito.

– A Alta Marciana de Vespa... Lisa!

Os dois ficaram impressionados com a resposta, e Saito assentiu.

– Esse até que é um bom motivo. –disse o Alto Marciano. –Vá!

Ela deu um sorriso com expressão maligna e saiu andando frente a eles. Kenshiro suspirou e continuou a andar.

–Parece que o nosso exército luta pelos próprios ideais, não é mesmo, Saito?

O companheiro não respondeu, e Kenshiro achou esquisito.

–Saito?

Ele nota que tudo ao seu redor havia parado. Os pássaros no céu, o relógio do castelo, os Marcianos presentes na sala. Era como se o tempo tivesse parado.

–Mas o que diabos é isso?!

O Alto Marciano ouve uma risada profunda vinda de algum lugar. Ele toma um susto quando vê um homem completamente encapuzado com um manto preto. O capuz cobria praticamente todo o seu rosto, deixando apenas algumas mechas de cabelo azul escuro visíveis.

–Acalme-se, Kenshiro. O tempo apenas parou.

–Mas quem é você?! –perguntou Kenshiro, com raiva.

–Isso não interessa no momento. Posso dizer que... Sou apenas um observador.

–O que quer de mim?- perguntou o Marciano, mais calmo.

–Sabe, não me admira que estejam perdendo. Os Cavaleiros de Atena são muito poderosos.

–Mas nós somos muito mais!- rebateu Kenshiro.

–É mesmo é? Não me parece. Não vou gastar mais tempo. Tudo o que lhe direi é que uma grande batalha está por vir. Tão grande que nem eu sei o resultado...

–E porque é tão importante que, mesmo um desconhecido como você, sabe?

O observador riu e olhou diretamente para Kenshiro.

–Calma, tudo a seu tempo. As coisas podem mudar de uma hora para outra... Por ora, estou indo. Até mais, Kenshiro de Yatagarasu.

Num instante, o tempo voltou a fluir. Kenshiro ficou impressionado, e enquanto ele se perguntava o que foi aquilo, Saito notou a expressão do amigo.

–Está tudo bem?

O Alto Marciano se recompõe e muda sua expressão para uma séria.

–Sim, não foi nada. Vamos.

Santuário de Atena.

Naquele mesmo instante.

Kiki se mantinha ocupado com o conserto de várias armaduras nos arredores do Santuário, e ainda assim ele o fazia com muita dedicação. Usava as vestimentas civis e suava devido ao esforço. A Caixa de Pandora de Áries repousava num canto, bem próxima ao ariano. Shina, a Amazona de Prata de Ofíuco, estava por perto e decidiu cumprimentá-lo. Usava as roupas de treino do santuário e seu rosto era coberto por uma máscara, e carregava a urna de sua armadura nas costas.

–Como está indo, Kiki?

Ele interrompeu seu trabalho e a cumprimentou.

–Ah, olá. Nem a vi se aproximar. Ultimamente estou muito ocupado... –ele dá um sorriso bobo, como fazia quando criança.

–Estou vendo. Mas você está se dedicando bastante, agora você realmente lembra o seu mestre, Mu de Áries.

O rapaz ficou envergonhado com a fala da amazona.

–V-Você acha? Há, há... Falta muito pra chegar ao nível do meu mestre.

–Não me refiro a poder, Kiki. Você se tornou um homem gentil e bondoso como seu mestre. Eu sinto isso, de verdade.

Ele expressou certa surpresa, mas depois sorriu de forma gentil.

–Ele era minha única família. Não conheci meus pais, mas o mestre Mu foi como um pai para mim, um grande exemplo. Ele me ensinou tudo o que eu sei, e deixou seu legado comigo para que possa passá-lo para as próximas gerações. Bem, eu preciso terminar isso aqui. Até mais!

Shina assistiu o rapaz sair, levando consigo algumas armaduras. Não notou quando Seiya se aproximou, somente quando falou com ela.

–Ele cresceu, não é? –disse o Sagitariano.

–Hã? Ah, é verdade... –respondeu Shina sem jeito.

Apesar dos anos se passarem, Shina ainda tinha sentimentos por Seiya. Havia amadurecido, ficou mais forte, mas essa era a única coisa que ela não conseguia largar. O jeito nobre e perseverante do antigo Cavaleiro de Pégaso ainda a cativava. Ela se lembra de visitá-lo todos os dias, quando estava num estado de coma devido à Maldição de Hades.

–Eu vou indo. Até mais.

Seiya se afasta, deixando a Amazona que saiu divagando partir. Porém, ela se interrompe quando vê uma estranha abelha. Era preta com listras em vermelho. Estranha não somente pela cor, mas pelo cosmo intenso que emanava. De repente, o inseto se virou para ela e apontou seu ferrão, que foi atirado como uma agulha.

A amazona desviou com rapidez, mas ainda ficou assustada com a velocidade do ataque.

–Mas o que significa isso?

Um forte zumbido tomou conta do local, e a Amazona já sabia o motivo. Várias abelhas, semelhantes à anterior apareceram. Elas prepararam seu ataque, mas Shina foi mais rápida e atacou primeiro.

–Garras de Trovão!

Várias lâminas de energia elétrica atingiram e cortaram as abelhas uma a uma. Em seguida, uma risada feminina surgiu do oculto.

–Muito bem, amazona. Jamais pensei que escaparia do ataque.

–Apareça! -gritou Shina

Rapidamente, a Marciana apareceu na frente da prateada.

–Eu sou Sarah de Abelha, Marciana Menor a serviço do deus Marte.

–Uma guerreira de Marte?!

Ignorando o questionamento da Santa de Prata, Sarah assumiu uma expressão séria.

–Responda-me... Quem dos malditos Cavaleiros matou Lisa de Vespa?!

–Como? -perguntou Shina, em dúvida.

–Lisa de Vespa! Alta Marciana e minha melhor amiga!

A amazona então se lembrou de uma adversária que Shun enfrentara. Ela tinha esse mesmo nome.

–Shun...- soltou Shina inconscientemente, em tom de sussurro.

Sarah ouviu o nome e logo ficou irritada.

–Então eu irei através desse tal Shun!

Ela então salta, e Shina resolveu agir. Abriu a urna e vestiu sua sagrada armadura antes de executar o ataque.

–Presa de Trovão!

Uma corrente elétrica foi em direção a Sarah, fazendo ela cair ao chão. A Guerreira de Marte sentiu seu corpo levemente paralisado devido ao choque elétrico.

–Se quiser encontrar o Shun, vai ter que passar por mim primeiro!

A Marciana se levantou e assumiu a pose de ataque.

–Posso saber o nome de minha vítima? -perguntou Sarah em tom prepotente.

–Amazona de Prata, Shina de Ofíuco.

O combate enfim começou. Sarah elevou seu cosmo, e agulhas de energia vermelha surgiram entre seus dedos.

–Agulha da Abelha!

A Marciana atirou as dez de uma só vez, no mesmo instante em que Shina fez as suas unhas crescerem e, usando-as para rebatê-las. Porém, algumas restaram, e a Marciana usou seu cosmo para conduzir estas para um segundo ataque. Embora rápida ao desviar, uma das agulhas passou de raspão no rosto da Amazona, rachando sua máscara no processo.

–Você devia ter mais cuidado com essa coisa, vai acabar quebrada!- provocou Sarah.

Ignorando a provocação de Sarah, Shina partiu para cima. Suas unhas tomaram um aspecto elétrico. Ela avançou com as Garras de Trovão novamente, mas a Marciana Menor saltou e chutou o rosto da Amazona, quebrando sua máscara por completo. Ela voou para longe.

–Olha só... Até que você é não àquilo que eu imaginava.

–Como é?

–Pra você esconder seu rosto numa máscara, pra mim você era feia de doer...

–Cale-se! A máscara representa nosso abandono à fragilidade feminina, que nós lutamos em pé de igualdade com os homens!

–Se é apenas isso, porque diabos uma máscara?!

–É a lei... Mas não explicarei as normas do Santuário a uma mera estranha!

As duas reinciaram o combate com ataques físicos. Após sequências de socos e chutes, Ambas se afastaram. Sarah elevou seu cosmo mas uma vez, e inúmeras esferas médias de energia surgiram ao redor dela.

–Você se provou muito ágil... Escape disso. Enxame Fatal!

Ela então jogou a técnica, e Shina tentou se esquivar da maioria. Conseguiu evitar algumas, mas outras atingiram partes de sua Armadura de Prata e de seu corpo, causando leves cortes e um dos ombros da vestimenta foi destruído. Ela então começou a tecer um plano, e se escondeu numa rocha aos arredores.

–Apareça! Eu sei que você está aí, Amazona de Prata!

A prateada não esboçou um movimento. Esperou o momento certo, e enfim lançou uma leve descarga de eletricidade.

Sarah notou e abriu um sorriso psicótico.

–ACHEI VOCÊ!

A Marciana lançou várias agulhas e destruiu a rocha... porém não havia nada lá.

–Mas que diabos...

De repente, eis que Shina aparece atrás de sua inimiga e carrega uma grande quantidade de cosmo. Suas mãos são envolvidas com uma aura de raios.

–Sequência Relâmpago!

Ela atacou as costas de sua adversária várias vezes e terminou com um golpe forte com as duas mãos, descendo uma intensa descarga elétrica. Sarah foi jogada para frente, e sua Galáxia sofreu danos. Ela se recompôs e expressava raiva extrema.

–Porque não sai do meu caminho?! Está me atrapalhando!

–Não sairei daqui até te deter! Tenho companheiros que vou proteger, e deter você é minha prioridade.

A Marciana Menor estremceu de raiva e se levantou.

–Já que é assim... Então terei que passar por cima de qualquer jeito!

Sarah elevou seu cosmo, e Shina fez o mesmo. Ambas prepararam ataques mortais. A Marciana criou uma aura em sua mão, no formato de um ferrão. E a Amazona de Atena criou uma gigantesca serpente de raios.

–Ferrão Fatal!

–Serpente do Trovão!

As duas técnicas se chocaram violentamente. O Ferrão fez um corte profundo no outro ombro da Santa e destruiu o outro da vestimenta, mas a Serpente foi mais forte e atingiu o peito de Sarah, fazendo com que a mão de Shina atravessasse o peito dela.

–Como...? Porque...?

–Eu já te disse... Eu tenho a quem proteger... -respondeu Shina, ofegante.

–Eu te subestimei...Você é forte como qualquer homem deste lugar...

Sarah olhou o céu noturno... Sorrindo e chorando.

–Desculpe, Lisa... não te vinguei... mas... agora... Eu me juntarei a... você...

Shina retirou sua mão ensanguentada do peito de Sarah. O cadáver dela caiu ao chão com uma expressão estranha de serenidade. Ela tremia, porém se acalmou. Ao longe, notou Seiya se aproximar.

–Shina! Tudo bem?!

Ela ficou novamente sem graça e o cumprimentou.

–Sim...

O Cavaleiro de Ouro olhou o cenário da batalha. Ele ficou impressionado.

–Era uma Alta Marciana?

–Não... Era uma Marciana Menor. Ela se chamava Sarah...

–Acho que sei como se sente. É a primeira vez que você mata alguém não é? A sensação é horrível, mas você deteve uma ameaça ao Santuário.

Shina estranhou a resposta de primeira, mas percebeu que ele estava certo. Era uma guerra, e numa guerra pessoas acabam morrendo. Ela sabia disso depois da morte dos Cavaleiros de Ouro há nove anos. Seiya colocou sua mão no ombro ainda bom dela e a amparou.

–Céus, você está ferida! Vamos, o Shun vai ver esses ferimentos.

Ambos se afastaram do local. Shina tinha, enfim, entendido. Com ou sem máscara, ela tinha motivos para lutar, e pra isso continuaria seguindo em frente.