Operação baile escrita por Aozukin


Capítulo 1
Capítulo 1




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Por muito tempo, desde o jardim de infância que o conheci, fui maturando um sentimento especial por ele. A linda descoberta do florear do amor após uma longa amizade. Como poderia começar?

– Andei distraído por encantadores orbes esmeralda, as luas gêmeas, ora brilhando empolgadas, ora desaparecendo num manto flamejante. De um vermelho intenso, seus adoráveis cabelos ondulados. Kyle, Kyle Broflovski. Se eu chegasse a acaricia-los seria consumado pelo fogo divino. E quantas vezes, no vestiário antes de um treino de futebol, vislumbrei a perfeição encarnada, nem as almas penadas me levaram tão profundo aos confins da divagação. Kyle, Kyle Broflovski. E nunca poderei tocar em seus mamilos.

É o que mais atordoa o meu coração, já nos meus joviais dezessete anos, nunca ter tido a coragem de dizer como me sinto. Como sempre fez meu coração palpitar uma última vez ao verbalmente vingar minha alma. E nunca ter me esquecido. Quando eu voltava você estava lá, em frente à porta da minha casa, me convidando para uma partida de First Person Shooter na casa do Stan ou do Cartman. Evitando a lembrança da minha terrível morte do dia anterior. Kyle, Kyle, Kyle. Abençoado com tão lindo nome, me concederia a honra de levá-lo ao baile de formatura?

O garoto ajoelhou-se no chão de seu quarto perante um velho espelho de vidro estilhaçado. Sua voz galante sussurrava com insegurança. Não estava certo, não era assim, podia iludir-se com poesia quando sozinho, porém sua mente não funcionava assim quando perto dele, e tudo que saia era um abafado “o Kyle tem belas pernas” em hora errada. O grande dia se aproximava, se não arriscasse poderia perder a chance. Dizia a lenda que a probabilidade de sucesso num relacionamento após o baile de formatura era alta. E o quê Kenny McCormick mais queria no mundo era viver feliz ao lado da pessoa mais gostosa que conhecia. Ou melhor, da pessoa amada. Mesmo sabendo o quão surreal soaria, afinal, suas mortes eram uma constante diária.

Ele levantou-se abaixando o olhar. Isso poderia ser a cruel realidade, mas não o impediria de ter esperança em ser o par de Kyle. Acomodou-se em sua cama e tentou dormir, ansioso pelo amanhã.

* * *

Kenny foi o último a chegar ao ponto de ônibus, sua presença ainda não tinha sido percebida. A confusão gerada entre o judeu e o neonazista, e a tentativa de Stan de amenizar a situação, o escondiam. Somente com a chegada do ônibus pode escutar o cumprimento matinal de Kyle e de seus dois colegas. Assim que entrou tentou ser mais rápido para sentar ao seu lado, porém Stan já reservara esse lugar. Suspirou em queixa e foi se sentar num canto vazio.

– Ei, Kenny, por acaso as sobras do jantar não deram para o café da manhã? – Cartman aproximou-se com escárnio vendo a tristeza na expressão do outro. Ele virou-se mostrando desdém para depois voltar o olhar contemplativo para a paisagem fora do veículo.

– Vai me ignorar? É assim!? – o maior esbravejou. – Pois fica sabendo que eu nunca gostei mesmo de você, Kenny. Não é digno da minha preocupação. – ele levantou-se e procurou outro lugar onde se sentar. Avistou um assento vazio ao lado de Butters, quando se aproximava sentiu o ônibus dar uma parada brusca e perdeu o equilíbrio, caindo em cima do garoto menor, quase o esmagando com seu peso. Enquanto observava a cena, Kenny não conteve um riso.

– Ele mereceu. – Kyle comentou.

– Você acha que se fosse o Kenny, Cartman o teria matado? – perguntou Stan, com um tom de curiosidade. Kyle olhou perplexo para o amigo.

– ... Ele é um bastardo. – respondeu com desprezo. Para Kenny pareceu que mais do que furioso, o amigo ficara triste.

* * *

Chegando à escola o dia passou não sendo muito produtivo, visto ter poucas classes junto com Kyle, poucas oportunidades de começar uma conversa amigável, ou simplesmente de estudar sua matéria preferida: anatomia Broflovskyana. Nunca tivera paciência para entender o quê os professores diziam, ou ler livros. Muito diferente do interesse demonstrado por Kyle, uma qualidade que admirava muito nele à parte de seu corpo escultural, é claro. Tudo no ruivo era tão perfeito.

– Senhor McCormick, não vou repetir, a lousa está na sua frente, e o caderno em sua mesa. Faça questão de anotar a matéria! – era aula de história, por sorte a tinha com Kyle, a melhor nota da sala. E também a melhor desculpa que poderia arranjar para ter um tempo a sós com ele.

– Senhor McCormick. – disse o professor mais uma vez, áspero. Kenny acenou rapidamente e começou a fingir escrever.

Ao aproximar das provas ele chegaria perto de Kyle pedindo ajuda, quem calorosamente aceitaria e o convidaria para sua casa. Chegando lá entraria humildemente pedindo permissão para ir ao seu quarto, concedida com um lindo sorriso. Os dois se acomodariam na escrivaninha, um ao lado do outro, Kyle abriria o livro começando a explicação. A sua melodiosa voz causando um frio na barriga de Kenny, tão próxima de seu ouvido, suas mãos quase se tocando. E quando Kyle perguntasse “alguma dúvida?”, responderia sedutor “por que você é tão sexy?”, o garoto enrubesceria e olharia assustado quando abordado por seu olhar sério, fitando-o com paixão. Naquele mesmo instante o tomaria nos braços, o beijaria bruscamente, os dois tombando no chão. Levantaria o olhar e acariciaria seu rosto. Os lábios trêmulos do menor sussurrariam “Kenny, eu o amo” e corresponderia seus sentimentos com um doce beijo. Porém Kyle pediria mais “envolva-me”, e ele começaria tirando lentamente seu casaco, depois sua camisa, sentiria o corpo quente de Kyle com o tato antes de saborear cada canto precioso, um som agudo prolongado seria ouvido, a janela do quarto seria quebrada por uma flecha indo... Em sua direção!? “Ah, meu deus! Mataram o meu namorado! Seus bastardos!”.

Kenny sentiu um impacto, sobressaltando da carteira, o sinal de término das aulas havia tocado. Rapidamente verificou seu estado, nenhum sinal de ferimentos graves, suspirou aliviado. A aula seguinte seria bem pior, sua ansiedade aumentava, seria o próximo intervalo, antes de voltar para a casa, fechou os punhos decidido.

* * *

– Hey, Kyle! – Kenny acenou com um sorriso largo. Assim que o ruivo terminou de guardar o material, trancou a porta do armário e virou-se para o amigo.

– E aí, Kenny. Como foi a última aula?

– História americana, um saco. Aliás, eu tenho algo importante para te perguntar. – Kyle arqueou uma sobrancelha.

– Então... – o garoto respirou fundo, era agora ou nunca. – Me concederia a honra de ser meu par no baile? – um insuportável silêncio pairou, o coração de Kenny não se aguentava no peito.

– Você não ia com o Craig? – perguntou Kyle como se questionasse o óbvio.

– Ele vai com o Tweek.

– E a Bebe? Você vive falando dos peitos dela. – constatou com indiferença.

– Está com o Clyde.

– E eu sou a sua última alternativa? – havia um vestígio de irritação em sua fala.

– Ky, você é a minha única alterna. – antes que pudesse explicar-se uma voz estridente o interrompeu.

– Finalmente o encontrei. Você não imagina o quão queria ter ver hoje. – Cartman se aproximou dos dois se dirigindo a Kyle. Estava ofegante, como se tivesse percorrido a escola inteira às pressas.

– Você já me viu no ponto de ônibus, se manda bundão.

– Eu emagreci nesses últimos anos, quatro olhos.

– Ah, verdade, eu não reparei na sua perda negativa de 50 kg. – retrucou com sarcasmo.

– Corte os insultos, Kahl, eu não vim aqui para isso. – limpou a garganta antes de continuar. – Eu andei pensando muito nesses últimos anos, todas as nossas discordâncias, todas as brigas sem sentido. E cheguei a uma conclusão surpreendente. Eu estou obcecado, Kahl. Com um vício terrível, drogado por um judeu. Sim, esse veneno que me consome diariamente... Esse veneno maravilhoso. Kahl, eu quero ir com você ao baile, e não aceitarei uma resposta negativa. – ele havia ensaiado tudo isso, pensou Kenny, o gordo era tão óbvio. Kyle não iria com ele, era o último que poderia competir consigo.

– Eu não vou com você, procura outro.

– Mas nós fomos feitos um para o outro, somos almas gêmeas. Eu prometo fazê-lo feliz, Kahl. – Cartman ajoelhou-se com os braços abertos num ato de desespero. Kyle parou pensativo ao lado de Kenny. Depois de alguns dolorosos segundos sussurrou um “desculpe” para o amigo, voltando-se a Cartman evitando olhá-lo diretamente.

– E que escolha eu tenho? Eu vou com você, bundão. – e com isso Kenny foi deixado para trás de queixo caído enquanto Cartman sorria vitorioso e Kyle lhe dava um olhar apologético.

Demorou um pouco para processar o que acabara de acontecer. Podia quase jurar que era mais um pesadelo, que dormira demais durante a aula de física. Queria ter acreditado nisso tudo, porém, era a mais surreal realidade. Kyle iria ao baile com o garoto que mais odiava. Eram momentos como esse em que torcia por uma morte rápida, pensou chutando sem ânimo uma pedrinha no chão ao voltar para casa.


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