Desvenda-me escrita por Mariii


Capítulo 5
Capítulo 5




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Pela manhã eu enviei uma mensagem para Mycroft pedindo que ele arrumasse uma bengala para deficientes visuais, não iria deixar que Sherlock ficasse enfurnado dentro daquele apartamento para sempre. Aproveito e também ligo para o trabalho, solicitando uma licença por motivos pessoais. Não terei tempo para trabalhar agora.

Tinha acordado o mais cedo que consegui e fui até minha casa rapidamente para pegar algumas coisas, precisava me trocar e ter roupas ali, já que ficaria por sei lá quanto tempo. Aproveitei para comprar alguns alimentos também, Sherlock não era um exemplo sobre o que se ter em uma cozinha.

Voltei para Baker Street e dou de cara com John e Mary. Acho que eles ficam surpresos em me ver carregada de sacolas e chegando de forma natural, como se eu estivesse em casa.

– Ah... Oi! - Eu também não esperava vê-los ali tão cedo, já que eles pareceram não saber lidar com a situação.

– Bom dia, Molly... - John parece confuso e sem saber o que dizer, como sempre. Mary sorri para mim, provavelmente já entendendo o que estou fazendo ali.

Subo as escadas e deixo as compras na porta do apartamento de Sherlock.

– Vocês não vão subir? Eu só vou guardar minha mochila no quarto e já volto.

– Você... O que?

Paro minha subida e viro-me para eles novamente, finalmente começando a entender.

– Vocês já tentaram entrar, não é? - É claro que sim. E Sherlock se negou a recebê-los novamente. Maldito Sherlock! A confirmação vem quando eles balançam a cabeça dizendo que sim. - Aguardem um minuto que eu já volto.

Deixo as coisas no quarto e volto para o apartamento, entrando devagar com a chave reserva.

– Sherlock? - Ele está sentado na poltrona, já vestido e parecendo tranquilo. Dou uma rápida olhada para a cozinha e percebo que ele fez alguma tentativa de café da manhã. - Já falei que gosto dos óculos?

Ele quebra a expressão concentrada ao sorrir para mim.

– Sim, Molly. Você já falou.

– Por que você não quer deixar John entrar?

Aproximo-me dele e me sento na mesa de centro que está entre as duas poltronas.

– Por que? Eu já disse a você. Não quero que as pessoas tenham pena de mim. Que venham até aqui só para ver como o novo cego da cidade se comporta.

Suspiro audivelmente de forma proposital.

– Sherlock... John até pouco tempo morava com você. E ele vivia vindo aqui mesmo depois do casamento! É claro que ele está preocupado com você por tudo que aconteceu, mas ele viria de qualquer forma se fosse uma gripe. Pare de ter pena de si mesmo.

Vejo-o fechar a cara como uma criança mimada, mas não diz mais nem uma palavra.

– Vou pedir para eles entrarem. Se comporte como alguém normal.

– Pedido difícil, Molly. Eu nunca fui normal.

Sou obrigada a rir enquanto me dirijo para a porta e a abro ainda sorrindo, causando ainda mais espanto em John e Mary, que estão parado ali me esperando.

– Podem entrar. Talvez ele esteja um pouco agressivo, mas ainda não está mordendo.

– Estou ouvindo, Molly! - Sherlock me avisa de sua poltrona.

– Talvez comece a morder em breve. - Sussurro para eles em tom conspiratório.

– Eu ainda estou ouvindo!

– Malditos sentidos aguçados... - Murmuro enquanto deixo-os passar pela porta e vislumbro o sorriso no rosto do Sherlock.

Observo enquanto o casal o cumprimenta sem jeito, como se não soubessem o que fazer e como lidar com a situação. John nem ao menos parece um médico e isso é quase uma vergonha para a classe.

Decido deixá-los sozinhos e arrumar as coisas que comprei na cozinha, mas paro antes de chegar lá. John está falando alto demais! Estanco no meio do caminho.

– John. - Minha paciência está chegando ao limite numa velocidade impressionante e eu preciso respirar fundo para não explodir. - Sherlock está cego e não surdo! - Jogo minhas mãos para cima, revirando os olhos em sinal da minha insatisfação e continuo meu caminho para cozinha enquanto escuto Mary rir.

Mesmo não querendo é impossível não prestar atenção na conversa enquanto arrumo os armários, mas depois da minha bronca, as coisas parecem estabelecer um ritmo normal. Finalmente. As pessoas demoram para perceber que Sherlock não ficou louco, retardado ou qualquer outra coisa. Ainda é ele. Tratá-lo como se agora ele fosse uma criança só pioraria tudo.

– Anderson vai renovar os votos do casamento e pediu para que eu entregasse o convite à você. - É John que fala e eu me lembro agora que uma das correspondências que peguei em minha casa fora esse convite.

– Anderson? Depois de trair a mulher por pelo menos 17 vezes?

– Não entraremos em detalhes, Sherlock. O cara é seu fã desde sua queda e gostaria de vê-lo lá...

– John, eu não vou sair daqui. Não desse jeito. Ainda mais para ir em uma festa... Eu quase não fui ao seu casamento! Que dirá essa falsa renovação de Anderson.

A conversa continua com um outro assunto e a única certeza que eu tenho é que levarei Sherlock para essa festa, de um jeito ou de outro. Volto para a sala apenas quando eles já estão se despedindo.

– Você fica ótimo de óculos. - Mary diz com um sorriso enquanto beija-o na bochecha.

– É o que todos parecem me dizer por aqui. - Sherlock sorri de volta para ela e Mary me dá um olhar que parece dizer muitas coisas.

Quando eles saem, eu volto para sala e sento-me de frente para ele.

– Foi muito ruim?

– Depois que você fez John parar de gritar, não.

Nós rimos. Infelizmente é comum as pessoas confundirem uma coisa com a outra. Passo o restante da manhã ajudando Sherlock a praticar algumas tarefas simples e lendo jornais para ele até que Mycroft aparece também.

– Olá, irmãozinho. Passei para saber como está sua vida na escuridão.

Vejo-o revirar os olhos por trás dos óculos e sorrio.

– Ótima, até você aparecer.

– Não seja mau educado. Trouxe um presente para você.

Mycroft entrega a bengala dobrável que eu pedi para ele trazer e Sherlock faz uma careta.

– O que é isso? Mas... Não... Eu não vou precisar disso.

– Ah sim, você vai. A menos que queira criar mofo dentro desse apartamento.

– E se eu quiser?

– Você não vai ficar trancado, Sherlock. - Intrometo-me na conversa. - Nós sairemos hoje a tarde para testar esse seu novo presente.

– Quem d...

– Eu disse.

Quando Mycroft ergue a sobrancelha para mim eu gesticulo um "deixe comigo".

– Parem de conversar por gestos, sim? - Droga, Sherlock não perde essa mania de deduzir as coisas e eu franzo o cenho. - Desfaça a careta, Molly. - Diabo!

– Bom, Sherlock, vejo que você está bem assessorado por aqui...

– Arrumei um cão guia... - Ele diz mais como um grunhido do que qualquer coisa.

– Sherlock! Comporte-se. Só passei para ver se você ainda estava vivo e entregar seu presente, mas para já estou de saída. - Escuto Sherlock murmurar "graças a Deus", mas Mycroft ignora. - Até mais, Molly. - Ele sai assim como chegou, de forma rápida.

– Cão guia? - Pergunto tentando não demonstrar que estou rindo e Sherlock faz um gesto de desdém.

– Você entendeu.

Ficamos sérios por dois segundos até que explodimos em risadas.

– Babaca.

Após o almoço, que teve alguns contratempos quanto ao corte da carne, eu decido que é hora de convencer Sherlock a treinar com a bengala, nem que seja pela casa mesmo.

– Isso é ridículo, Molly. Eu não vou fazer.

– Ridículo é você ficar sentado aí o tempo todo.

Travamos uma batalha em silêncio e, como o esperado, Sherlock não aguenta muito tempo sem encher o saco de alguém.

– Tudo bem, tudo bem. Me dê logo essa porcaria.

Passamos boa parte da tarde andando para lá e para cá, subindo e descendo escada. Claro que quase nos acidentamos por umas mil vezes e Sherlock queria desistir a todo instante, mas eu persisti. Na verdade, às vezes ele fica tão atrapalhado que não consigo deixar de rir.

– Qualquer dia, Molly, nós vamos fechar seus olhos e fazer você descer a escada. - Ele diz bravo depois de quase cair pela décima vez.

– Desculpe... - Consigo ficar um segundo e meio sem rir após meu pedido de desculpas.


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Notas finais do capítulo

;)



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