Alizée et Chermont escrita por Velvet


Capítulo 6
Six


Notas iniciais do capítulo

Oiê, tá aí o capítulo do ponto de vista do Chermont, várias revelações, várias revelações.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/525826/chapter/6

Passei em casa rapidamente para trocar de roupa antes de ir para aquele compromisso arrastado, se eu aparecesse lá com as roupas que eu usava normalmente, era capas que ela cortasse meu dinheiro.

Vesti uma calça de alfaiataria bege e uma camisa branca, embaixo de um blazer azul marinho bem talhado, e os sapatos italianos que eu odiava, porque mesmo sendo incrivelmente confortáveis, me davam um ar sério de quem usava sapatos feitos sob medida.

Olhei-me no espelho e vi que meus cabelos estavam bagunçados, mas só os penteei com os dedos, sem me dar ao trabalho de tentar tirar as mechas do rosto e peguei meu óculos de sol e a carteira antes de sair do apartamento, me afundando dentro do sóbrio sobretudo preto que eu raramente usava.

Peguei um táxi para Champs-Élyséese e quando o taxista parou em frente ao endereço, ao norte da avenida, encarei a mansão onde eu vivera até alguns anos atrás, enquanto os seguranças conferiam quem estava no carro e se havíamos autorização para entrar, quando eles abriram os portões e o carro avançou pelo caminho ladeado por begônias e rosas, já estava afundado em pensamentos amargos.

Dei uma boa gorjeta ao taxista enquanto descia do carro e conferia se estava atrasado, mas eu havia sido pontual. Eu quase medi para que o mal humorado taxista me levasse de volta, mas me limitei a encarar o carro dando a volta e voltando pelo caminho longo até o portão.

A porta da opulenta mansão foi aberta às minhas costas e eu me virei, o mordomo me fazendo um gesto servil para que eu entrasse. Ele tomou meu sobretudo sem uma palavra e eu esperei no lobby por Amelie ou algum empregado que me levasse até onde ela estava. Mas tudo que eu conseguia pensar era rápido e indolor, por favor.

Uma senhora de terno veio me buscar e fez sinal para que eu a acompanhasse, eu não conhecia ela, devia trabalhar aqui há pouco tempo. Não estranhei que ninguém tivesse dito uma palavra ainda, o silêncio era o que sempre predominara nessa casa.

Ela me guiou até a porta da estufa e pronunciou as primeiras palavras que eu ouvi nos salões de mármore da mansão de Amelie e Pierre hoje.

– Vou anuncia-lo – eu quase ri, Amelie ainda ordenava que os convidados fossem anunciados. A senhora me indicou um sofá pequeno junto a porta e eu encarei uma pintura qualquer na parede enquanto esperava, evitando a todo custo pensar no que eu estava fazendo aqui.

– Ela está pronta para recebê-lo, senhor – a falta total e completa de inflexão na voz dela era assombrante, mas adentrei pela porta aberta de vidro fosco e me surpreendi pela quantidade de pessoas lá dentro.

Amelie estava dentro de um vestido de grife qualquer, caminhando até mim com um sorriso falso no rosto, os cabelos loiros sem denunciar sua idade. Olhei ao redor e vi cerca de dez pessoas, todas bem vestidas, bebericando chá e olhando-o curiosas.

– Do que se trata isso? – Perguntei com voz de aço, enquanto ela se curvava sobre mim em um abraço frio.

– Apenas dance conforme a música – ela disse baixo ao meu ouvido e com voz severa.

Ela me apresentou a todas as pessoas, de uma por uma e mergulhou em conversas sobre amenidades, e eu sorri e confabulei, mas sem o menor interesse no que todos eles diziam.

Às sete horas, pontualmente, todos eles se despediram e bateram em retirada, para seus apartamentos de luxo e mansões de milhões. Eu já estava convencido de que Amelie só me queria aqui para que pudesse passar uma imagem de família unida e com hereditariedade, quando ela me impediu de voltar para casa, ao fim daquele show de ostentação e dispendiosidade.

– Chermont, me acompanha em uma última xícara de chá? – Ela apontou para uma mesa perto das paredes de vidro que davam para a área de 21 hectares, e o sol já estava se pondo, tingindo tudo de vermelho.

– Eu ainda pretendo jantar – disse tentando escapar daquilo, e sem entender porque eu sempre entrava no loop da fala formal quando estava nessa casa.

– Então vou pedir que nos sirvam o jantar logo. E Pierre está na Inglaterra a trabalho, se você estiver interessado – ela indicou que me acomodasse na mesa com um olhar frio e foi atrás de um dos empregados, mordi minha língua para não falar nada mais.

Ela voltou algum tempo depois e logo em seguida garçons colocaram um serviço de mesa completo para nós, e serviram a entrada. Depois que ambos terminamos a sopa (eu odeio sopa) e o prato principal veio, ela começou a falar.

– Você provavelmente deve saber que seu primo vai estar se casando nas próximas semanas – Amelie falou e eu senti as ondas de segundas intenções chegando em mim. Vougan, meu primo, era o mais fácil de conviver da minha família, mas ele era só um pouco mais apreciado que eu, embora fosse convidado a todas as ceias de natal e tivesse cartões dignos no aniversário, tinha lá seus defeitos, mas era um cara legal.

– Eu recebi o convite – eu fiquei surpreso ao ver que a recepção principal seria na mansão de Amelie e Pierre, mas acabei respondendo ao convite com uma confirmação, ele era meu primo, se eu podia vir aqui sob chantagem, poderia vir também para o casamento dele.

– Sim, eu vi seu nome na lista dos que confirmaram, o que me fez pensar sobre o seu futuro – eu podia ver que ela via aquilo como um grande ato de generosidade, mas eu só conseguia vislumbrar algo vil se espreitando atrás das palavras polidas. – Você se lembra da filha do senhor Dubois? Lorraine?

Meus olhos endureceram quando eu ouvi aonde ela queria chegar. Ela estava planejando um relacionamento arranjado ou qualquer coisa assim? Que tipo de mente doente ela tem?

– Eu estou namorando – menti de súbito, um sorriso de nojo e escárnio pintando meus lábios. – Pretendia apresenta-la na festa de casamento de Vougan, mas não parece mais haver necessidade de manter a surpresa.

Ela terminou de mastigar um pedaço macio de ave e limpou a boca com o guardanapo de linho, não mostrando nem por um segundo seus pensamentos.

– E ela é rica? – Perguntou na lata, encarando-me com seus olhos cinza, sua voz empoeirada mostrando a idade que seu rosto não revelava.

Aproximei-me dela na mesa, fincando meus cotovelos na toalha de mesa e apoiando meu rosto nas costas da minha mão, em um claro sinal de desafio.

– Rica como eu.

Ela poderia entender aquilo de duas maneiras: ela era muito rica, ou ela era paupérrima. Amelie era a protetora da parte monetária da herança e Pierre presidente da rede de hotéis até eu fazer 25 anos, essas eram as condições contidas no testamento dos meus pais para que eu assumisse minha herança. Amelie me mandava um montante mensal desde que fiz 18 anos e sai da sua casa, eu nunca fora fã de uma vida dispendiosa.

Mas nos últimos cinco anos, Amelie vinha me chantageando, tentando me moldar a sua forma. Ela não gostava das pessoas com quem andava, das roupas que eu vestia, do apartamento onde morava, das namoradas que tinha ou da faculdade que fazia. E cortava o dinheiro do mês – me deixando em maus lençóis – todas as vezes que eu não aparecia para uma das festas em homenagem ao meu avô ou para a missa de páscoa no jardim da mansão (que era só uma desculpa para mostrar a opulência de suas vidas aos outros).

Ela me avaliou com olhos afiados de águia por um segundo, não mais, ela não desperdiçaria mais que um segundo comigo.

– Traga-a para a festa, quero conhecê-la – e agora eu tenho três semanas para arrumar uma namorada, pensei mal-humorado, porque eu não admitiria nunca o blefe. – Qual o nome dela? Tenho que adiciona-la na lista de convidados – a senti esperando pelo mínimo sinal de hesitação, qualquer coisa que denunciasse uma mentira.

– Alizée Boulanger.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!