bruna

não consigo entrar no vestido.

não, porque a minha vida é uma droga.

eu tenho um corpo de miss universo (exagerei só um pouquinho), aí chega a corte na cidade, minha melhor amiga começa um relacionamento com o príncipe, sou convidada para a festa de aniversário dele e engordo uns trinta quilos. parece até que os da minha família e vizinhos vieram para cima de mim. se você quiser me dar os seus, desculpe, já estou cheia.

mas ainda conseguiria um garoto. tinha que conseguir, senão ficaria mais uma vez roubando os doces e acumularia mais gordura no meu quadril perfeito.

nossa, que elegância! dois guardas abrem as enormes portas de carvalho para eu entrar. ainda bem. passei muito hidratante nas mãos. quero, literalmente, escorregar em alguém hoje.

eu até poderia escorregar, mas seria no chão excessivamente brilhante do salão. todos. todos os meninos estão acompanhados. eles estão tão lindos! as meninas nem tanto. um ou dois está conversando em grupo nas mesas postas ao redor da pista de dança, mas não teria coragem de chegar neles. tantos narizes empinados.

o melhor lugar para mim seria na mesa de aperitivos mesmo...

– quer dançar?

o sr. virilha.

– por que eu iria dançar com você?

– porque está sozinha e daqui a pouco só vai sobrar você parada.

– calma aí! também não precisa humilhar. mas nem pense que vai rolar alguma coisa.

– não vou tentar nada contra o seu consentimento, senhorita.

a voz é uma piada, mas o corpo é de um deus grego.

– espero que a sua infecção não seja transmissível.

– pode brincar o quanto quiser. não é o seu destino que está traçado por uma maldição.

– vamos. deixa de enrolar. – abro um sorriso debochado. – vou entender se você pisar no meu pé.

– o mesmo para a senhorita.

entramos na pista. sem querer aparecer, somos o casal mais chamativo. as meninas são elegantes demais para rebolar o quadril. os meninos, nobres demais para dar o prazer de se soltarem um pouco. a melodia fluía bem para a minha cintura. confesso que fiquei seduzida por um momento pelo jeito desmontado so sr. virilha. ele me fazia me sentir tão livre. ele tem estilo pra coisa.

o dj muda a música.

ooh na na, what's my name

*ooh na na, qual é o meu nome

eu amo essa música.

algo mágico paira no ar. uma atmosfera nova. o novo desconhecido admirável, como neve. dançar com um estranho me faz bem. experimente você também.

– me chamo carlos. e você?

estamos tão pertos...

– bruna.

no everybody knows how to work my body

*não é todo mundo que sabe como mexer o meu corpo

e no meio da música, do clima e do caminho entre os nossos rostos o mundo pára.

por que parou? parou por que?

– temos que ir pro canto.

carlos me puxa.

– o que está acontecendo?

– a princesa está decendo.

uma princesa incomoda muita gente...

mas bruna não foi você que disse que não iria rolar nada. o que foi? está arrependida?

se eu fosse listar todas as coisas de que me arrependo, não sairiamos daqui nunca mais.