Masquerade escrita por okayokay


Capítulo 23
The Killer


Notas iniciais do capítulo

Ansiosos? Uma bomba vem por aí.



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Adam van der Windsor  

Me esgueiro por entre as árvores no jardim e me escondo quando escuto a porta dos fundos ser aberta. Saio de trás da moita quando vejo Naomi me procurando no escuro.  

 A beijo com desespero e ela me afasta quando sente o ar faltando.  

— Nosso pai está te procurando - ela murmura. - Depois de Maddie, eu acho que ele o perdoaria. Ele desistiu de me mandar para um colégio interno. Ele... ele deixaria você voltar.  

Estaríamos em total escuridão se não fosse pelos postes no condomínio, mas eles ainda estão distantes, então utilizo a luz prateada da lua para observá-la. Já havia visto muitos olhos bonitos, das mais variadas cores, e sempre me encantei pelos claros, como as grandes esferas verdes de Scarlett, mas nunca havia visto nada como Naomi. Seus olhinhos puxados em um tom de mel de outro mundo e eu sentia como se pudesse mergulhar neles para sempre.  

Toco sua boca carnuda e sinto a maciez do seu lábio inferior com meu indicador. Minha mão desliza pela sua bochecha e depois para seu braço de fora, levemente arrepiado. Sua pele era como lençóis de seda, lisos e tão reconfortantes...  

— Eu não quero voltar - murmuro, tirando minha mão dela. Se a tocasse novamente não sei se conseguiria manter minha decisão.  

Ela se aproxima ainda mais, meu corpo cola no tronco da árvore quando sua bochecha roça a minha.  

— Eu sinto sua falta - Naomi sussurra em meu ouvido.  

— Eu também - gaguejo -, mas não posso voltar depois do que ele me disse.  

— Ele estava nervoso - ela tenta apaziguar - e agora está arrependido. Se não por ele, por mim, Adam - seus lábios tocam os meus de forma suave. - Por favor, por mim.  

Eu não podia mais viver sob o mesmo teto que meu pai. Não havia mais espaço para nós dois no mesmo recinto. Eu não queria, não conseguia. Nem por Naomi.  

— Venha comigo - digo antes de pensar. - Tenho muito dinheiro da The Storm. Agora que a banda acabou, podemos ir para qualquer lugar do mundo que você quiser. Taiwan... você sempre me disse que queria rever sua mãe.  

— Bridget é minha mãe - ela me fala de forma rígida -, não importa o quê. Assim como Harold é meu pai, apesar dos pesares. Eu os amo, Adam. Eles me acolheram quando minha mãe não me quis e eu não posso abandoná-los, mesmo que eles não concordem com a gente.  

— Nós poderíamos ser livres, Naomi. Ficar juntos e desvendar o mundo, conhecer cada canto dele, como sempre dissemos que um dia faríamos.  

— E nós iremos - ela toca o meu rosto -, apenas não agora.  

Me afasto.  

— Não, não iremos.  

— O quê?  

— Comprei passagens para a Inglaterra. Estou indo daqui quinze dias. Seis meses.  

— Adam... por favor, fique aqui comigo.  

— Eu não posso, Naomi. Não depois de tudo.  

— Eles nos amam, Adam! O único erro dos nossos pais é tentar nos proteger.  

— Não, não é! - minha voz se altera igual a dela. - Eles tem um prostíbulo, pelo amor de Deus! Você me perguntou inúmeras vezes o porquê de eu não estar mais com Scarlett, está aí a sua resposta: o pai dela devia para nosso pai e ela teve que se prostituir para pagar a dívida dele. Como ela poderia ficar com o filho do seu cafetão, não é mesmo? E lá tem ainda meninas mais jovens do que ela.    

— Eu... eu não consigo acreditar.  

— Todo o dinheiro que temos é sujo, Naomi. Finalmente eu tenho algo que é meu, que veio com o meu trabalho e o meu talento. Não quero nunca mais voltar a viver a sombra do nosso pai. Você também não precisa, é só vir comigo.  

Seus olhos vagueiam pelos jardins por muito tempo até focarem nos meus novamente. Vejo que eles estão marejados.  

— Sinto muito, mas eu não posso.  

— Tudo bem - sussurro, desapontado. Ainda tinha esperanças de que ela mudasse de ideia. - Se você quer viver assim para sempre, não posso fazer nada.   

Estou indo embora quando ela segura o meu braço.  

— Faça quanto dinheiro puder na Inglaterra - ela sussurra. - Juntarei provas e denunciarei os dois. Quando eles forem presos, nós nos veremos novamente.  

Naomi me beija de forma calorosa antes de entrar dentro de casa, suas palavras ainda ecoam na minha cabeça quando dirijo até o hotel.  

Nós nos veremos novamente. 

§§§

Franklin Wentworth  

Já é noite quando saio do restaurante e decido comprar um café ali do lado antes de ir para o inferno que chamo de casa.  

Depois da briga com meu pai por causa de Hayley, ele vinha me ignorando, o que acabou sendo surpreendente para mim, pois imaginei que ele iria me tratar pior do que antes. Minha mãe não havia perguntado nada, supondo que minha relação com meu pai sempre foi péssima, o que não deixava de ser verdade, apenas questionou sobre meu olho roxo quando voltei para a mesa. Disse que havia brigado com um menino da minha sala.  

Então Maddie morreu. Meu pai sequer se prestou a abrir a boca para dizer uma palavra e nem compareceu ao enterro.   

— Espero que agora decida achar uma casa só para você - digo para meu pai enquanto minha mãe coloca os pacotes de comida japonesa que ela havia comprado em cima da mesa.  

— Eu também espero - minha mãe diz.  

— Eu já disse que só saio daqui quando você assinar o divórcio - ele encara minha mãe, irado. - E você não quer dividir a herança do seu pai, então aqui eu vou ficar.  

— Herança não entra na nossa divisão, Jonathan! Meu pai trabalhou muito para ter tudo o que tinha e eu não vou deixar você colocar a mão em um centavo do que era dele.  

Ele bate na mesa, fazendo os pacotes tremerem. Se levanta, bravo.  

— Perdi a fome.  

— Ótimo, porque a partir de hoje se estiver com fome você que compre sua própria comida.  

Ele sai de casa batendo a porta. Olho para minha mãe, que respira fundo.  

— Tem um jeito, mãe - digo. - Uma brecha no contrato pré-nupcial.   

— Frank, não quero que você entre nisso...  

— Eu já estou nisso, mãe - falo. - Eu posso conversar com ela se você quiser.  

— Por favor, não.  

— Eu não vou deixar ele levar o que é nosso - caminho até a porta.   

— Frank! - minha mãe grita. - Não.  

— Sinto muito, mãe, mas não estou pedindo permissão.  

Porém a coragem sumiu assim que sai pela porta de casa. Com que cara encararia Hayley depois de tudo? Eu entrei na briga para defendê-la, mas quando meu pai me confrontou, não demonstrei qualquer sentimento por ela. Para falar a verdade, não sabia se os tinha ou se apenas o que tinha era vontade da sua pele calorosa e suas mãos ágeis.  

Minha barriga ronca quando entro no carro e decido comer em algum restaurante qualquer no centro. Agora estou enrolando para ir até a Red Night.  

Caminho pelas ruas molhadas por causa da recente chuva e compro meu café para a viagem. Saindo da cafeteria, porém, dou de cara com Tiffany entrando, empurrando um carrinho e com uma moça da sua idade ao seu lado, com outro carrinho. As duas crianças são idênticas e as reconheço como as gêmeas.  

— Frank - ela sorri para mim. - Isla e Willa.  

— Elas são lindas - digo. Ela faz sinal para que a babá entre com as crianças e nós dois ficamos em pé na calçada molhada. - Não sabia que você ainda vinha aqui.  

— Yaffa sempre foi meu lugar favorito - ela sorri. - Você lembra que eu fazia você vir comigo toda quinta-feira? Era tradição.  

— É - murmuro. Minha voz sai falhada em meio ao movimento na rua. - Eu me lembro.  

Ela me olha com profundidade. Pela primeira vez em meses, desde que Madison me contou tudo. Desvia o olhar para dentro da cafeteria, para suas filhas, e depois volta a me olhar.  

— Sinto muito.  

— Não sinta. Elas são lindas.  

— Não... não por elas. Eu as amo com todas as minhas forças. A questão é que... Isla e Willa deveriam ser sua, não dele.  

Concordo em pensamento, mas não digo nada.  

— Onde Bash está?  

— Disse que ia para a França. Seus pais estão pagando tudo, mas não é a mesma coisa - ficamos em silêncio por um tempo. - E a mulher misteriosa?  

— Deu tudo errado. Acabou.  

— Você a amava? - sinto a voz de Tiffany cautelosa.  

— Eu amava você - falo antes de perceber. - Por ela eu não faço ideia do que eu sentia.  

Tiffany fica silenciosa, seus olhos na calçada.  

— Eu vi você e seu pai brigando na formatura. Suponho que tenha sido por ela - sussurra. - Eu o conheço, Frank. Sempre foi o melhor entre todos nós. Você nunca entraria em uma briga, nem mesmo com o seu pai detestável, se não existisse a menor centelha de sentimento.  

A encaro.  

— Nós tínhamos tudo, Tiffany. Tudo. A promessa do que poderíamos ter sido...  

Ela sorri de forma triste e se aproxima.  

— Não vamos nos prender ao passado, sim? Foi uma promessa linda, mas não se cumpriu - seus lábios tocam meu rosto. Sinto o cheiro de baunilha do seu perfume que eu sempre amei e fecho meus olhos. - Vá viver a promessa do seu futuro.  

E eu fui.   

Quando cheguei à Red Night, procuro por Hayley no caixa. Ela me encara por um tempo.  

— Veio em busca de alguma garota? Me diga o preço que eu acho que posso conseguir alguém para você.  

— Eu vim falar com você - falo em meio a música alta.   

Fomos até uma área mais reservada. Ela podia me odiar por isso e achar que eu tinha vindo só para tratar do assunto, mas não podia mais adiar isso. Estava fazendo pela minha família.  

— Há uma questão no contrato pré-nupcial dos meus pais. Se for provada a traição, o adultero sai sem nada da união e...  

— Você quer que eu testemunhe contra o seu pai?  

— Eu sei que pode parecer pra você que eu...  

— Eu vou.  

—...estou sendo precipitado de vir aqui e... o quê?  

— Eu vou - ela repete. - Depois daquela humilhação, eu adoraria ver Jonathan sair do casamento com Bethany sem nada da preciosa herança que ele tanto ambiciona.  

Sorrio para ela.  

— Ótimo. Agora, eu acho que nós precisamos conv...  

— Não há nada para ser dito, Frank. Eu quis ficar com você mesmo estando com seu pai. Estava consciente o tempo todo de que poderia não ser recíproco.  

— Hayley...  

— Eu não esperava nada de você e isso não vai mudar agora.  

— Eu ando perdido depois de tudo que aconteceu com Madison e não quero tomar uma decisão precipitada baseado nisso.  

Ela sorri para mim e se aproxima.  

— Você sempre foi o mais racional entre eles, não é mesmo? - seus lábios tocam os meus de forma rápida. - Não se preocupe, eu espero.  

Hayley caminha até a porta que conecta os quartos a boate.  

— Não quero desperdiçar tempo, então se isso for apenas um jogo para você, é melhor decidir logo, porque não vou esperar muito tempo.

§§§

 Sebastian Scotterfield 

Quando chego no hotel, Scarlett está no Facetime com Dameron. Eles dão risada de algo e eu o ouço dizer, quando os rissos cessam: 

— Madison iria querer isso, digo, justiça. Sei que ela ficaria orgulhosa de vocês. 

Scarlett sorri e desfaz a conexão. 

— Ele não sabe o que está falando. Mal a conheceu. 

— É bom que ele conheça apenas o lado bom dela. O que eu não daria para não ter descoberto tudo o que descobri... 

— Você não contou a ele, não é mesmo? 

— O quê? - ela se faz de desentendida. 

— Para, Lett. Você sabe do que eu estou falando - respiro fundo. - Da Glock que você me fez trazer para matar o assassino de Maddie. 

— E eu vou contar pra quê? Pra ele tentar me impedir? 

— Dameron nos deu todas as informações que precisávamos para chegar até aqui. Ele sabe o que faz. 

— Dameron me deu informações e eu decidi compartilhar com você. Eu sei o que eu faço. 

A raiva me quebra como ondas nas pedras. Sinto tudo dentro de mim queimar e eu cerro os punhos. Scarlett vê isso e sorri de forma maquiavélica. 

— Vai bater em mim? Vá em frente. 

Respiro fundo e forço a raiva a ir embora. Eu precisava de Scarlett ao meu lado se quisesse conseguir as informações que precisava. Tudo me parecia muito suspeito e caso quisesse descobrir se minhas desconfianças eram verdade, precisava me controlar. 

— Trouxe ingressos para o teatro - digo. 

— Nós não temos tempo para isso, Bash. Se quisermos pegar o assassino de Maddie... 

— E é isso que vamos fazer: vamos pegá-lo. 

Vejo a dúvida em seu olhar. 

— Conversei com Dameron mais cedo. Ele continua rastreando a conta e obtendo extratos. Pela tarde, o provável assassino comprou um ingresso. 

Scarlett parece ter esquecido nossa discussão de minutos atrás, pois ela abre um grande sorriso e destrava a arma. 

— Então eu devo praticar para hoje a noite.

§§§

Scarlett Wilkins 

Meu vestido é tomara que caia e longo, em um belíssimo tom de branco, passando para o azul bebê e indo para o lilás fraco como um pôr do sol, com seus panos soltos, dando uma sensação de leveza e liberdade. Apesar disso, ele é apertado na cintura e quase fico sem respirar, mas termina em um belíssimo modelo solto. As pedrarias no peito dão apenas um detalhe final e, por conta delas, não uso colar, apenas um brinco médio de diamantes que herdei de minha mãe. Prendo meu cabelo em um coque bagunçado e destaco meus olhos com sombra escura e delineador. Na boca, passo apenas um brilho incolor. 

Quando saio do quarto, vejo Bash sofrendo com a gravata na frente do espelho. 

— Era sempre Maddie que dava nó para mim - ele suspira. - Será que você... 

Bash para de falar ao me ver e eu sorrio. 

— Sem palavras, Scotterfield? 

— Como não ficar, Wilkins? Você, provavelmente, vai matar nosso assassino com um ataque cardíaco. 

Volto a sorrir. 

— A intenção é buscar informações e fazê-lo sofrer. Vamos torcer para que eu não acabe com nosso plano.

§§§

Chegando ao teatro, nos dirigimos para nosso camarote.

— Por que você pegou um camarote se o assassino está na área comum? - sussurro, afinal a peça começou.

— No intervalo explico tudo.

Pego o binóculos dourado que Bash deixou para mim e não consigo me concentrar na peça. Meus olhos vasculham o salão em busca de qualquer pista, mas há muita gente e, como pegamos um dos últimos lotes de camarotes, a maioria das pessoas estão de costas para nós, porque estamos no fundo.

Não sei quanto tempo se passou até o intervalo. Bash me dá instruções e eu assinto. Quando a maior parte da área comum esvazia, afinal pobre adora parar para fazer uma boquinha, como Maddie diria, tenho apenas alguns minutos até a peça recomeçar. Ando apressada pelos corredores cheios de poltronas vermelhas. Procuro pela C-34.

Perto das poltronas douradas da área vip, acho a poltrona do assassino. Deixo o envelope branco em cima do assento e saio de fininho. Quando volto para o camarote, percebo minha respiração irregular. Meu binóculos, no segundo ato, fica totalmente virado para a poltrona, agora que sei onde ela fica. Vejo um homem sentar nela e abrir o envelope. Minha mente vaga até a mensagem que escrevi em uma letra perfeita:

"Me encontre no terraço no final da peça.

Madison"

— Você está pronta? - Bash murmura.

Levanto meu vestido, deixando a perna direita a mostra. Mostro a arma pendurada ali. Por estarmos a sós no nosso camarote, a pego e a destravo.

— Sempre estive.

§§§

A peça parece ter durado uma eternidade depois que entreguei a carta. Quando o teatro esvazia, vejo o homem ir no sentido contrário de todo mundo. O vejo subir escadas até o terraço.

— Minha hora chegou - digo a Bash, me levantando. Ele segura o meu braço.

— Tenha cuidado - ele coloca uma escuta discreta no meu vestido. - Eu estarei escutando tudo. Qualquer coisa, me dê um sinal de quem ele é e eu o farei pagar.

— Apenas uma pessoa vai morrer hoje - falo. - E essa pessoa não é nenhum de nós dois.

Ele sorri para mim e coloca uma mecha atrás da minha orelha.

— Não posso perder mais ninguém.

— Você não irá - o abraço e sinto que ele transfere o peso para mim. Me sinto mais sobrecarregada, um tanto preocupada. Eu não estava assim antes e tento respirar fundo para ver se passa. Preciso estar focada.

— Mas caso aconteça - resolvo dizer -, não desista do plano. Quero que o pegue. Vingue a nossa morte - digo, me referindo à Maddie e ele entende e assente.

Beijo sua bochecha e subo para o terraço com o coração na mão. Quando a porta barulhenta e prateada se fecha atrás de mim, o homem se vira.

— Madison?

A arma destravada em minha mão cai no chão. O rosto conhecido a minha frente parece tão surpreso quanto eu.

— Scarlett... o que você está fazendo na Suíça?

— Faço a mesma pergunta a você.

Ele olha para a arma no chão e para mim novamente. Quando faz menção de pegá-la, me abaixo rapidamente e a pego. Ao apontar para ele, ele levanta as mãos em sinal de rendição.

— Você a matou.

— Você não entende...

— Você a matou! - repito, com a voz mais alta, a visão tremendo por causa das lágrimas.

— Eu posso explicar tudo, Lett. Você só precisa deixar.

— Eu não quero ouvir.

— Não foi por isso que você veio até aqui? Por uma explicação?

— Eu mudei de ideia - rosno. - Assassino.

E eu atiro.


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