Premonição Chronicles escrita por PW, VinnieCamargo, MV, SamHBS, Felipe Chemim


Capítulo 12
Capítulo 11: Armadilha


Notas iniciais do capítulo

Escrito por MV.

Links para as músicas apresentadas no capítulo:

Summertime Sadness - Lana Del Rey
https://www.youtube.com/watch?v=nVjsGKrE6E8

Fire Meet Gasoline - Sia
https://www.youtube.com/watch?v=RB5o0Dh3_iU



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Já caía a noite.

O barulho das sirenes ecoava por toda a rua, antes deserta, onde o motel se localizava. Ambulâncias e viaturas, misturadas com muita conversa, faziam daquela rua um local infernal. No meio daquele barulho, estava um carro.

Márcio suspirou, levando as mãos ás têmporas. Ele estava naquele carro já uns vinte minutos, esperando Pedro chegar, sentado no banco de trás. O banco do carona era ocupado por Victorya, ou simplesmente Vic, que também aparentava estar desconfortável com tudo o que tinha acontecido. Algo que ele nunca mais gostaria de lembrar.

Aquelas últimas horas foram de tensão, e muito terror. Desde o momento em que ficou preso no armário (se não estivessem em situação crítica, Márcio tinha certeza de que Pedro ia dar um jeito de zoar com a cara dele), até aquele momento do carro, se passaram tantas experiências, que ficariam presas na sua mente para sempre. Quando o espelho desabou sobre Lucas, matando-o, ele simplesmente não conseguiu ver o que tinha acontecido num primeiro momento. Quando viu o estrago que a morte fizera no corpo do amigo, ele sentiu algo brotando dentro de si. O medo em sua forma mais pura. O medo da morte.

Se mesmo com as mortes de Keth e de Guiby, MV estava meio descrente, não querendo acreditar com o que estava acontecendo, depois do que ocorreu naquele motel com Breno e Lucas, ele tinha certeza de que a ceifadora estava realmente atrás deles. E então tinha a lista, maldita lista! Pedro não sabia a ordem exata das mortes, e isso só piorava. Poderia ser qualquer um o próximo, inclusive ele.

– MV? – Vic falou, vindo do banco da frente.

– Vic, o que foi?

– É isso né? Isso vai acontecer com a gente também... – Ela se aproximou da janela, ainda meio embaçada. – Eu não estou pronta pra morrer.

MV abaixou a cabeça, e murmurou, mais para ele do que para Vic.

– Ninguém está pronto para morrer... As pessoas simplesmente... Morrem.

– A diferença é que essas pessoas não estão marcadas para morrer, como a gente. – Vic respondeu. – Quando eu vi o espelho caindo... Foi... – Ela apertou os olhos, querendo cada vez menos lembrar-se da cena. – E não adianta você falar que nós vamos vencê-la, porque ninguém venceu a morte nos filmes. Isso vai ser diferente com a gente?

Naquele momento, a porta do carro abriu, e Pedro entrou no carro. Pouco depois, o carro já estava em movimento, cada vez mais fugindo daquele cenário de morte, enquanto o carro mantinha-se em um silêncio sepulcral, como se estivesse de luto pela vida dos que foram, e dos iriam a seguir.

– Pedro... Eu sei que não é meio... Adequado o momento, mas... Quem é o próximo? – MV perguntou. Tinha feito essa mesma pergunta antes, mas o clima era totalmente diferente de agora.

– Não sei, MV. Se tivesse algo que pudesse me ajudar... – Pedro falou, e olhou para Vic.

– O que? Quer que eu faça aquela experiência de novo? – Vic perguntou.

– É, poderia ser... Mas...

– PEDRO OLHA PRA PISTA CARALHO!

Na frente do carro deles, estava um cachorro que já estava sendo iluminado pelos faróis do carro. Pedro subitamente freou, buzinando simultaneamente e foi tão forte a freada que tanto Vic quanto MV foram jogados para a frente, enquanto os pneus cantavam. A pista escorregadia fez quase o carro derrapar, mas isso não aconteceu. Quando parou, Pedro arfou. Vic e MV olharam simultaneamente para ele. A primeira pergunta foi de Vic:

– Nós... Éramos os próximos? – Vic falou ainda assutada.

Antes que Pedro pudesse falar qualquer coisa, uma sombra apareceu tentando pegar o cachorro. Quando iluminada pela luz do farol, Pedro finalmente percebeu quem era.

Felipe.

Naquele mesmo instante, o garoto percebeu quem estava dentro do carro, e lançou um olhar repleto de ódio para Pedro. Aquele olhar perfurou de certa forma o garoto, que retribuiu com um olhar semelhante. Já tinha soltado o cinto que o segurava, e estava prestes a abrir a porta do carro para tirar satisfações, quando Vic colocou a mão sobre seu ombro.

– Não vai, Pedro. Deixa ele.

– Mas, você sabe quem é ele? Esse é o cara que destruiu minha vida escolar, e esse cara ainda tentou matar a gente! – Pedro gritou, alterado.

– Tudo bem, tudo bem. Ele é. – Victorya respondeu. – Mas relaxa. Ficar procurando encrenca não vai ajudar.

– Eu concordo com a Vic, Peeh. – Márcio respondeu. – Deixa o Chemim em paz. O cara já perdeu a namorada, e ficar procurando encrenca não vai ajudar ele nem você.

Pedro deu um suspiro final, e continuou. Márcio encostou no banco de trás, e ficou olhando as luzes da cidade passarem através dos seus olhos. Pedro havia prometido levar o amigo até sua casa, e depois Vic. Era um ótimo gesto mesmo. Mas enquanto observava as luzes passando diante de seus olhos, Márcio estava pensando em coisas totalmente diferentes. Pensando na morte.

O quase-acidente que ocorrera por conta do cachorro de Felipe poderia ter muito bem sido um acidente, que vitimaria os três, mas este não aconteceu, por intervenção de Pedro. Então, uma teoria surgiu na mente de Márcio: e se Vic e ele fossem destinados a morrer naquele acidente? Isso poderia fazer com que ele e a garota fossem jogados para o final da lista. Inicialmente, ele incluiu Pedro, mas nos filmes o visionário sempre morria por último, e como ele vira a morte de todos, isso só poderia indicar que ele não morreria no famigerado acidente. Mas quanto mais ele queria acreditar nessa teoria, mais tinha certeza de que aquilo foi apenas coincidência, ou obra do destino.

O destino.

– Tá entregue, MV. – Pedro falou, tirando o garoto dos seus pensamentos aleatórios.

...

– Bia, eu já te falei do que aconteceu com o Jaguar... – João Victor falou. – Acidentes... Eu nunca ia pensar que um pedaço do tobogã ia atingir o carro em cheio.

– Eu sei, eu sei... Mas eu preferia o Jaguar.

– É um BMW. Para de reclamar. – Ele falou, olhando para a pista novamente.

Beatriz colocou a mão sobre algo pendurado abaixo do espelho. Parecia um colar, com alguma figura que ela jurava já ter visto. Curiosa, perguntou:

– O que é isso, João?

– Peraí Bia, o que foi? – Ele perguntou, logo dizendo o que era depois que Bia apontou com o dedo do que ela estava falando. – Ah, esse é o tordo do “Em Chamas”, Bia. Não lembra que você foi ver comigo na estreia?

– Ah... Sim, sim. -Beatriz sorriu. – Tô meio lerda hoje.

João sorriu.

No dia do acidente, João Victor tinha ido ao parque juntamente de Bia, sua namorada, mas eles acabaram por se separar no meio do parque, e João acabou encontrando seus amigos Reapers. Então houve todo o ataque de Pedro, e ele foi um dos 13 sortudos que conseguiu sair a tempo de tudo explodir. Mas então ficou preocupado por Bia, que estava no interior do parque no momento em que tudo aconteceu. Felizmente, a garota saiu sem nenhum arranhão.

Seguindo seu pensamento, a morte deveria vir buscar cada um daqueles que estavam na hora do acidente,e isso de certa forma assombrou o garoto. Mas os dias passaram, e não ficou sabendo de absolutamente nenhum acidente, ou coisa do tipo envolvendo os sobreviventes. Temia que a lista tivesse começado, mas esse pensamento foi quase apagado, visto que nada tinha acontecido nesses últimos dias. Mas claro, havia o caso de FD1, onde os acidentes só começaram depois de um mês... Mas os outros deveriam manter contato, o que não tinha acontecido. Preferia acreditar que estava e continuaria tudo bem.

Naquela manhã clara, João estava levando Beatriz, sua namorada, para a sua casa, que era do outro lado da cidade. A garota havia passado a noite em sua casa, e agora o rapaz estava incumbido de levá-la até sua casa, que ficava bem longe do condomínio rico onde morava, ainda com os pais, que estavam fora tratando de negócios. Mas ao contrário do que poderiam pensar, João não era um típico filho de rico, e odiava algumas pessoas semelhantes a ele em situação monetária pela mesquinhez das mesmas.

...

Márcio estava sentado na guia, próximo à pista de corrida, respirando ofegantemente, ao fim do treino matinal. Esse treino dos sábados fazia um efeito imenso sobre o garoto que persistia no objetivo de vencer a corrida de aniversário da cidade, que iria ocorrer na semana seguinte. Mesmo com os terríveis eventos que se abateram sobre o parque aquático da cidade, a corrida não foi cancelada. Afinal, era aniversário da cidade.

Os treinos também tinham sido abalados pela morte do melhor atleta do grupo, Fabio. Eles tinham retornado um tempo depois, mas sem a mesma intensidade de sempre. Parecia que com a morte do atleta, o grupo decaiu. O que não aconteceu com MV, que continuava persistindo. O troféu era seu objetivo.

Mas como Márcio já era paranoico antes mesmo do acidente acontecer, e agora, agravado pelo insignificante fato de estar sendo perseguido pela morte, ele se tornara extremamente paranoico, enxergando sua morte em tudo. Só quando desligava disso é que conseguia ir bem nos treinos.

Quando foi pegar seu lanche, MV sentiu seu celular vibrando, e viu o nome na tela de chamada.Peeh.

– Oi Peeh. Fala. – MV falou.

– MV, que bom que atendeu, não sabia se conseguir, mas então... – Pedro disse algo, mas soou inaudível porque uma música estava tocando ao nível máximo na casa de Pedro. Chandelier, claro.

– Abaixa esse som! – MV gritou. – Não tô escutando!

– Pronto! – Pedro gritou. – Agora tá me escutando?

– Não precisa gritar que eu não sou surdo, criatura!

– Whatever. Então, como eu ia dizendo eu descobri quem é o próximo da lista... Preciso que você venha aqui agora. Nós temos que ir atrás dessa pessoa logo, antes que a morte pegue mais um.

– Mas... Eu? – MV perguntou.

– Cara, você já embarcou nisso comigo, e você foi a primeira pessoa que me veio a cabeça... Nós precisamos ir logo, MV. Por favor. – Apesar de ter dito “por favor” no final, Márcio não sentiu a impressão de que aquilo era um pedido. Era quase uma obrigação.

Um eyes rolling básico, e então ele finalmente disse:

– Você está me convidando para salvar uma pessoa? Isso é sério?

– Exatamente o que fiz ontem. – Pedro respondeu na mesma hora, dando uma “patada” em Márcio.

– Tá bom, tá bom. – Ele falou. – Me dá alguns minutos e chego aí. Sua casa não é tão longe daqui.

...

– Se acalma Peeh. – Victorya falou. – Quem foi que você viu que era o próximo?

– Eu não vi,Vic. Esse é o problema. Eu falei pro MV vir aqui, e eu nem sei quem é o próximo... Eu esperava que você pudesse ajudar.

Ambos estavam na casa de Pedro, esperando MV chegar. Victorya era vizinha de Peeh o que ajudou muito.

Vic deu um suspiro, e começou:

– Tá bom. Fique calmo, feche os olhos e pense na sua visão.

Naquele momento, Pedro fechou os olhos e focou-se na sua visão. Enquanto as palavras de Vic entravam em sua mente, ele tentava se lembrar da sua visão.

Keth e o balde de água.

Guibson cuspindo sangue.

Breno sendo atingido pelo destroço.

Lucas caindo do tobogã.

Uma confusão generalizada começou a tomar conta da mente de Pedro, e ele viu MVe João Victor correndo, junto com seu outro eu, e viu uma mulher em chamas. Viu João Victor correndo atrás da mulher na lanchonete e tudo explodindo diante dos seus olhos. Era ele. Ele era o próximo.

Mas dessa vez, Pedro não conseguiu se libertar do sua visão tão facilmente quanto da outra vez, mesmo sabendo que era o próximo e acabou vendo uma pessoa voando na direção da ponte. Quando reconheceu quem era, Pedro finalmente acordou ofegante.

– Você viu? – Vic perguntou. – E então, quem era?

– Eu tinha encontrado o MV e o João Victor... Daí aconteceu uma explosão e o João morreu.

– Bingo! Então descobrimos o próximo! – Vic sorriu, mas seu sorriso sumiu um pouco quando viu o rosto de Pedro, ainda envolto em terror. – O que aconteceu, Pedro?

– Depois do João... Uma pessoa acabou sendo jogada de um brinquedo... E acabou sendo atingida por algumas estacas soltas numa ponte e...

– Que brinquedo era esse, Peeh? - Vic perguntou.

– O SuperSpiral.

Victorya ficou paralisada de medo naquele momento, enquanto seus pensamentos a levavam para aquele dia no parque. O SuperSpiral... O SuperSpiral... Eu ia entrar nesse brinquedo quando o Pedro teve o ataque. Será que...

Ela já estava quase chorando, com todo o seu corpo tomado pelo medo, quando Pedro olhou para ela com pena, e confirmou com a cabeça os seus maiores temores. Depois que a morte se encarregasse de despachar João ou não, ela era a próxima.

...

– Márcio, entra, entra. – Peeh falou.

– Oi, Pedro. Vamos direto ao assunto. Fala de uma vez, quem é o próximo? – MV falou, levando as mãos á boca, num ato de desespero.

– Relaxa cara. Não é você. É o João Victor, precisamos falar com ela urgentemente. Tem o telefone dele?

Márcio deixou a boca aberta por alguns instantes, como se pensasse qual mentira contar.

– Tá, já entendi. Será que ninguém tem o telefone dele? – Peeh falou, passando as mãos sobre a cabeça.

– Acho que o Vini pode ter. Tipo, porque ele tá mais tempo no fandom de Premonição que a gente, e o João já é antigo nesse fandom... Se não me engano, os dois já se conheciam, então...

– Então vamos ligar pro Vinicius, droga! – Victorya falou. – Ah, oi MV.

MV percebeu que a voz de Vic estava diferente do normal, parecia meio embargada, enquanto seu rosto denunciava que a garota tinha chorado. O porquê ele não sabia, mas tinha um leve palpite. Victorya era uma das próximas.

Pedro discou o número de Vinicius no seu celular, mas o resultado foi caixa postal. Não só uma vez, quanto duas, três vezes.

– Ele não atende!

– Sabe onde é casa dele, Pedro? Vamos pra lá. – Vic respondeu.

– Mas ele pode não estar em casa, Vic. – MV respondeu.

É, isso era verdade.– Pedro pensou, mas mesmo com esse pensamento, ele respondeu:

– Não custa tentar. Vamos de carro pra lá. – Pedro falou.

...

João Victor acabara de deixar Beatriz em casa, e tinha um longo caminho para seguir até sua casa, mais ou menos uma hora. Mais uma hora preso naquele carro.

Naquele momento, decidiu por ligar o som do carro. Colocou o primeiro CD que achou: Born to Die de Lana Del Rey.

A primeira música do CD começou a tocar, e João Victor achou incrivelmente irônico que a primeira música tenha sido exatamente Born to Die. As lembranças do clipe voltaram a sua cabeça, e ele não deixou de achar isso um pouco irônico. O clipe terminava com um acidente de carro. E ele escutava a música num carro.

Pare com isso. Menos, João, menos.

Parou em um sinal, e olhou para o lado. Uma mulher gorda estava no banco do carona do carro ao lado, passando batom. João Victor sentiu vontade de rir, por ver aquela cena que era normal para ela, mas de certa forma ridícula. O carro avançou, e a mulher acabou deixando cair o batom no meio da rua, que saiu rolando pela mesma. João Victor não deixou de estar intrigado com a cena, e então ouviu uma buzina vinda de trás.

Era um ônibus, alertando que o sinal já estava aberto.

Ele acelerou enquanto Born to Die continuava a tocar.

...

MIIIIIIIIIIIIIAAAAAAAUUUUUUUUUUUUU!

Vinicius abriu os olhos, piscando. A primeira visão diária que tivera foi de um... Gato?!

– Hã...

O gato miou de novo, dessa vez mais forte, fazendo Vini espantar qualquer resquício de sono que teria. Ele se sentou, e tentou passar a mão no gato que desviou. Logo depois ligou o celular que estava no criado-mudo ao lado.

– Bill!

Ele miou de novo. Por que aquele gato estava tão impaciente com ele? Vinicius não conseguia entender a linguagem dos gatos, mas Bill deveria achar que sim. E então, lembrou-se do que deveria ser.

– SUA COMIDA BILL!

Vinicius levantou-se da cama como um foguete, correndo atrás da comida de Bill. Abriu a porta da despensa, entrando dentro do local escuro, e começou a procurar o pacote de ração, enquanto o gato continuava á porta, miando. Achou a ração na prateleira mais alta, e se esforçou para pegar. No pior momento, pensou na morte que poderia estar formando algum plano para matá-lo através das prateleiras.

Mais uma coisa perigosa que esquecera de proteger. Vinicius suspirou, e rapidamente pegou o pacote de ração.

Bill miou mais uma vez, enquanto Vini saía da despensa.

– Sai daqui. Já vou colocar comida pra você. – Vinicius falou, empurrando o gato para o lado com o pé.

No momento em que colocava a comida pro gato, o celular do garoto tocou vindo do quarto, e então saiu correndo. No visor dizia: Pedro.

– Fala Pe Lanza.

– Vini, ainda bem que você atendeu. Cara, estamos indo pra sua casa...

– Mas por que? – Vinicius gelou. Será que ele era o próximo?

– Não, não é sua vez. Mas a gente precisava do telefone do João Victor. Ele é o próximo á morrer, e ninguém tem o telefone dele. Já que você já conhece ele...

Vinicius não deu tempo para Pedro falar.

– Ter eu tenho sim, mas já que vocês tão vindo pra cá, então, ficaria melhor irmos até a casa dele. Eu sei onde é, daí eu vou pra lá com vocês, ajudar nisso.

– Na casa... Dele?

– Cara, vocês já estão de carro, que custa ir até lá? Já que vocês vêm até aqui, não adianta vocês mudarem a rota agora.

...

O carro de Pedro acelerava em meio ás ruas da cidade, indo atrás da casa de João Victor. O carro pequeno já estava quase estourando com quatro pessoas dentro. Pedro dirigia, Vini dava as coordenadas, Vic estava imersa nos seus pensamentos.

E Márcio não parava de reclamar.

– Cara, vai mais devagar! Calma!

– MV, calma é o que a morte não tem. Tu sabe disso. – Pedro falou.

– Mesmo assim. A gente quase morreu ontem por causa...

– Do cachorro do maldito do Felipe! - Ele retrucou.

– Pedro, será que você pode pelo amor de Deus se concentrar? – Vinicius falou. – Daqui a pouco você perde o lugar que é pra virar!

– Então pede pro Márcio calar a boca! – Pedro falou.

– Eu calar a boca? Mas é verdade!

– Vocês dois, parem caralho! – Vinicius falou. – Vão brigar em outro lugar, não aqui!

– Será que vocês não percebem que estão perdendo o controle? – Victorya falou, saindo do seu silêncio. – É isso que ela quer. Quanto mais perdermos o controle, mais iremos nos separar. Aí fica mais difícil de salvar uns aos outros. Temos que nos manter unidos e se vocês começarem a ficar brigando, fode para todo mundo!

Era incrível a capacidade de apenas uma garota calar a boca de três marmanjos. Parecia algum poder que Victorya exercia sobre os homens, como se eles estivessem sendo controlados pela garota.

– Ótimo, agora vamos focar no próximo.

Ela olhou pro rádio do carro, com o pen drive de Peeh colocado na entrada USB.

– E eu acho que ouvir uma música pode ajudar.

...

Felipe estava andando a esmo pelas ruas da cidade, um hábito que adquirira depois da morte de Marina. Ele ainda não tinha superado o terrível fim que a garota tivera.

Mas não deixaria isso impune, e tinha certeza absoluta disso. Se dependesse dele, o Pedro já estava a sete palmos do chão.

Passou um quarteirão, e parou. Na sua frente, ocorria um feirão de automóveis, algo extremamente temido por ele. E muitos perguntavam: por quê?

A resposta olhou para ele sorrindo. Um palhaço.

Felipe tinha coulrofobia, ou melhor, fobia de palhaços. Muitas vezes as pessoas ridicularizavam o garoto pelo seu medo, considerado por muitos irracional, idiota e bobo. Mas não era para o garoto. Era simplesmente pavor.

Certo dia, uma pessoa vestida de palhaço fez uma palestra em sua sala, por quase uma hora, e Felipe teve de ficar na sala. Ele praticamente teve um ataque de fobia, e não conseguiu voltar para a aula por muito tempo, passando muito mal, com uma dor de cabeça infernal e além disso, o garoto ainda ficou paralisado. Uma verdadeira loucura, que para muitos era apenas bobeira.

Naquele momento, ele ficou paralisado por um certo momento, até que deu meia volta para trás, suando frio.

...

I’m feelin’ electric tonight

Cruising down the coast goin’ ‘bout 99

Got my bad baby by my heavenly side

I know if I go, I’ll die happy tonight

Oh, my God, I feel it in the air

Telephone wires above are sizzling like a snare

Honey, I’m on fire, I feel it everywhere

Nothingscares me anymore

João Victor estava totalmente impaciente. Já estava chegando na sua casa, mas um sinal fechado em um cruzamento, o impediu.

Ele suspirou mais uma vez, enquanto o sinal do outro lado da esquina abria, mas nenhum automóvel passava, mesmo estando fora do campo de visão do garoto.

De repente, o tordo de Em Chamas que estava pendurado, começou a se mexer num balanço ritmado como se algo estivesse acontecendo. Ele colocou a mão para impedir.

...

Pedro estava dirigindo, até o momento que teve que parar por conta de um sinal fechado, ainda longe do sinal. Estava observando o sinal, enquanto Vic, MV e Vine conversavam entre si. De repente, sentiu um calafrio e gritou.

Márcio que estava sentado no banco atrás do garoto, num movimento instintivo, já chegou perto do garoto e perguntou: O que foiPeeh?

Apesar de que ele já sabia a resposta, e temia que o que ele respondesse fosse o que pensava.

Victorya abaixou o volume do som para deixar Pedro falar, ainda ofegante.

– Eu vi... Eu vi... Eu vi... Era algo quente, muito quente, era puro fogo... Mas o fogo parecia cair de alguma direção, e então teve uma luz gigantesca que ofuscou tudo, e algo brilhando como se fosse... Metal...

– Precisamos ir até a casa do João agora! – Vinicius falou. – Hey, passa pra faixa do lado, tá vazia. Vamos ganhar um pouco de tempo.

O sinal finalmente abriu, e Pedro saiu voando pela rua. O sinal do próximo cruzamento ainda não tinha aberto, e o carro fez de tudo para ganhar cada vez mais espaço entre eles.

Um pouco antes de abrir o sinal do cruzamento, Pedro ouviu uma buzina. Olhou para a frente e viu um carro acelerando no sinal vermelho. No mesmo momento, um vento gelado entrou no carro dos quatro.

O barulho do impacto foi iminente.

Um ônibus veio na direção exata do carro, produzindo um impacto terrível que atravessou os ouvidos dos quatro que estavam ali. O carro saiu capotando até bater num poste de luz do outro lado da rua. Os cabos tremeram.

O sinal finalmente abriu, mas ninguém andou. Pedro saiu do carro, seguido de MV e Vinicius e se aproximaram do acidente, assim como a maioria das outras pessoas no interior dos carros.

– Será que... – Vinicius começou a dizer.

– Não. Não. Não. – Peeh falou.

– Ai caramba. – MV respondeu.

O carro estava capotado e parado de cabeça pra baixo, então era possível ver o ocupante do interior do carro. João Victor. Os vidros tinham sidos todos esmigalhados, e o garoto estava caído dentro do carro, sangrando e provavelmente desmaiado.

João Victor finalmente abriu os olhos.

– Rápido, vêm me ajudar aqui! – Vinicius falou.

Mas antes que pudessem fazer qualquer coisa, o poste de luz desabou sobre o carro de João, e junto dele, os cabos da fiação vieram abaixo. Os três conseguiram desviar do estrago feito, mas João que estava no interior do carro, ficou ainda mais preso nas ferragens.

...

Dentro do carro destruído, João Victor sangrava enquanto tentava gritar. Mas não conseguia, o terror era tanto que travara sua boca.

Não devia ter passado no sinal vermelho, e agora estava preso nas ferragens de um carro. Subitamente, a ceifadora veio a sua cabeça. Será que... Será que era sua vez? Vira MV, Vini e Peeh do lado de fora, mas... Será mesmo? Ele tentava manter alguma esperança de que poderia sair vivo dali, mas agora nem a luz do sol conseguia ver. Estava totalmente preso nas ferragens.

Se for sua vez, havia caído na armadilha da morte.

– SOCORRO! – Gritou. Não sabia se conseguiriam escutar seus gritos fora dali, mas não custava tentar, mesmo com o carro reduzido a diversas ferragens amassadas por um poste de luz

Foi quandopercebeu que algo ainda reluzia acima dele. O tordo que ainda balançava num terrível e mortal ritmo.

– Não... não... não, por favor...

Os cabos do lado externo já tinham produzido faíscas, bem em cima da gasolina que saía aos montes do carro, estando totalmente embebido pela mesma. Pedro, Márcio e Vinicius tentavam fazer alguma coisa, mas era praticamente impossível. O perigo era imenso.

Então, as faíscas finalmente encontraram a gasolina, produzindo um efeito avassalador.

Naquele momento, o tordo de “Em Chamas” caiu. E tudo ficou em chamas.

João gritou pela última vez, enquanto o fogo entrava por dentro do carro queimando tudo o que via pela frente, inclusive o garoto, que sentiu seu corpo ser incendiado, literalmente. Uma terrível dor prosseguiu por todo o seu corpo, fazendo bolhas brotarem e a carne descascar e apodrecer imediatamente. Sua cabeça também estava em chamas assim como todo o carro, e ele não conseguiu respirar pela última vez, antes de abandonar seu corpo em meio á dor.

...

A explosão levara os três garotos para o chão, e agora observavam atônitos o fogo se espalhar.

Márcio não pode conter o medo, que reapareceu mais forte do que nunca. Sentira aquilo no dia anterior com o espelho desabado sobre Lucas, mas aquilo era mais nojo do que medo. Aquilo era um medo verdadeiro, que o consumia por completo, assim como o fogo consumiu o carro e o corpo de João. Olhou para o lado, e viu Vinicius respirando ofegantemente, e ele retribuiu o olhar de medo. Justo eles, que eram fãs fervorosos de uma série de filmes de terror, vivendo o terror real de uma série de filmes.

Mas Pedro era com certeza o pior. Márcio tomara conhecimento de que ele vira o final de Guibson, de Breno, de Lucas e agora, de João. E ele devia estar em cacos por dentro. E estava mesmo.

Pedro não conseguia expressar uma palavra para o que acontecera. Assim como nos destinos finais dos outros, o medo tomara conta do garoto, que agora estava pensando exatamente em como o final dele deveria ser.

Eletrocutado.Esmagado.Decapitado.Empalado.Carbonizado.

O terror tomava conta dele.

Quando virou na outra direção, viu que existia outra pessoa conhecida olhando o incidente, ainda ofegando. Felipe Chemim. Ele olhou para Pedro novamente, e o garoto percebeu que a lista estava acontecendo.

No interior do carro, lágrimas desciam pelo rosto de Victorya. Ela era a próxima, e sabia disso. Ela seria a próxima a ter um terrível destino como aquele que João Victor tivera. Que Kethellen, Guibson, Breno e Lucas tiveram.

No rádio do carro de Pedro, uma música tocava.

Flame, you came from me

Fire meet gasoline

Fire meet gasoline

I’m burning alive

I can barely breathe

When you’re here loving me

Fire meet gasoline

Fire meet gasoline


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Notas finais do capítulo

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