Ele afastou o cabelo da frente dos olhos e percebi o quanto escuros ele eram,se aproximando da minha mesa ele puxou uma cadeira e foi então que eu me dei conta que ele realmente estava ali, na minha frente,me encarando com as sobrancelhas arqueadas levemente.O encarei por um momento sem reação.

–Esperando muito tempo?-Perguntou se sentando. - Eu sou Ash.-Estendeu a mão em minha direção.Apertei-a,ignorando a sensação gostosa que me percorreu corpo inteiro.

–Ana.-Falo puxando novamente minha mão.

Ele me encarou por um tempo e eu não conseguia entender o porque.

–O que foi?-Perguntei,receosa dele dizer que tinha uma folhinha de alface no meu dente.

–Nada.-balançou a cabeça. Eu vi seus olhos. Escuros, ameaçadores. Até que era bom que ele os mantivesse escondido. – Eu só não esperava alguém como...você.

–Desculpe por ter sido a primeira a chegar ao óvulo da minha mãe.-respondi automaticamente e nem percebi que minha resposta o havia feito rir. Sua risada era confortável e divertida, me fazia querer ouvir mais.

–Eu só não queria ter uma assassina em casa, e que me ajudasse a deixar tudo...organizado.-Disse erguendo as mãos em forma de rendição.

–Bem, eu sei cozinhar.

–Isso é ótimo, estou cansado de comer congelados.Então,vou cobrar seus requisitos culinários.

–Á vontade-Respondi.

–Só mais umas perguntas:Você tem algo contra televisão ligada até tarde?-Neguei com a cabeça e ele prosseguiu.-E se eu levar umas amigas minhas a noite e fazer muito barulho enquanto transo.

O.k.

Essa me pegou de surpresa.

Levantei minha sobrancelha.

– Desde que eu possa fazer o mesmo...pra mim tudo bem.-digo dando de ombros.

O sorriso dele se tornou meio torto.

–Então, o que acha de fazermos o seguinte:Eu pago o aluguel e você cuida das compras e da higiene do local?

Não imaginava que ia ser tão fácil assim.Olhei-o mais uma vez antes de concordar com um sorriso gigantesco.

–Pra mim está mais do que perfeito!.

– Você é totalmente o oposto do que eu procurava, mas exatamente o que eu quero. – ele comentou,e isso fez com que eu me sentisse estranha.– Quando quer se mudar?

–O mais rápido possível!

–Amanhã é domingo, e eu tenho o dia livre depois que eu acordar, vai precisar de ajuda?

–Não, acho que eu dou conta.Tem problema se eu estiver na porta do apartamento muito cedo?

– E eu estarei dormindo. – ele abaixou a cabeça e se mexeu na cadeira, puxando alguma coisa do bolso. Era um chaveiro, com uma boneca com o par de seios de fora.Mas eu relevei, apenas prestando atenção na chave que ele tirava e me entregou. -Pode entrar e não se acanhe.Lá será o seu lar.Ah, a bagunça é toda sua.

Levantei o olhar da chave para seu rosto, arqueando as sobrancelhas e sorrindo de canto.

–Debochado.Mas obrigada.

Ele sorriu de volta.

– Então que seja. Sinto que estou esquecendo de te dizer algo importante, mas depois eu lembro.

Saímos do bar e eu pude ver o quanto sua pele era pálida e seus olhos, marcantes, muito mais do que o normal, mas ele era atraente da mesma forma, me fazia me sentir mais feia do que já sou , sem falar que ele era enorme, pelo menos uns trinta centímetros mais alto.

Balancei a cabeça positivamente, sem saber o que fazer depois. – Te vejo amanhã?

–É...só tem mais uma coisa.

–O que?

Ele parou a minha frente e me procurou com os olhos.

–Nunca, em hipótese alguma, mecha nas minhas coisas.-Ele disse isso de uma forma tão sombria que me fez querer devolver as chaves do apartamento e correr.Mas me contive.

–Hã.Acho que dá para respeitar isso-Murmuro levemente.

Ele me olha por mais um bom tempo,com os olhos escurecendo,até que ele sorri como se fosse normal assustar pessoas do nada.

–Então,até amanhã.-Ele diz, me dando as costas e sumindo ao meu olhar.

*

Minhas malas eram grandes,mas não eram tão pesadas assim- agradeci pelos anos de academia que minha mãe me obrigou a fazer.-mas imagine um ser de um metro e cinquenta e três centímetros com duas malar azuis bem grandes em um corredor pouco iluminado.Pois é.

O cheiro de cigarro era forte, mas o cheiro de sexo era insuportável. Tudo bem, eu iria me sentir em casa. Tirei a chave do bolso e procurei pelo apartamento cinquenta e dois.Destranquei a porta e quase tive um colapso ao ver o tanto que a bagunça predominava naquele lugar.O chão não era visível pela quantidade de objetos, peças de roupa e lixo, mas ainda dava para ver os móveis e devo dizer que o local era ótimo. Empurrei as malas e deixei-as encostadas no sofá, caminhando pelo apartamento e chutando as peças de roupa. Regatas e suéteres.Por todo o canto.

Minha primeira viagem foi até a cozinha, a procurada da geladeira.E como Ash havia mencionado, o que mais continha ali era congelados,e muita, muita lata de cerveja.Mas como eu não havia tomado café da manhã, imaginei que Ash não se importaria se eu pegasse uma.

E falando no cara, preciso acha-lo.Sabe, para dizer que cheguei e tal.

Por algum motivo, eu imaginei que encontraria o deus grego lá dentro, e eu tirei a permissão de entrada de sua ordem do dia anterior "entre e se sinta à vontade".

Então adentrei mais na bagunça( leia-se apartamento) e abri uma porta,achando que seria um quarto.Era um banheiro.Só que eu não me assustei com isso,me assustei com uma loira peituda -a mais peituda que eu já havia visto -só de calcinha.Escovando os dentes.

Ele me olhou de cima em baixo e colocou a escova de dentes na pia branca de mármore.

–Ah...você deve ser Alana.-Ela diz indiferente sem se sentir incomodada de estar praticamente pelada na frente de uma total estranha.

–É Ana.-Digo franzindo a testa-E você seria...?

Ela abriu a boca pra falar alguma coisa,mas uma voz sonolenta soa atrás de mim.

–Ninguém.E a ninguém já está de saída.

Olhei para Ash que estava apenas de calça jeans,o que de fato, deixa seu peitoril bombado para que moças iguais a mim babe a vontade.

–Mas Ash...-A loira tenta argumentar.

Ash apenas a interrompe mostrando a saída com o polegar.

A garota bufa, junta umas roupas do chão e sai,mas não antes de me fuzilar como se eu fosse o próprio diabo.

Quando finalmente eu escuto a porta bater,encaro Ash que parece divertido demais me olhando de cima a baixo.

–Eu achei que era brincadeira quando disse sobre transas.-Murmurei.

–E eu achei que tinha lhe avisado sobre pegar minhas coisas!-diz ríspido pegando a cerveja da minha mão e tomando um bom gole.Ele me deu as costas e caminhou para a sala.

Rolei meus olhos e o segui.Eu o encontrei sentado em meio as roupas na maior casualidade.

–O.k me desculpe,não pego suas coisa de novo.Satisfeito.

Ele ponderou com a cabeça.

–Você disse que sabia cozinhar...Se fazer o café podemos esquecer que você viu a loira e a lata de cerveja.Certo?

Certo.

Sorri e segui para a cozinha com Ash Cambridge ao meu encalço ,atravessei a cozinha até a geladeira e fiquei feliz em ver que por trás de tantas bebidas havia 'comida' .

Peguei ovos, manteiga, pão de forma, pratos, talheres, e mais uma enorme quantidade de condimentos que fui encontrando em quanto fuçava pelos armários.Do lado direito do forno havia uma frigideira, peguei-a rapidamente.Ascendi a boca do fogão e comecei a preparar o café da manhã como sempre fazia na antiga mansão dos meus pais.

–Ana...

–Hã?

– O que você está fazendo?

– Café da manhã.-Disse como se fosse óbvio.

Sem perceber de imediato , ele se aproximou alguns passos de mim,ficou encarando enquanto eu mexia na frigideira de braços cruzados.Sem querer, acabei olhando para seus braços e seu peito um pouco mais de perto e pude notar alguns hematomas e uma cicatriz quase invisível no seu pescoço.

– Então... e os hematomas?-Perguntei fingindo casualidade enquanto virava os ovos na frigideira.

Ele deu um sorriso torto.

– Digamos que... eu goste de safadeza na hora do sexo.

Isso me fez tossir , suspirei e mantive meu olhar na frigideira.

Ele tinha que ser muito safado para cobrir todo o corpo com aquelas formas roxas. E é claro que eu não levei muita fé no que estava dizendo.

Olhei para a frigideira e notei que precisava colocar algo mais.

– Segure a frigideira aqui por um instante. – disse, passei a frigideira para a mão dele e afastei-me da bancada.

Ele pareceu assustado mas fez o que eu pedi, procurei pelos cantos da cozinha até achar o ingrediente: orégano.

Peguei de volta a frigideira e joguei um pouco do ingrediente, sorri ao sentir o cheiro.Comecei a trabalhar em algo especial para ele , como um pedido de desculpas.

Ash voltou para a bancada.

– Me conte sobre você.

– Não tenho nada muito interessante para contar – dei de ombros. – O que quer saber?

– O que te fez procurar desesperadamente um colega de apartamento?

Suspirei.

–Meus pais dizem que não sou capaz de cuidar de mim mesma.Na verdade,eles me odeiam.

Assim que terminei coloquei meu prato ao seu lado e depois coloquei o seu, ignorei seu olhar de surpresa quando ele viu a surpresa que fiz para ele: uma torrada em formato de coração , escrito 'desculpe' com geleia de morango.Sorri satisfeita.Eu fazia torradas com pedidos de desculpas para minha mãe quando eu a aborrecia,há alguns anos.Coloquei os ovos no prato dele e no meu.

Ele continuava a me encarar.

–O que foi?

Ele me olhou e depois olhou para a torrada.

–Está desculpada-Disse dando uma mordida bem grande na torrada.

Sorri satisfeita.Mas meu sorriso desmoronou quando o vi sufocar-se, ele estava ficando vermelho e se debatendo.

–Ah,meu Deus...-Gritei.

Ele caiu de joelhos e com a voz num chiado me perguntou:

–A geleia era do que?

Tive que me esforçar para entender enquanto eu batia forte nas costas dele.

–Morango.

–Droga, Fox.Eu sou alérgico a morangos.