Compassion escrita por Bardo Maldito


Capítulo 1
Compassion


Notas iniciais do capítulo

Essa fanfic saiu de uma grande inspiração repentina. Comecei a escrevê-la à meia noite, e terminei lá pras cinco da manhã... gostei muito do resultado final. Me estendi demais, mas consegui colocar tudo que queria.Boa leitura!



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Karkat Vantas emburrado, ao lado de Gamzee com cara de chapado.

Karkat Vantas dissimulando um sorriso a pedido de Terezi, acabando por causar uma careta tétrica que não combinava nem um pouco com ele.

Karkat Vantas xingando o juiz enquanto assistia um jogo de futebol, sem nem torcer pra nenhum dos dois times.

Nepeta Leijon poderia passar o dia inteiro vendo as fotos de Karkat no Facebook. Todas elas tinham sua Curtida, efetuada no momento exato que alguém as postava. E acompanhada de um comentário elogioso. Porque por mais que todo mundo achasse ele um emburrado mal-humorado, ele sempre seria fofo pra ela.

Nepeta Leijon sempre foi meio maluca.

– Karkat de novo, é?

Nepeta se assustou quando ouviu a voz tão próxima de seu ouvido, mas se aliviou quando viu que era apenas Meulin, sua irmã mais velha, vendo o que ela estava acessando.

– É. - disse Nepeta, falando olhando diretamente para que sua irmã, que era deficiente auditiva, pudesse ler seus lábios - Você vai ver, nós ainda vamos ser canon!

Meulin engoliu a resposta que iria dar. Não que tivesse algo contra Karkat, mas ao pensar nele junto de Nepeta... apenas uma palavra vinha à sua mente: NOTP. Apenas... não. Não rola. Não é legal. Não é shippável.

Mas na única vez que disse isso pra Nepeta, a irmã ficou emburrada e não falou com ela por dois dias. Então, melhor evitar brigas desnecessárias. E... é como dizem. Não se julga o ship alheio.

– Seu ship tem a força que você coloca nele. - diz Meulin - Vai ficar tudo bem.

– Sim! - disse Nepeta, alegremente - E... é minha chance! Ele e a Terezi terminaram!

– É? - Meulin estava numa situação delicada. Tinha que escolher as palavras muito sabiamente. - Mas... antes deles ficarem juntos... vocês nunca chegaram a ser canon da mesma forma, não é?

– É, eu sei... mas agora é diferente! Não vou deixar ele escapar dessa vez. Custe o que custar!

– Esse é o espírito! - mas Meulin olhou Nepeta com pena. Ela era a única que não via que Karkat nunca a notaria... - Bom... vou fazer a janta. Kurloz nos deu atum de presente, vou fazer uma macarronada com atum, pode ser?

– Adoro! - disse Nepeta, sorrindo - Só vou sair das minhas coisas aqui e já vou lá te ajudar!

– Não precisa ter pressa... - Meulin estava novamente em uma situação difícil: Nepeta era sempre ansiosa para ajudar, mas acabava arrumando problemas ou quebrando coisas quando tentava ajudar Meulin na cozinha - Vê se acha um link bom pra baixar o mangá de Darker Than Black, o Kurloz leu e disse que é muito bom.

– Kurloz isso, Kurloz aquilo... quando vocês vão casar, mesmo? - perguntou Nepeta, rindo

– N...não fale bobagens, Nepeta. - disse Meulin, embora muito hesitante - Em todo caso, por favor procure e baixe o que tiver, eu te chamo quando a janta estiver pronta.

– Ok, captain! - Nepeta fez uma continência de brincadeira, e Meulin respirou aliviada enquanto saía do quarto

Nepeta olhou sua irmã de trás e sorriu. Admirava muito ela, e desejava muito o bem dela. E... realmente, desejava que ela reatasse seu relacionamento com Kurloz até mais do que desejava começar um relacionamento com Karkat. Eles se faziam tão bem, Nepeta nunca entendeu a razão de terem terminado, mas continuarem juntos andando de um lado pro outro.

Viu seu cabelo longo que caía pelas costas, ondulado e harmonizado com seu corpo de mulher. Nepeta, na época, também tinha um cabelo longo nessa altura, havia deixado crescer pra ficar mais parecida com a irmã.

Então, voltou os olhos pro computador, para abrir uma nova aba... mas se deparou com uma foto de Karkat.

Ficou emburrada. Havia parado justamente em uma foto na qual ele estava junto com Terezi. Ele fora marcado nessa foto que John tirara, o que explicava ela não ter sido apagada com o término dos dois... e Nepeta detestava admitir, mas ele parecia realmente feliz na foto. Estava ainda com cara de emburrado, como sempre, mas um pequeno sorriso brincava em seus lábios, sentado no sofá da casa de John segurando a mão de Terezi, que também sorria com a cabeça deitada no ombro de Karkat, os óculos vermelhos cintilando.

– Karkat, seu bobo... o que você viu nela? Ceguinha chata. - disse Nepeta, emburrada

Porém, no mesmo instante Nepeta se repreendeu por falar isso: sua irmã era deficiente auditiva, e ela mesma já chegara a brigar com gente que zombara dela por isso, não era certo que ela falasse assim sobre a cegueira de Terezi.

– Ah, a quem estou enganando? Olha só pra ela! - Nepeta se emburrou ainda mais - Ela é linda! É tão mais madura! Nada como eu...

Só então, notou algo que lhe chamou a atenção. E sorriu.

Já sabia como conquistar Karkat.

*

– Nepeta! Hora da janta!- Meulin bateu na porta do quarto da irmã, esperando ver Nepeta abri-la. Era estranho: ela nunca trancava a porta. Principalmente porque ela não poderia apenas falar por detrás da porta, pois Meulin não a entenderia a menos que lesse seus lábios - Nepeta! Macarronada com atum, e molho rosê! Vai acabar esfriando!

Porém, nenhuma resposta. Meulin estranhou muito. Não era do feitio de Nepeta ficar assim. Ainda há uma hora, ela estava com um humor tão bom, alegre como sempre... o que poderia ter acontecido? Nem quando ela ficara emburrada ao ouvir Meulin dizer que ela e Karkat não combinavam, ela fizera algo assim. Nunca chegara a se trancar no quarto.

“Será que ela acabou se empolgando com as fotos do Karkat, ficou excitada e começou a...? Não, não, não! Nepeta é muito jovem, não tem como ser algo assim! Ok, ela tem 16 anos, eu já não era virgem com essa idade, mas... não, não é isso! Ela é inocente demais, apenas... não, não é isso, não pode ser isso!” Meulin pensou, cada vez mais exasperada

– Nepeta, você está me deixando preocupada! Por favor, abra a porta! - Meulin bateu na porta com força

Porém, a resposta finalmente veio na forma de um bilhete passado por baixo da porta. Meulin o pegou e leu, ansiosa.

“Não estou com fome”

– Nepeta, só isso não basta! Abra essa droga de porta, estou preocupada! - Meulin esmurrou a porta, prestes a perder a paciência

Porém, não houve nenhuma resposta. Meulin suspirou e se sentou com as costas de encontro à porta.

– Nepeta... olha, nós sempre fomos amigas, não é? - disse ela - Eu sei que você está me ouvindo. Não sei o que aconteceu, mas nós podemos passar por isso juntas. Deixe eu ajudar você, conversar com você, ouvir você. Podemos conversar sobre isso comendo macarronada com atum. Confie em mim, Nepeta. Nunca tivemos segredos uma com a outra... vamos mesmo começar agora?

Meulin esperou a resposta através de outro bilhete por trás da porta. Mas esperou dois minutos inteiros, e nada. Então, suspirando, Meulin se levantou.

Nessa hora, Nepeta abriu a porta.

– Ah, Nepeta. - disse Meulin - Agora... me explique o que... o que...

Mas Meulin arregalou os olhos. E entendeu exatamente o que acontecera, e a razão pela qual Nepeta não queria ser vista.

*

– Nepeta? - Equius bateu na porta do apartamento das Leijon - Nepeta, você está aí? Por que não foi à escola?

Não houve nenhuma resposta do outro lado. Mas Equius sabia que Nepeta estava ali. Estranhou muito ela não ter ido à escola, não era de seu feitio. Podia até passar algumas aulas desenhando ao invés de estudar, mas sempre ia à escola. Equius imaginou que sua amiga estivesse doente, então passara ali para ver se ela estava bem.

– Nepeta. Abra essa porta. Eu sei que você está aí dentro. - disse Equius

Conhecia muito bem os hábitos de Nepeta: essa era a hora que passava Fate Stay Night na TV. Nepeta nunca perdia um único episódio, enquanto torcia pra Saber esquecer o Shirou e ficar com a Rin. Meulin trabalhava meio período de manhã, e ia pra faculdade à tarde, mas Nepeta quase sempre ficava em casa à tarde depois da escola, ainda mais nesse horário, no qual passava seu vício mais recente em animes.

Equius colou o ouvido à porta. Podia ouvir, bem fraquinho, o som da TV...

“Eu finalmente entendi... todo esse tempo, Shirou, você era minha bainha, não era?”

Equius já havia assistido esse episódio. Nepeta deveria estar emburrada: afinal, era um dos momentos mais românticos entre Shirou e Saber. Mas isso não era desculpa para que ela ignorasse Equius. E muito menos para que faltasse à escola.

E era prova inegável de que Nepeta estava em casa.

Foi a vez de Equius ficar nervoso.

– Nepeta! - gritou Equius, dando um soco na porta - Eu estou preocupado com você, e se você continuar me ignorando, eu vou pensar o pior! Vou pensar que alguém entrou aí e está te ameaçando ou coisa parecida, vou derrubar essa maldita porta e entrar aí! E vou ficar muito bravo se eu entrar e descobrir que você me fez derrubar essa porta por nada! Mas se você continuar me ignorando, vou pensar no pior e fazer isso, então vou contar até três pra você me fazer mudar de ideia antes de derrubar essa porta!

Equius tinha um físico invejável, e uma força física espantosa. Certamente poderia derrubar a porta. O maior inconveniente seria a porta quebrada, mas Equius estava realmente preocupado, e na pior das hipóteses, apenas pagaria pelo conserto da porta. Era um preço justo para se tranquilizar sobre o estado da amiga.

– Um! - gritou Equius - Dois! Trê...!

Porém, a chave girou na fechadura bem na hora. Equius girou a maçaneta e entrou.

Realmente, a TV estava ligada. Após a luta contra Gilgamesh, Shirou estava ajudando Saber na cozinha. E Nepeta havia se recolhido novamente no sofá, embrulhada em um cobertor, só deixando seu rosto de fora.

– Nepeta, o que houve? Está doente? - perguntou Equius

Nepeta fez que não com a cabeça, sem tirar os olhos da TV. Equius chegou perto e se sentou do lado de Nepeta. Seus olhos estavam inchados: ela parecia ter chorado a noite toda.

Talvez fosse apenas por frustração pelo momento romântico de Shirou e Saber, que estragava um de seus ships favoritos. Mas... não, não podia ser. Parecia ser algo muito maior que isso.

– Por que você faltou na escola? - perguntou Equius novamente

– Não quero ir pra escola. Não quero encontrar ninguém. - disse Nepeta, a voz embargada de choro

– A Meulin não deixaria você ficar em casa sem motivo. - disse Equius - O que acont...?

Porém, na mesma hora, uma possibilidade veio na mente de Equius. Estado de melancolia, aparente vergonha, aparência meio adoentada... será que...?

– Você... você... - Equius gaguejou em dizer: era um pesadelo, como garoto, falar sobre isso - Você virou... ahn... mocinha?

Nepeta o olhou, agora com a expressão irritada.

– Não seja bobo, Equius! Eu menstruo há anos! Tenho 16 anos, sabia?! - ela exclamou, um pouco ofendida - E não, não é nada disso!

– Ah, tá... - Equius respirou aliviado: Nepeta tinha a personalidade tão infantil, e até seu corpo era muito mais infantil que o de garotas de sua idade, era freqüente que a julgassem como mais nova, e até Equius por vezes esquecia que Nepeta era mais nova que ele apenas por cinco meses - Então, se não é isso... o que aconteceu?

– Não quero contar. Você... você vai rir de mim. - Nepeta voltou os olhos para a TV. Shirou e Saber estavam quase se beijando - Argh, Shirou idiota! - ela desligou a TV

– Nepeta. Olhe aqui. - disse Equius - Eu... eu não vou rir de você.

Nessas horas que Equius se sentia frustrado. Seu corpo forte e musculoso, no qual trabalhava tanto, não valia de nada quando tinha que lidar com sentimentos. Era apenas... bruto. Ignorante. E se sentia burro, incapaz de alcançar Nepeta, ou dizer algo que a fizesse confiar inteiramente nele. Apenas se saindo com um “eu não vou rir de você”.

Porém... aparentemente, todos esses anos de amizade serviram pra alguma coisa. Nepeta parecia entender perfeitamente o que Equius estava pensando. Então, percebendo que ele falava a verdade... suspirou e tirou o cobertor de cima da cabeça.

Equius arregalou os olhos por baixo de seus óculos escuros.

Há pouco mais de um ano, Nepeta havia começado a deixar o cabelo crescer, pra ficar igual ao de Meulin. Mas agora estava curto... mas não apenas isso. Aparentemente, Nepeta tentara cortar seu cabelo sozinha, e não fora jeitosa com a tesoura... em alguns pontos, ela estava praticamente careca, o que causava um efeito péssimo e vergonhoso com os outros tufos de cabelo que estavam lá.

Mas embora surpreso, Equius não riu, leal à sua palavra.

– O que... o que...? - gaguejou Equius, sem saber direito o que dizer

– Anda, pode rir! - Nepeta cobriu novamente a cabeça com o cobertor - Eu sou uma tonta, eu sei disso! Eu mereço que riam de mim!

– Nepeta... você não é uma tonta. Eu não vou rir de você. - Equius falou com seriedade - O que aconteceu?

– Eu... eu estava vendo umas fotos do Karkat com a Terezi, de quando eles estavam juntos... e achei que a Terezi parecia muito mais madura e bonita que eu. Achei que ela ficava muito bonita com o cabelo curtinho. Então, tentei cortar o meu pra ficar parecida com ela, mas... mas...

Nepeta recomeçou a chorar. Equius a olhou e não riu. Pobre Nepeta... Equius não era diferente das outras pessoas: via perfeitamente que a paixonite de sua amiga por Karkat nunca chegaria a lugar algum. Mesmo que ela tivesse cortado o cabelo direito, não teria feito Karkat notá-la mais. Era um sonho perdido. E... ninguém entendia realmente o que ela via em Karkat, que praticamente a ignorava completamente. Nem tocar contrabaixo na banda de Gamzee e Equius fizera Karkat notá-la. E mesmo assim, ela chegava até esses extremos por ele...

– Aí a Meulin deixou você faltar à escola hoje por isso? - perguntou Equius

– Eu nunca mais vou ir naquela escola, Equius. - disse Nepeta - Imagina se o Karkat me vê assim... ele nunca mais iria olhar na minha cara. E estaria tudo perdido... não posso mais voltar lá,Equius.

– Você... você vai ter que voltar. - disse Equius - A Meulin não vai deixar você ficar em casa pra sempre. E o Karkat... bem, o Karkat...

– Não vale a pena fazer isso por ele, não é? - disse Nepeta, furiosa - Eu sei que não vale! Eu sou uma pirralha infantil, boba e iludida, não é? Eu fiz bobagem, estraguei tudo, então é hora de pagar por isso! Vou ficar aqui, o Karkat pode voltar pra Terezi, e todos ficam felizes! E se eu repetir de ano, tanto melhor: todo mundo se forma, vai pra faculdade, e eu fico no colégio como a garotinha imatura que eu sou! Agora sai daqui e me deixa em paz!

Equius arregalou os olhos por baixo dos óculos escuros: Nepeta nunca falara desse jeito com ele antes. Estava visivelmente transtornada. Abriu a boca várias vezes pra dizer algo, mas não conseguiu encontrar as palavras... então, sem saber o que fazer, apenas se levantou e se encaminhou para a porta.

– Eu volto mais tarde. - disse ele, antes de sair

Sim, iria pra casa. Iria se esforçar, espremer ao máximo toda a sua capacidade de oratória, escrever algo que pudesse consolar Nepeta. Tudo que ele não conseguia dizer naquela hora.

Ah, a quem ele estava enganando? Equius sabia que não conseguiria escrever um discurso animador nem pra salvar a própria pele. Ou pra ajudar sua melhor amiga, o que era ainda mais importante.

Mas...

Uma ideia lhe ocorreu. Ainda havia algo que ele podia fazer.

*

– Nepeta? - Meulin entrou na casa. Nepeta ainda estava no sofá, embrulhada no cobertor, assistindo Hetalia

– Eu baixei Darker Than Black. - disse Nepeta, sem desviar os olhos da TV - Tá na minha pasta de mangás, pode passar pro seu notebook. Baixei o anime também, se quiser. Tem legendas.

– O quê? - Meulin perguntou

Nepeta se virou para Meulin e repetiu o que disse usando linguagem de sinais.

– Ah, tá... obrigada. - Meulin olhou de relance para a cozinha: a macarronada com atum que fizera na noite anterior estava exatamente no mesmo lugar no qual deixara no dia de hoje. Prontinho para que Nepeta esquentasse no micro-ondas e almoçasse quando tivesse fome. Mas estava intocada. - Está com fome? Eu trouxe uma surpresa... passei no McDonald’s, e olha! Dois McFish! - Meulin mostrou sua sacola

– Obrigada, Meulin... mas não estou com fome. - Nepeta sinalizou, sem tirar os olhos da TV

– Ah, bobagem... é claro que você está com fome. E... é McFish, você adora! E... quer saber? Eu trouxe dois, um pra mim e um pra você, mas você pode comer os dois, eu só quero as batatinhas fritas do meu. Eu que não estou com fome, hoje eu comi um X-Búrguer, e metade do sanduíche vegetariano do Kurloz, no intervalo da faculdade. E... - Meulin hesitou, mas depois se sentou do lado de Nepeta - Posso te contar um segredo?

– Que segredo? - Nepeta sinalizou, apática

– Eu estava indo embora da faculdade com o Kurloz, e você sabe... o Kurloz vem a pé comigo uma parte do caminho. E hoje, quando fomos nos despedir... acredita que ele me abraçou de maneira mais demorada que o habitual, e me deu um beijo no rosto?

Esse tipo de história, embora singela, era o tipo de coisa que faria Nepeta urrar de alegria. Meulin hesitou antes de contar porque tinha medo que isso a fizesse sentir pior quanto a Karkat... mas conhecendo a irmã, apostou que ela ficaria alegre por causa disso.

Meulin acertou pela metade. Nepeta não pareceu pior, mas tampouco ficou alegre. Apenas esboçou um sorrisinho e sinalizou:

– Que bacana.

Meulin parecia prestes a chorar também. Não sabia o que fazer pra alcançar Nepeta... ela nunca estivera tão distante. E parecia estar sofrendo tanto... era uma sensação horrível apenas vê-la assim, sem saber o que fazer ou o que falar para vê-la melhor.

Então, alguém bateu na porta.

– Nepeta? - era a voz de Equius

– O Equius tá batendo na porta. - disse Nepeta, pois Meulin obviamente não ouvira as batidas

– Ah, sim... pode entrar, Equius! - disse Meulin

Equius abriu a porta. Estava carregando uma pequena caixa nas mãos.

– Boa noite, Meulin. - disse ele - Desculpe vir tão tarde.

– Não é incômodo algum, Equius. Não é verdade, Nepeta? - disse Meulin

– Equius... - Nepeta se virou para ele - Desculpe pelo modo como falei com você essa tarde. Não foi justo... foi só mais uma burrada que eu fiz. Pra acumular com as outras. Mas... eu vou entender se você não quiser mais a minha amizade. Você pode arrumar uma amiga melhor que eu.

Equius não respondeu nada. Apenas andou até Nepeta e lhe entregou a caixinha.

Nepeta viu que seus dedos estavam cheios de band-aids Estranhou muito.

Abriu a caixa.

Lá dentro, estava uma touca azul, com orelhinhas de gato. Feita de modo rápido e tosco, de alguém sem muita técnica... e uma das orelhas estava torta, parecia mais um chifrinho de diabo. Mas... vendo os machucados nos dedos do amigo,Nepeta compreendeu o esforço que Equius fizera para lhe dar isso.

– Pra você ir pra escola. - disse Equius

Nepeta o olhou. Olhou para a touca.

Deu um sorrisinho.

Tirou o cobertor de cima da cabeça e vestiu a touca, em seguida caminhando até o banheiro pra se olhar no espelho.

– Obrigada. - disse Meulin, baixinho, para Equius - Ela gostou muito.

– Não foi nada. - respondeu Equius, sorrindo meio sem graça, enquanto Nepeta voltava - Vai pra escola amanhã, Nepeta?

– Se você vier aqui pra irmos juntos. - disse Nepeta, agora muito mais positiva que antes - Estou faminta! Meulin, é mesmo verdade que eu posso ficar com o seu McFish?

– Não, eu também estou com fome. - disse Meulin, rindo - Brincadeira. Pode sim, mas eu vou filar parte das suas batatinhas fritas. E tem a macarronada de ontem, que ainda dá pra esquentar... eu não gostaria de dizer pro Kurloz que tive que jogá-la fora depois só de eu comer um pouquinho dela ontem, na janta.

– Então eu como o meu McFish, como só metade do seu, e um pouco da macarronada, só pra não fazer desfeita pro meu futuro cunhado. - disse Nepeta, o que fez Meulin corar, mas também rir - Equius, vai ficar pra jantar?

– Se não for incômodo...

E assim a noite prosseguiu. Otimista e tranquila.

Porém... Meulin percebia que o estado de tranqüilidade de Nepeta era temporário. Que tudo poderia virar novamente se a oportunidade surgisse.

E enquanto Nepeta tagarelava sobre Fate Stay Night com Equius, Meulin pensava em um meio de levantar sua moral de modo mais eficaz.

*

Os colegas da escola ficaram surpreendidos quando Nepeta foi com aquela touca. Pra começar, era uma touca incrivelmente tosca e malfeita: como ela tinha coragem de andar com aquilo na cabeça? E depois... todos já haviam se acostumado a ver ela com o cabelo mais comprido, que não poderia ser escondido embaixo de uma touca. Por que essa súbita mudança? E ainda, um dia depois dela faltar à escola pela primeira vez no ano?

Porém, Equius estava o tempo todo junto com ela , rosnando como um cão de guarda se alguém fizesse perguntas demais. Nepeta apenas disse que fora um presente dado por uma pessoa muito querida, e todas as outras perguntas silenciaram.

Evitou deliberadamente conversar com Karkat. Ele estava mais emburrado que o habitual, e isso parecia ter a ver com Terezi andar um bocado próxima de Dave... os dois haviam terminado porque Karkat não agüentou os boatos de que Terezi o havia traído com Dave, e embora Dave tivesse desmentido tal história, a dúvida sempre ficava em sua cabeça... em todo caso, como sempre, estava emburrado demais pra prestar atenção em Nepeta. E dessa vez, ao contrário do normal, Nepeta não procurou conversar com ele, pra evitar perguntas.

Porém, a grande maioria estava um bocado curiosa. Vriska observava a tudo com seu jeito sorrateiro... e após fazer uma rápida conexão mental dos fatos, chegou a algo bem próximo da verdade. Afinal, a paixonite de Nepeta por Karkat não era segredo pra ninguém: muito provavelmente, Karkat era o único que não sabia. Então, não era necessário ser gênio pra adivinhar a base do que acontecera.

Mas... Vriska se perguntou quais seriam os detalhes. E... qual seria a reação de todos com relação a toda essa situação. Parecia deliciosamente divertida.

Vriska tomou nota mentalmente de um fio solto na touca de Nepeta.

*

– E aí, como está a Nepeta? - Kurloz perguntou em linguagem de sinais, enquanto ele e Meulin almoçavam

– Deu uma melhorada. Mas não sei quanto tempo vai durar. - Meulin respondeu, a expressão preocupada

– Ela precisa do apoio daqueles próximos a ela. - sinalizou Kurloz, em seguida dando uma mordida em seu sanduíche vegetariano - Precisa aceitar que cometeu um erro, que uma situação saiu do controle dela... mas que é passado. Que ela tem que perdoar a si mesma e seguir em frente. E não deixar isso afetar a relação dela com pessoas que ela ama.

– É... e ela não é a única que precisa disso, na verdade. - Meulin sinalizou, em uma indireta bem direta para o próprio Kurloz, que entendeu bem o que Meulin quis dizer, mas apenas continuou falando

– O problema é que leoninos em geral são bastante seguros de si mesmos, então quando ficam inseguros, é porque a coisa está bem feia. E com Mercúrio Retrógrado esse mês, contatos sociais no geral ficam mais difíceis...

– Virando vegetariano, falando de astrologia... você está virando um clichê esotérico ambulante. - Meulin sinalizou, com um risinho irônico no rosto - Você também consulta o Feng Shui toda manhã?

– Na verdade, o nome do livro da sorte é I-Ching, Feng Shui é outra coisa. - sinalizou Kurloz - Eu tenho um exemplar do I-Ching aqui na minha mochila, deixa eu te mostrar...

– Não, não, não. - sinalizou Meulin - Agora não. Desculpe, acabei mudando o assunto, mas voltemos para o assunto “Nepeta”, por favor.

– Você que manda. - sinalizou Kurloz

– Eu não sei o que fazer. - sinalizou Meulin - Eu queria tanto achar um jeito de me manter próxima a ela... sei lá, acho que ela se sente isolada com isso, e a solidariedade acaba tendo um efeito apenas superficial... eu tentei conversar com ela, mas...

– Palavras não vão adiantar. - sinalizou Kurloz - Veja, ela melhorou quando o Equius tomou uma atitude, ao invés de palavras, não é? O que é necessário é uma atitude.

– Mas qual atitude? Droga, eu não sei o que fazer! - Meulin deu uma mordida gigante em seu hambúrguer

Kurloz pareceu pensativo por um instante. Então abriu um sorriso, como que tendo uma ideia.

– Meulin, não tem problema se você chegar um pouco mais tarde em casa hoje, tem? - sinalizou ele

– No que está pensando? - perguntou Meulin

Então, Kurloz contou seu plano.

*

Na hora da saída, Nepeta estava alegre e sorridente como sempre, pronta pra ir pra casa. O dia havia transcorrido de maneira ótima. Se fosse possível que todos os dias fossem assim, até que seu cabelo crescesse o suficiente pra poder ajeitá-lo decentemente, tudo daria certo. Não havia razão para se preocupar.

– Bye-bye, pessoal! - Nepeta acenou para os colegas, tomando o caminho para ir embora

Porém, antes que desse sequer três passos, Vriska disfarçadamente puxou o fio solto da touca, sem que vissem que foi ela.

Era crochê: um único fio entrelaçado para formar a touca. Desse modo... um fio solto bastava para desfazer todo o trabalho, reduzindo-o a um único e comprido fio de lã emaranhado.

Nepeta se desesperou ao sentir o vento atingir sua cabeça despida. E todos os olhos estavam nela, testemunhando toda a irregularidade bizarra em seus cabelos, enquanto apenas um longo fio de lã emaranhado ficava preso entre algumas mechas mais compridas.

Nepeta, o rosto transfigurado em pânico, tentava cobrir a cabeça com as mãos, mas era tarde: todos haviam visto. E estavam comentando em voz alta. Muitos chegaram a rir de modo escancarado.

– Que coisa ridícula!

– Que droga é essa? Tentou ser punk?

– Pera, pera! Ela fez isso por causa do Karkat?

– Karkat Vantas? Fala sério! Que tonta!

Nepeta estava com lágrimas nos olhos, tentando desesperadamente cobrir a cabeça com o emaranhado de lã na cabeça, se esforçando pra ignorar o riso que crescia cada vez mais. Mas quando ousou abrir os olhos...

Lá estava Karkat. Observando tudo. Ouvindo tudo. Uma expressão de surpresa no rosto.

Nepeta não sabia aonde enfiar a cara. Queria morrer, queria sumir, queria explodir todo aquele lugar, todas aquelas pessoas, com ela junto.

Vriska observava tudo com um sorriso desagradável no rosto.

Então, ouviu uma pancada surda, e o som de um corpo caindo no chão.

Equius estava de pé, o rosto transformado em uma máscara de ódio, e um dos colegas que estava rindo e zombando de Nepeta caiu no chão, o nariz escorrendo sangue.

– E aí?! - gritou Equius - Quem vai ser o próximo?! Quem vai ser o próximo engraçadinho a dar risada, hein?!?!

O aluno tentou se levantar, e começou a dizer: - Equius, foi mal, eu... - mas Equius o atingiu no peito com a sola do pé, fazendo-o cair no chão novamente

– É divertido zombar da minha amiga?! - gritou Equius - Zombem de mim, então! Venham, que eu quebro os dentes de qualquer idiota que falar algo sobre ela!

– Equius... - Nepeta balbuciou, visivelmente emocionada

Porém, no instante seguinte, sentiu algo cobrir sua cabeça, e mãos gentis tocarem seu ombro.

Eram Rose e Kanaya. Rose tirara seu xale cor-de-rosa e cobrira sua cabeça com ele.

– Anda, vamos sair daqui. - disse Rose - Está cheio de gente desagradável.

Então, as duas conduziram Nepeta pra longe dali. Mas no caminho, passaram por Karkat, que estava do lado de Vriska, ainda acompanhando a cena estupefato.

– Karkat. - disse Kanaya, assim que passaram por ele - Tu te tornas eternamente responsável por aquele a quem cativas. Não se esqueça disso.

Em seguida, se virou para Vriska. Encarou-a de jeito sério.

– Eu sei o que aconteceu. - disse Kanaya - E pode apostar... aqui se faz, aqui se paga.

Em seguida, as duas levaram Nepeta pra longe dali. Karkat apenas ficou olhando, provavelmente sem entender lá muita coisa, enquanto Vriska olhava elas se afastando com desdém.

– Era pra ser uma ameaça, Kanaya? - disse ela - Pff... faça melhor que isso da próxima vez.

*

– Pronto... melhor assim. - Rose ajudou Nepeta a lavar o rosto no banheiro, após ela e Kanaya terem levado a menina até a casa de Rose

– E... e agora, Rose? - perguntou Nepeta - O que vai acontecer comigo?

– Não vai acontecer nada. - disse Rose - O que o pessoal viu em um dia, esquece no outro. E... você viu o Equius. Eu acho que ele vai acabar suspenso por causa dessa história, mas nunca mais alguém vai ter coragem de zombar de você depois disso.

– Mas...

– Olha, Nepeta. Eu entendo que você queria esconder seu cabelo... mas foi melhor assim. Se você tivesse escondido, iam ficar o tempo todo imaginando o que aconteceu, essa situação ia se arrastar, e no final você ia sofrer por causa disso de qualquer jeito. Então... pelo menos já foi tudo resolvido de uma só vez.

– Não sei...

– E quanto ao Karkat... você pode ficar tranquila - disse Rose - Ele é um idiota, mas não é um cretino completamente insensível.

– O Karkat não é um idiota! - Nepeta falou levemente indignada

– Ele é um idiota sim, Nepeta. Escute. - Rose suspirou - Todo mundo tem o hábito de não te contrariar quando a essa paixonite. Porque você gosta muito do Karkat. Mas a verdade é que ele é um idiota, sim. Ele tem qualidades, sim... mas veja. Ele terminou com a Terezi só porque estavam espalhando boatos que ela tinha traído ele com o Dave. Eu conheço o Dave, e ponho minha mão no fogo por ele: sei que ele não fez isso. Que ele nunca faria isso com um amigo. Mas o Karkat terminou com ela por quê? Porque ele é inseguro. Tem raiva de si mesmo, cobra demais de si mesmo, e no final das contas não se sente capaz de fazer nada. E quando ele está assim, sentindo raiva de si mesmo, ele desconta em quem estiver por perto. Ele pode ser uma pessoa de bom coração, mas é um completo babaca muitas vezes.

Nepeta escutou tudo pasmada. E... realmente, Rose estava certa. Nepeta nem sequer percebia isso, porque só via as qualidades dele... mas se Karkat nunca fora grosseiro com ela, provavelmente era só porque não eram próximos o suficiente para isso.

– E sinceramente, eu acho que sua paixonite é algo tolo. - continuou Rose - Que não vai dar certo, e vai fazer você sofrer. Mas... - Rose deu uma olhada para a porta fechada, na direção da sala, aonde Kanaya estava - Eu sei que não podemos controlar por quem nos apaixonamos. E sei que o melhor caminho nem sempre é o mais fácil. Então... não vou te encorajar, nem te desencorajar. O melhor é fazer o que seu coração manda.

Nepeta mediu as palavras de Rose... e sorriu. Em seguida, a abraçou com força.

– Muito obrigada, Rose... significa muito pra mim. - disse a garota

– Sempre que precisar, Nepeta. - disse Rose, abraçando a amiga - Sempre que precisar.

Em seguida, as duas saíram do banheiro, indo até a sala. Lá, Kanaya, trabalhava em algo com agulhas de tricô.

– Ah, Nepeta. - disse ela - Eu peguei a lã que sobrou da sua touca... e espero que não tenha se importado de eu pegar suas agulhas e um pouco de sua lã, Rose... em todo o caso, eu sei que não dá pra substituir o que o Equius fez, mas... o que acha, Nepeta?

Kanaya havia refeito a touca. Porém, Kanaya tricotava muito melhor que Equius, de modo que o acabamento estava muito melhor, não havia um fio solto sequer e as duas orelhas de gato pareciam mesmo orelhas de gato.

Nepeta a pegou em mãos, e após admirá-la por um instante, colocou-a na cabeça.

– Ficou linda, Kanaya... muito obrigada... você também, Rose, eu... eu...

Nepeta recomeçou a chorar, e abraçou Kanaya, que delicadamente fez com que deitasse em seu colo, enquanto acariciava sua cabeça.

– Pra que tanto choro, Nepeta? - perguntou Rose - Está tudo bem.

Mas não era um choro de desespero.

Era apenas a emoção, a grande gratidão de se sentir amparada, que não cabia em seu peito e transbordava por seus olhos.

*

– Cheguei em casa! - Nepeta abriu a porta, após ter percorrido todo o caminho alegre e saltitante novamente. Havia ficado mais um bom tempo na casa de Rose, de modo que a irmã já estava em casa agora

– Aqui na cozinha, Nepeta! - ouviu o grito de Meulin

Nepeta estranhou: como assim? Ela não deveria ter ouvido seu grito...

Mas quando entrou na cozinha, Nepeta compreendeu: Kurloz estava lá. Ele ouvira Nepeta e avisara Meulin na hora.

Porém, Nepeta só pensou nisso por um instante, antes de notar algo ainda mais impressionante.

O cabelo de Kurloz sempre fora um bocado volumoso, e sempre ficava bagunçado: parecia um ninho de ratos. Mas agora estava curto, apenas um pouco menos curto que um corte militar.

E para sua completa surpresa, as longas madeixas de Meulin também se foram: o cabelo dela estava curto, em um corte que lembrava o de Kanaya.

– Meulin... Kurloz... - Nepeta encarou os dois, emocionada

Os dois sorriram.

– Não fique se achando, eu só queria uma mudança de visual. - disse Meulin, rindo - E o Kurloz, bem... aquele cabelo bagunçado dele era horrível. Agora é bem mais prático, nem precisa pentear.

Kurloz sinalizou que sim com as mãos. Mas o sorriso terno dos dois dizia tudo.

Nepeta olhou para os dois e começou a sentir lágrimas de emoção virem à tona novamente... mas limpou-as rapidamente. Já estava ficando chata aquela história de chorar toda hora. Credo.

– Vá tomar banho, que a janta já está quase pronta. - disse Meulin

– Tá legal... olha... - disse Nepeta - Vocês são o OTP mais lindo do mundo, sabiam?

Antes que Meulin pudesse protestar ou desmentir, Nepeta saiu rindo. Meulin riu e suspirou.

– Você é um gênio. - Meulin sinalizou para Kurloz

– Dizem isso pra mim toda hora. - Kurloz respondeu, embora o sorriso denunciasse uma arrogância exagerada de brincadeira

– Vai ficar pra jantar? Você é vegetariano, não é vegano, então você come queijo, né? Estou fazendo panquecas de queijo.

– Ainda não consegui parar com os laticínios, então adoraria comer suas panquecas. Mas infelizmente tenho que ir agora... não confio de deixar o Gamzee muito tempo sozinho. Ele anda muito descabeçado.

– Já fizemos coisa pior que juntar os amigos e fumar maconha, na nossa adolescência. - sinalizou Meulin, rindo - Lembro de você atirando numa viatura com uma arma de paintball.

– Aquele idiota do Rufioh me desafiou.

– Eu achava vocês dois tão lindos juntos... depois que nós terminamos, eu cheguei a imaginar vocês dois num relacionamento.

– Não seja boba. Como se eu pudesse amar outra pessoa que não você.

Kurloz sinalizou sem pensar, e só percebeu um segundo depois, com o olhar de Meulin sobre ele.

– Desculpe, eu tenho que ir. - Kurloz se levantou

– Kurloz... - Meulin segurou a manga de Kurloz e lhe deu um beijo... um beijo superficial e rápido nos lábios, que durou apenas alguns segundos, mas suficiente para os dois se encararem em um clima completamente novo. E difícil.

– Meulin... eu... eu não... - Kurloz começou a sinalizar, mas não parecia saber o que dizer, até que Meulin segurou sua mão

– Eu sei. Desculpe. - disse ela - Amanhã eu levo umas panquecas pra comermos no almoço da faculdade. Tome cuidado no caminho.

Então, Kurloz saiu pela porta. Meulin ficou observando enquanto ele caminhava, para então suspirar.

“OTP, Nepeta? Quem me dera.” Ela pensou, antes de voltar a trabalhar na massa das panquecas

*

– Ai, ai, ai, ai, ai... - Nepeta havia comido panquecas demais, estava estufada. Praticamente se arrastou até seu quarto e se sentou na frente do computador, pensando em começar a ler o tal Darker Than Black. Kurloz curtia uns mangás mais sombrios, mas tinha bom gosto. Por intermédio dele que ela e Meulin haviam conhecido Kuroshitsuji, e agora Sebastian e Ciel era um dos ships favoritos das duas...

Porém, abriu o Facebook antes de começar a ler.

Seu coração parou por um segundo.

Uma mensagem de Karkat!

Nepeta engoliu em seco antes de ler a mensagem.

“ENTÃO, TIPO, SEI LÁ COMO COMEÇAR A FALAR ISSO, MAS ACHEI QUE ALGUÉM TINHA QUE VIR FALAR CONTIGO, E QUE EU SERIA UM CRETINO IDIOTA BABACA SE IGNORASSE. SEI LÁ. TIPO, PODE RELAXAR, QUE O PESSOAL DA ESCOLA NÃO PASSA DE UM BANDO DE RETARDADO, E QUE EU NÃO LEVEI A SÉRIO AQUELE NEGÓCIO DELES QUE VOCÊ TINHA CORTADO O CABELO POR MINHA CAUSA. ELES QUE FALEM O QUE QUISEREM, EU QUERO MAIS É QUE ELES VÃO PRO INFERNO. POR MIM TÁ TUDO DE BOA, E SE ALGUÉM FOR ZOAR VOCÊ, VOU COBRIR ESSE IDIOTA DE PORRADAS. SE BEM QUE O EQUIUS FAZ ISSO MELHOR QUE EU, ENTÃO... AAAAH, DROGA. ENFIM, VOCÊ ENTENDEU. VOCÊ É LEGAL, NEPETA, E AQUELES BABACAS NÃO VALEM NADA. NÃO LIGA. ENFIM, FALOU.”

Nepeta sorriu de orelha a orelha, e sentiu vontade de abraçar seu monitor. Leu aquela mensagem dezenas de vezes. Pra um estranho, parecia ser apenas uma coisa bruta de alguém que maneja o Caps Lock com a delicadeza de um ogro faminto. Mas Nepeta sentia aquilo como uma benção.

Ao mesmo tempo que se sentia um pouco culpada. Seu ato descabeçado, e a atitude que tomara com relação a ele, tudo trouxera problemas para Karkat. E pro Equius, pra Meulin, pro Kurloz, pra Kanaya, pra Rose... era bom que ela soubesse que podia contar com eles. Mas não podia abusar.

Nepeta suspirou e olhou para a frente decidida. Parecia encarar seu futuro de frente.

“Vamos à luta.”


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Notas finais do capítulo

E é isso aí.Essa é uma one-shot que pertence a um conjunto de one-shots de Homestuck que pretendo ir fazendo aos poucos, cujo nome seria "Juventude Alucinada", com os personagens de Homestuck nesse contexto, como adolescentes e jovens adultos, algo estilo Malhação (as temporadas boas de Malhação).Muito obrigado por ler =D



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