Dentro do Espelho escrita por Banshee


Capítulo 28
Todos Querem Governar o Mundo


Notas iniciais do capítulo

Oe gente, agora faltam quinze minutos para as onze e aqui estou eu, morrendo de sono e sendo devorado por pernilongos. Salém, meu gato, está atacado e Sagwa, minha gata, esta quase o matando de tanto morde-lo pra se acalmar. Estou com fome e tenho que tomar banho, mas estou escrevendo. Esse capitulo irá destruir forninhos, e bem, o escrevi ouvindo essa musica: http://www.youtube.com/watch?v=8UVNT4wvIGY. Bem, boa noite e boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/526031/chapter/28

O celular estava chamando.
Chamando.
Chamando.
Hey, aqui é a Sky Delavigne, no momento não posso atender, mas deixe seu recado após o sinal e irei retornar... Ou não, aí depende do meu estado emocional e do meu café da manhã. Tchau!
Desliguei o aparelho. Ninguém atenderia, ninguém ajudaria, então por que ainda tentava?
Esperança? Talvez por isso sejamos tão patéticos.
Ouvi a campainha, mas não me mexi. Tocou de novo, de novo e de novo.
–– Não tem ninguém em casa! –– Gritei.
Um minuto de silêncio até que uma pedra se chocou contra a janela do meu quarto, os pedaços de vidro caíram sobre o chão e por pouco não me acertam.
–– Vai ser assim agora? –– Gritou alguém lá embaixo –– Você não era tão infantil quando nos conhecemos, Anthony Gottes!
Aquela voz... Sim, aquela voz. Era reconhecível em qualquer lugar.
Bem-vindo à sua vida. Não há como voltar atrás, mesmo enquanto dormimos.

–– Liz? –– Perguntei, indo de encontro com a janela.
–– Ah, boa noite! Espero não estar atrapalhando essa merda que você chama de vida.
Usava coturnos, short jeans e uma camisa escarlate, era difícil ver seu rosto se levar em consideração que estava no quarto no segundo andar e ela no jardim –– O que está fazendo aqui? –– Perguntei.
–– Já não se pode fazer uma visita a um velho amigo?
–– Primeiro: Não somos mais amigos. Segundo: Você não me visita a mais de sete anos.
–– Ain, você deveria deixar de ser tão rancoroso. Apenas um encontro para relembrar os bons momentos!
De acordo com minha Pokedex, Liz Devonne era um Pokémon putona da pior espécie. Tanto eu quanto Skye sabíamos que não era digna de confiança, principalmente depois dos vários ataques que diariamente nos dava nos anos escolares. Mas ainda poderia me divertir.
–– O que há de tão importante para conversar essa hora? Você, mais do que ninguém, deveria saber que não é a melhor situação.
–– Eu sei sim. Sua amiguinha desapareceu, Diane está morta e meu Pietro foi assassinado por Hope. Eu sei mais do que qualquer um do que esta acontecendo aqui.
Meu sangue gelou. “Hope” era a palavra que Sky dizia durante o sono, mas a pronunciava como se falasse de alguém e não de algo. E sim, Diane estava morta, mas por que Liz se importava? Desde quando se envolvia com qualquer coisa que não fosse seu cabelo? Teria que colocar minha mão no fogo e descobrir por mim mesmo.
–– Sobe. –– Gritei.
–– Então abre a porta.
–– Não mesmo, se quer conversar suba.
Fitou-me com grandes olhos castanhos que claramente diziam que iria me matar quando chegasse, mas achei que não o faria até que largou sua Gucci, descalçou seus coturnos e pôs sua mão na trepadeira que ia até a varanda do meu quarto.
–– Espera um minuto! A filha do novo prefeito da cidade de Nerfoni está subindo as trepadeiras para o quarto do filho dos Gottes? Isso com certeza daria uma ótima manchete no jornal local. –– Debochei.
–– Pode falar o quanto quiser, vai me agradecer depois disso. –– Retrucou –– Sabia que nas obras de romance, são os cavalheiros que sobem em arvores atrás das damas?
–– Estamos no século vinte um, Liz. O cavalheirismo morreu há muito tempo.
Fui à cama e liguei o televisor, esperando um demônio ingressar. Dois minutos depois uma Liz encharcada de suor entrava pela varanda.
–– Minha mãe sempre me disse que o cavalheirismo não pode morrer. –– Retrucou.
Fui à pequena geladeira ao lado da cabeceira da cama e peguei uma garrafa d’água, Liz tentou apanha-la, mas hesitei.
–– Não vai oferecer? –– Perguntou.
–– Não. Não até me contar o porquê de estar aqui.
O relógio despertou marcando meia-noite. Quinta-feira, 23 de março de 2017.
–– Não vai conseguir nenhuma resposta se eu morrer desidratada. –– Articulou, roubando a garrafa e encharcando seu rosto.
–– Comece a falar então.
Fitou-me com olhos cor de mel, tão belos e ameaçadores, tão angelicais e demoníacos. Tão “Liz”.
–– Primeiramente quero deixar claro que não vou com a sua cara. –– Disse ela –– Segundo, estou fazendo isso por Di e Piet, não tem nada haver com Skye ou você.
–– Só não entendi o que seu namorado morto e Diane têm haver com Skye.
Após terminar a frase me arrependi amargamente. Suas feições se transformaram, mandíbula ficou rígida e seus olhos se iluminaram como os de um animal. Liz chutou minha perna e senti como se seu pé descalço fosse feito de titânio.
–– Nunca mais, em sua misera vida, cite o nome do meu Piet de novo. Entendeu?
Mordi minha língua tentando abafar o grito na garganta e concordei com a cabeça. Ela despejou o resto do liquido em mim para ter certeza de que não citaria mais seus nomes.

–– Terceiramente, quero que saiba que talvez você não tenha psicológico para ouvir isso, mas foda-se, não me importo com sua mentalidade. Quartamente, não, Skye não está louca. E quinto, sim, eu me importo com Diane por que eu a conheci, e era minha melhor amiga.
Nós vamos encontrá-lo. Estando em seu melhor comportamento, vira as costas para a mãe natureza.
–– Sua amiga? –– Disse com ironia, pegando uma coca e sentando-me na cama –– Que interessante. Prossiga, sim?
Ela se aproximou da varanda. Uma enorme lua nova se erguia sobre as nuvens naquela noite sem estrelas.
–– Seu sarcasmo fere meus ouvido, Gottes. Mas tudo bem... Antes de tudo, quero que saiba que o nome real de Diane Scott era Charlotte Humphrey, nascida em Loire, França.
–– Não, não. –– Respondi –– Ela era de Sydney, Austrália. E...
–– Isso foi o quê Eles a mandaram dizer.
Eles. A palavra soou como uma ofensa das mais pesadas, como se a garota se negasse a deixar as letras fluírem de suas cordas. Como o nome de Deus na boca de um demônio.
–– Por que ela mentiria pra gente, Liz? –– Perguntei –– Olha, estou cansado de suas invenções ridículas para nos prejudicar e...
–– Olha, eu sei que fiz coisas horríveis com você e Sky nos tempos de colégio, e não, não me arrependo de nada... Pra inicio de conversa, faria tudo de novo. Mas a sua amiguinha pode me salvar da morte, estou revogando meu orgulho pra ajuda-la.
–– Por que, Liz? Essa é a pergunta! Por que nos odeia tanto? Você poderia simplesmente descer por essas plantas, chamar seu motorista e voltar pra sua vida fabricada pra ser a pessoa perfeita que sempre foi e nos deixar em paz. Está esperando uma bandeira branca ou alerta divino?
Minha frase a atingiu como uma bola de demolição, era obvio seu choque. Ninguém a confrontava, ninguém erguia sua voz, ninguém ousava desafiar a Rainha das Bonecas, como a apelidamos nos tempos do fundamental. Mas agora a mascara ficou de lado por um minuto, e durante estantes e poucas frases seu rosto era visível: Uma criança triste.
–– Perfeita? Perfeita? –– Usava o tom mais mórbido que ouvi em anos, quase como se a palavra a ferisse –– Não quero que as pessoas olhem meu sorriso e vejam uma pessoa perfeita. Não quero que olhem minhas notas e vejam uma pessoa perfeita. Não quero que vejam meu modo de caminhar, vestir e falar e digam que sou uma pessoa perfeita. Sou uma criança aprendendo a andar e caio, sim, eu caio, caio e levanto-me, cometo erros e insisto neles. Pessoas perfeitas não amam, pessoas perfeitas não pecam, pessoas perfeitas não erram e quando isso ocorre, são atiradas do topo de suas nuvens de vidro. Estou desmoronando por que não sou uma pessoa perfeita. E por não ser uma pessoa perfeita preciso de ajuda. E agora, a única coisa que quero de você não é um abraço ou um sorriso ou que diga que tudo ficará bem... Apenas que me escute e não me deixe pensar... –– Lágrimas, ela estava chorando lágrimas pretas por lápis de olho –– Não me deixe pensar que estou falando com uma parede, por favor.
Parecia estar jogando comigo como em Dungeons & Dragons. Contudo, já não tinha nada mais a perder... Exceto um voto de confiança.
–– O nome dela era Charlotte Humphrey, e eu a conheci quando tínhamos sete anos de idade. Era linda e era pura, com longos cabelos ruivos e olhos violetas.
–– Mas Diane era...
–– Loira? Não. Deixaram-na assim quando a programação foi concluída com sucesso. Mataram Charlotte para que Diane pudesse nascer. Entretanto, Di e Lotte não eram e nunca seriam a mesma pessoa. Diane era friamente inteligente, em várias formas e sentidos. Um demônio mais sagaz que Mefistófeles.
–– Não entendo onde quer chegar. –– Eu disse –– Em uma hora ela era Charlotte, na outra era Di, mas... Não faz sentido.
–– Vou agilizar, já que notei que és meio lerdo: Existe uma organização chamada Illuminati, já ouviu falar? Bem, existem várias lendas urbanas do que eles sejam e do que fazem, mas sinceramente não sei qual é a verdadeira. –– Ela foi ao pequeno refrigerador e sacou uma lata de Orangeboom, bebendo metade do conteúdo em apenas um gole –– Pois bem, o que vem ao caso são suas subdivisões: Se racionam em vários grupos, cada um com um objetivo em particular... Entre eles estão Os Monarcas, é aí que a nossa História de Tragédia começa.
É o meu próprio projeto, é o meu próprio remorso. Ajuda-me a decidir, ajuda-me a tirar o máximo da liberdade e do prazer. Nada dura pra sempre.

–– O Controle Monarca é meio que o resultado do projeto MK-ULTRA, desenvolvido pela CIA e testado em seus civis. Qual era o seu objetivo? Bem, se você já leu alguma HQ de Capitão América deve ter uma mínima noção. –– Disse ela fazendo uma pausa dramática –– Criar super soldados. Ou melhor, super escravos.
A garota pegou um vaso de lis que minha mãe deixava na janela e a regou com o liquido da lata.
–– A psique humana é algo tão complexo, Gottes. Através de tortura física e psicológica, abusos sexuais e vários tantos métodos sádicos, os Monarcas conseguem introduzir um alter-ego no fundo da psique da vitima, de modo que tem um escravo monarca usado como bode expiatório e treinado para executar tarefas específicas, não questiona ordens, não lembra de suas ações e, se descoberto, deve automaticamente cometer suicídio.
–– E como você...? –– Não consegui terminar a frase. A ideia toda da situação parecia bizarra demais e não entendi como e onde tudo se encaixava.
–– Como sei de tudo isso? –– Ela pegou um fósforo e o acendeu –– Por que eu fui vitima de um controle monarca.
Liz pegou o fósforo e o jogou em cima do vaso. As flores neles foram engolidas pelas chamas e sua beleza se degenerou até se tornarem cinzas.
Há uma sala onde a luz não vai encontrá-lo de mãos dadas enquanto as paredes desmoronam. Quando elas caírem, estarei bem atrás de você.
Engasguei-me por alguns segundos até pegar o extintor de incêndio reserva embaixo da cama para extinguir o resto das flamas.

–– Eu fui uma vitima monarca da mesma forma que Charlotte Humphrey se tornou Diane Scott, da mesma forma que Isis Marmadale tornou- se Gabriela Barros, da mesma forma que Johnny Orzabal se tornou Pietro Summers... Da mesma forma que Sky Delavigne se tornará Hope Lichtträger se não a impedirmos. Estamos numa sinuca de bico, meu caro Anthony... Ou damos a jogada final, ou perdemos. A pior parte é que isso é real, e se perdermos esse jogo simplesmente morremos.
Minha cabeça doía como se tivesse sido atingida. Não entrava na minha mente algo tão absurdo quanto o que ela dizia. Até mesmo Gaby não era mais Gaby. Isso explicava o porquê de Sky se tornar tão violenta, e do corpo encontrado em St. Louis... Mas coisas não faziam sentido.
–– Se o que você diz for verdade, e as crianças foram substituídas...
–– Reprogramadas.
–– Isso. Reprogramadas... –– Eu disse –– Por que não deu certo com você e Sky? E por que tantas crianças dessa cidade foram acometidas desse mesmo mal?
Liz se manteve em silêncio por instantes como se pensasse na melhor resposta. Ou como se inventasse uma.
–– Crianças índigos e cristais. –– Disse como se fizesse o maior sentido.–– Crianças o quê?
–– Olha, nem eu sei o que são, okay? Só sei que eu era uma criança índigo e Sky uma cristal, os efeitos da Programação são diferentes nas nossas psiques. –– Respondeu –– Já ouviu falar de Divergente de Veronica Roth?
–– Claro que já, era a série de livros preferida de Sky –– Não. É a série preferida de Sky. Por que me referi a ela como se estivesse morta?
–– Então, é quase isso. Como se fosse um super poder, e houvesse três tipos de crianças: As funestas, que não sabem nada; as índigos, que são como um meio termo; e as cristais, que têm dons inimagináveis. Pois bem, a única coisa que sei é que os índigos haviam sido extintos a cerca de três décadas, mas aqui estou. O problema é que nem eu ou Sky estamos livres dessa maldição.
–– E como sabem quem são e não são reprogramadas? –– Perguntei.
–– Simples: A timore, nuntius, concilium, tractionem et a symbol. São palavras de um cântico da igreja romana e significam “um medo, um mensageiro, um conselho, um desenho e o símbolo”. Foi esse o método que encontraram para nos marcar.
Tão feliz, pois quase conseguimos.
–– Aqueles que foram reprogramados possuem uma fobia, um mensageiro sobre essa fobia e uma tatuagem. Sou automatonofobica, o que quer dizer que tenho...
–– Medo de bonecas. –– Interrompi, pois sabia o que era. Mamãe também tinha esse medo.
–– Exato. –– Disse Liz –– Meus mensageiros são os gatos. Toda vez que vejo um gato, juro que ele sempre fala comigo. E o seu conselho? “Amasse as bonecas, elas são tão irritantes”, eles me dizem.
Passei a juntar os pedaços como num RPG estratégico. Liz tirou sua camisa, expondo seu sutiã escarlate.
–– O que está fazendo? –– Perguntei.
–– Te mostrando o desenho.
A garota se colocou de costas e tirou o sutiã. Um enorme desenho ia das suas omoplatas até a cintura: Olhos ultramarinos, um sorriso de ponta a ponta como o de um demônio, orelhas enormes e um rosto negro. Eu já o vi.
–– Cheshire. –– Sussurrei –– O Gato de Cheshire, de Alice no País das Maravilhas.
–– Sim, disse ela. Agora olhe suas pupilas.
Aproximei-me de Liz e apalpei suas costas nuas procurando ver o desenho sem meus óculos.
–– Não há pupila alguma. –– Digo. –– Há um desenho, mas não posso distingui-lo.
–– Chegue mais perto. –– Disse ela.
Ajoelhei-me e aproximei-me mais. Meu nariz tocou num dos ossos de sua coluna até que enfim distingui a imagem.
–– Uma borboleta. –– Respondi. –– Uma borboleta negra.
–– Uma Monarca, para ser exata. –– Disse ela –– Muito comuns em lugares cheios de flores, como Holanda... Para ser mais exata, em Nerfoni.
–– Você não respondeu o porquê de haverem tantas crianças reprogramadas num só lugar. –– Disse.
–– Não é obvio? –– Ela responde, indo a geladeira e pegando mais uma lata de uma cerveja qualquer –– N-E-R-F-O-N-I. Agora desembaralhe e o que temos? Inferno. Nossa cidade não é chamada de Nerfoni – Cidade Monarca por nada. Desde cedo, aprendemos na escola que os bárbaros se alojaram primeiro aqui e fundaram suas monarquias, mas isso é uma grande mentira... Uma cidade monarca, para o controle de mentes. Bem-vindo ao Inferno.
Meu estomago estava revirando, se retraindo como um anfíbio jogado no sal. Por um momento quis vomitar, e o fiz. Corri ao banheiro e liberei minhas tripas pela boca, e ela me seguiu.
–– A pior parte, Anthony? A pior arte é que eles sabem, e são cúmplices. Praticamente toda a cidade um dia foi vitima de uma reprogramação, e estamos num circulo viciante. Não podemos fugir! Eles não podem nos calar, Anthony! Precisamos nos reerguer e fugir daqui, irmos atrás de Sky!
Não queria ouvir, ou responder. Apenas expelir minha alma pelos lábios, sentir o cheiro da minha saliva e líquidos estomacais sendo regurgitados para fora do meu organismo. Nojo, sentia-me enojado.
–– E quer saber o porquê de você não ter sido vitima, criança Gottes? –– Ela disse –– Você não é daqui, não é mesmo? Oldenburg, não? Crianças de fora não podem ser capturadas, e isto está em seu código de conduta.
–– Conduta? –– Respondi após terminar –– Eles são demônios!
–– Eu sei o que são, e sei o que fazem! Eu estou morrendo e a culpa é deles! Apenas quero ser levada ao fundo do abismo após ter salvado as outras crianças que serão levadas junto! Só quero que me diga que, se descermos e pegarmos o meu carro iremos direto a Amsterdã para salvá-la, Anthony, você irá comigo.
–– Morrendo? Sal... Salvá-la? Sky corre perigo?
Liz respirou mais uma vez, voltou ao quarto e pegou suas roupas, mas não as vestiu.
–– Os Monarcas enviaram alguém para envenenar e matar Faith, em sua mala havia um diário. Hope provavelmente irá seguir as instruções nele para torturar e se vingar daqueles que a criaram.
Liz abriu a porta do quarto e saiu pelo corredor, ainda sem roupa. Eu a segui.
–– Qual é o problema? Por que a Hope não pode se vingar deles?
–– O diário era falso.
–– O quê?! –– Gritei.
Viramos o corredor para a sala de estar. A televisão estava ligada, mas tudo estava vazio.
–– Era falso, Gottes! F-A-L-S-O! Eles o colocaram lá de propósito e Hope está sorrindo enquanto caminha para o despenhadeiro... Não percebe que é uma armadilha?
Descemos as escadas para a cozinha vazia.
–– Conseguirão pegá-la, não importa o qual forte ela seja. Os Monarcas estão tentando criar uma programação para Cristais, e nada melhor que uma cobaia viva... Após isso, terão uma arma de guerra quase indestrutível... Ou uma Skye morta.
Uma das portas se abriu e vi meu pai e mãe entrando.
–– Que gritaria é essa aqui...?! –– Gritou minha mãe, interrompendo a si mesma quando viu uma Liz com peitos amostra em sua cozinha.
–– Boa noite, senhor e senhora Gottes. –– Respondeu a garota –– Eu e seu filho estávamos discutindo sobre nosso trabalho de anatomia e em como a exposição de seios pode diminuir consideravelmente o risco de câncer de mama.
Marlize puxou-me pelo braço e levou-me pra porta de saída.
–– Até mais, senhor e senhora Gottes.
A porta fechou-se trás de nós quando Liz retornou a falar.
–– Olha. Eu não sei qual o medo, mensageiro ou conselho de Sky, mas precisamos salvá-la. Simplesmente não consigo entender o que são as crianças cristais e as índigos, mas precisamos descobrir e rápido. Caso contrário, seremos mortos, e isso nunca irá acabar! Precisamos! Precisamos! Preci..
–– Acalme-se! –– Gritei, segurando-a pelos braços –– Eles não podem nos ferir!
–– Sim, eles podem! Obrigaram-me a alimentar-me com minhas próprias fezes e beber minha urina ou morreria quando fui capturada, e eles sabem que estou aqui! Sabem que sei, e sabem que tu sabe! Eu sei o que são, e sei o que querem... Eles irão nos impregnar e destruir nossas almas! Eles são a prova de que o Diabo existe, e irá nos consumir!
Liz estava possessa, as lagrimas em seus olhos caiam mais uma vez graças às más lembranças. Estava morrendo, estava se destruindo e, por mais que a odiasse, não poderia deixa-la assim.
Tão triste que tiveram que disfarça-la.
Envolvi suas costas nuas com meus braços, sentindo enquanto as lágrimas molhavam meu peito. Ajoelhamos-nos enquanto a mesma soluçava e cantei People Like Us para acalma-la. A mesma coisa que acalmava Sky de seus pesadelos.
–– They can't do nothing to you, they can't do nothing to me. –– Cantei –– This is the life that we choose, this is the life that we lead! So throw your fists in the air, come out, come out if you dare!
–– Alice… –– Murmurava –– Ela está em tudo o que sou, em tudo o que faço. Eu a vejo, devo a ver como Sky vê Hope… Ela irá me consumir como Hope a consumirá naquele dia.
–– Tonight we're gonna change forever.
–– Todos querem governar o mundo, não é mesmo? –– Disse ela, mas senti que sua consciência estava sendo sugada.
Seu corpo ficou mole e as lágrimas deixavam de rolar, seu corpo contiuava quente e a respiração se acalmou. Ouvi suas palavras murmuradas antes de se calar. Algo parecido com “Papi e rei”.
Naquela madrugada fria de verão, vi Liz Devonne adormecer nos meus braços, sem sua máscara de rainha das bonecas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenha curtido, e espero comentários. Boa Noite gente, até mais. Creio que até domingo teremos capitulo novo, e agora irei acelerar minha escrita pois estou de férias... Até!