Cicatrizes. escrita por Maramaldo


Capítulo 8
#8 – Incêndio.




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Estava feliz não só por saber que ela estava bem, como também por Lucas ter dado algum sinal de vida. Mas minha felicidade se foi rapidamente e a confusão me dominava. Lay havia batido na mesa, derrubando seu prato, se levantado bruscamente e ido para a sala de estar.

– Layanne? – Chamou Davi, antes que ela desaparecesse, mas ela não lhe deu atenção.

Todos ficaram se entreolhando, confusos.

– Deixa, eu vou lá – disse para Davi, que já se levantava.

Fui para a sala de estar a passos céleres e ao chegar lá, a vi sentada no sofá, com as mãos sobre o rosto. Fiquei parado, pensando em um melhor jeito de animá-la seja lá do que for que a tenha deixado triste. Aproximei-me lentamente e sentei ao seu lado.

– Lay... – comecei, mas não sabia como continuar, pois vê-la chorar me dava vontade de fazer o mesmo.

Estiquei meu braço e coloquei sua cabeça sobre o meu ombro.

– O que houve? – Perguntei.

– Está dando tudo errado – respondeu ela, ainda chorando. – Primeiro Yasmin, depois o Lucas, e agora a Amanda...

– Acalme-se.

– Me acalmar? Eu só quero me casar na presença dos meus amigos, e aos poucos eles estão indo embora. Está dando tudo errado. Como eu queria que meus pais estivessem aqui...

[ANTES]

Aquela promessa não saia da minha cabeça – que jeito mais louco de a deixarmos oficial. Deitado em minha cama, olhei para o curativo em meu braço e, apesar da dor, estava feliz e assustado por ter feito aquilo.

De repente lembrei-me da bronca que levei da minha mãe quando cheguei do sítio dos Dantas, e em quantas desculpas eu imaginei no caminho de volta para a casa sobre aquele machucado, até que enfim resolvi dizer a ela que eu havia caído enquanto brincava com Lay e nós dois nos machucamos – desculpa que já havia dado aos tios e aos pais de Lay.

Fiquei olhando para o teto como eu sempre fazia, e a vontade de ligar para ela, e olhá-la conversar comigo em sua janela do outro lado da rua, só aumentava à medida que a dor em meu braço ficava insuportável.

Peguei meu celular, disquei seu número e liguei. Ficava contando os toques enquanto me levantava lentamente.

Um...

Dois...

Três...

Quatro...

Ela não havia atendido a minha ligação. Continuei me dirigindo até a janela do meu quarto, tentando não fazer nenhum barulho. Será que eu ligo para ela novamente? Ou vou parecer àqueles garotos desesperados?

Resolvi ligar para ela novamente, mas agora sem contar os toques, e ao chegar na janela vi uma luz forte saindo de sua casa. Logo em seguida Lay apareceu na janela, pulando, e foi quando eu ouvi seus gritos em meu celular.

– Pedro, me ajuda! – Gritava ela.

– Lay? O que houve?

– Socorro!

Observava ela tentar abrir a janela do seu quarto sem sucesso, e então voltei a olhar para a luz forte do outro lado da casa. Demorou muito para eu raciocinar o que estava acontecendo, e quando enfim eu pode entender que sua casa estava pegando fogo, saí do meu quarto às pressas, gritando.

– Mãe! Mãe!

Minha mãe apareceu, desesperada, no andar de baixo enquanto eu descia as escadas.

– O que houve, meu filho?

– A casa de Lay está pegando fogo!

Minha mãe ficou parada por alguns segundos antes de correr até a porta e ver a casa dos Dantas em chamas. Logo em seguida ela foi até a sala de estar, discou alguns números no telefone fixo e esperou que a pessoa do outro lado atendesse.

– Oi, está acontecendo um incen...

Aproveitei que minha mãe estava distraída e corri para o lado de fora. Lay ainda gritava do outro lado da linha do telefone que eu ainda segurava. Quando estava me aproximando da casa, alguém me puxou para trás.

– Lay! – Gritei.

– Já chamei os bombeiros, eles já estão a caminho – disse minha mãe, ainda me segurando.

Levei o telefone à orelha para ouvi sua voz.

– Lay, minha mãe já chamou os bombeiros...

– Pedro, socorro! – Ela gritava.

Minha mãe pegou o telefone da minha mão e levou-o à orelha.

– Lay? Lay? Você está aí?

Olhei para a janela e vi que Lay não estava mais tentando abri-la. O desespero já me consumia e não sabia mais o que fazer. Queria poder entrar lá e salvá-la, mas tinha a consciência de que acabaria morrendo. Sentia-me inútil.

– Você está bem? – Perguntou minha mãe, mas ela não estava falando comigo e sim com Lay do outro lado da linha. – Onde você está?... O fogo está perto de você?... Onde seus pais estão?... Continue aí onde você está, pegue um pano e coloque sobre o nariz e a boca para não inalar muita fumaça, os bombeiros já estão chegando!

Alguns minutos depois comecei a ouvir o som da sirene, olhei para o lado de onde o som vinha e vi que todos os moradores da rua observavam a casa de Lay pegar fogo. Porque eles não fazem nada? Porque não pegam baldes com água ou mangueiras para ajudá-los?

Esperei os bombeiros fazerem seu trabalho, impaciente. Nervoso. Com medo.

Minutos depois um bombeiro apareceu carregando Lay. No começo fiquei desesperado, mas logo em seguida fiquei calmo quando percebi que ela estava consciente. Ele a colocou em uma maca e a levou até a ambulância enquanto minha mãe e eu nos aproximávamos.

– Lay – chamei.

– Pedro? – Gritou ela.

– Você está bem?

– Estou. Onde estão meus pais?

Olhei para minha mãe e ela olhou para o bombeiro que a trouxe.

– Onde estão os pais dela? – Perguntou minha mãe.

– Quem é a senhora?

– Sou amiga deles, moro aqui em frente, fui eu que chamei vocês.

O bombeiro olhou para mim e para Lay, depois voltou a olhar para minha mãe, e disse:

– Me acompanhe, por favor.

A enfermeira que estava dentro da ambulância pediu para que Lay se deitasse na maca. Procurei minha mãe e vi que ela e o bombeiro conversavam ao lado da ambulância. Olhei para Lay novamente – a enfermeira ainda a examinava – e resolvi ir até a minha mãe para saber o que estava acontecendo.

Fui me aproximando lentamente, e aos poucos eu começava a ouvir a conversa entre ela e o bombeiro.

– ...gando fogo, então rapidamente liguei para vocês – dizia minha mãe. – Então fiquei aguardando ao lado do meu filho a chegada de vocês.

– Certo. Ainda não sabemos como, quando ou onde o incêndio poderia ter começado, mas... – o bombeiro fez uma pausa e olhou para a casa de Lay.

– Mas...? – A voz da minha mãe soou nervosa.

– Tudo indica que o incêndio começou no quarto dos pais da garota, e infelizmente eles faleceram.

Minha mãe pôs a mão na boca, não acreditando no que o bombeiro acabara de dizer. Na verdade, nem eu acreditava. Os pais de Lay morreram, ela estava sozinha...

[AGORA]

Ela me olhou com aqueles olhos lagrimejantes e a vontade de chorar com ela ficava incontrolável. O que uma pessoa conselheira e normal diria numa hora dessas?

– Mas ainda tem a Paula, o Jef, Gustavo, Jessica, Laís, Mateus, Bruno, seus tios, Davi... Você ainda tem a mim – comecei. – Vai dar tudo certo, não se preocupe. Daqui a mais ou menos vinte e quatro horas você estará naquele jardim, com um lindo vestido branco, e estaremos ao seu lado.

– É muito bom saber que eu tenho você, Pedro.

– Sempre.

Ficamos nos olhando, sem dizer absolutamente nada.

– Que tal você voltar para cozinha e terminar seu café da manhã? – Perguntei, quebrando o silêncio, me levantando e estendendo a mão para ajudá-la.

Ela segurou minha mão, se levantou do sofá e voltamos para a cozinha.


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Notas finais do capítulo

Amanhã... Capítulo #9 – Lago.



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