What About Angels escrita por Clarice Reis


Capítulo 1
Would you dare to let it go?


Notas iniciais do capítulo

ooi gente, espero que gostem e desculpem qualquer erro, eu não tive tempo de revisar.



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Would you dare to let it go?/ capitulo 1

What about angels

Acordar já não faz mais sentido. Os dias se arrastam de forma maçante e cada hora parece interminável.
É difícil levantar da cama quando você já sabe o que lhe espera. Mais 24 horas de puro desconsolo e memórias que insistem em torturar sua mente te matando aos poucos.

― Bom dia, meu amor – a voz da minha mãe se fez presente no quarto.

― Bom dia – murmurei em um tom quase inaudível.

― Está um dia lindo lá fora – ela disse abrindo as persianas. ― Alvo e Lily virão te buscar daqui a pouco para levá-la ao cinema.

― Eu não quero ir – disse de maneira simples e direta.
Minha mãe me lançou um olhar de pena, que nos últimos três meses parecia ser o único que era dirigido a mim.

― Você precisa sair, Rose. Não pode ficar trancada nesse quarto pelo resto da sua vida – suspirou. ― Já se passaram três meses... Achei que a essa altura você já estaria um pouco melhor.

Eu queria dizer a verdade. Dizer que eu nunca mais seria a mesma e que talvez nunca viesse a me recuperar, mas magoar a minha mãe era algo que eu definitivamente não gostaria de fazer. Durante esse período ela fez tudo que estava ao seu alcance para me ajudar, largou o emprego para ter mais tempo de ficar comigo e sempre faz programações em família e inventa passeios para me animar. Mas de nada adiantava.

― Vamos tomar café? – questionou com um sorriso.

― Eu já vou descer – falei.

Hermione saiu do quarto e logo depois eu levantei. Encarei o meu reflexo no grande espelho branco e observei atentamente cada detalhe do meu rosto. Olheiras fundas, olhos sem vida e uma pele extremamente pálida. Eu estava muito abatida e magra, parecia um cadáver.

Caminhei lentamente até o banheiro e, depois de tomar um banho quente e fazer minha higiene pessoal, desci até a cozinha onde eu encontrei meu pai e meu irmão sentados a mesa enquanto minha mãe cozinhava.

― Bom dia, princesa – meu pai cumprimentou.

Me sentei ao lado do meu irmão, que estava lendo uma revista em quadrinhos, e ele sorriu para mim. Hugo era uma das poucas pessoas que me entendia. Ele sabia que eu precisava de espaço e respeitava isso.

― O que pretende fazer hoje? – meu pai perguntou.

― Lily e Alvo vão vir me buscar para irmos ao cinema – comentei desanimada.

― Tente se divertir, querida. Seus primos gostam muito de você e querem te ver feliz.

Eu assenti e durante a refeição não falei mais nada. Assim que terminei, voltei para o meu quarto e peguei a caixa que eu escondia debaixo da cama. Meus pais ficariam furiosos se descobrissem, afinal, segundo a minha terapeuta, é essencial que eu desapegue de todas as coisas que me remetem ao acidente e especialmente a ele.

Olhar aquelas fotos e cartas, ao mesmo tempo que me entristecia de certa forma me reconfortava. Eram boas recordações dos momentos mais felizes da minha vida, eram momentos que eu nunca queria esquecer...

Peguei a fotografia mais antiga, que devia ser de quando eu tinha doze anos. Eu sorria toda suja de lama e ao meu lado estava ele, com seus cabelos loiros e olhos azuis. Éramos tão inocentes que nunca poderíamos imaginar o futuro que nos esperava.

Tirei de um pequeno envelope azul um bilhete. Foi através desse pequeno texto que eu descobri que o meu melhor amigo gostava de mim. Na época, lembro de ter ficado bastante surpresa, afinal, eu nunca tinha gostado de ninguém, não entendia o que era estar apaixonada. Reli o texto que eu já havia decorado e não pude deixar de rir em algumas partes em que ele escreveu palavras erradas ou fez comparações idiotas. Scorpius nunca foi muito bom com palavras. Na verdade, ele sempre disse que invejava a minha capacidade de me expressar.

Comecei a procurar uma foto em particular e quando finalmente a achei, não pude evitar dar um pequeno sorriso. Naquele dia eu havia recebido meu primeiro beijo. Eu tinha 14 anos e estava no aniversário de uma amiga quando no meio de um jogo de verdade ou consequência, Scorpius me beijou. Aquele foi o primeiro de muitos que vieram...

― Rose – minha mãe bateu na porta do quarto e eu rapidamente guardei tudo de volta na caixa e a joguei debaixo da cama.

― Pode entrar.

― Seus primos chegaram.

Eu assenti e ela ficou parada na porta.

― Tente se divertir um pouco, ok?

Peguei minha bolsa e desci as escadas, dando de cara com Alvo e Lily que sorriam para mim. Depois de tudo que aconteceu, eu passei muito tempo isolada. Eu entrei em depressão e não queria ver e nem falar com ninguém. Meus pais acharam que seria uma boa ideia se Alvo ficasse vindo me visitar já que éramos melhores amigos e em partes ele entendia o que eu estava passando, afinal, ele também já havia perdido alguém. Desde então, pelo menos duas vezes por semana ele vem me ver. Às vezes sozinho, às vezes com Lily ou James, mas sempre está aqui.

― Oi, princesa – falou me abraçando. ― Como você está?

― Estou bem.

― Rose, eu trouxe uma coisa para você – Lily falou animada e me estendeu uma caixinha. ― Eu achei que iria gostar.

Quando abri a caixa me deparei com um belo colar com pingente de coruja.

― É lindo, muito obrigada – falei.

― Bom, acho que já podemos ir, não é? - Alvo perguntou.

Eu e Lily concordamos e, depois de me despedir dos meus pais, nós seguimos até o jipe de Alvo, que estava estacionado em frente a casa.

― E então... – ele falou ligando o carro. ― Disse a sua mãe que ia te levar ao cinema, mas se quiser ir para outro lugar é só dizer.

― Qualquer lugar? - Questionei.

― Se não for muito longe...

― Quero ir ao Hampstead Heath – afirmei. Alvo e Lily trocaram olhares preocupados e ela tentou argumentar.

― Não sei se é uma boa ideia, Rose.

― Eu quero ir – insisti. ― É importante para mim.

― Não diga a sua mãe, ok? – Alvo falou manobrando o carro. Eu assenti.

Hampstead Heath foi o último lugar em que estive com Scorpius. Três anos atrás, quando começamos a namorar ele me levou até esse parque, desde então se tornou um dos meus locais favoritos na cidade.

Depois de uns dez minutos nós chegamos e eu não consigo descrever o sentimento de voltar aquele lugar depois de meses. As árvores, o lago, o clima ameno de outono, tudo era muito familiar e ao mesmo tempo estranho.

― Vocês se importam se eu ficar um pouco sozinha? – questionei.

― Não – Alvo falou colocando a mão em meu ombro. ― Mas volta logo, ok?

― O.K. – respondi.


Fui caminhando pelo parque enquanto observava a movimentação. Crianças correndo, famílias fazendo piqueniques, casais andando de mãos dadas... Era um ambiente agradável e reconfortante.

Assim que cheguei perto do lago, avistei a árvore debaixo da qual costumávamos passar as tardes de domingo e, automaticamente, me veio um sentimento de nostalgia. Deitei-me na grama e, mesmo sabendo que não deveria, me pus a lembrar da última noite, aquela que tinha tudo para ser a mais feliz da minha vida.

FLASHBACK ON

― Deus? – ele perguntou com o seu típico sorriso de canto.

― Não – afirmei.

― Vida após a morte? – inquiriu.

― Acredito que exista alguma coisa, mas não acho que seja algo como o céu ou o inferno.

― Anjos?

― Anjos? Acredita nesse tipo de coisa?

― Por que não? - Questionou. ― Sei que é cética e que isso provavelmente não vai fazer o menor sentido para você, mas penso que depois da vida temos a missão de cuidar dos nossos entes queridos que continuam a viver. Penso que os que já partiram estão nos observando e guiando nossos passos. Eu acredito que meu pai esteja cuidando de mim... – ele sorriu enquanto observava as estrelas.

― É um pensamento muito bonito – falei.

― Mas não vamos falar de coisas tristes hoje. Vamos comemorar – disse tirando da mochila uma garrafa de champanhe e duas taças.

― Um brinde ao fim do inferno que chamamos de ensino médio – falei erguendo minha taça.

― Na verdade eu planejava brindar a outra coisa – comentou. Eu fiquei confusa e logo depois ele retirou uma caixinha do bolso. ― Estamos entrando em uma nova etapa da nossa vida e muita coisa vai mudar. Vamos ter que fazer escolhas, mudar nossos hábitos, mas eu tenho certeza de que nessa nova fase eu quero estar ao seu lado – ele abriu a caixinha revelando um pequeno anel de ouro. ― Eu te amo, Rose Weasley, aceita se casar comigo? Não agora, sei que ainda somos muito jovens, mas no futuro, quando eu já tiver como lhe dar uma vida digna.

Eu estava completamente surpresa. Scorpius me encarava cheio de expectativa e eu me aproximei para beijá-lo. Foi um beijo lento e apaixonado e quando nos separamos eu sussurrei minha resposta.

― Claro que sim. Eu te amo e quero passar todos os dias pelo resto da minha vida com você.

Passamos um tempo ali apenas conversando e nos beijando até que eu vi a hora no meu celular.

― Já passa da meia noite – comentei.

― Seu pai vai ficar muito furioso? – ele questionou preocupado.

― Hoje foi a nossa formatura, acho que ele me dará uma folga.

― Mas de qualquer forma é melhor nós irmos.
Eu assenti e recolhemos nossas coisas. Fomos até o jipe prata de Scorpius e eu joguei minha bolsa no tapete do banco do carona.

― Vai devagar por que à essa hora a estrada é perigosa - aconselhei.

Hampstead Heath ficava à aproximadamente 20 minutos do centro da cidade e para voltar tínhamos que passar por uma pista um tanto quanto esburacada.

― Relaxa, ruiva, eu sei dirigir.

― Eu sei que você sabe, só disse para tomar cuidado.

Ele ligou o rádio e durante o percurso ficamos cantando bem alto como se fossemos duas crianças. Estávamos fazendo uma curva quando algo no meio da pista me chamou atenção.

― Scorpius, cuidado! - Gritei.

Mas não deu tempo. Tudo foi muito rápido. Senti meu corpo ser jogado com força e depois disso tudo ficou escuro.

FLASHBACK OFF


Essas foram minhas últimas lembranças daquele dia. Quando acordei, estava no hospital. Máquinas e mais máquinas ao meu redor, e quando tentei levantar, senti uma dor que parecia dilacerar meu corpo.

Minha mãe tinha os olhos inchados e abriu um imenso sorriso ao ver-me acordada. Ela perguntou como eu estava, mas a única coisa que consegui murmurar foi o nome de Scorpius.

Só depois de dois dias me deram a notícia de sua morte. Eu fiquei desolada e apenas sentia um enorme vazio dentro de mim. Toda a família fez o possível para tentar me deixar ao menos um pouco feliz, mas a dor que eu sentia era muito grande.

Senti lágrimas escorrendo pelos meus olhos e no mesmo instante alguém segurou o meu braço.

― Está tudo bem? - Alvo perguntou. Eu permaneci em silêncio durante algum tempo.

― Por que não consigo seguir com a minha vida? – questionei olhando fixamente para o lago. Ele suspirou e me entregou um pequeno lenço.

― Sabe, quando perdemos alguém que amamos, costumamos nos confortar com a ideia de que essa pessoa está em um lugar melhor e que, apesar de não estar presente, está nos protegendo. Foi pensar assim que me fez superar a morte da Katherine. Eu sei que você não acredita, mas, às vezes, ter um pouco de fé é uma coisa boa – comentou.

Voltamos a ficar em silêncio até que Alvo o quebrou.
― Às vezes eu sinto como se ela estivesse perto de mim – falou passando a mão pelos cabelos.

― Eu nunca senti isso – afirmei.

― Talvez seja porque você não acredita que é possível – ele me lançou um sorriso. ― Quer ir para casa?

― Minha mãe não vai suspeitar? – inquiri.

― Eu invento alguma coisa.

― Você é incrível, Al – falei dando-lhe um beijo de leve na bochecha.

― Eu sei - ele disse convencido.

Assim que cheguei em casa, despedi-me dos meus primos e fui direto para o quarto. As palavras de Alvo não saíam da minha cabeça. Será que Scorpius pode mesmo estar por perto? Recostei minha cabeça no travesseiro e fiquei pensando sobre coisas aleatórias até cair no sono.

Senti algo quente sob o meu rosto e fui abrindo os olhos devagar. O quarto estava escuro, mas percebi um feixe de luz muito forte. Virei-me e senti minha respiração parar por um instante.

― Scorpius? – questionei completamente em choque.

Sentei-me rapidamente na cama e me pus a observar o loiro que me encarava com o seu típico sorriso de canto.

― Ei, meu amor – sentou na beirada da cama. ― Por que está chorando?

Nesse instante percebi que algumas lágrimas escapavam dos meus olhos.

― Você... Isso... Eu estou sonhando?
Ele acariciou meu rosto com as mãos e percebi o quanto eu sentira falta daquele toque.

― Por que está tão triste? – perguntou.

― Eu não estou triste, só estou surpresa.

― Não falo de agora. Você tem chorado sem parar, está sempre de cabeça baixa e infeliz. Não é a Rose que eu conheço.

― Eu sinto sua falta – consegui dizer entre soluços. ― Por que você teve que me deixar?

― Eu nunca te deixei, meu amor. Sempre estive ao seu lado e vou continuar para sempre. Você pode não me ver, Rose, mas estou com você em todos os momentos.

― Scorpius, eu....

― Eu não quero vê-la chorando de novo, está bem? Você consegue imaginar como eu me sinto quando a vejo desse jeito? Sempre quis te fazer feliz, Rose. Sempre fiz de tudo para ver um sorriso no seu rosto então, por favor, não chore. Não por minha causa, isso parte meu coração.

Eu assenti e ele me envolveu em um abraço.

― Me encontrei com meu pai – comentou depois de um tempo. ― Ele disse que eu não poderia ter me apaixonado por uma garota melhor.

Eu dei um pequeno sorriso.

― Acho que eu já tenho que ir – falou.

― Não, por favor, fica mais um pouco – implorei.

― Eu não posso, amor – disse enquanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

― Mas você vai voltar, não vai?

― Eu nunca vou sair de perto, Rose.

Ele se aproximou e selou meus lábios em um beijo terno.

― Eu te amo. Nunca se esqueça disso – falou me encarando fixamente.

Scorpius foi caminhando até a janela devagar e, de repente, duas enormes asas brancas surgiram em suas costas.

― Você é um anjo? – perguntei.

Ele se virou e me respondeu com um sorriso ― Seu anjo.

Levantei abruptamente.

Minha respiração estava ofegante e eu olhei em volta percebendo que meu quarto estava vazio. "Foi apenas um sonho" pensei. Suspirei e resolvi me levantar para lavar o rosto. Estava indo em direção a porta quando algo próximo a janela me chamou atenção. Fui até lá e me agachei para alcançar o objeto. Quando constatei o que era não pude conter um sorriso.

― Foi real – afirmei enquanto observava a pequena pena branca em minhas mãos.


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