Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus escrita por cardozo


Capítulo 39
Capítulo 14 - A Lua de Sangue, Quinta Noite. PI




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/52474/chapter/39

A Lua de Sangue, 5ª Noite...

 

         A noite se anunciava... O garoto abriu os olhos, estava sentindo a grama molhada em seu rosto. Teria sonhado? Em seu sonho que era mais um pesadelo  Inimis o torturara até perder os sentidos.

"Foi um sonho e bem ruim. Um pesadelo".

Tentou se levantar, não conseguia se mexer, seus membros doíam muito, conseguiu mover um pouco a cabeça.  Tudo parecia normal, ele  não tinha  manchas ou qualquer hematoma no corpo. Entretanto sua camisa estava rasgada. Ele se encontrava  atrás de uma moita no jardim. Não sonhara, a roupa rasgada e o corpo todo dolorido confirmava, a tortura foi real.

Seus esforços foram tremendos e depois de algum tempo finalmente conseguiu se levantar. A muito custo foi se arrastando para tentar chegar ao quarto sem que ninguém o visse. Inimis sabia como trazer a dor às pessoas. A raiva que sentia era imensa por ter ficado tão impotente quando fora aprisionado... Procuraria Medar, estava decido. Mil pensamentos passavam por sua mente.

"O dia já acabou, o que será que Cassi e Bal fizeram quando  viram que eu não apareci?".

"O que acontecerá se alguém me vir nesse estado?".

"Será que  estão me procurando?".

Parou um instante a dor era latente e sua companheira. Tinha muitas dúvidas, lembrou-se de Damira, mudou de idéia. Uma certeza formou-se, não poderia contar nada a ninguém do que havia acontecido. Não por estar com medo de ser expulso da Cidade Superior, mas sim por receio do que aconteceria com a candidata. Sentiu-se fraco novamente...

            A discussão entre Cassi, kitrina, Bal e Dafne estava acirrada para decidir o que fariam em relação ao desaparecimento de Arão.

-Devemos procurar Medar.  Sugeriu Cassi.

-Você esta louca,  ele vai nos expulsar.  Retrucou Bal.

-Mas deve ter acontecido algo grave com ele. Cassi olhou para todos. -Quando estávamos no treinamento hoje, durante alguns momentos eu senti muita dor e sofrimento.

-Você acha que era... Dafne levou as mãos a boca num gesto de espanto.

-Cassi está certa, vamos falar com Medar. Kitrina olhava para Bal. -Se alguém pode nos ajudar esse alguém é Medar.

Os quatro seguiam rápido na esperança de encontrar o grande conselheiro de Set, em suas mentes ainda ecoava a pergunta: “O que aconteceu com Arão”. Estavam quase saindo dos jardins, quando Bal ouviu um barulho.

-Bal! Vamos embora não podemos ficar parando em cada canto.

As palavras de Cassi saíram automaticamente ao ver o garoto se dirigir para a folhagem do jardim. Ele enfiou as mãos entre as plantas,  abrindo uma pequena brecha para poder enxergar o que havia do outro lado.

-Minha nossa! Exclamou ele. -Mas o que foi que fizeram com você.

Ele pulou para dentro das folhagens. Assobiou para as garotas,  fazendo sinal para elas virem depressa.

-Eu espero que seja algo importante.  Vociferou Cassi contrariada.

- Não temos tempo para suas brincadeiras... –Oh, meu Deus! Exclamou ao chegar, ela viu Bal tentando levantar Arão.

-Ele está? Dafne tinha receio de terminar a frase.

Kitrina aproximou-se , começou a apalpar o corpo de Arão, o jovem se contorcia a cada toque dela.

-Ele está bem.  Apressou-se em dizer. -Deve ter desmaiado em decorrência da dor.

-Dor? Que dor? Perguntava Bal confuso.

-Com certeza alguém deve tê-lo acertado com um bastão de energia.

Vendo que o rosto de dúvida de Bal permanecia.

 

-Aquele que ganhamos hoje e lutamos dias atrás.

-Eu sei o que é um bastão de energia.

- Bem, eles provocam muita dor. Continuou Kitrina.

-Eu sei disso também.

Bal recordara da dor que sentira ao ser atingido por Keyllor.

-Não ficou nenhuma marca no corpo. Prosseguiu ela explicando. -Como o contato dele deve ter sido prolongado a dor permanece por algum tempo. Mas logo ele estará bem. Provavelmente quando acordar estará melhor.

-Mas por que alguém o atingiria sem querer com um bastão?  Perguntou Bal.

-Estou querendo dizer que alguém o atingiu inúmeras vezes com o bastão propositalmente, até que ele desmaiasse de dor.

-Ele foi torturado! Grunhiu Dafne.

-Vamos levá-lo para seu quarto. Ordenou Cassi a Bal.

O garoto passou um dos braços de Arão pelo seu pescoço, Cassi fez o mesmo do outro lado. Arrastaram o jovem pelos corredores, tiveram o cuidado de ir se esgueirando pelas passagens menos povoadas. Por isso demoraram o dobro do tempo normal para chegar ao seu destino. Deitaram Arão na cama, o jovem dormia, mas às vezes suas feições mudavam radicalmente como se ainda sentisse dor.

-Você tem certeza que ele vai ficar bem? Bal duvidava de que Kitrina estivesse certa.

-Ele vai acordar todo dolorido e com uma tremenda dor de cabeça. Mas logo irá se recuperar. Com certeza a pessoa que fez isso com ele usou apenas uma pedra de força no bastão, senão o resultado teria sido fatal.

-Ótimo. Clamou Cassi.

-Já que ele está bem, vamos deixá-lo descansando. Quando acordar poderemos perguntar o que aconteceu. Acho que por enquanto é só o que podemos fazer por ele. Kitrina precisamos voltar para nosso quarto. Bal, mande-nos uma mensagem pelo espelho assim que ele acordar.

O garoto acenou com a cabeça, fazendo um sinal de afirmação.  Cassi ia saindo, mas virou-se bruscamente.

-Acredito que não preciso nem dizer que este será um segredo só nosso.

Olhou para Kitrina que acenou dizendo que entendera o recado. Dafne concordou plenamente e  Bal fechou a boca,  fazendo um sinal sobre a boca como se estivesse puxando um zíper. As duas garotas se retiraram.

Bal e Dafne olhavam para o garoto adormecido sem saber o que fazer ou esperar.

 -Será que ele está bem? Perguntou Dafne vendo Arão se contorcer todo.

-Espero que sim. Bal olhava preocupado sentado à frente do espelho.

Em alguns momentos Arão se debatia puxando a coberta para si, noutros ficava quieto, suava bastante e falava palavras desconexas. Bal e Dafne não conseguiam entender o significado delas.

-A torre... A besta negra... O pergaminho... Cuidado, cuidado...

-Ele está sonhando. Disse Dafne.

-Pelo visto é um pesadelo daqueles. Conclui Bal.

-Nnnnãããooo...

Arão  teve  um espasmo, como se alguém o estivesse atingindo, de repente  ficou quieto. As pálpebras se abriram lentamente, era difícil sustentá-las abertas, elas fechavam constantemente, mas ele fazia força para mantê-las abertas. Ergueu a cabeça que parecia pesar toneladas, apoiou-a nas mãos, pois tinha certeza que se não o fizesse ela penderia para trás.

-Ele está acordando. Gritou Dafne se agitando no ar.

Bal largou o espelho, levantou-se  dirigindo-se até onde o amigo estava.

-Que sonho hein?

O que nenhum deles sabia é que para Arão o sonho tinha acabado, mas para outro garoto no Santuário, ele estava apenas começando, o mesmo sonho, porém muito mais real... A torre... A besta negra a garota com a marca no pulso, a morte...

 Como está se sentindo?

Bal queria ouvir toda história que Arão tinha para contar,  depois ia fazer o possível para deixar Cassi curiosíssima, até que a garota implorasse para que ele contasse tudo o que sabia. Ela e Kitrina aguardavam no espelho por novidades.

-Aaaahhhh minha cabeça. Gemeu Arão levantando-se vagarosamente e sentou-se na cama.  -Meu corpo está dormente. Parece que tomei uma surra daquelas.

-E tomou mesmo. Brincou Dafne enquanto fazia círculos perto do teto.

-O que foi que aconteceu? Bal estava impaciente. -Nós ficamos preocupados. Você não apareceu nem nos treinamentos. Ainda bem que ninguém perguntou nada.

-Como estão Cassi e Kitrina?

Arão notou que estava sem camisa e o resto de suas vestimentas estavam rasgadas. Ficou corado por causa de Dafne, enrolou-se no lençol.

-Estão bem, somente  preocupadas com você. Estão esperando no espelho para que eu envie notícias. Mas conte-nos tudo.

-Foi Inimis.

-Inimis? Repetiu Dafne.

O garoto contou-lhes tudo que passara aquele dia e o porquê de não poderem contar a mais ninguém a história. Bal e Dafne ficaram revoltados, mas entenderam que tinham que guardar segredo pelo bem de Damira. Arão sabia que Cassi ia querer ouvir o relato, mas deixou isso a cargo de Bal.  O amigo era um mestre imbatível na arte de contar histórias.

-Eu fiquei desacordado muito tempo?

-Um pouco. Respondeu Dafne.

-Já é tarde da noite. Mas ainda bem que você acordou. Senão sua visita teria que voltar outro dia.

-Minha o quê?

Arão não entendera o que Dafne queria dizer. Olhou para Bal confuso.

-Bom, sabe o que acontece...  Bal não sabia como contar a ele. -É que hoje você receberá uma visita.

-Eu? Quem?

-Damira.

-O quê? Você ficou louco! Ela não pode vir aqui. Hoje é a última noite da Lua de Sangue. Como você pode deixar...

Arão mesmo com dores pelo corpo avançou na direção de Bal.

-Eu não pude evitar. Bal tentava se explicar fugindo das mãos de Arão que o agarravam. -Cassi conversou com ela pelo espelho bem antes de você acordar. Contou que você tinha sumido a tarde e como o encontramos. Ela ficou preocupada e disse que quando a lua estivesse bem ao centro na noite, viria vê-lo. Você sabe como são as mulheres quando metem algo na cabeça...

Arão  o soltara.

-Mas ela não pode. É perigoso.

-Eu sei Arão, Cassi a avisou, entretanto ela é teimosa quis vir assim mesmo. Temo que agora seja tarde demais.

-Vamos usá-lo. Apontou Arão para o espelho. -Dizer a ela que estou bem. Que ela não precisa mais vir.

 -Creio que não podemos. Quando ela estava falando com Cassi removeram o espelho dela.

Dafne voava nervosa ouvindo a discussão dos dois garotos.

-Não tem outro jeito. Terei que ir ao quarto dela. Assim ela não correrá perigo andando sozinha à noite.

-Impossível! Bal foi incisivo na colocação. -Hoje me parece que ela sofreu uma punição. Na hora não entendi bem, mas agora sei o porquê. Depois do que você contou, acredito que deve estar relacionado a uma possível recusa de ir ao baile. Mudaram-na de quarto, ninguém sabe onde ela está, desta vez teremos que esperar.

Arão estava visivelmente preocupado. Damira estava andando sozinha pelos corredores,  esta era a última noite da Lua de Sangue. Estava quase chegando o momento em que a garota tinha prometido aparecer. Arão rezava para que ela aparecesse.

-Bom, já estamos de partida.

-Como assim? Para onde vocês vão? E por quê? Arão olhava desconfiado para o rosto maroto de Bal.

-Meu amigo, nós não queremos atrapalhar nada.  Bal deu um olhar de cumplicidade para Dafne.

 -Como?  Arão entendeu o que eles queriam dizer.  -Deixe de ser bobo Bal, eu só preciso avisá-la sobre o grande perigo que correm as candidatas a deusa.

-Eu sei, eu sei. Sorriu o amigo de forma maliciosa. -Diga para ele.

Dafne pegou o livro que o garoto ganhara a tarde.

-Bal precisa treinar encantos e magias sozinho, senão nunca se tornará um grande mago. Eu irei com ele só para supervisionar.

-Mas onde vocês ficarão?

-Não iremos longe eu prometo. Na verdade  ficaremos  no quarto ao lado que está vazio.-Está quase na hora da moça chegar. Comentou Dafne.

-Arão não é melhor você esperá-la do lado de fora?

-Acho que você tem razão.

Ele saiu do quarto. A porta se fechou atrás dele. Bal olhou para Dafne.

-É agora...  Ambos riram.

Arão ouviu muitos barulhos vindo de dentro do quarto, ia entrar, mas Bal e Dafne saíram fechando a porta. O quarto estava escuro, o corredor mais ainda.

-Bal, não está escuro demais hoje? Não consigo enxergar nada.

-Impressão sua Arão. Aliás, você não vai encontrá-la de lençol, vai?

Somente após Bal ter comentado é que ele lembrou-se que estava enrolado em um lençol.

-É verdade. Mas não tenho outra roupa.

-Bal pode dar um jeito nisso. Eu sei um encantamento que lhe dará uma roupa novinha.  Comentou Dafne alegre. -Enquanto isso eu arrumo a sua.

Arão aceitou a oferta generosa de Dafne.

-Pronto. Disse Bal. - Podemos ir agora.

-Bal que tipo de roupa você me deu? Ela está apertando meu pescoço.

-Relaxa Arão, vamos que ela já deve estar chegando.

Os dois entraram no quarto ao lado, Arão não conseguia ver sua roupa, mas ela apertava seu pescoço e parecia ser muito grande, pois estava pisando em cima da mesma.

''Que raios de roupas são essas que você me deu Bal?. ''

Ao entrar no quarto Dafne perguntou.

-Você disse as palavras certas?

-Claro que disse. É só esperar, a primeira pessoa que descer a escada para chegar ao nosso aposento terá uma grande surpresa. Só espero que seja Damira.

Damira andava pelos corredores apreensiva, não queria e não podia encontrar ninguém. A mudança de aposento não ajudara muito, independente de ter sido por questão de segurança ou por punição. Primeiro por que começara a dividir o quarto com Moira, elas eram as duas últimas candidatas a Deusas, esperara a garota dormir para sair. Depois teve ainda que passar despercebida pela guarnição, agora reforçada, devido a tragédia da noite passada.

Não poderia demorar muito, senão seria descoberta. Tinha vindo porque quando recebera a notícia de que Arão não participara do treinamento e fora encontrado desacordado, sentira-se de certa forma culpada.

Ela conhecia os caminhos do Santuário, estava perto dos aposentos dos garotos celestinos, faltava somente descer uma escada em espiral para chegar ao corredor que dava acesso ao quarto de Arão.

A escuridão limitava  um pouco a velocidade de seus passos. Segurou o corrimão, no seu primeiro passo, no momento em que seu pé tocou no degrau uma vela se acendeu no mesmo instante, no centro dele havia uma rosa. A garota por um momento esqueceu-se de qual era a sua situação, parou sorrindo. A cada passo uma nova vela se acendia,  iluminando uma rosa deitada no degrau.

Arão, Arão''.  Sorriu com seus pensamentos.

 

Ela foi recolhendo todas as flores no último degrau seu ramalhete já era enorme, pegou a última vela para ajudá-la,  seguiu pelo corredor.

            Arão viu a iluminação fraca vindo da escada, ficou em dúvida se seria Damira. Conseguia ver as pernas da garota sob o vestido, mas seu rosto estava escondido por flores.

"O que ela pretende com isso? Será um modo de se passar despercebida? Essas flores não a esconderiam de ninguém." Pensou ele.

Arão a ajudou com as flores, mas achou melhor não comentar nada. Quando a luz os iluminou, ele pode ver seus traços, ela continuava linda, mesmo com tudo o que passara sua beleza continuava intacta.

O garoto notou que a Damira o olhava de modo estranho, Ela percorreu o seu corpo todo com a vela antes de soltar uma exclamação.

-Uma capa Sirinder Branca com um colete dourado! Ela parecia espantada. –Arão, quais são suas intenções para esse encontro?

Sorriu divertida ao ver o constrangimento dele.

Ele se tocara, a capa Sirinder com colete, normalmente, era usada em encontros amorosos, como Bal lhe mostrara durante os estudos com os espelhos de Alfeu. Ele corou...

"Bal o que você está pretendendo? Ainda bem que a falta de luz está me ajudando, devo estar vermelho como um pimentão."  Foi tirado de seus pensamentos pelas palavras delas.

-Nós podemos entrar? Ele lembrou-se que Bal fora o último a sair do quarto.

-Acho melhor ficarmos do lado de fora.

-Por quê? Ela estava intrigada.

- Algum problema?

-Problema? Não nenhum. Gaguejou ele.

Ela abriu a porta e o que ele temia aconteceu. Velas pelo quarto todo se ascenderam,  um violino estava no ar, começou a tocar.

"Bal eu mato você quando o encontrar".

No quarto ao lado, Bal com a orelha colada a parede, sorria para Dafne.

-Tenho certeza que Arão vai me agradecer pelo que fiz.

 

 

 

O jovem acordou assustado, todo suado, olhou para os lados, viu que todos dormiam.

 O sonho novamente, a cada noite que passava ele tinha o mesmo sonho, porém a cada dia ele se tornava mais real, mais violento, mais desesperador... Não sabia o que fazer, ou a quem procurar. Será que alguém acreditaria nele?

As noites estavam se tornando piores, a cada manhã a lua anunciava a perda de uma vida,   ali estava seguro, mas e os outros?

 Não sabia ao certo o que o futuro reservava, mas de uma coisa tinha certeza.

"O sonho é real e vai acontecer mais rápido do que todos imaginam".

Levantou-se pegou uma pequena pedra ao lado da cama,  saindo logo em seguida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.