Vítima

Escrito por Meiline Damestein

— Talvez eu pudesse ajudar. Ou não.

Pessoalmente eu acho bom respirar esta fumaça. Os laudos médicos dizem que é prejudicial não só ao fumante quanto o que respira. Mas pouco importa se vai me lembrar quem realmente sou, e aonde devo estar, porque aqui é minha casa. Casa é uma palavra muito forte, digamos teto temporário. Porque com meu salário de garçonete não deu nem mesmo para pagar um apartamento em um dos bairros mais pobres desta cidade. Tive sorte de desocuparem um depósito para bebidas aqui. Nem mesmo a dona deste lugar sabe que estou vivendo aqui. Bem se sabe, nunca demonstrou. Vamos continuar assim, para nem mesmo duvidar de um de seus servidores ter invadido o lugar em um momento de desespero e estar cochilando embaixo de seu nariz pontudo. O lugar não é uma casa de lar pobre mas serve para dormir bem. Durante a noite, os ratos me fazem companhia. Com seus pelos escuros e cauda sedutora.

Um cliente quer Bourbon. É claro algo está acontecendo com o pobre infeliz. Melhor servir em dose dupla. Obviamente eu merecia aumento por atender tão bem os clientes. Vamos discutir isto depois com a super comandante. Em menos de 26 segundos, o cara virou as duas doses de Bourbon garganta abaixo. Depois fez uma careta. Não devia ir com tanta sede ao pote. Essas bebidas descem queimando a garganta, e ainda mas tomar assim de uma vez. Em dupla. Olhei ao redor, e me inclinei sobre o balcão. Cheirava a produtos de limpeza barato. Mas isto é claro. Eu ainda polia o balcão, e ainda mais, era para cortar despesas. Então nada de produtos caros com promessas de deixar algo brilhando como diamante. Ele me olhou com os olhos mortos. Nossa que coisa triste. Neste momento agradeço por está do outro lado do balcão.

Ele iria falar algo. Ele abriu a boca e a fechou com um grunhido. Então a fragrância de álcool puro e mais alguns outros odores foram captados pelo meu narizinho de botão. Sorrir forçado. Tão épico. Ele também sorriu. Ânimo, demos um passo. Um passo bem curtinho e descalço. Ele acariciou minha mão que repousava sobre o pano molhado de desinfetante de balcão. Ops! Acho que passei a impressão errada. Como dizer sem magoar um bebum que não é bem isto. E é agora que não queria estar em nenhum lado do balcão e sim em outro lugar. Eu e minha metida gentileza. Ele se levantou. Não, por não. Vamos dançar. Mas que vergonha. Senti um latejo em minha cabecinha. Tudo bem. Não deu para dançar, ele dormiu em meus braços durante a dança. Que vexame. O melhor era levá-lo até a família dele e pronto, voltar ao trabalho. Peguei meu casaco.

Em seu paletó, peguei seus documentos. Empresário. Uau, que poderoso. Se eu o sequestrasse e pedisse a família algum dinheiro em troca, minha vida viraria de cabeça para cima. Sorri com meus próprios pensamentos. Tá bom, como se eu fosse fazer isto. Peguei um táxi para deixá-lo, eu não tinha dinheiro, mas ele tinha. E afinal, ele ainda não haviam e pagado as bebidas. Então não é roubo. Muito obrigada. Quando finalmente cheguei na casa do cara. Ou melhor, no apartamento, faltava a chave. Comecei a procurar no paletó do mesmo. Enquanto isto ele ficava quase deitado sobre mim. Acho que encontrei a chave. E agora o cara esfregava a cara em meus seios. Ignora. Quando adentrei o minúsculo cubículo que era seu lar, o joguei sobre a cama. Mas não mesmo, a partir desta parte, ele que cuide de si. Suspirei. Eu vou mesmo fazer isto? Sim.

Quando pesquisei bem as coisas no apartamento do cara. Não acreditei. Era um serial killer. Impossível. Ele parecia tão bom. Claro, enganando uma trouxa como eu. Quando me virei ele estava completamente nu, me encarando de pé. Comecei a rezar. Ele vai me matar. Fechei meus olhos. Mas até que não foi bem o que pensei. Ele acariciou meu rosto. Não entendi. Ele sussurrou algo em meu ouvido. "Todo mundo tem um lado louco... Basta um empurrão. E você tem o que eu gosto".