[...] A garota mais linda que já havia visto em anos, isto ainda considerando que eu morava em HollyWood, hein! Ela tinha os cabelos escuros e encaracolados, caindo sobre os ombros, olhos num azul tão claro e profundo que me deixou quase hipnotizado, sombrancelhas sensualmente arqueadas e um corpo perfeito, (especialmente em sua comissão de frente), ela me fitou séria por um instante, me olhou de cima a baixo, foi abrindo vagarosamente um sorriso até que começou a gargalhar me deixando completamente sem reação, olhei através dela para dentro do quarto e pensei que talvez enquanto estive fora, André tivesse de "dado bem", mas não era meu quarto, ou pelo menos o André havia mudado bastante a decoração no tempo que eu levei para nadar do lado até a praia e andar da praia até o Campus, mas aquela decoração cheia de posters de bandas de rock e guitarras espalhadas por todo o quarto, não tinha absolutamente nada a ver com André, então pensei comigo mesmo "Parabéns Beck, você errou o quarto, agora além de molhado, você apareceu todo sujo e molhado na frente da sua vizinha de quarto que nem te conhece e provavelmente já te acha estranho, com certeza nunca poderá ter uma chance com ela!" Não sei porque já estava pensando em ficar com ela desta forma, eu mal a conheço! Mas ela mexeu comigo, de uma forma que nem Tori conseguiu quando namorei com ela lá em HollyWood algum tempo atrás.
–O peixe fora-d'água vai se apresentar e explicar o que significa isso ou vai ficar olhando pros meus peitos com cara de idiota? -Ela disse e me afastou de meus pensamentos.
–Eu, me desculpe, eu meio que... errei de quarto e... - tentei me explicar sem sucesso.
–Pois eu estava ocupada, então volta para o seu quarto, se o águia pega alguém fora do quarto esta hora ele vai cobrar explicações até o amanhecer do dia, e eu ainda tenho que dormir, amanhã temos que estar de pé bem cedo, então tchau! - Ela sequer esperou que eu respondesse e bateu a porta, ao menos agora eu sei que o quarto é o 46.
Bati na porta do 46, ouvi um barulho, provavelmente era André pulando da beliche para abrir a porta pra mim, não demorou muito e a maçaneta girou novamente, mas agora era André quem eu estava vendo, ele disse quase que segurando o riso:
–Não está se sentindo meio molhado hoje, meu jovem?
–Qual é a sua? -perguntei.- Por quê eles fizeram aquilo?
–É uma tradição Beck, todos passam por isso em seu primeiro dia, eu passei, todo mundo do colégio passou...
–É sério?
–Sim, toma uma chuveirada e vai pra cama, amanhã o dia é longo...
Resolvi ir para o chuveiro, joguei as roupas encharcadas no chão e entrei debaixo d'água, resolvi que não comentaria sobre a garota do quarto ao lado com André, mas confesso que passei a noite toda pensando nela.
De manhã, acordei com um cutucão de André.
–Já amanheceu, cara, acorda aí, tenho que passar no quarto de uma amiga pra pegar um livro que emprestei pra ela.
–Ok, acordei ainda morrendo de sono, mas me troquei e eu e André saimos do quarto, mesmo ele tendo me dito, segundos depois nem lembrava onde ele queria que eu lhe acompanhasse, até que percebi que o quarto em que ele estava batendo a porta era... "Meu Deus, por favor não!" - Pensei. O 45! Podia ser qualquer um, mas não, tinha que ser aquele!
A porta abriu, lá estava a mesma garota, o mesmo quarto de ontem, mas agora ela estava com os cabelos mais lisos, estava maqueada e vestia uma calça frizada cinza, uma camiseta de mangas compridas preta e coturnos. Olhou diretamente para André.
–Eaí, o que você quer?
–Os meus livros de literatura do ano passado, branquela, você não me devolveu, preciso levá-los pra biblioteca, você passou todo o verão com eles.
–Ok - Ela adentrou o quarto, pegou alguns livros de cima de sua escrivaninha e levou-os pra ele dizendo:
–Arranjei umas bebidas pra você se estiver interessado André.
–Quantas?
–6 garrafas de pura vodka...
–Por quanto?
35 dólares cada garrafa!
–Eu não tenho todo esse dinheiro, Jade e eu sei que você conseguiu todas elas de graça no restaurante do seu tio, por quê vai fazer tão caro?
–Eu me arrisco pra roubá-las André, e eu nem bebo, deveria ficar agradecido por eu pegá-las pra você...
–tenho dinheiro pra 3 garrafas, o resto eu compro na minha próxima mesada, ok?
–Certo.
Dito isso Jade tirou um maço de cigarros do bolso da calça e botou um cigarro na boca, fiquei abismado, do outro bolso ela tirou um isqueiro e acendeu-o numa tragada forte e profunda, surpreendentemente acabou com um cigarro inteiro em duas tragadas, uma seguida da outra, jogou o isqueiro, o masso e o cigarro queimado no chão de seu quarto, saiu e trancou a porta por fora, tirou também do bolso uma bala de menta, provavelmente queria desfarçar o cheiro de cigarro, colocou na boca e olhou para mim.
–Olha se não é o peixe-fora-d'agua da noite passada!
–É Beck, só pra você saber, Branquela, respondi no seu mesmo tom de deboche.
–E é Jade pra você saber, "Beck"... -Ela respondeu, sempre séria, só a vi rir uma única vez até agora, e havia sido de mim.
–Peixe-fora-d'água? Vocês se conhecem? -André não estava entendendo nada.
–Esse sujeito apareceu molhado, sujo e com cara de paisagem no meu quarto ontem, imagina a cena, André.
–Ele segurou-se pra não rir.
–Fomos juntos á quadra de futebol, onde haveria uma reunião de alunos.
(Continua)