Completa-me escrita por BlackLady


Capítulo 26
Capítulo XXVI


Notas iniciais do capítulo

Saudades de vocês, meninas!!!
Vamos entender mais a alva Levine.
Vamos ler



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/525388/chapter/26

Por Kenji Kishimoto

A escuridão do interior das minhas pálpebras já estava me cansando, mas eu não conseguia fazê-las se abrir. Eu podia perceber certo movimento ao meu redor e até me lembrava de tudo o que acontecera, só não estava conectando o comando do meu cérebro às ações do meu corpo. Tentei mover a mão, mas parecia muito mais difícil do que tentar abrir os olhos. Forcei-os até me chatear sem obter resultados. E então alguém pôs a mão sobre minha testa e isso me guiou até minhas pálpebras.

Pisquei os olhos, incomodado com a claridade súbita que surgira do teto. Demorei a me adaptar com a luz, mas assim que consegui, reparei na cortina branca que se inclinava sobre mim.

– Você acordou – afirmou uma voz suave e delicada – Como se sente?

Levantei lentamente a mão e vi que não era difícil. Corri-a pelo meu peito, sentindo pontos doloridos num corte perto do meu ombro. Minha cabeça girava devido à tontura, porém não doía mais e eu tinha certo desconforto no estômago.

– Um pouco tonto, mas estou bem – olhei para cima, me deparando com uma infinidade branca dentro dos olhos de uma garota – Quem é você?

– Eu sou Levine, a responsável pelo acidente que machucou tanto você – isso me fez erguer o corpo subitamente, assustado – Calma, você precisa descansar...

– Onde estão os outros? O que fez com eles?

– Calma, eles estão bem. Devem estar almoçando agora.

– O que quis dizer com ser a responsável pelo acidente?

Sua expressão ficou culpada enquanto ela baixava a cabeça parecendo estar envergonhada – Eu sou uma espécie de líder dessa comunidade e faço tudo para protegê-los. Já fomos atacados e forçados a travar guerras que não eram nossas. Perdemos amigos, irmãos. Então botamos aquela pedra para impedir que nos encontrassem. Qualquer um que tenta nos achar perde tempo. Ou a vida. Jamais tiramos aquela rocha de lá. Assim que vi que viriam, também vi que não queriam nos machucar. Que eram como nós. Eu fiquei tão feliz que nem sequer me lembrei daquela maldita pedra. Foi então que ouvimos um estrondo essa manhã, muito alto. Eu sabia o que tinha acontecido, mas não me preocupei porque eu tinha certeza de que estavam bem. As outras pessoas só levaram armas porque não tem a... certeza que eu tenho. Quiseram se proteger. Trouxemos vocês para cá e você desmaiou no caminho. Dormiu por algumas horas. Mantivemos você aqui para o caso de uma concussão. Tristan já deve ter avisado seus amigos que você acordou e... – ela ergueu a cabeça – Você parece estar com fome.

Fitei-a calado, me perguntando quem era Tristan e percebendo que o meu desconforto no estômago na verdade era fome – Estou mesmo com fome.

– Que bom – disse Adam, entrando no quarto, seguido de um avoado Warner e de uma moça de longos cabelos pretos – Juno preparou para você – levantou uma bandeja que carregava e depositou-a no meu colo, enquanto eu me esforçava para me sentar, apesar dos protestos de Levine.

– Juno?

– Sou eu – respondeu a moça estranha – Você está bem?

– Sim, obrigado por perguntar – olhei para Warner, que ainda estava perdido em pensamentos – Onde está Juliette?

Ele pareceu acordar ao ouvir o nome de Juliette – Deve... estar no quarto.

– Deve? – questionei, brincando – Você não sabe ao certo onde ela está?

– Bem, eu passei anos sem saber onde ela estava. Não seria uma novidade agora.

Recuei à sua amargura. Adam também pareceu surpreso pela resposta do irmão, mas resolveu mudar de assunto – Então... Levine, sobre o que estavam falando mesmo antes de entrarmos?

– Sobre como minha total falta de cuidado quase matou Kenji.

– Esse também não é um bom assunto – resmunguei – mas, já que tocamos nele, eu quero tirar uma dúvida. Levine, quando você explicou o que tinha acontecido, disse que nos viu antes de chegarmos aqui. Que já sabia que viríamos porque você viu. O que quis dizer?

Ela adquiriu um tom rosado na pele translúcida, entrelaçando os dedos magros e finos – Eu simplesmente... vi.

Ficamos em silêncio, ainda esperando a explicação, mas era como se ela não soubesse dá-la. Ela nos olhou, ou tentou fazê-lo. Devido seus olhos totalmente brancos, era difícil dizer se ela realmente estava mirando a visão em mim. Adam cansou de esperar e tentou uma sugestão – Você teve uma visão? Quer dizer, você viu num futuro que nos viríamos? Foi isso?

Ela acenou positivamente – Sim, eu tive uma visão. Vi Castle falando com Kenji numa espécie de... cantina. Ele deu a você instruções sobre mim. Sobre como eu protejo os meus. Defende com unhas e dentes, foi exatamente o que ele disse, e que eu me livrava logo de qualquer ameaça.

Fiquei abismado. Ela recitou palavra por palavra de Castle, como se estivesse lá quando conversamos. Adam e Warner também pareceram ficar estáticos com a declaração perfeita de Levine.

– Você vê o futuro?

– E o passado também.

Passei a mão na boca, descrente – Prove.

Ela riu, sem graça – Você me descreveu para Castle, na mesma conversa como uma mulher, líder de um grupo de mutantes, que raramente é vista e também disse que, caso me achasse, teria que me convencer de que você não era um perigo antes de eu matá-lo sem piedade.

– Meu Deus, isso é impossível – declarou Adam.

– Tão impossível quanto Kenji poder ficar invisível.

– Não, não é impossível – disse Warner, maravilhado – É uma energia incrível.

– Como funciona?

Levine ficou ainda mais vermelha, claramente insatisfeita por ser o centro das atenções – Bem, eu não sei bem como explicar, então me desculpe pela analogia. Quando sonhamos, durante o sono, é como se o sonho fosse a nossa realidade naquele momento, certo? Minhas visões são como sonhos: a minha realidade no momento em que acontecem. Eu quase não consigo distinguir em qual realidade eu estou, mas isso não explica muito bem – ela parou para pensar – Imaginem que vocês estão olhando para um quadro que retrata certa época, com mulheres e homens vestidos de acordo com o costume e, de repente, evolui para como seria aquela imagem num futuro, com outras vestimentas e outras atitudes, ou retrocedesse e mostrasse como era no passado, com mais simplicidade e diferenças. O meu dom é viver observando um quadro em movimento, sempre mudando, sempre mostrando diferentes realidades, diferentes sonhos.

Respirei fundo, perdido e tentando captar a explicação da forma mais crua, mas o meu cérebro parecia não aceitar que alguém era capaz de viver o futuro sem sair do presente – Isso é... incrível – falei, roubando a opinião de Warner – E o que você vê nos nossos... quadros agora?

Ela caminhou até mim, parando bem a minha frente. Ela ergueu as mãos – Eu posso? – perguntou. Eu não entendi o que era, mas sussurrei um sim. Ela pôs as mãos nas minhas bochechas e correu elas levemente até os meus olhos, que eu fechei instintivamente, depois as desceu até o meu pescoço e voltou para as minhas bochechas – Você tem um rosto bonito – declarou, sorrindo – Você é muito fiel a Castle. Enxerga ele como o pai que você não teve. Também é muito leal aos amigos, mas não fala muito sobre si com eles, a não ser com Juliette. Gosta muito de um garoto loiro de olhos azuis. James, irmão de... alguém que eu não sei dizer quem é. Que estranho – e então ela ficou séria – Você guarda uma suspeita com você. Uma suspeita que se confirma verdade. Um segredo que pode ser a salvação de uma história. Você pode revelá-lo, mas estará comprometendo um amor muito bonito. Você pode até saber, mas não é dever seu contá-lo.

Ela puxou as mãos para longe da minha pele e eu me questionei porque gostei tanto do calor. Balancei minha cabeça, mais agitado com o toque do que com as palavras. Ela foi até Adam, que pareceu estar preocupado com tal proximidade. Ela desenhou a face dele, com a testa franzida.

– Não vejo nada em você. É como se você não... existisse. Como se não estivesse aqui – sua testa se enrugou mais ainda – Eu não entendo.

– Eu tenho um escudo que não permite que o poder de outros mutantes chegue até mim.

– Eu posse ver isso. Ou melhor, não posso – ela soltou Adam e andou para Warner, que esticou as costas em expectativa. Mas, ao invés de tocá-lo no rosto, ela segurou-lhe as mãos – Você... não tem um bom passado, muito cheio de dor, mas encontrou a redenção no amor e ao encontrar uma nova família. E esse amor é o dilema da sua vida. É lindo ver que você transformou o seu modo de vida para poder fazê-la feliz. E é ainda mais lindo ver que você se magoou muito nesse processo, que renunciou qualquer contato para tentar se curar dessa mágoa, mas que nunca negou amar essa pessoa, mesmo depois que ela foi embora por um motivo que você não sabe qual é. Ou melhor, que não sabia, porque você acabou de descobrir. O seu futuro terá um... acréscimo muito distante do que você esperava. Sei que está confuso e sem expectativas agora, mas eu posso afirmar: um belo amanhã te espera.

Warner sorria com alívio e foi muito bom presenciar o acalentar de um coração tão conturbado. E melhor ainda foi notar Juliette a beira das lágrimas quieta, só ouvindo, no canto do quarto. Quando eles se olharam, ela virou o rosto, repentinamente interessada no piso escuro de madeira.

– Eu realmente espero que você esteja certa – proferiu ele, ainda com os olhos em Juliette.

Levine também percebeu Juliette no quarto e andou até ela, com as mãos levantadas. Juliette retraiu-se e não aparentava querer ter seu passado e seu futuro revirados, mas isso não impediu Levine até elas estarem bem próximas. E então Levine deu uma parada brusca e seu rosto ficou assustado enquanto ela baixava as mãos – Você... Eu... Eu não pretendia... Eu... – ela puxou o ar de olhos fechados – Não seria preciso me machucar, Juliette. Não pretendia contar nada.

Levine deu passos atrás, enquanto Juliette arregalava os olhos, balançando a cabeça – Como você... ?

– Você iria fazer isso? – perguntei – Iria machucá-la?

– Não seria de propósito – declarou Levine, ainda perturbada, mas tentando manter a calma no recinto – Ela só se defenderia.

Ela ficou em silêncio depois disso, virando de costas para Juliette, que parecia arrependida –Não precisou tocá-la para saber o que aconteceria – notou Adam, sem se abalar com a situação – Você veio até nós para saber do nosso... quadro.

– O futuro e o passado se tornam mais claros quando eu tenho contato com as pessoas. Mas isso não significa que eu não consiga ver sem tocar.

– Deve ser espantoso – falei – Ter o passado, o presente e o futuro sempre visíveis.

Ela baixou a cabeça, sorrindo – O passado e o futuro, sim. O presente, não.

– Como assim? – interroguei – Você vê o presente. Pode ver o que acontece ao seu redor como qualquer pessoa, como eu.

– Não posso, não, Kenji – ela ergueu os olhos, ainda sem foco e, eu jurava, tentando focar em mim – Por que eu sou cega.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Comentários, por favor.
Flower of Night, obrigada pelas suas palavras. Acho incrível o que nós, leitores, fazemos para não abandonar nossa história. Você sequestrou o celular da sua tia! Amei a parte do 4G. Inveja!
iPimenta, adoro cada comentário seu e Aysha, você já criou seu próprio futuro de CM. Amo vocês.
Beijos.
BL.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Completa-me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.