Marshall Lee acordou sobressaltado. Era a quarta vez que acordava com pesadelos, isto só naquela semana. O pesadelo era sempre igual. Estava num lugar escuro e ouvia alguém a chorar e a gritar de dor, era uma voz familiar, mas o vampiro não sabia identificar a quem pertencia. Aquilo afectava-o. Imenso. Sabia que era alguém importante e que fazia parte da sua vida, mas quem era? Quem é que estava a magoar essa pessoa?

Levantou-se da cama bruscamente, sempre que pensava nisso ficava frustrado e irritado. Dirigiu-se à casa de banho. Enquanto tomava banho pensou naquela semana. Uma semana normal se tirar os muitos factores que a tornavam estranha, como por exemplo, ter andado sempre a pé, nunca flutuado, ter evitado ao máximo a Fiona, a Cake e o Gumball, de se sentir constantemente cansado, dos pesadelos e por ai adiante… Sim, normal.

Suspirou com aqueles pensamentos e saiu do duche secando o corpo deixando o cabelo húmido, vestindo apenas umas calças.

Saiu para o quarto quando ouviu alguém bater à porta, quem era o idiota que aparecia em sua casa sem avisar? A pessoa não tinha amor à vida? Claro que conseguia imaginar a loira e a sua gata do lado de fora da porta, Fiona chamando por ele e a ameaçarem arrombar a porta, enquanto Cake se queixava do vampiro, e do quão má ideia aquilo era.

Desceu para o piso interior e espreitou pela janela e assim que viu quem era desejou estar certo sobre a loira e a gata. Em vez delas quem encontrava-se um certo príncipe no alpendre que tirava toda a paciência a Marshall.

-Marshall? Abre a porta…- O rosado bateu novamente á porta.

-O Marshall não está…- Como é que tinha sido tão idiota? Honestamente havia respondido aquilo?

-Realmente com essa convicção todo quase que acredito.- Gumball riu levemente divertido.- Mas, no entanto sou céptico por natureza. Vim trazer-te morangos a pedido da Fiona. Ela também me pediu para ter uma conversa de homem para homem.

O vampiro abriu um pouco a porta.

-Podes pousar os morangos e ir, dispenso totalmente a conversa.

-Podia, mas não quero, além do mais, a Fiona mata-me se não falar contido decentemente.

Marshall abriu a porta na sua totalidade, fazendo sinal para o outro entrar.

-Tinha de ser tão cedo? São, o que? 5 Da manha?

-Não tinha de ser cedo, era uma tentativa de te irritar. Mas a julgar por tudo esse diálogo e irritação, já estavas acordado, presumo eu. A propósito, queres uma camisa?

-Não, não quero uma camisa, não te quero aqui, mas como insistes em ficar, espero que fiques calado.

-Mas…

-Shhhh, caladinho, Gumball, não fala, não mexe, não respira.

-Revoltado-Murmurou o rosado.

Marshall agarrou no cesto de morangos e sentou-se num dos sofás, agarrando num morango e tirando-lhe toda a cor em alguns segundos, e Gumball sentou-se no sofá da frente.

-Queres algo para comer ou beber?

-O quê? Estas a ser amável? Quem és tu e o que fizeste a Marshall Lee?-Gumball riu levemente.

-Pois claro, até parece, a única coisa que quero é evitar a Fiona com o seu sermão.

-E desde quando isso te importa? Tu passas a vida a provoca-la e a pregar-lhe partidas maldosas.

O vampiro deslizou para o chão e deitou-se lá.

-M-Marshall? E-estas bem?- Gumball pareceu preocupado, onde estava aquele vampiro irritante sempre disposto a uma grande discussão? Porque é que ele estava tão abatido? Deprimido?

Marshall olhou directamente nos olhos do príncipe, o que deixou o segundo um pouco constrangido.

-Ei… Tu amas a Fiona?-Perguntou ao príncipe, que corou imediatamente.

-N-não sei… Eu, ah… acho que gosto de outra… tu, sabes… A-acho, que gosto de outra pessoa… acho… eu…- Porque estava a gaguejar tanto? Porque é que estava tão vermelho? Por Glob, aquilo era tão estranho, admitir algo para ELE, logo ELE.-M-mas porque… que perguntas?

-Tens pesadelos?- A cada pergunta Marshall parecia mais sério.

-C-como é que sabes?!-Gumball parecia que ia entrar em pânico a qualquer segundo.

-Guerra no reino doce? Tal como a grande guerra dos cogumelos?

-Marshall!- O rosado levantou-se de repente e ajoelhou-se à frente do moreno.- Por Glob, não podes contar a ninguém! Jura por favor, nem mesmo à Fiona!

O vampiro sentou-se.

-Recebes-te uma ameaça de guerra? Algo que demonstre que vai de facto haver uma guerra?

O rosado negou com a cabeça. Algumas lagrimas começavam-se a formar nos seus olhos.

-M-mas, eu tenho medo… Anda tudo tão atribulado, em todo o lado! E se acontecer mesmo… Marshall… T-tu estavas lá certo? N-na guerra dos cogumelos? C-como era?

-Já te contei a ti e a Fiona… Só sobrevivi porque… Mas bem, agora não sou propriamente uma criança pequena, provavelmente eu via aquilo de forma pior do que realmente era.

O silêncio instalou-se entre os dois, o que deu tempo ao rosado de secar as lagrimas que se formavam nos seus olhos com as costas das mãos.

Marshall fechou os olhos. Os pesadelos, era Gumball. A voz da pessoa que chorava. E não era dor física a ser infligida, era a possibilidade do povo dele sofrer. Sorriu de canto, ele preocupava-se bastante. Sentiu o outro a cutucar-lhe a bochecha.

-Sim?-Perguntou ainda com o meio sorriso a bailar-lhe nos lábios.

-Como sabias? Dos pesadelos quero eu dizer…

-Não sabia, presumi. Tens olheiras e andas com um semblante nervoso, apesar de o tentares esconder com um sorriso. Alem disso, não trouxeste bolachas, sempre que te esqueces de faze-las algo de errado se passa contigo.

O príncipe corou com as observações do outro, agradecendo a glob por este manter os olhos cerrados.

-Gumball-Chamou o outro- E a conversa de homem para homem que a Fiona te mandou ter comigo?

-Ah. Ela, e eu também, um pouco, andamos preocupados contigo, sabes, não fazes mais aparições a Fiona ou Cake, e das últimas vezes que elas te viram disseram que estavas a andar. Quer dizer andar, sem flutuar. E eu confirmei isso hoje, certo? Elas não tinham a certeza… E acham que te não andas a comer, por isso a Fiona pediu-me para te trazer os morangos…-Gumball falou muito depressa, tentando em vão controlar o nervosismo.

-Bem… Agradeço pela preocupação, mas não é necessária. Agradeço pelos morangos, realmente sabem bem, mas quando que te à porta esperava bolachas…

-Então eu vou fazer bolachas para ti.- Gumball interrompeu o vampiro, e corou levemente.

O vapiro sorriu e olhou para o outro.

-A sério? Não tenho ingredientes fazer bolachas.

O príncipe ficou um pouco pensativo.

-Bem, então eu trago-te algumas esta tarde, se não te importares.

-Não, pode vir Alteza, fico à vossa espera.- Marshall flutuava a alguns centímetros do chão. Depois da conversa sentia-se consideravelmente mais leve, e decididamente menos preocupado.

-E as tuas olheiras?-Questionou o rosado.

-Sempre tive olheiras, Gumball. Só hoje te lembras de perguntar?- O rei riu sem vontade, agora era esperar que o outro acreditasse na mentira.

-Mas… Não tinhas, tenho a certeza que não tinhas.

-Bem… dormi pouco hoje, estive a compor, sim, a compor.- Continuou o maior.- Sabes que se ficares aqui muito tempo a Fiona pensa que foste raptado outra vez?

-A-até parece que acontece m-muito…- O outro corou enquanto falava, ouvindo como resposta o riso do outro.- E não é culpa minha!

Ouviram bater à porta, Fiona chamava pelo vampiro, e como seria de prever Cake estava simplesmente a pedir para irem embora.

-Yei, Gumball, diz-lhes que eu sai e te deixei à minha espera, mas tu vais embora por eu não voltar, pode ser?

-Não vou mentir a Fiona! Alem disso, ela anda preocupada contigo!

-Por favor! Anda lá!- Marshall praticamente implorava, o que deixou Gumball um pouco constrangido.

-E-esta bem… Mas por favor, fala com ela Marshall, ela precisa de saber que estas bem, se bem que esse não é o termo.

-Marshall? Se estás ai por favor, abre a porta… Tenho de falar contigo…- Fiona pediu novamente.

Gumball suspirou e lançou um olhar de “Ficas-me a dever uma” e saiu de casa para ir falar com Fiona e contar-lhe uma qualquer mentira sobre o que o vampiro estava algures num sítio nada perigoso, mas inalcançável para alguém sem a habilidade de flutuar.

-Vou dormir.- Disse o rei dos vampiros para ninguém em particular.

Agora que sabia que estava tudo bem de momento, esperava uma noite de sono bem dormida. E também, não podia estar com olheiras quendo o príncipe voltasse com as suas bolachas.