As Novas Aventuras da Liga da Justiça escrita por Charlie


Capítulo 4
A Conversa




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EU FIQUEI ESPERANDO KAL-EL/CLARK sentado em minha sala. Eu já estava pronto para aquela ocasião que eu sabia que iria me arrepender depois. Vestia uma calça jeans com tênis e meia, juntamente com uma blusa preta sem estampa e meu outro casaco favorito: meu casaco laranja de capuz.

Na verdade, eu não esperava que Kal-El (ou Clark, tanto faz) aparecesse. Ele, como eu tinha dito a Owen, deveria estar muito ocupado salvando o mundo por aí e isso era melhor do que estar em um almoço com seu irmãozinho menor — no caso, eu. E eu também tinha muito mais a fazer do que estar com ele. Eu poderia estar com meu pai no hospital, ou minha mãe ou Bobby, o que era muito melhor e mais vantajoso do que esperar Clark para podermos sair.

Naquela ocasião de espera da boa vontade dele, eu fiquei pensando no que diria a Bobby sobre seus pais. O que eu falaria? Como falaria? Essas eram as duas perguntas cruciais que me atormentavam. Mas eu, de qualquer maneira, tinha que contar para ele. E tinha que resolver contar para o tio de Bobby, o Kelly. Eu ainda tinha que contar para ele que seu irmão tinha morrido e que Bobby iria, a partir daquele momento, morar comigo e não com ele.

E por pensar nos corpos sem vida de Mason e Lisa Rivers, eu não sabia até por quanto tempo o corpo deles estariam com a polícia, hospital, legista, ou qualquer coisa do tipo que poderia manter um corpo. Eu tinha que dar um jeito de ver onde se encontrava o corpo dos pais de Bobby e como e onde iria enterrá-los; era bastante estresse, até mesmo para alguém como eu, um simples adolescente.

Suspirei e chacoalhei a cabeça com esse pensamento e fechei os olhos para poder pensar em alguma coisa que realmente poderia me distrair.

Mas o som da campainha tocando não me deixou me distrair.

Suspirando, levantei-me do sofá e fui atender a porta. Quando me deparei com aquela figura alta e musculosa, eu realmente não acreditei. Ainda mais de óculos de grau. Clark estava ali, Kal-El em pessoa. O mesmo que tinha me deixado em um orfanato há dez anos atrás.

Abri a porta.

— Oi — disse ele sorridente.

— Oi — disse eu secamente.

E o silêncio se abordou de nós. Eu não esperava falar, na verdade. Só esperava perguntar e ele responder tudo o que eu queria saber, ou até mais do que isso. Kal-El (ou Clark, tanto faz) me devia respostas, e muitas. E eu precisava delas.

— Olhe, eu vou ser bem franco com você, certo? — disse eu coçando a cabeça.

Ele assentiu para mim.

— O.K., certo — disse ele e franziu a testa, preocupado.

— Eu não iria sair com você — disse eu. — Eu só estou indo porque o meu pai disse para eu ir — falei e ele assentiu. — Então não espere muita coisa de mim.

— O.K. — disse ele balançando a cabeça sem graça.

Por um minuto eu senti pena pelo que tinha dito para ele e pela cara que ele tinha feito. Eu sabia que o tratava mal, mas ele merecia isso. Ao menos merecia até mais depois de ter me trancado num orfanato e sem saber sobre minha existência durante dez anos. Então, bem... o sentimento de pena se espatifou após ter as lembranças do passado.

— Então — disse ele depois de alguns segundos —, pronto para ir?

Suspirei e assenti.

— Sim — disse eu —, vamos.

Clark abriu espaço para eu passar e, depois de trancar a casa atrás de mim, fomos em direção à saída de Chester Fall.


Não demorou muito para chegarmos à cidade de Metrópolis — a cidade em que Clark trabalhava como, segundo ele, jornalista quando não estava, digamos, “usando seu uniforme”. Tínhamos ido para lá de teletransporte. Kal-El tinha dito para alguém chamado J’Onn J’Onzz, em seu dispositivo na orelha, que precisava de dois teletransportes para Metrópolis e nos teletransportamos da saída de Chester Fall. Esquisito.

A cidade de Metrópolis era enorme. Tinha prédios e prédios em cada canto dos quarteirões das ruas. Tinha uma ponte no estilo que tinha em São Francisco separando a cidade em duas ou coisa do tipo, tinha um prédio enorme com um enorme planeta no topo escrito Planeta Diário, que, segundo Kal-El, era onde ele trabalhava como jornalista. Cidadãos e mais cidadãos andavam pelas calçadas de Metrópolis, e carros, motos, ônibus e caminhões passavam o tempo todo pelas ruas também. Típico de uma cidade grande e totalmente diferente da cidadezinha de Chester Fall.

De qualquer forma, Kal-El me conduziu à uma lanchonete que ele ia sempre e que, segundo ele, eu teria que terminar um Milk-shake com colher de tão grande que o Milk-shake. Eu quase ri com isso.

O ambiente não era tão grande. Tinha um balcão perto da entrada, umas trinta mesas redondas com quatro cadeiras cada e três mesas quadradas nas três janelas com vista para rua que ali tinha. O local estava enfeitado com uma decoração natalina, já que o Natal estava próximo, com alguns anões presos por linhas no teto, alguns Papais Noel em trenós e até mesmo alguns duendes. Tinha uma pequena árvore de Natal toda enfeitada perto do balcão e ali parecia ser um ambiente bem frequentado.

A lanchonete estava mais ou menos cheia, ao levar em conta que o local não era tão grande assim. Deveria ter umas quinze pessoas ali usando algumas mesas redondas tomando café puro, cappuccino, café espresso ou até mesmo aquele tal Milk-shake que Kal-El disse ser enorme e realmente era. Outros apenas bebiam algum refrigerante e comiam hambúrgueres, sanduíches ou batatinhas-fritas com queijo. Olhar aquilo me fez abrir o apetite e minha barriga roncar.

— Desculpe — disse eu completamente constrangido assim que sentamos em uma das mesas redondas vagas, perto da janela com vista para a rua. — Fui cedo para o hospital e nem tive tempo de comer alguma coisa.

— Você foi para o hospital? — perguntou ele franzindo a testa totalmente incrédulo. — Mas por quê? Pensei que não conseguiam lhe furar com agulhas...

— Não foi por minha causa — o cortei.

Eu realmente não era perfurado por agulhas. Nunca consegui ser, na verdade. Uma vez Christina tentou tirar meu sangue para fazer exames médicos quando eu tinha quatorze anos — ela tinha dito que era arriscado demais me levar a um hospital —, mas a agulha quebrou no momento em que Christina tentou encaixá-la em meu braço à procura da veia. Eu não fiz o exame de sangue.

— Fui por causa dos meus pais — disse eu.

— Seus pais estão bem? — perguntou ele gentilmente.

— Sim — foi só o que eu disse.

Um silêncio se propagou entre nós naquele momento. Kal-El quebrou o silêncio assim que uma garçonete veio até nós para anotar o nosso pedido. Eu tinha pedido um hambúrguer com refrigerante e Kal-El pediu batatinhas com queijo e o Milk-shake que ele tanto falava. Nossos pedidos chegaram exatos cinco minutos depois de pedirmos e quando vi o seu Milk-shake, ele era realmente grande e cremoso, pois tinha chantili e cereja no topo do copo que parecia ter quase vinte centímetros de altura.

Nós comemos em silêncio. Eu já tinha falado demais sobre minha vida para ele. Ele só precisava saber de meus pais e que eu morava bem. Ele não precisava saber de mais nada e nem sei se eu realmente contaria se ele perguntasse. Kal-El não era digno de saber de minha vida. Na realidade, eu nem sabia o porquê tinha contado para ele sobre meus pais estarem no hospital e nem sabia como ele tinha conseguido o meu endereço, mas eu deixei passar, pois, se tinha uma pessoa que teria que começar a falar, seria Kal-El, não eu.

Eu, tampouco, era uma pessoa curiosa para saber sobre a vida dele e eu não me importava com ela. Eu só queria saber sobre o meu passado, sobre como eu realmente tinha nascido (ou surgido), como eu realmente vim parar na Terra e razão pela qual ele tinha me deixado trancado em um orfanato para adoção, e como ele tinha me encontrado depois de dez longos anos, e como ele tinha descoberto o meu endereço. Esses eram os principais argumentos que eu queria fazer para ele. Mas, o primeiro mesmo que eu queria saber, era o porquê da sua ausência longa em minha vida. Acredito que, se Kal-El fosse presente em minha vida, muita coisa mudaria na forma de como eu o via, pois eu não o considerava como irmão. Para mim, ele não era.

— Bom, não é? — perguntou ele quando me viu terminar meu hambúrguer.

Mastiguei, engoli o último pedaço do hambúrguer e bebi meu refrigerante logo em seguida. O encarei e ele bebia o seu Milk-enorme-shake de morango.

— Como eu surgi? — perguntei o olhando nos olhos e um tanto curioso.

Kal-El quase cuspiu o seu Milk-enorme-shake em mim, mas conseguiu segurar ele em sua boca. Ele engoliu e limpou a boca com um guardanapo, mas eu continuava a encará-lo. Eu precisava daquela resposta e Kal-El não iria se esquivar dela, eu não deixaria.

— Hã... — disse ele sem jeito —, eu, hum... pensei que já tinha lhe dito isso há dez anos atrás.

— Quero ouvir a história de novo — disse eu semicerrando os olhos para ele.

Ele se ajeitou na cadeira, ajeitou sua gravata que já estava ajeitada e mexeu em seus óculos no rosto. Ainda constrangido, ele pigarreou duas vezes, mas minha expressão para ele continuava a mesma.

— Bem, o que quer saber? — perguntou ele um tanto vermelho.

— Tudo — falei ignorando sua vermelhidão.

Ele respirou fundo.

— O.K., então — disse ele. — Bem, como sabe, fomos para a Fortaleza da Solidão atrás de Jor-El para me dizer a respeito de você...

— Essa parte eu sei — o interrompi.

Ele franziu a testa.

— Ah, sim, claro... — falou ele. Ele pigarreou novamente e prosseguiu: — Então, quando Jor-El fez contato, eu perguntei sobre você. Ele tinha perguntado onde você estava e eu disse que estava comigo...

— Ele perguntou por mim? — perguntei com as sobrancelhas levantadas de incredulidade.

Kal-El balançou a cabeça em positivo.

— Sim — disse ele. — Eu tinha perguntado como... como era possível você ter nascido se Krypton tinha explodido com Jor-El e Lara junto, e ele me disse que você era fruto da essência dos dois. A essência de Jor-El com Lara se atraíram no espaço de uma forma sobrenatural e, depois da mistura da essência dos dois, você surgiu. Por isso você consegue saber bastante coisa de Krypton, porque você tem a essência de Jor-El e Lara em você, assim como eu.

Kal-El me olhava com um sorriso tímido no rosto, mas eu não entendi o porquê, então deixei passar.

— Prossiga — disse eu.

Ele assentiu.

— Ele tinha dito que, de alguma forma, uma nave kryptoniana tinha conseguido permanecer intacta e ela procurava um kryptoniano, e como você estava sozinho no espaço, ela o encontrou, o pôs para dentro de si e partiu em direção ao planeta Terra. Foi onde eu encontrei você dois dias depois bem aqui em Metrópolis — ele sorriu.

— Por que me trancafiou em um orfanato? — perguntei sério.

Ele começou a mexer, desconfortavelmente, nos talheres que tinham sobre a mesa.

— Eu não tive escolha — disse ele. — Eu e Lois...

— Quem é Lois? — semicerrei os olhos para ele novamente.

— Minha esposa — disse ele.

— Eu não sabia que tinha uma esposa — falei.

— Pois é, eu tenho — ele sorriu. — Ela também é jornalista...

— Poupe-me dos detalhes, Kal-El — o cortei rispidamente. — Continue o que estava falando.

Constrangido, ele assentiu e prosseguiu:

— Eu e Lois não tínhamos como tomar conta de você. Ela trabalha quase o dia inteiro e eu, além de ser jornalista, tenho que tomar conta de um planeta.

Bufei e ri ironicamente.

— Sei...

— É verdade — disse-me ele me olhando nos olhos. — Não é fácil salvar a vida de todos neste planeta, mesmo tendo uma grande equipe para ajudar. Eu e Lois não tínhamos como tomar conta de você e ter nossas vidas ao mesmo tempo. Então eu o deixei naquele orfanato na Carolina do Norte, para deixá-lo seguro e ficar de olho em você. Por isso que eu disse que não era para você demonstrar sua força e nem se enraivecer com nenhum órfão de lá, senão, você podia matá-los.

— O que eu quero saber é por que você, o grande Superman, não teve tempo de visitar ou procurar onde o seu próprio irmão, que surgiu de essência dos pais verdadeiros, estava! — explodi. — Você sabe o quanto seria diferente para eu saber que você tinha me procurado? Sabe o que seria para eu ignorar todas as piadas de que eu não tinha família de verdade? Ouvir piadas na escola dizendo que eu era apenas um bastardo abandonado e que foi encontrado por uma família por pena; ou ouvir até mesmo no próprio orfanato que eu nunca sairia dali porque eu era ruim demais que minha própria família tinha me abandonado. Isso não é uma coisa que uma criança como eu naquela época gostaria de ouvir!

Eu só percebi que estava de pé sobre a mesa quando ele levantou as mãos para mim. Olhei para a lanchonete e vi que somente uma garçonete e o menino do caixa olhavam para mim. Eu me recompus e sentei-me na cadeira novamente.

— Kol-El, eu não sabia...

Por Rao! — o cortei com raiva — Eu já disse que o meu nome é Brian! — respirei fundo. — Eu deixei de usar esse maldito nome kryptoniano que veio comigo para a Terra junto com minha nave desde o dia em que eu fui colocado naquela droga de orfanato por você! — respirei fundo novamente. — Meu nome é Brian James McCarty, não é mais Kol-El. Para mim, esse nome kryptoniano morreu, entendeu? Não tenho parentes mais em Krypton, então pretendo esquecer a existência daquele planeta.

Ele assentiu para mim.

— Claro — disse ele. — Mas se puder me chamar de Clark, eu agradeço.

— Vai ser difícil — bufei.

— Por quê?

— Porque eu passei os últimos dez anos te chamando de Kal-El. Vai ser difícil mudar isso agora.

— Justo — disse ele.

Mas ignorei o que ele disse.

— Porque não me procurou? — perguntei fitando a mesa e minhas mãos tremiam sobre ela.

Eu senti os olhos dele em mim, mas eu tentei ignorar aquilo. Eu estava mais ocupado em não deixar as lágrimas que se formavam em meu rosto caírem. Eu não queria passar por sensível perto de Kal-El, mas era completamente triste saber que eu tinha alguém que realmente tinha o meu sangue naquele planeta e nunca saber dele.

Sentir-me completamente sozinho e sendo ofendido pelos órfãos daquele orfanato e, até mesmo depois de adotado, na escola era completamente horrível Muitas vezes Bobby me perguntava o que tinha acontecido comigo para me deixar tão para baixo, mas é claro que eu dizia que não era nada — eu também não me passaria por sensível perto de Bobby.

— Eu tentei te procurar — disse ele, o que me fez olhá-lo já com as lágrimas secas em meus olhos. — Realmente tentei. Mas quando eu fui até aquele orfanato seis meses depois como repórter, eu não encontrei você. Disseram-me que você tinha sido adotado, mas que não tinha deixado endereço.

Ele me olhou tristemente.

— Passei os últimos dez anos tentando te procurar, mas nada de você. Tentei com a ajuda de meu amigo J’onn, mas nada. Você simplesmente tinha sumido. Pedi a ajuda de Kara para procurarmos por você em Metrópolis, mas também sem sucesso.

Franzi a testa para ele.

— Kara? Quem é Kara?

Ele levantou as sobrancelhas para mim completamente surpreso.

— Uma prima nossa...

— Você disse prima? — levantei uma sobrancelha.

— Sim, prima— disse ele assentindo para mim. — Filha de Zor-El, nosso tio.

— Como ela sobreviveu à explosão?

— É complicado. Uma espécie de redoma a protegeu e ela veio à minha procura na Terra. Longa história, mas isso é o resumo dela.

— Ótimo, era só o que eu precisava — confirmei.

— De qualquer maneira — disse ele —, eu não consegui te achar. Passei os dez anos a sua procura, mas só tive notícias sua ontem à tarde, quando aquele monstro, ou sei lá o que for aquilo, resolveu atacar Morgan Hill.

Fechei a cara. Aquilo não estava em meus planos. Saber que Kal-El (ou Clark, tanto faz) tinha procurado por mim mexia com toda a maneira de eu pensar. Antes, ele, para mim, era só um ser insignificante no meu caminho, onde eu poderia descartá-lo facilmente. Mas, agora, ouvindo aquilo tudo, era totalmente controverso.

Um sentimento de culpa se passou por mim por julgá-lo de maneira incorreta por todos aqueles anos, mas eu não poderia demonstrar isso para ele. No máximo, poderia me desculpar.

— Entendi — disse eu. — Isso muda bastante coisa.

— Sim, muda — ele deu uma risadinha nervosa.

— Desculpe pela forma que o tratei e trato você — disse eu antes que eu realmente não dissesse nada do tipo. — Eu não sabia de toda a história.

— Tudo bem — disse-me ele. — Eu deveria tentar mais em procurar você. Eu também sentiria a mesma raiva se fosse você.

— Ótimo — foi só o que eu disse.

Kal-El e eu conversamos por mais algum tempo. Ele mais respondia do que perguntava, na verdade, pois eu queria saber mais sobre essa minha, digamos, cunhada e essa prima chamada Kara. Ele disse que tinha encontrado Lois em seu ambiente de trabalho, ou coisa do tipo, e, apaixonado por ela e ela por ele, se casaram e estavam juntos desde então. Ele também me contou sobre nossa prima, Kara. Kara era, na verdade, Kara-El, mas na Terra, com seus pais, ela era mais conhecida como Linda Lee, mas eu preferia Kara. Ela era filha do meu, digamos, tio Zor-El, irmão do meu pai. Que também descobri que Zor-El e Jor-El não se davam muito bem, mas que os filhos dos dois se davam muito bem. Ele disse que, além de prima, Kara era diferente de nós. Ela era loura e baixa, mas que era monitorada por ele por ser sua prima — o que eu tanto concordei — e que ela fazia parte dos recrutas da Liga da Justiça.

Quando eu perguntei o que seria essa tal Liga da Justiça, ele tinha me dito que era um conjunto de super-heróis para defender a Terra. Os membros principais eram aqueles que estavam naquele dia da batalha com Decepter. Flash (o vermelhinho), Batman (o morcegão), Mulher-Maravilha (a mulher com a tiara esquisita na cabeça), Mulher-Gavião (a mulher de asas), Lanterna Verde (o cara de pele cor de café de aura verde), Caçador de Marte (o tal J’onn J’onzz, o verdinho). Parecia interessante, mas eu deixei de cogitar a ideia logo em seguida.

Eu tinha mais coisas interessantes em saber mais sobre essa tal Liga de Super-Heróis, Liga da Justiça, ou o que seja. Eu ainda tinha que ver como seria a adoção de Bobby para a minha família, também tinha que ver como faria para contá-lo sobre a morte de seus pais e como conseguiria enterrar os corpos, e como contaria ao seu tio Kelly que Bobby não iria morar com ele. A parte mais difícil seria contar para Bobby que seus pais estavam mortos, disso eu tinha certeza. A outra seria enfrentar Kelly no tribunal, se ele fizesse tanta questão de Bobby assim — o que eu achava difícil de alguém que espancava o próprio sobrinho.

Mas era uma coisa de tal importância que eu nem prestei atenção em Kal-El mais. Deixei-o falando e só parava para concordar com a cabeça e dizer “Sério?” ou “Verdade?” e essas coisas. Kal-El parecia estar feliz por nossa “reaproximação” ou coisa do tipo. Era até vê-lo se empolgando assim, mas ele ainda, para mim, não era meu irmão. Saber que ele realmente era eu sabia, mas não o via da mesma maneira. Ele só era alguém que eu deveria respeitar por conta de sua idade a mais que a minha — meus pais me obrigariam a respeitá-lo mesmo se não fosse minha vontade.

Porém, Bobby era a prioridade agora. Eu tinha que visitá-lo no hospital — não só ele, mas meus pais também —, saber como ele estar e dar a terrível notícia. Eu sabia que ele ficaria totalmente ruim e que me culparia por não ter conseguido salvar seus pais, o que eu entenderia totalmente a fúria daquela criança (Bobby só tinha quatorze anos). Mas ele era de incrível importância para mim e eu não podia deixá-la com o tio. Eu tinha que deixá-lo comigo e com minha família.

— Então, o que me diz? — perguntou Kal-El interrompendo o meu blá-blá-blá mental.

— Desculpe? — disse eu.

Ele me olhou com a testa franzida.

— Hã, eu disse o que você acharia de se juntar aos recrutas da Liga da Justiça? — disse ele.

— Como é que é? — arregalei os olhos.

Ele riu.

— É uma boa oportunidade de, bem, nos aproximarmos — disse ele timidamente. — Se me der a chance de me reaproximar de você, é claro. E é uma maneira de impedir outros, como aquele ser estranho, de tentar destruir a Terra.

Aquilo era tentador. Se eu não aceitasse, eu só conseguiria combater monstros ou ladrões ou até mesmo seres poderosos de tentar destruir a Terra se eu ouvisse pela rádio, visse pela tevê ou coisa do tipo; seria desvantajoso. Se eu aceitasse, eu poderia saber a qualquer momento. Assim que começasse um ataque, eu poderia impedir e sem contar que seria uma maneira de “recompensar” a morte dos pais do meu melhor amigo — sim, eu me sentia bastante culpado por conta da morte dos pais de Bobby. Como eu disse, era tentador. Somente por conta disso que parecia ser tentador.

— Aceitar, eu aceito — disse eu de má vontade.

A real era que eu não queria me juntar a um bando de superpoderosos para salvar o planeta. Eu queria, ao menos, terminar o ensino médio, ter uma vida normal e viver tranquilamente, onde eu poderia esquecer esse lance de ser de outro planeta. Mas eu sabia que se eu negasse ele iria começar uma discussão e eu não estava com paciência para isso.

Ele comemorou timidamente, levantando o punho direito em forma de vitória.

— Mas depende dos meus pais — disse eu e seu sorriso se desfez. — Não sei se eles aceitariam isso.

— Como não? — perguntou ele. — Estarei com você o tempo todo.

— Você não esteve durante dez anos — rebati e ele se calou no mesmo instante. — De qualquer forma, eles não deixariam, eu acho.

— Deixe-me falar com eles — disse Kal-El. — Talvez, se eu falar com eles, eles possam a vir a deixar.

— Talvez — repeti. — Duvido que Christina e Owen aprovem isso, mas você é livre para tentar.

— Então vamos agora — ele se levantou da cadeira, jogou alguns dólares na mesa e voltou a ajeitar a gravata e os óculos. — Aproveitar que eu ainda tenho tempo.

Levantei-me de onde eu estava e fomos para o lado de fora da lanchonete.

Não nevava em Metrópolis. Ajeitei meu casaco e pus o capuz na cabeça — mesmo eu sabendo que não sentia tanto frito assim, mas pus para dar estilo — e ele se ajeitou o casaco que tinha por cima do ombro — eu sabia que ele também não sentia tanto frio como eu e aquilo era apenas para um disfarce.

A rua estava cheia de gente. Carros e mais carros ainda corriam pela rua, assim como motos e caminhões. Metrópolis estava bem movimentada, típico de uma cidade grande, é claro.

— Venha, vamos para um beco...

— Espere — disse eu e ele parou para me olhar. — Meus pais não estão em casa. Estão em um hospital. O bicho de ontem conseguiu detonar o hospital em que meus pais estavam e detonou, também, a escola em que meu amigo estava.

Ele assentiu.

— Entendi — disse ele. — Bem, você pode fazer uma visita a Torre da Liga.

— Torre da Liga? — perguntei franzindo a testa.

Ele sorriu de lado.

— Ela fica no espaço — disse-me ele. — E é repleta de super-heróis com ou sem poderes.

Aquilo me despertou uma minúscula curiosidade.

— Parece bacana — disse eu.

— E então, o que me diz?

Eu deveria negar e ir direto ao hospital, mas meu pai disse que eu poderia levar o tempo que quisesse, então... por que não tentar reaproximar de Kal-El? Ele não me parecia um idiota e parecia que estava realmente querendo se reaproximar de mim. Por que não tentar? Mas isso não significava que eu realmente poderia tentar dar uma chance para ele e que iria tratá-lo como um irmão de verdade, pois eu não iria.

— Tá, tudo bem — disse eu.

Ele sorriu de lado novamente. Ele me conduziu a um local onde ninguém poderia nos ver — o que eu achei difícil, pois a cidade inteira parecia estar em movimento — e pôs um dedo no ouvido esquerdo.

— J’Onn, dois teletransportes para a Torre da Liga — disse Kal-El e tirou a mão do ouvido.

No segundo seguinte, senti um formigamento nas pernas e nas mãos e, no segundo seguinte, fui engolido pela dimensão distorcida que surgiu diante de mim.


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