Cicatrizes. escrita por Maramaldo


Capítulo 1
#1 – Viagem.




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Levantei daquele sofá velho e andei lentamente em direção ao computador levando minha xícara de café meio amargo. Sentei no banco pouco confortável e olhei a foto que estava na tela – lá estava Paula Oliveira (com seu pequeno sorriso) do meu lado esquerdo com Jeferson Ribeiro (Jef) ao lado dela e, do meu lado direito, estava a garota que até hoje a considero como melhor amiga.

Sei que muitos homens preferem ter outros homens como melhor amigo – o que é uma idiotice –, mas eu particularmente continuo preferindo alguém que me entenda, alguém como ela. Muitos – os que não nos conhecem – acham que já rolou algo entre a gente, que sentimos atração um pelo outro e que não queremos admitir - o que não totalmente verdade. Tenho com Layanne Dantas – ou Lay, como eu prefiro chamá-la -, uma amizade que nunca tive com ninguém, e não quero perdê-la.

Rezando para que a porcaria da internet não estivesse lenta, cliquei no ícone do e-mail e esperei que ele abrisse. Fiquei olhando para a foto até que a janela do e-mail a cobriu por completo e visualizei a caixa de entrada. Havia três novos e-mails... Primeiro: uma propaganda de um apartamento horrível e sem muito espaço; Segundo: um comunicado da faculdade sobre as futuras provas; E terceiro - que chamou minha atenção de imediato: uma carta de confirmação.

Assunto: Carta de Confirmação

Olá,

Conforme conversamos semana passada, e para deixar oficial, convido vocês para a minha pequena festa de casamento no sítio dos meus tios (Ricardo e Sara Dantas) em Manaus, Amazonas.

A viagem será amanhã de manhã, às 10:00hs, no avião particular da minha família. Peço para mandarem uma resposta confirmando suas presenças.

Atenciosamente,

Layanne Dantas.

É isso aí, ela vai realmente se casar.

As imagens da notícia do grande casamento pairavam na minha cabeça...

[ANTES]

Entramos na pizzaria com fome e curiosos. O convite tinha sido repentino e nenhum de nós, a não ser Lay e seu noivo Davi Feitosa, sabia o verdadeiro motivo daquela grande reunião de amigos.

Davi chamou a atendente e disse que precisaria de duas mesas devido a quantidade de pessoas. A atendente assentiu e disse para irmos com ela. Subimos a escada, indo para o andar de cima, onde tinham mesas maiores próprias para grandes reuniões de família e amigos. Sentamos sobre a mesa que estava perto da fachada, onde podíamos ver a linda Copacabana noturna.

Pedimos duas pizzas – uma de calabresa e outra de mussarela – e após nos servimos, Davi levantou-se e pediu a atenção de todos - estava com o meu pedaço de pizza a meio caminho da boca quando parei para ouvi-lo.

– Caros amigos, tenho uma grande notícia para dar a vocês - Davi pegou a mão de Lay, pedindo que ela também se levantasse. – Como todos vocês sabem, eu e Layanne estamos noivos... – disse ele sem tirar os olhos dela, e continuou - E finalmente vamos nos casar!

As meninas deram alguns pequenos gritinhos – as vezes me pergunto porque elas gostam de fazer isso?!

– A festa de casamento será daqui a uma semana e eu e Davi concordamos que o sítio dos meus tios, Sara e Ricardo Dantas, seria um ótimo lugar para acontecer essa grande mudança em nossas vidas. – Disse Lay. - Vai ser uma coisa pequena, sem muitos convidados. E conto com a presença de todos vocês.

Davi continuava olhando para ela sem se virar para ver as nossas reações. Beijando a mão de Lay (e não pude deixar de olhar mais uma vez o anel de noivado) seguido de um abraço, ele a beijou na nossa frente.

Amanda Cavalcante, Jessica Sousa, Paula Oliveira e Yasmin Lima deram, novamente, alguns gritinhos de alegria e foram abraçar Lay, enquanto eu, Jef Ribeiro, Gustavo Oliveira e Lucas Meireles fomos dar os parabéns a Davi. Esperei todas as garotas pararem de abraçar Lay para poder então fazer o mesmo.

– Estou feliz por você, parabéns. - disse a ela enquanto a abraçava.

– Obrigada.

[AGORA]

Peguei a xícara de café que estava ao lado do teclado e dei um pequeno gole. Respondi o e-mail, confirmando minha presença – afinal, eu sou padrinho do casamento –, e me levantei da cadeira, que fez um pequeno rangido, levando minha xícara comigo.

[...]

Eram 08:00hs e a manhã de quarta-feira estava ensolarada. Terminei de arrumar minha mala e saí do meu velho apartamento às pressas para a rua movimentada. Estiquei meu pescoço a procura de um taxi e, quando enfim consegui encontrar um vazio, fiz sinal para que ele parasse. Coloquei minha pesada mala no porta-malas, entrei no taxi com minha pesada mochila e disse o endereço ao motorista. Mesmo com todo aquele trânsito do Rio de Janeiro, conseguiria chegar com pelo menos meia hora de antecedência – assim espero.

Faltando uma hora para o avião particular dos Dantas partir, meu celular começou a tocar. Na pequena tela estava o nome e a foto de Jef.

– Oi? – disse ao atender a ligação.

– Onde você está?

– Já estou chegando, estou no transito.

– Já está todo mundo aqui, só falta você.

– Deixa eu falar com ele – ouvi alguém dizer meu nome do outro lado da linha, seguido de um pequeno barulho.

– Pedro?

– Oi Paula – disse após reconhecer sua voz.

– O que aconteceu? Porque você se atrasou?

– Eu meio que dormi demais. Não se preocupe, já estou chegando.

– Tudo bem, só não demore, estamos te esperando. Tchau – tentei imaginar seu pequeno sorriso enquanto ela se despedia.

– Tchau.

Desliguei o telefone sem esperar que ela desligasse primeiro – o que eu sempre fazia. Pedi para o motorista ir um pouco mais rápido, o que o fez me olhar pelo retrovisor com uma cara emburrada, como se me xingasse mentalmente de vários nomes inapropriados.

Cheguei ao meu destino alguns vários minutos depois - um espaço amplo que ficava no fundo da casa dos Dantas. Paguei o imbecil do taxista, que me fez chegar depois do que eu previa, e saí correndo em direção ao pequeno avião particular que eu logo reconheci.

– Finalmente – disse Paula ao me ver chegando.

Parei. Ela e Yasmin me abraçaram.

– Pensei que você tinha desistido – disse Yasmin ao parar de me abraçar.

– E perder o casamento da minha melhor amiga? Acho que Lay me mataria.

Todos rimos.

– E como você está?

– Estou ótimo, e um pouco ansioso.

– Eu também – disse Paula.

– Pois é, estou louca para conhecer esse tal sítio que todos vocês vivem falando – disse Yasmin.

– Tenho certeza que você vai adorar – respondi, tentando apenas me lembrar dos momentos felizes que eu tive lá – apesar de já fazer uma década que eu não colocava o pé naquele belo lugar.

– Deixa eu te ajudar – disse Paula pegando a mochila da minha costa. – Vamos!

– Eu vou ao banheiro – disse Yasmin. – Encontro vocês no avião.

– Não demore – disse Paula.

Andando a passos céleres em direção ao pequeno avião, fiquei imaginando o que me esperaria nessa viagem. Há anos que não vou ao sítio dos Dantas e, apesar de estar meio inseguro, estou louco para poder voltar àquele belo lugar. Sentir o vento úmido no rosto, ouvir o som dos pássaros, banhar nas águas verde do lago... E ver Lay, minha melhor amiga, se casar.

Não poderia imaginar melhor momento para voltar.

– Olha ele aí – disse Jef ao se levantar da poltrona do avião e logo em seguida me cumprimentar. – Achei você tinha desistido.

– Já é a segunda pessoa que me diz isso – ri. – Você sabe que eu não perderia o casamento de Lay.

– Ah, você chegou – disse Gustavo ao me ver. – Davi! O Pedro chegou, já podemos partir! – Gritou ele.

– Não! – Gritou Paula, que estava ao meu lado, segurando minha mochila. – Yasmin foi ao banheiro.

– Bom, já vai dar 10:00hs, temos que nos apressar, vou chamar o pessoal – disse Gustavo.

Olhei de Paula a Gustavo e não pude deixar de notar que o tempo não decompôs a semelhança entre os dois irmãos. Mesma cor dos cabelos – um loiro reluzente –, os mesmos olhos verdes...

– Vou ajudar você – disse Jef, se retirando com Gustavo.

Olhei para Paula e fiz sinal para que ela me devolvesse a mochila.

– Você pode ir com eles, se quiser – disse a ela.

– Você não quer ajuda?

– Não, não. Me viro por aqui. Obrigado.

– Tudo bem.

Ao andar pelo estreito corredor do avião, ela parou por alguns segundos, me olhou, e saiu.

Guardei minha mala e minha mochila, e sentei na poltrona. Faltava poucos minutos para à hora marcada da viagem e apenas eu estava dentro do avião. Os minutos se passaram, e quando faltava apenas sete minutos, recebi uma mensagem de texto.

“Pessoal, infelizmente não vou poder ir, pois tive um pequeno imprevisto. Desculpem. Obrigada pelo convite e espero que se divirtam muito.

Yasmin Lima”.

Alguns minutos depois todos começaram a entrar no avião, perplexos.

– De uma hora para outra – ouvi Amanda dizer a Jessica.

– Será que aconteceu algo grave? – perguntou Gustavo a Lucas.

– Pessoal! – Chamou Davi. – Como todos receberam a notícia, Yasmin teve um imprevisto e não irá mais viajar com a gente. Agora queiram se sentar em suas poltronas, pois iremos partir em três minutos.

Como sempre, Davi sendo autoritário.

Aos poucos todos foram se sentando em suas poltronas. Amanda ao lado de Lucas, Jessica ao lado de Paula, Jef ao meu lado, Gustavo estava sentado sozinho e, lá na frente, eu pude ver aqueles cabelos escuros e lisos sobre a pele branca ao lado de Davi.

– Lay – a chamei.

Ao se virar, ela deu um grande sorriso e acenou para mim.

MINUTOS ANTES...

Yasmin entrou no banheiro unissex às pressas. Queria fazer tudo rapidamente e voltar logo para o avião. Desde a semana passada, quando recebera a notícia do casamento e de que este seria no sítio dos Dantas – que seus amigos tanto falavam – não parava de pensar nessa viagem.

Levantando-se da privada e se vestindo novamente, ela foi em direção ao espelho e viu que sua maquiagem estava um pouco borrada.

– Que merda!

Valeu por não reparar, Paula – pensou.

Pegou o pequeno kit de maquiagem da sua bolsa e começou a concertar aquele erro que para ela era terrível. Ouvindo a porta bater, ela olhou pelo espelho quem havia entrado.

– Oi – disse a pessoa.

– Oi – respondeu Yasmin.

– O que você está fazendo?

– Concertando minha maquiagem – disse dando um último toque. – E você, não deveria estar no... – disse se virando para ver a pessoa.

Mas antes que pudesse completar a frase, uma faca entrou em seu pescoço. Ela sentiu um liquido quente descer até seus seios e olhou para a pessoa na sua frente, que via sua morte sem nenhuma reação. E ao tentar falar, começou a se engasgar com o próprio sangue.

Ajoelhando-se, ela continuou olhando para a pessoa na sua frente. Não estava conseguindo mais respirar. Sua vista começou a ficar embaçada. E tudo escureceu.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do Capitulo #1! Não percam o capítulo #2, amanhã.



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