Premonição Chronicles escrita por PW, VinnieCamargo, MV, SamHBS, Felipe Chemim


Capítulo 7
Capítulo 07: O Visionário - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

POV Pedro escrito pelo mesmo (PW).



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POV PEDRO

Em todos os sábados eu acabo indo dormir tarde, não foi diferente com este. Resolvo ir dormir depois das três, e deu no que deu.

Agora está tudo escuro, parece até que estou de olhos fechados, mas não estou. Eu tenho certeza de que estou de olhos abertos. Permanece tudo escuro, até a paisagem clarear num tom azul sereno, acalentador. Sinto-me em paz, como todas às vezes que me deixo entrar em silêncio. Ou ao menos, as poucas vezes que faço isso. Qualquer pessoa sabe o quanto é difícil para um garoto que aparenta ter hiperativismo se contentar com o silêncio. É difícil, um desafio, mas isso não está em jogo no momento.

O que importa agora é que eu noto que estou flutuando dentro de algo gélido. Talvez fosse uma bolha de ar, pelo fato de eu poder respirar naquele espaço ou teria que haver outra explicação lógica para o que estava acontecendo. Ahr, que se dane a lógica! Não poderia estar, de fato, respirando embaixo d’água. Sim, era uma imensidão azul-piscina, infindável, onde eu nado sem parar, sem deixar as pernas cessarem. Meus braços continuam no ritmo sincronizado com as batidas frenéticas das minhas pernas no manto aquático, gerando mais rapidez. Mas não vejo a tão sonhada luz no fim do túnel, ou no fim da piscina, como é o caso. Pra falar a verdade, tudo que vejo é um mundo azulado.

Girando, girando e girando...

Até que eu paro, cansado de nadar. Permaneço submerso e respirando normalmente, e numa tentativa frustrante de alcançar a superfície, sinto-me impotente por ver que ela se afasta a cada centímetro que me aproximo. Pode parecer confuso, mas é apenas o que vejo. O perto ficando distante e tudo começando a girar novamente. Desta vez a água toma a tonalidade rubra rapidamente, restando a mim uma sensação de agonia profunda, enquanto olho em todas as direções, procurando uma saída daquela armadilha fria, solitária e vermelha.

Logo, pouquíssimos segundos depois, eu ouço um estranho burburinho, como se pequenas bolhas flutuassem até a superfície e estourassem ao entrar em contato com o ar lá em cima. Curioso, sigo o borbulhado na tentativa de descobrir do que se trata, me arrependendo amargamente de tê-lo feito. O corpo flutua em posição fetal, silencioso e plácido. Acho que está morto, mas me engano quando estico um dos braços na tentativa de alcançar o garoto. O sujeito joga a cabeça numa velocidade descomunal, jamais vista em toda minha vida, lançando um olhar de desespero puro na minha direção. Ele aparenta murmurar algo, entretanto, sou péssimo em leitura labial. Já que não ouvia praticamente nada, além de um zumbido irritante ao pé do meu ouvido esquerdo.

Recuo e observou mais uma vez a figura desesperada do garoto, desta vez, apontado para cima. Movo minha cabeça lentamente, receando ver outra imagem atordoante...

Dito e feito.

SPLASH! O primeiro corpo caiu na água. SPLASH! O segundo. E então o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto e assim em diante, até onde não agüento mais. E começo a sufocar, pois falta-me o ar. Hunf! Já tinha esquecido que posso respirar embaixo d’água de agora em diante. É de se esperar quando se está submerso por muito tempo dentro de uma piscina. Os corpos vão se amontoando acima de mim, muitos deles retorcidos e desfigurados, todos tingindo ainda mais a água da piscina, antes preenchida pela divina tonalidade azul, agora completamente rubra.

Abro a boca para gritar e o gosto de sangue invade-a de imediato. Ainda consigo ouvir meu grito sendo consumido pelas bolhas de ar saindo de meu canal respiratório, quando tudo se torna negro novamente e...

O despertador do meu celular, marcado para alarmar às 8:00 AM em ponto, toca. Tateio rapidamente o objeto, movimentando minha mão para lá e para cá, sobre a estrutura que sustenta meu ventilador. Quando encontro o aparelho, desligo o alarme e me espreguiço, inteiramente exausto. Finalmente havia chegado o domingo, o dia mais tedioso pra mim, o dia em que eu não faço praticamente nad-

– Que bom que você acordou. – Disse uma voz melódica e agitada. Mãe. – Preciso que você olhe seu irmão, enquanto vou ao supermercado.

– Ele já acordou? – Respondo num tom cansado.

– Ainda está dormindo. É rápido, ok?

– Tudo bem, eu olho ele. Eu é quem faço tudo aqui mesmo. – Sento na cama, dando de cara com meu reflexo no espelho. Fico encarando meu “outro eu”, enquanto ouço minha mãe sair.

Levanto-me e passo a “zanzar” pela casa, a procura do meu irmão do meio. Sem êxito em achá-lo, fico resmungando alto:

– Droga, ele já deve ter ido pra rua. Deveria nem sair à tarde. – Chego até o quarto onde meu irmão mais novo dorme tranquilamente. – Como ele é um anjinho dormindo. Ainda bem que não acordou ainda, dá tempo de fazer bastante coisa antes de ter dor de cabeça, vou aproveitar e começar meu trabalho semestral, aquele professor é um porre. Se tivesse passado um trabalho mais dinâmico, mas um relatório é sempre tão... – Dou um “eyes rolling”, num descontentamento.

Depois de lanchar decidi não abrir meu facebook, seria tentação demais. Então, sento-me à mesa e começo a fazer meu trabalho. Passam-se alguns minutos e ouço o portão de casa. Minha mãe chega trazendo algumas sacolas de compras, põe sobre a mesa e tira o que comprou. Após por uma panela de pressão sobre o fogão, escutamos meu irmão caçula chamar por ela. Ela vai até ele e eu continuo na batalha por escolher as palavras certas pra usar naquela bendita introdução. Não é difícil, mas é exaustivo e isso já é o bastante pra querer me fazer guardar tudo e buscar outro meio de preencher meu domingo.

Como se algo ou alguém me ouvisse, um vento forte entrou na cozinha, que estava com a porta aberta e trouxe consigo um bilhete que jazia sobre a geladeira. O papel pousa em cima da mesa e eu começo a observá-lo de maneira curiosa. Uma entradas para o Blue River Adventure Park, um parque aquático famoso na cidade pela sua localização, além do tamanho e da variedade de atrações. Ponho a mão no queixo e fito o passe, aspirando ir naquele lugar. Por algum motivo, eu tinha ganhado aquela entrada.

Na verdade, havia sido o ganhador de quatro delas, mas as outras três não estavam mais comigo, porque decidi espalhá-las entre meus amigos. Como o Lucas e o Márcio eram os que mais desejavam se aventurar no parque, eles foram os escolhidos, e de brinde, Lucas ainda levaria a sua namorada, Mylla. Não chamaria aquele prêmio de sorte, pois nunca tive, talvez nunca terei. Sorte? Por acaso isso é de comer?

O que acontece é que as circunstâncias mudam, e como muitos dizem por aí: um dia da caça, outro do caçador.

Pensar naquele passeio seria perca de tempo. Eu preciso a todo custo terminar aquilo, ou começar, ainda. By the way, Lucas e a namorada irão hoje até lá, ainda bem que arrumaram um tempo para desfrutarem do meu presente por mim, já que eu estou até a tampa com trabalhos da faculdade de Design Gráfico e posso atrasar o andamento deles se decidisse ir. Assim que retomo a introdução meu celular toca, olho no visor. Márcio.

– Alô!

– Me diz que você mudou de ideia. – A voz dele parece afobada.

– Sobre o quê?

– Sobre ir até o Blue River Adventure, Peeh.

– Eu não sei, MV... Seria uma baita sacanagem eu deixar esse trabalho pra depois. – Olhou para os rascunhos sobre a mesa, alternando entre eles e o bilhete. – Uma sacanagem comigo e com meu tempo.

– Pelo amor de Zeus, Peeh! – Sim, ele era aficionado por mitologia grega, inclusive por Percy Jackson. Meio-Sangue igual ao Lucas, mesmo assim não deixava de acreditar em Deus. – Não quero ficar o passeio todo segurando vela pra Lylla.

– Huh? Quem é Lylla?

– Af, Peeh! É o ship shaming pro Lucas e pra Mylla. Até parece que não entende disso...

– Agora sim. – Gargalhamos.

MV prossegue:

– Vamos! Você vai mesmo fazer essa desfeita com a gente? Seria bom se resolvesse largar esses trabalhos um pouco e se divertir. Você quase não tem tempo pra nada, a não ser que fique na internet o dia inteiro. – O tom de voz dele acaba parecendo um sermão.

– Acho que hoje não.

– O que está acontecendo? Você sempre gostou de piscinas, praias... Pode falar, ta acontecendo alguma coisa?

– Não! – Retruco no mesmo instante, porém, cedo logo depois: – Ahr, ok, vou contar. Tive outro pesadelo essa madrugada. – Suspiro. – Dessa vez eu estava em uma piscina e haviam vários corpos e sangue por todo lados.

– Espera, deixe-me ver se entendi. Então, você não quer ir ao parque, porque sonhou com várias pessoas mortas em uma piscina?

– Sim! – É tão óbvio assim? – Quer presságio maior que esse?

– Ai, Peeh, foi só um pesadelo como todos os outros. Quer me convencer que foi uma premonição e que o mesmo irá acontecer no Blue River? Desencana, vai! Vai ser divertido, o João também vai estar lá, lembra? Todos nós marcamos de ir juntos. Não deixará de curtir toda aquela beleza do parque só por causa de um pesadelo qualquer, né?

– Pra um Reaper, até que você é bem cético, sabia? – Apesar de achar o MV um chato naquele momento, sei que ele só quer me acalmar. Ele só quer tirar aquele pensamento ruim da minha cabeça.

Afinal, o que pode dar errado? As chances de se morrer em um parque aquático é de um para duzentos e cinqüenta. É mais fácil morrer indo para o Blue River Adventure, do que morrer nele. Acabo rindo do meu pensamento e me decidir, por fim.

– Está bem. MV Wins! Irei me aprontar. – Respondo, por fim.

– Você provavelmente vai de carro, né?

– Sim. – Olho de novo para o bilhete na mesa.

– Onde irá estar, então? Preciso do local exato, por favor.

– No shopping está bom? – Indago, displicente.

– Ótimo! – Nos vemos às 10:30 no South Shopping.

– Its ok. Até lá.

Desligamos simultaneamente.

A mesma rajada de vento, que outrora arrastara o ingresso até a mesa, volta de maneira mais forte e derruba um vidro de ketchup que minha mãe trouxe do supermercado. O objeto cai e se espatifa ao tombar com força no chão, espalhando seus pedaços por todo o piso. Assusto-me, e de imediato, passo a encarar a pasta vermelha se expandir. Parecia até...

XXX

Conversei com minha mãe e ficou resolvido, já que ela não trabalharia naquele domingo (sim, ela trabalha dois domingos “sim” e um “não”), que ela tomaria conta do meu irmão. Estava sossegado e feliz, já que eu iria ao Blue River Adventure, o parque que tanto queria. Não foi a toa que continuei com um ingresso após distribuir os outros. Neste momento estou no Ford Eco Sport do meu pai, a caminho do shopping, procurando uma música que deixasse o momento menos pacato, no meu Ipod. Consegui pegar o carro na oficina sem que meus pais soubessem, e eu daria um jeito de deixá-lo em casa, bastaria pensar um pouco. A bronca não poderia ser tão grande assim.

Sem tirar os olhos da rua, vou alternando as faixas, até encontrar a que eu queria, “Chandelier – Sia”, mas logo ela é alternada aleatoriamente para outra, cujo não foi apropriada pro momento:

“The end is nigh

You go your way and I'll go mine

I guess we'll see who was right

A long goodbye, I'll visit your grave if you see mine

We're all the same here with time”

(O fim está próximo

Você segue o seu caminho e eu sigo o meu

Eu acho que nós vamos ver quem estava certo

Um longo adeus, eu vou visitar o seu túmulo se você vires o meu

Nós somos todos iguais aqui com o tempo)

Letra bastante sutil e curiosa pra situação, parece até que estou prestes a dar adeus a este mundo. Mas apenas uma coincidência bizarra, se não fosse pelo nome da música ser “Deadpool”. Wow! Piscina de mortos? Aquilo tudo me arrepia de forma intensa, deixando os pelos dos meus braços em pé. Passo para a música seguinte, que me acalenta novamente.

Continuo rondando o shopping com o carro e ao lado de minha carteira da motorista falsa. Eu não sei por que aceitei fazer isso. Se arrependimento matasse, estaria morto neste momento. Não vejo o MV em lugar nenhum, onde aquele garoto poderia ter se metido? Eu marquei nesse shopping. Se ele tivesse meu ouvido por um instante, talvez não estivesse demorando tanto. Urgh! Não gosto de esperar, sou a pior pessoa do mundo para esperar algo. Também, vindo de um jovem quase hiperativo, isso não é nenhuma novidade.

Há um minuto em que paro o carro e fico na espera do MV. Se ele se atrasar mais cinco minutos, juro que afogo ele em alguma piscina, quando chegarmos ao Blue River... E foi só eu fechar a boca para vê-lo caminhando na calçada.

Começo a buzinar feito um louco daqueles bem psicóticos, mas ele parece não ligar. Como assim, ele quer que eu mate ele de vez?! Resolvo gritar, em vão. Ele continua aparentando distração. Wait! Acho que encontrei o motivo, há fones de ouvidos impedindo que ele perceba que estou chamando a sua atenção. Buzino novamente e vejo ele tirar os fones e se aproximar do carro.

– Graças a Deus, já era hora. – Murmuro. Ele abre a porta do carro e entra de maneira calma.

– Foi mal, foi mal. Desculpa pela demora. – Se desculpou quase que de forma robótica, mas eu achei que ele não iria pedir perdão por ter me feito esperar tanto. Sabe o que é esperar pra mim? Já sabe, pois bem. Daí ouço ele continuar: – Você nem falou em que parte do shopping estaria. Aí fica difícil, cara.

– Eu falei MV. Você que não ouviu. – Sinto vontade de socá-lo até a cara dele se transformar uma almôndega surrada. – Ah, mas deixa assim. – Concluo.

Márcio põe os fones de ouvido novamente e eu encaro fixamente o penduricalho do retrovisor. É um enfeite de uma festa de Halloween que fui meses antes. Uma caveira, e parecia sorrir diabolicamente para mim. Por que será que nunca observei o modo como essa caveira ri, como hoje? Aparentava até que tudo ao meu redor incitava uma energia ruim. Meu instinto Reaper está quase me fazendo desistir de chegar até o parque aquático.

Se eu chegar até lá.

Por um segundo percebo o MV mostrando um sorriso ao meu lado, mas logo volto a atenção para a rua e dou a partida.

XXX

Logo depois de estacionar o carro e descer do mesmo, eu e MV caminhamos um pouco pelo estacionamento, até chegarmos ao grande portal de entrada do Blue River Adventure Park, que tinha enfeites de variados tipos, incluindo: crustáceos, moluscos e outras coisas mais. Fico observando aquela decoração por poucos segundos, até o Márcio chamar minha atenção para uma pessoa gritando ao nosso lado. A voz não me é estranha, mas quando finalmente encaro a figura humana, porque eu não consigo distinguir se era do gênero masculino ou feminino, não tenho êxito em reconhecê-la. Ou seja, nunca tinha visto mais engraçado na minha vida.

– Que tentar? – MV diz.

– Tentar o quê?

– Ler a sorte, ué.

– Eu não. Vai que ela me lança uma maldição, caso eu não pague pelo serviço. Tô sem muita grana aqui. – Sussurro.

– Não se preocupe, o primeiro serviço é grátis. – A cigana, na qual leio “Madame Tereza” num letreiro pequeno acima de sua tenda, fala de maneira despretensiosa.

Mostro um sorriso torto, depois dela ouvir nosso papo e me aproximo junto do MV, que fica acanhado de início. Foi ele quem me chamou, ora!

– Se eu me arrepender de falar com ela, será culpa sua, cara. – Disparo.

– Quero ver os poderes psíquicos dele... Dela... Que seja!

No mesmo instante em que chegamos próximos os suficientes da tenda, a cigana pede que eu estique o braço, dando-lhe a mão, eu tremo de ansiedade porque realmente acho o dom da clarividência muito intrigante. Sempre achei, e não é agora que eu desistirei da verossimilhança daquela tese só por causa da imagem cômica que Madame Tereza traz.

A cigana fecha os olhos e começa a rodear a palma da minha mão direita com seu indicador. Espero alguma resposta por longos dez segundos, até ela arregalar os olhos de maneira exagerada e ofegar um pouco.

– O que deu nela? – Márcio sussurra pra mim, mas ignoro por estar focado na expressão de pavor de Madame Tereza.

O instrumental medonho ao fundo faz aquela cena ficar ainda mais tensa.

– E então, o que você vê? – Falo impaciente. Já estou com vontade de me soltar e sair bufando.

Madame Tereza permanece estática.

– Agilize, minha senhora. – Arfo cansado daquele joguinho de estátua. – Estamos com pressa.

– Vo-você é desgraçado! – Grita ela de maneira ensurdecedora, largando meu braço e recuando. – Sua energia negativa... Ela é forte demais. Tem algo rodeando você e não é bom. Não é! Não podes entrar nesse lugar com toda essa carga do mal, não pode!

– Nunca imaginei que ela fosse tão chapadona. – MV comenta ao meu lado, tocando meu ombro e pedindo que seguíssemos caminho. – Vem, vamos entrar. Essa mulher não vale nosso tempo.

– FAÇO DESCARREGO SE VOCÊ QUISER!

Dou de ombros e saio rindo.

– Sempre soube que ciganas eram histéricas e um tanto exageradas, mas essa aí passou dos limites. – Olho de soslaio e vejo ela me encarar fixamente.

– Liga não, a maioria das previsões de pessoas assim, desesperadas por atenção, são falsas. Ela só está tentando ganhar seu próprio dinheiro. – Já estamos passando pelo portal do parque.

– Charlatã. – Concluo, entregando meu bilhete ao homem responsável. MV faz o mesmo.

Antes de passarmos totalmente pelo portão, olho para fora e vejo um casal se aproximar da tenda da “clarividente”. Reconheço o rapaz que caminha junto da garota. Felipe Chemim, um idiota que estou comigo e que, logicamente, não vai com a minha cara. Ele também é Reaper, urgh. Ainda bem que ele sabe que esse conflito é recíproco. A partir dali, respiro fundo, inundando meus pensamentos apenas com coisas boas.

Exceto as palavras da Madame Tereza, e seus respectivos pesos sobre minhas costas. Ah, não! Um Reaper paranóico que se preze daria ouvidos a qualquer previsão feita, tendo em vista que faz parte de um fandom onde a franquia de filmes se baseia em premonições. Mas aquela cigana era charlatã demais pra ocupar minha cabeça com isso. MV com certeza também não havia acreditado. O que era bom, menos um Reaper paranóico pra ficar impressionado com ela. Como ele disse, ela só estava desesperada por atenção.

Tudo que tenho que fazer é esvaziar a mente e aproveitar o dia!

XXX

O Blue River Adventure Park realmente parece ser um sonho, um verdadeiro paraíso. Além da imensidão colorida de tobogãs, piscinas e pessoas, muitas pessoas, por sinal; ele abriga o segundo maior número de atrações da América Latina, perdendo apenas para o famoso Beach Park. Caminho ao lado do meu amigo, procurando o restante do grupo, formado pelo João, Lucas e sua namorada, Mylla. Não vejo nenhum deles ainda.

Andamos mais um pouco entre as diversas etnias, idades e aparências das pessoas que circulam por ali, enquanto tentamos de várias maneiras encontrarmos os outros.

– Acho que vou mandar um sms pro Jo. – Estou referindo-me ao João. Olho para o lado e percebo que estou falando sozinho, pois não vejo nenhum sinal do Márcio.

Poxa, ele estava aqui faz um segundo. Onde ele se meteu? Agora ele entrou para a lista de procurar... Arg! Mais um pra ser localizado. Muito obrigado, MVaselina, porque mais escorregadio que ela, só você mesmo.

Primeiro um “Eyes Rolling” e logo em seguida, estou a caminho do vestiário. Antes de chegar ao lugar, olho para as atrações que estão dispostas mais próximas de mim e dou de cara com o Red River Valley, que é um toboágua baixo, aberto e que vai suave e com pouca velocidade; outro também que está perto é o Final Destilation, no qual eu rio quando pronuncio por ser parecido com “Final Destination”, coincidência estranha essa. Outro que não está longe é o famoso Green Hype, o maior de todos os tobogãs, sendo verdadeiramente um tubo extenso e verde, no qual é possuidor de um escada quase infinita. Farei questão de ir nele, depois que encontrar os desaparecidos.

Já na frente do vestiário, noto que o número de pessoas em volta de mim aumenta, e já não consigo ver praticamente nada depois dela. De onde saiu tanta gente? Isso me sufoca pra caramba. Resolvo me afastar até um quiosque que encontrei ali, onde posso sentar e mandar o sms pro Jo.

Assim que chego e me aconchego, mando uma mensagem para o Jo e também para o Lucas, avisando que estou em um quiosque vizinho ao Tubo da Morte. Enquanto aguardo a chegada deles, peço um suco e olho para um monumento em forma de estrutura grega, que possui várias tubulações e canos ao redor das pilastras de mármore. Tem também o que parece ser um aquário e fios de borracha. Bem no seu centro há uma grande chave e uma bomba, que claramente bombeia água para todo o parque aquático.

Sinto um arrepio na nuca, depois de olhar aquele monumento em forma de templo grego. A partir daí começo a observar as pessoas que passam. Vejo uma garota ruiva com um piercing rindo ao lado de uma amiga, vejo um casal peculiar de namorados indo até uma piscina, onde o rapaz usa um calção de patinhos e a moça tem um sorrisão muito bonito, mas não é nada muito claro, já que ali já tem muita gente transitando, tido não passa de borrões e vultos, pois elas estão se locomovendo a todo instante.

De repente, Jo chega e me cumprimenta.

– Esse montão de gente me deixa sem ar. – Comenta ele .

– Eu te entendo, pode apostar. – Sorrio e vejo que o bartender trouxe meu suco.

– Onde está o casal que você vai me apresentar? – Jo indaga. – Nossa, por um segundo achei que tivesse visto o MV aqui com você, a propósito, onde que ele ta?

– O Lucas e a Mylla já devem estar vindo pra cá, mandei uma mensagem pra ele também, avisando que estou nesse quiosque. Você está vendo coisas. O MV sumiu do nada, deve ter ido dar uma volta. Só espero que ele nos encontre antes de partirmos pra algum dos brinquedos.

Lucas e MV apareceram quase que simultaneamente, mas o primeiro antes do segundo. Todos nos cumprimentamos, e então outros Reapers aparecem. Na verdade, outros garotos também vieram junto deles, todos quase no exato mesmo segundo, porém, até então não noto a presença deles. Entre eles estão João Victor e o babaca do Felipe. Ninguém estava acompanhado, aparentemente. Encaro o Chemim com uma cara de “quem te chamou?” antes dele sentar em um banco próximo. João Victor e MV fazem o mesmo, enquanto Lucas e Jo permanecem de pé.

Um celular toca. Jo atende e começa a conversar com alguém, ao que tudo indica a garota se chama Laís. Olho para o lado e vejo MV vidrado no movimento das pessoas que passam pelo local. João Victor vira-se para o bartender, pedindo um refresco de laranja. Lucas tira uma foto e passa a esperar alguém, decerto Mylla, pois ele chegara sozinho.

Algo toca meu ombro e viro-me na direção do mesmo. Avisto Felipe olhar pra mim com uma expressão de desinteresse. Ele provoca:

– Como ta sua vida estudantil, Peeh? Continua turbulenta como sempre foi? Ah, espera, acho que está mais calma, por que... Eu fazia dela um inferno, né?

– Cala a boca, Chemim. – Cortei logo, antes que aquela conversa fluísse da pior maneira possível. – Aqui está cheio de rapazes, porque não pega um deles e vai dar um passeio? – Olho malicioso, enquanto dou uma gargalhada.

– Fique você sabendo que estou muito bem com a Marina, querido. Agora se corta, falou?

– Bem, o problema é seu. – Pisco e ergo do banco. – Cansei de ficar aqui parado, quero brincar. Quem vai?

MV, Lucky e Jo erguem as mãos, assentindo. Depois de parecer indeciso, João Victor olha pra gente com semblante apático. Cruzo os braços esperando a decisão do garoto, já que Chemim deixou bem claro que não iria conosco. Por um lado era chato, porque eu queria que todos fossem, mas ele é quem sabe. Nunca fui com a cara dele mesmo. MV toma uma atitude, anda até o João, passa o braço pelo ombro dele e murmura palavras animadoras:

– Vamos, Jota, vai ser legal. Tira essa cara de impassível e vem se divertir! – MV ergue-o do banco e puxa-o na nossa direção.

João Victor mostra um sorriso torto e assente diretamente pra ele. Até que enfim, só o MV mesmo pra ter paciência pra animar alguém com tanta apatia como o Jota Vê nessas horas.

Antes de sairmos do quiosque, vejo uma espessa fumaça saindo da construção que lembra um templo grego, a mesma responsável por armazenar a bomba do Blue River Adventure. Apenas um piscar de olhos e um dos canos laterais explode com força, jogado projéteis de seu revestimento contra algumas pessoas que passam no local no exato momento.

Apenas isso pra começar um terror irreversível.


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Notas finais do capítulo

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