'Til We Die escrita por Mrs Jones


Capítulo 3
Dor & Confronto


Notas iniciais do capítulo

Hey girls! Desculpem a demora, estava envolvida com outras fics e ainda tenho matérias atrasadas pra estudar #Vidadeestudanteéfogo! Bom, espero que gostem do capítulo. Aproveito pra divulgar a fic da minha amiga QueenOfVampires. Já imaginaram Killian e Ruby como assassinos? Garanto a vocês que é uma das melhores fics que já li http://fanfiction.com.br/historia/527307/Ladykiller
Aproveito também pra divulgar mais uma fic perfeição: http://fanfiction.com.br/historia/504866/Remember_Me
Ainda bem que o universo de fics Hooked está crescendo. Enfim. Aproveitem o capítulo.



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Killian ficou um tempo longe de casa. Ele não me disse pra onde ia, mas imaginei que devia estar trabalhando em algum caso complicado. Encantado ligava de vez em quando, perguntando como eu estava.

– Eu to bem... você sabe, não tenho muito o que fazer agora que terminei a faxina do prédio... Killian me mandou ler uns livros...

Era aí que eu entrava como assistente, percebi. Meu trabalho era ler sobre criaturas, estudá-las e saber o máximo possível sobre elas. Às vezes os caçadores não sabiam o que estavam enfrentando, aí precisavam de uma cabeça pensante pra fazer pesquisas e descobrir como matar as criaturas. Não era um emprego difícil, mas eu estava tendo pesadelos à noite desde que Killian matara aqueles vampiros.

Ele ligava às vezes pra dizer que estava bem, mas nunca chegava a dizer onde estava. Eu ainda queria saber de onde ele tirava dinheiro pra se sustentar. Ele me dissera que passava mais tempo dormindo em hotéis em beira de estrada do que em sua própria casa. Mas de onde ele tirava dinheiro pra pagar pela hospedagem? E como é que ia me pagar por meus serviços, quando ele mesmo não tinha um emprego? Comecei a achar que ele podia ser do tipo trapaceiro, que ganhava dinheiro ilegal com serviços sujos. Encantado riu quando disse isso a ele.

– Pode não parecer, mas Killian tem uma fortuna em dinheiro. Não se surpreenda se ele não lhe contar nada sobre o passado dele.

Então ele era rico? E se era rico, por que entrara naquele negócio das caçadas? O que ele ganhava com isso? Presumi que isso tinha algo a ver com a tal Milah, a mulher que David mencionara quando estávamos no lugar dos vampiros. Killian ficara irritado quando Encantado dissera o nome dela e eu só podia imaginar que ela tinha sido sua namorada. Talvez tivesse sido morta por vampiros. Ou pior, talvez ela fosse um deles, o que explicava o fato de Gancho estar atrás do Vampiro Alfa.

Killian voltou pra casa depois de três dias fora. Parecia exausto, mas de bom humor. Ele se jogou no sofá enquanto eu preparava o jantar.

– Por onde andou? – perguntei. Achei que ele fosse mudar de assunto, mas me respondeu:

– Lakewood. Estava enfrentando umas bruxas...

– Bruxas? Com caldeirões e varinhas, tipo Harry Potter?

Ele riu.

– Não, elas não usam varinhas, mas são praticantes de magia negra.

Ele me contou um pouco sobre elas enquanto eu tirava o bolo de carne do forno. Era uma sorte eu saber cozinhar porque já não agüentava mais aquela comida enlatada que Gancho insistia em comprar.

– Alguém ligou? – ele perguntou.

– Só o David – respondi, levando a assadeira pra mesa – Ele ficou preocupado com você.

– Hum. Que é isso? Desde quando sabe cozinhar?

Dei de ombros.

– A vovó me ensinou.

– Continua mentindo pra ela? – ele sorriu maroto.

– O que queria que eu fizesse? Ela ia achar que fiquei louca se dissesse que trabalho pra um cara que caça bruxas.

Ele gargalhou e continuamos a conversar como dois velhos amigos. Quando ele tirou o casaco, vi mais uma vez aquela tatuagem de caveira que ele tinha no antebraço direito. Não consegui evitar a pergunta:

– O que sua tatuagem significa?

– Nada de especial – ele deu de ombros – Eu meio que gosto de caveiras... e sabe de uma coisa? Eu já fui pirata na minha outra vida.

– Como sabe disso? – eu ri e ele sorriu divertido.

– Sei lá, eu simplesmente sei... – ele bocejou e se levantou, depois depositou o prato na pia – Bom, se não se importa, já vou dormir. O bolo de carne estava divino, espero que continue a se aventurar na culinária.

Ele subiu pelo elevador e soltei um suspiro. Não podia me apaixonar por meu patrão, isso seria... creio que isso seria antiético... Balancei a cabeça pra evitar pensar nele e então lavei a louça suja do jantar. Ia fazendo meu caminho até o elevador quando o telefone tocou, me assustando.

– Alô!

Killian? – uma voz de homem perguntou - Quem é?

– Aqui é a Ruby, trabalho pro Killian.

Ele está aí? Preciso falar com ele.

– Ele está dormindo, mas se quiser deixar recado...

Tudo bem, eu ligo amanhã. Boa noite e obrigado.

Bocejei, largando o telefone sem fio a um canto. Subi para o sexto andar e encontrei o quarto às escuras. Killian dormia de bruços e sem camisa. Peguei-me observando-o por uns instantes. Aqueles bíceps... Mas não posso, não posso pensar nele assim, ele é meu patrão...

Entrei na minha baia, bem ao lado da de Gancho. Me enfiei entre as cobertas e fiz uma breve oração. Há dias que eu não dormia direito, infernizada por aqueles pesadelos. Queria que isto acabasse, mas parece que vou ter que conviver com isso para o resto da minha vida. A noite do lobisomem não foi a primeira vez em que enfrentei a morte... ela e eu somos velhas conhecidas...

***

Acordei com Killian me cutucando. Alguma coisa escorria por meu rosto e percebi que estava chorando. Ele acendeu o abajur ao lado da cama e me encarou parecendo preocupado. Meu corpo tremia e minhas roupas estavam molhadas de suor. Eu tinha tido um pesadelo.

– Você está bem? – ele perguntou, sentando-se na beirada da cama – Estava gritando.

Afastei o cabelo do rosto e me sentei abraçando as pernas.

– Foi um pesadelo... – disse, enxugando as lágrimas. Fora mais do que um pesadelo, tinha sido uma lembrança dolorosa do passado. Peter, o carro, um flash de luz...

– Fique aqui, vou te preparar um chá.

Killian sumiu no elevador e me encolhi ainda mais entre as cobertas. Chorei em silêncio, lembrando-me da noite em que Peter morrera. Aquele mesmo pesadelo me assombrava há anos, mas parecia ficar pior a cada vez. Enxuguei as lágrimas com brusquidão quando vi que Gancho retornara. Me trouxe uma xícara fumegante de chá de camomila e voltou a se sentar na beirada da cama.

– Obrigada – murmurei, segurando a xícara quente em minhas mãos trêmulas – Pode voltar a dormir, estou bem.

– Não está não – ele coçou a barba, me encarando – Desde quando vem tendo esses pesadelos?

– Desde sempre – respondi vagamente.

– O que você sonhou?

Esperava que ele perguntasse isso. Encarei a fumacinha que saía da xícara. Não queria falar sobre aquilo. Por anos, vim tentando esquecer que aquilo era parte do meu passado.

– O mesmo pesadelo que venho tendo há anos... – respondi ainda trêmula – A morte do meu namorado.

– Sempre o mesmo sonho? – ele estava muito sério, preocupado.

Assenti.

– Fica pior a cada vez... parece real... é como se fosse uma lembrança...

Killian se acomodou melhor na cama, sentando-se com as pernas cruzadas e de frente pra mim. Eu poderia ter admirado seu peito peludo se não estivesse tão abalada.

– Já falou com alguém sobre isso? – perguntou e assenti mais uma vez.

– Os psicólogos dizem que faz parte do trauma... – tomei um gole do chá e logo senti lágrimas se formando em meus olhos – Eu estava lá quando... quando aconteceu...

– E desde então vem tendo o mesmo sonho?

Assenti.

– Não é toda noite, sabe... mas de um jeito ou de outro ele sempre aparece...

Ficamos em silêncio por muito tempo. Eu bebericava meu chá e Killian encarava a escuridão do céu pela janela. Eram pouco mais de três da manhã. Por mais que eu tentasse, sabia que não ia conseguir voltar a dormir. Deixei a xícara de lado e Gancho me olhou.

– Quer dar uma volta?

– A esta hora?

– Bem, eu não sei você, mas não vou conseguir dormir – ele sorriu de um jeito encantador, depois se levantou – Não tem muita coisa aberta a esta hora, mas podíamos nos distrair um pouco.

Concordei e disse que ia tomar um banho antes, pra me livrar do suor. Havia um banheiro naquele andar, mas não era grande como o banheiro do andar de baixo. Por mais que estivesse com frio, quase não senti quando a água gelada escorreu por minha pele. Estremeci um pouco e me enrolei numa toalha. Mal vi o que estava vestindo, apenas enfiei meus pés nas botas de cano curto e pus um casaco preto de couro por cima da blusa que usava.

Killian me esperava lá embaixo. Ele só se vestia de preto quando saía pra caçar, reparei. Desta vez usava calça jeans, tênis gastos e uma blusa fina de algodão. Colocou um sobretudo preto por cima da roupa e então caminhou até o elevador. Eu o segui.

– Quer caminhar um pouco ou devo dirigir? – perguntou, apertando o botão da garagem.

– Vamos caminhar – disse.

Saímos pela porta da garagem e me arrepiei com o vento frio que passou por ali. Era inverno e logo começaria a nevar. O Natal seria dali umas semanas, mas não estava com clima nenhum pra festas. A avenida principal era sempre movimentada, mas não havia muito tráfego àquela hora. Caminhávamos sem rumo, observando os carros que passavam.

– Eu esqueci – disse – alguém ligou enquanto você dormia.

– Quem era?

– Não sei, era um homem. Ele disse que vai ligar amanhã, quero dizer, hoje.

– Hum.

Ele não parecia preocupado, mas vi que ficou pensativo. Acabamos entrando numa lanchonete vinte e quatro horas e pedi por uma porção de batatas fritas e cheeseburguer.

– Posso perguntar uma coisa?

– Hum – ele assentiu, enquanto derramava ketchup nas batatas.

– O que ganha caçando essas criaturas?

– O que eu ganho? – ele franziu a testa e me encarou – Eu não ganho nada... apenas salvo vidas...

– Mas se é assim, de onde tira dinheiro pra sobreviver?

Eu sabia que ele era rico, mas queria ver o que ele ia responder. Provavelmente ia mudar de assunto como sempre fazia.

– Se eu te dissesse teria que te matar – ele riu.

– Você nunca me dá uma resposta completa.

Ele apenas sorriu e continuou concentrado em suas batatas.

– Você tem namorada? – perguntei, antes que conseguisse me conter. Sua idiota! Ele vai achar que está interessada nele...

– Não.

Pelo menos ele era solteiro. Mas eu ainda pensava na Milah, ainda imaginava que devia ter sido sua namorada. Talvez ele fosse como eu e não quisesse saber de relacionamentos depois de ter perdido alguém. Peter morreu há quase cinco anos. Não tenho namorado ninguém desde então.

– Você sempre foi assim? – ele perguntou.

– Assim como?

– Curiosa.

Ele riu quando enrubesci. Não devia ser tão enxerida. Vovó sempre dizia que as pessoas deviam me achar inconveniente quando eu fazia muitas perguntas. Ele pareceu não se importar com minha indiscrição e então continuamos a conversar. Não consegui arrancar nada dele, só que tinha uns amigos caçadores por aí. Ele parecia muito solitário.

Notei que ele tinha outra tatuagem. A frase ‘Til We Die (Até morrermos) estava gravada em seu pulso. Ia perguntar o que significava quando um homem se aproximou da mesa cumprimentando Gancho.

– O que está fazendo aqui? – o homem sorria. Era bonito, tinha uns olhos verdes e uma barba cerrada que o deixavam irresistível – Pensei que estivesse tratando de... negócios...

– Ainda tenho algum tempo pra me divertir – Killian sorriu.

– Não sabia que tinha uma namorada – o homem olhou pra mim.

– Ela não é minha namorada. Esta é Ruby, minha assistente.

– Oi! – troquei um aperto de mão com o homem e, tal como David, ele ficou surpreso por Killian ter uma assistente.

– Sabe como é, precisava de alguém pra me ajudar. Quer sentar com a gente?

– Fica pra próxima, tenho coisas a fazer. Foi bom te ver, Killian.

O homem foi embora depois de pegar um lanche pra viagem no balcão e Gancho observou enquanto ele ia embora de moto.

– Me deixa adivinhar – disse, mordiscando uma batata – aquele cara também é caçador?

Killian assentiu.

– Creio que Encantado te explicou a coisa dos codinomes. Aquele é o Pinóquio.

– Ele é do tipo mentiroso?

– Um mentiroso de primeira.

Pagamos a conta e fomos pra casa. Já amanhecia e eu me sentia cansada por não ter dormido direito. Gancho me deu folga, dizendo que eu precisava ao menos tirar uma soneca. Ele me deu um apanhador de sonhos, uma daquelas coisas bonitinhas que penduram em cima da cama pra filtrar os sonhos.

– Isso funciona mesmo? – indaguei, vendo Killian pendurar o apanhador na parede acima de minha cama.

– É claro que funciona. Os pesadelos vão ficar presos. Pode dormir tranqüila.

Ele desceu para o quinto andar e eu me deitei, dormindo logo em seguida.

***

Acordei horas depois com a luz do sol inundando o quarto. Não tive pesadelos, mas também não acreditei que tivessem ficado presos no filtro de sonhos. Calcei meus chinelos e desci para o andar inferior. Killian falava ao telefone e, a julgar por seu tom de voz, parecia muitíssimo irritado.

– Escute, eu sei o que estou fazendo, Liam – ele estava quase berrando – Não, você não sabe, não foi você quem viu ela morrer... Você não entende nada... Eles são meus amigos!... Chega! Chega, está bem?... Passar bem!

Ele atirou o celular a um canto e me arrisquei a perguntar se estava tudo bem. Ele não respondeu, apenas entrou no elevador e vi que desceu para a garagem.

***

Horas mais tarde escutei um barulho alto de motor. Ao que parecia Killian vinha dirigindo sua lata velha a cem quilômetros por hora. Corri para a janela e tive tempo de ver quando ele ultrapassou um carro e quase causou um acidente. Os motoristas buzinavam e um deles enfiou a cabeça pra fora e xingou Killian, mas ele não estava escutando. O que aquele idiota pretendia fazer? Só sei que ele virou na ruazinha ao lado do prédio e em seguida entrou na garagem.

Não pensei muito, apenas desci pelo elevador. O carro dele estava parado no meio da garagem e uma música alta tocava, enquanto ele bebia algo de uma garrafa.

I got God on my side (Tenho Deus ao meu lado)

I'm just trying to survive (Estou apenas tentando sobreviver)

What if what you do to survive (E se o que você fizer pra sobreviver)

Kills the things you love (Matar as coisas que você ama)

Fear's a powerful thing (Medo é uma coisa poderosa)

It can turn your heart black you can trust (Pode tornar seu coração negro, pode confiar)

– O que está fazendo? – perguntei, parando ao lado do carro. Ele apenas virou todo o conteúdo da garrafa de um gole só. Notei que era uma cerveja e pelo jeito que ele cantava, só podia estar muito embriagado – Você está bêbado. Killian!

– Que é? – ele praticamente rosnou pra mim. Recuei assustada.

– O que aconteceu? Por que está assim?

– Me deixa em paz! – ele desligou o som e desceu do carro, cambaleando – Sai da minha frente!

O hálito dele cheirava a álcool. Vi algumas garrafas jogadas no banco do passageiro. Ele cambaleou até o elevador e murmurava coisas sem sentido. Fui atrás, antes que ele se estabacasse no chão.

– Sai! Não preciso de sua ajuda! – ele gritava, com a voz meio pastosa. Dentre todas as possibilidades, ver meu patrão bêbado era coisa que eu nunca imaginara que pudesse acontecer.

– Você vai cair, seu idiota! – o empurrei para o elevador e subimos para o quinto andar. – Você ficou louco? Estava dirigindo bêbado? Sabia que podia ter sido preso por infringir os limites de velocidade?

Ele pôs um dedo na minha boca pra me calar.

– Shhhh! Você não sabe de nada! – murmurou e se apoiou na parede do elevador pra não cair.

– O que é que você tem na cabeça? – continuei – Encher a cara não vai resolver seus problemas.

– Cale a boca!

Não disse mais nada, apenas o encarei com cara de brava. A porta se abriu e saímos para o quinto andar. Killian cambaleou até a geladeira e apanhou outra garrafa de cerveja. Tentei tomar dele, mas, por incrível que pareça, ele me afastou com um empurrão.

– Sai! – gritava, meio irritado meio nervoso – Sai daqui!

Liguei seu comportamento ao fato de ele ter discutido com alguém pelo telefone. Seja lá quem fosse aquele tal de Liam, deixara Killian muito aborrecido. Me recostei ao balcão da cozinha e o encarava, pensando no que fazer. Gancho se jogou no sofá e tomou todo o conteúdo da garrafa.

– Não me olhe assim – ele vociferou pra mim – Você não é minha mãe pra mandar em mim!

– E você não fale assim comigo! – retruquei com atrevimento – Devo lembrá-lo de que é meu patrão?

Ele soltou uma gargalhada e se levantou. Veio até mim cambaleando e tive que segurá-lo antes que caísse.

– Como ela é bravinha! – ele riu, me puxando pela cintura.

– Me larga!

– Não, não, sei que quer isto...

– Para, Killian! Você está bêbado! – o empurrei e ele gargalhou mais uma vez, apontando um dedo trêmulo pra mim.

– Ah eu sei que você quer – disse – Um dia não vai conseguir resistir aos meus encantos... – ele andou até as janelas e antes que eu pudesse fazer alguma coisa, berrou lá pra fora – O QUE ESTÃO OLHANDO, BABACAS? QUEREM VER UM HOMEM DESTRUÍDO? POIS AQUI ESTOU!

– O que está fazendo? – gritei, puxando-o pra longe das janelas – Quer que nos descubram?

Ele gargalhava e tentava me abraçar. Ele era um bêbado meio doido, hora estava nervoso, hora estava alegre. Depois dessa eu ia ter que jogar fora todas as bebidas da casa.

– Vem, você precisa de um banho frio – disse, puxando-o na direção do banheiro. Ele se deixou levar, mas subitamente parou.

– Você mexeu naquelas caixas? – perguntou agressivamente, apontando pras caixas de papelão que insistia em largar jogadas por ali.

– Elas estavam no caminho, apenas as empurrei para o canto.

– Eu disse pra não mexer! – ele gritou e se soltou de mim. Caminhou até as caixas fechadas e apanhou a menor delas – Será possível que vou ter que tirar tudo daqui? Não sabe obedecer a ordens?

– Eu te ajudo! – disse indo até ele e tentando tirar a caixa de suas mãos. Estando alterado, achei que ele não devia se esforçar.

– Sai! Não preciso de ajuda! – ele retrucou e puxou a caixa de volta, que caiu no chão e se abriu.

Me abaixei pra apanhar o conteúdo que caíra dela e encontrei fotos, muitas fotos. Killian estava em quase todas elas e também havia uma mulher. Os dois se abraçavam e sorriam em algumas, em outras ela estava sozinha e ria para a câmera. Não tive tempo de analisar direito porque Gancho simplesmente arrancou as fotos de minhas mãos.

– Sai! Vá pro seu quarto! – gritou e me empurrou pra trás.

Acabei por me desequilibrar e caí sentada. Eu não o reconhecia! Aquele não era o mesmo Killian que eu conhecera há uns dias. Quando foi que ele se tornou tão agressivo? Senti meus olhos umedecendo ao mesmo tempo em que a dor do tombo me atingia.

– Pra mim já chega! – gritei, levantando-me e indo até o elevador.

Killian não tentou me impedir, nem sequer pediu desculpas. Apanhei minhas roupas no closet e as enfiei de qualquer jeito em minhas malas. Então ele se achava no direito de me maltratar apenas por ter se sentido invadido? Como eu ia saber que havia fotos dela lá? Contei a ele sobre o Peter e ainda assim ele não confiava em mim? Se ele não queria me pôr a par de seu sofrimento, então eu não podia fazer mais nada. Mas também não ia mais viver sob aquele teto.

Desci para o quarto e apanhei minhas coisas. Killian saiu do elevador e parecia muito arrependido.

– Ruby, me escuta...

– Nada do que disser vai melhorar as coisas – falei enquanto enfiava minhas tralhas numa das malas.

– Me desculpe, eu não queria...

– Nada do que disser vai melhorar as coisas, Jones – gritei e em seguida fui até o elevador.

– Está indo embora? – só então ele notou minhas malas – Você não pode ir, temos um contrato!

– Que se dane o contrato! – berrei e tentei me livrar de seu aperto em meu braço – Me largue! Isto acaba aqui!

– Você não vai!

Ergui a mão direita e lhe dei um tabefe na cara. Killian cambaleou e então me largou. Entrei no elevador e apertei o botão do subsolo. Ele ficou parado me observando até que a porta do elevador se fechou e sumi de vista.

Desci para a garagem e alcancei meu carrinho vermelho. Fiz força pra colocar as malas na parte de trás e então entrei no carro bem quando Killian ia saindo do elevador.

– Você não pode ir! – ele dizia, ainda meio alterado pelo álcool – Vamos conversar...

– Adeus, Jones!

***

Dois dias se passaram sem que eu quisesse saber de Killian Jones. Ele me ligava, mas eu o ignorava e sequer escutava as mensagens que ele deixava pra mim. Não podia dizer à vovó que me demitira, isso seria acabar com todo o orgulho que ela sentia de mim. Disse a ela que o doutor Simons me dera uns dias de folga e mais uma vez ela engoliu a história.

– Me conte mais sobre o apartamento – ela pediu. Na história em que inventara, disse à vovó que dividia um apartamento com Beth, uma colega de trabalho. Ingênua, ela acreditou em tudo.

– Ah não é grande coisa, mas é confortável. Tem dois quartos, sala, cozinha e banheiro – disse, jogada na cama de meu antigo quarto. – E a Beth é um amor de pessoa, não me incomoda em nada.

– Convide-a para jantar aqui em casa qualquer dia desses, querida – vovó sorriu – Seria bom se o doutor Simons aparecesse, mas você diz que ele é muito ocupado...

– Ah sim, muito ocupado!

Não sabia quanto tempo essas mentiras iam durar, ainda mais agora que não tinha mais um emprego. Não quis pensar nisso mais, no entanto. Billy apareceu à porta do quarto:

– Ruby, tem um cara lá fora querendo falar com você.

Não precisei pensar muito pra descobrir quem era. Olhei pela janela e acabei por descobrir Encantado ao invés de Killian. Suspirei e saí para a rua. Encantado estava recostado ao seu carro luxuoso e sorriu ao me ver.

– Oi, Ruby!

– Ele te mandou aqui, não foi? – fui logo perguntando e cruzei os braços.

– Ele me contou o que aconteceu, disse que você não retorna as ligações. Killian está arrependido, Ruby, e ele quer que você volte.

– Oh é claro! E mandou você pra me dizer isso ao invés de vir pessoalmente.

– Ele está envergonhado – o homem deu de ombros – Reconhece que suas atitudes foram impulsivas e sabe que está errado. Mas ele precisa de você.

– Precisa, é?

– Ruby...

– Diga ao Killian pra vir falar comigo pessoalmente. Se ele tem o mínimo de decência vai ter que se desculpar devidamente.

Encantado se foi e vovó me interpelou com suas perguntas quando retornei ao quarto.

– Quem era aquele moço bonito? – perguntou enquanto dobrava minhas roupas lavadas.

– Ninguém especial, só um colega de trabalho.

– A propósito, querida, ainda não conheceu ninguém interessante? Já faz tanto tempo desde o Peter...

Se eu conhecera alguém interessante? Bem, Killian bem que se encaixava em meus padrões de homens interessantes, mas não queria mais saber dele. Eu quero dizer, de que adiantava o fato de ele ser atraente e sexy se mal se abria comigo? Por que ele tinha que ser tão enigmático? É claro que aquele seu ar misterioso só me atraía ainda mais, mas não era justo o fato de eu ter lhe contado meu pior trauma e ele não ter me dito nada sobre a Milah ou sobre seu passado.

– É, talvez tenha conhecido alguém...

Acabei saindo pra dar uma volta. Sentia-me estressada e enraivecida pelo comportamento de Gancho. Fui correr numa praça que havia ali por perto e voltei pra casa ao anoitecer. Surpreendi-me ao encontrar Killian parado em frente à pensão. Encaramos-nos e subitamente me senti envergonhada por estar usando minhas roupas apertadas de ginástica.

– Vim me desculpar – ele disse de cabeça baixa. Enfiara as mãos nos bolsos e evitava me encarar. – Reconheço o quanto fui idiota e não posso culpar a bebida por meu comportamento... Eu sinto muito.

Suspirei e cruzei os braços.

– Em nenhum momento você reconheceu que eu só queria te ajudar.

– Eu estava confuso – ele ainda encarava o chão – As coisas não tem sido fáceis pra mim... A questão é que estou arrependido e se não apareci antes foi porque estava envergonhado. Vamos esquecer isto, está bem? Você pode voltar se quiser.

– Está me oferecendo o emprego de volta? – arqueei as sobrancelhas.

– Eu não te demiti, pra começo de conversa – ele riu e então me olhou – Mas sim, estou lhe re-oferecendo o emprego. E então, você me perdoa?

Pensei por uns segundos, encarando-o. Por mais que estivesse satisfeita por ele ter se desculpado, senti que seria questão de tempo até que ele fizesse outras idiotices como aquela. Ele parecia esperançoso, no entanto. Killian jamais iria admitir, mas o prédio ficara muito mais organizado depois que eu aparecera em sua vida. É claro que ele precisava de mim.

– Por favor, Ruby. – seus olhos me imploravam - Sabe que não há quem substitua você. E devo dizer, as coisas ficaram melhores depois que você apareceu.

Sorri por um instante e então me decidi.

– Eu posso até aceitar o emprego, mas se quer que eu participe disso, vai ter que fazer sua parte. Quero que seja verdadeiro comigo. Sei que sou apenas uma assistente, mas mereço a verdade. E então, o que me diz?


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Provavelmente só devo postar semana que vem agora, mas se der posto antes. Beijos e até a próxima!



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