As cores saúdam minha presença

Como pétalas ou pedras preciosas

Tiram-me o sono, esvaziam-me a presença

De tardes sem você, ociosas.

Ouço os gritos com distinção

Os lençóis cobrem-lhe a mão

“É o meu nome”, sorrio

O momento é meu, arrepio.

A vibração

Penetra-me, doçura

A devoção

Grita de mim, loucura. 

Outros gritos grudam-me o corpo

Adversário ou amado?

Maldito ou desejado?

O show de cores, o banho de sabores

Ouço o sinal,

De início (ou final?).

É início, todos correm e eu sigo

Os gritos aumentam, viram samba

Guiam-nos pela corda bamba

Os fogos estouram, rebeldes

Como se tivessem vida, percebes?

Pouco a pouco, a busco

E consigo.

O fervor converte-se em ardor,

A sensação de unhas em pele nua

Ar varrendo meus pulmões

Deita comigo nesta peça de rua.

Sinto os corpos, as mãos se sentem

Doce fulgor, calor ardente

Ganho domínio em meio à confusão

No olhar e no grito, a eterna paixão.

Um toque, gentil e infalível

O delicioso sabor de enlouquecer.

Gritos de crença inconfundível

Maldade e vontade me fazendo tremer.

Quebro a fortaleza, miro o rei

Sou o guerreiro a quem tantos matei

Miro-o nos olhos.

Os lábios crispam ao sabor

De algo que não sei.

Ofego a fadiga,

Arrisco.

Um passo em falso,

Mordisco.

Meu rei me olha, me deseja, a deseja,

Entrego-nos...

A morte é dura como tem de ser.

Gritos

Doce tentativa de sobreviver!

Os braços me alcançam de todas as direções

Não preciso mais correr.

Estão incandescentes como deveriam estar

Amam-me como estive a desejar.

A batalha, a guerra

Enfim terminada

A sedução, teatral

Então sufocada.

A vitória, o clamor, a paixão

Os gritos devotos de uma nação

A paz, a esperança e o vigor,

Uma partida: dor e amor.