Cicatrizes. escrita por Maramaldo


Capítulo 6
#6 – Encontro.


Notas iniciais do capítulo

Você já suspeita de alguma pessoa?



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Mas que merda!

Todos nos olhavam fixamente. Alguns com uma cara espantada, outras de curiosidade. Agora era muito tarde para me arrepender de não ter dado a primeira ideia sobre as histórias que contaríamos ao redor da fogueira, mas o arrependimento não valia nada quando todos esperavam uma resposta, ou pior... O som da explosão.

Olhei para o lado e vi os lindos cabelos loiros de Paula iluminado pelas chamas da fogueira; ela olhava para frente, pensativa, sem reação ao acontecimento que nos envolvia naquele instante. Talvez, como eu, ela não quisesse falar sobre isso. Mas tínhamos que falar.

– E então... Vocês irão contar sua história? – Perguntou Amanda.

E ao ver que todos esperavam alguma reação – tanto da minha parte quanto a de Paula -, resolvi falar:

– Há alguns meses comecei a sair com Paula – silêncio. – Nunca havia rolado nada entre a gente, apenas conversávamos, nos divertíamos... Mas ontem resolvemos dar mais um passo e... Nos beijamos e agora estamos juntos. Para muitos de vocês esse breve resumo da nossa história é meio sem graça, mas para mim, talvez por ter vivido tudo, é a melhor história que eu já contei na minha vida – disse, meio sem graça.

E essa foi uma das raras vezes que eu não fiquei tímido por ser o centro das atenções, pois revelar o amor que eu sentia por aquela garota incrível me fazia esquecer das minhas manias bestas.

Alguns aplaudiram, outros riram... Olhei para Paula que me olhava com aquele pequeno sorriso no rosto, e também sorri. Agarrei sua mão e ela pousou sua cabeça sobre o meu ombro. E fiquei rezando para que eles não pedissem que nos beijássemos.

As horas foram se passando sem que ninguém percebesse. Jef começou a contar algumas histórias engraças, seguido por Davi e Mateus, e aos poucos todos foram entrando em suas barracas.

Acariciei os cabelos de Paula que, naquele momento, estava dormindo com a cabeça em meu colo. Não queria acordá-la, mas tinha que fazer.

– Oi. Acorda – disse carinhosamente em seu ouvido.

Esperei ela se levantar para poder então fazer o mesmo. A vi esfregando seus lindos olhos verdes e fiquei a admirando, e então as lembranças do nosso primeiro encontro pairava em minha mente...

[ANTES]

Comecei a me xingar de idiota enquanto segurava meu iPhone. Porque ligar para ela? – Pensava a princípio. – Porque não ligar? – Pensava logo em seguida. – Qual é, foi apenas um beijo... Um beijo. Estávamos comemorando o último dia de carnaval e estávamos bêbados, talvez ela nem se lembre do que aconteceu, talvez não esteja nem aí.

Estava divido em dois: a primeira metade não queria ligar para ela, queria que tudo passasse em branco e ficava me fazendo acreditar que nada passou de um beijo; a segunda metade, a qual eu a nominava de voz da razão, dizia para eu ligar para ela, ouvir sua voz, levar tudo adiante, pois aquele beijo tinha sido significativo.

Algumas horas depois nos encontramos nos corredores da faculdade. Ela estava tão linda com aquele vestido preto que me fez parar de caminhar na mesma hora.

– Pedro? Está tudo bem? – Perguntou ela quando se aproximou.

– Está, está – respondi, despertando de meus pensamentos maliciosos. – Paula, o que aconteceu naquele dia... – Não consegui continuar.

– Foi errado? – Perguntou ela, querendo adivinhar como eu concluiria minha frase inacabada.

– Não, não – falei rapidamente. – É que... Não sei como explicar. Foi... Bom.

Ela pôs um pequeno sorriso no rosto.

– Sei, pareço um idiota, né? – disse.

– Não – disse ela. – Eu te entendo. É que eu acho estranho nós dois termos sentindo algo a mais enquanto nos beijávamos em um bloco de carnaval, bêbados.

– Então você...?

Ela assentiu.

– Você quer conversar? – Perguntei, depois de um ou dois segundos de silêncio. – Podemos sair depois da aula.

– Adoraria.

Nos despedimos e cada um seguiu seu caminho. Quase não prestei atenção na aula, pois, a cada minuto que se passava, meus pensamentos me levavam para um lugar diferente, e em todos eles eu estava ao lado dela. Comecei a pensar se estávamos fazendo a coisa certa, se era isso que eu realmente queria.

Meu estomago embrulhava – pelo medo e pela ansiedade – e meus pensamentos eram confusos. Havia sentido isso apenas uma vez na vida, na adolescência, pela pessoa que hoje é minha melhor amiga, e nunca pensei que esse sentimento voltaria.

– Está tudo bem, cara? – Perguntou Jef.

Eu apenas assenti.

Quando enfim minhas aulas terminaram, andei a passos céleres para o lado de fora. Peguei meu iPhone e vi que havia uma mensagem de Lay: “Vou demorar um pouco, me espera.”; Que merda! Havia esquecido da torta-de-fim-de-tarde que sempre fazíamos. Pensei algumas vezes antes de responder a ela que não daria para eu ir, pois tinha um outro compromisso. Pelo menos eu sabia que não teria que dar explicações, pois Lay não perguntaria qual era o meu outro compromisso – e essa era uma das coisas que eu admirava nela.

Coloquei meu iPhone no bolso e olhei para frente. Lá estava ela, com aquele mesmo vestido preto de algumas horas atrás, me esperando. Ela sorriu quando me viu e acenou, e eu não pude conter minha felicidade em vê-la.

Nosso primeiro encontro foi melhor do que eu imaginei. Andamos pelo calçadão de Copacabana e conversamos sobre tudo e mais um pouco: faculdade, nossas vidas, histórias, amigos, arte, trabalho...; como ela era incrível. A admirei todas as vezes que ela mostrava aquele pequeno sorriso, pois este fazia meu coração ficar um pouco mais acelerado. Beijava infinitamente vezes sua testa quando me abraçava e cheirava seus cabelos quando apoiava sua cabeça em meu ombro.

Estar com ela era maravilhoso e eu sentia algo que não podia explicar.

Desde então começamos a nos encontrar, enquanto os encontros com Lay ficavam cada vez mais raros. Ficava pensando nela todos os dias após os nossos encontros, ficava imaginando quando eu a beijaria. Mas eu não tinha pressa... Tudo teria seu tempo.

[AGORA]

– O que foi? – Perguntou ela.

– Não, nada – respondi, despertando de meus pensamentos. – É que você está linda.

– Meu cabelo está um pouco bagunçado e meus olhos estão vermelhos por causa do sono... Acho que você precisa de óculos – disse ela, rindo.

Peguei em sua cintura com as duas mãos, fazendo com que nossos corpos se aproximassem.

– Não – disse enquanto aqueles olhos me encaravam –, tenho certeza do que eu estou vendo. Vejo uma bela mulher inexplicavelmente linda.

Ela ainda me encarava sem dizer uma única palavra, mas pude ver em seus olhos sua felicidade enquanto estes brilhavam sobre a pouca luz da fogueira – que naquele momento estava quase se apagando.

– Tenho sorte por ter você ao meu lado – disse ela.

Fiquei feliz por ouvir aquilo.

– É, eu sei, sou um cara incrível – disse, rindo.

– Não estraga o clima – disse ela, rindo, dando um leve murro em meu peito. – Seu chato.

– Minha boba.

Ela pôs os braços sobre o meu ombro, enquanto ainda segurava sua cintura, e me beijou. E aquele momento foi como se eu tivesse no bloco de carnaval, bêbado, quando depois de encará-la algumas vezes eu finalmente tomei coragem para ir até ela, chamá-la para um lugar longe dos nossos amigos, a encarar novamente por alguns segundos antes de beijá-la. Talvez esse sentimento já estivesse dentro de mim, talvez tenha se desenvolvido durante nossas numerosas conversas, pessoalmente ou pelo Facebook, mas nada mais importava, o que realmente importa agora é que eu a tinha e ela tinha a mim.

– Acho bom irmos dormir – disse durante o nosso longo beijo.

Dando um último beijo, ela tirou seus braços do meu ombro e eu larguei sua cintura. Queria poder continuar ali, beijando-a, sentindo seu corpo, mas já passava das três da manhã e precisávamos dormir.

Esperei ela entrar em sua barraca, onde dormiria com Jessica, e entrei na minha. Jef estava deitado com as pernas e braços esticados, não deixando espaço para eu deitar, então o empurrei até que ele se virasse para um dos lados, deixando espaço suficiente para nós dois deitarmos.

Quando me deitei, esperei que o sono me dominasse. E quando estava quase dormindo, ouvi o som de alguns passos do lado de fora.


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Notas finais do capítulo

Amanhã...
Capítulo #7 – Desaparecimento.



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