FANTOCHE

Ele sentou-se ao seu lado, os cabelos soltos e molhados, como se tivesse saido do banho. Ela já não sabia se ele estava realmente ali, ou se era só sua imaginação. Verdades escondem mentiras, mentiras escondem verdades.

- Então você já fez os preparativos para a chegada dele? – perguntou em tom de voz casual.

- Sim, Mukuro-sama. – respondeu Chrome.

O silêncio desceu sobre eles.

- Pretende mesmo enfrentá-lo? – perguntou Chrome, curiosa.

- Sim.

- Mas dizem que Byakuran é bastante poderoso...

- Sim, eu sei.

- Você pode vencê-lo, não é? – havia certa urgência em sua voz.

- Quem sabe... – Não importava quão crescida Chrome estivesse, ela ainda carregava o tom infantil em sua voz.

- Mas se... – ela olhou longamente para as próprias mãos, incerta do que pensar, sentiu seu estômago revirar, pensara o pior.  – Vai doer? – perguntou, receosa.

- Infelizmente vai.

- Você vai estar comigo?

- Não.

Mukuro viu uma lágrima solitária escorrer pelo rosto de Chrome, havia muito que ele não a via chorar.

- Está com medo? – perguntou tentando transmitir algum carinho em suas palavras. Chrome concordou com um gesto, sem olhá-lo.

-  Talvez Ken ou Chikusa...

- Eu não preciso deles. – disse de forma ríspida. Chrome era sempre tão calma e obediente quando se tratava de Mukuro, ela realmente estava com medo. – Passei minha vida toda sozinha, posso passar o final dela.

- Chrome... – Mukuro teve vontade de abraçá-la, protegê-la, como fizera todos esses anos, mas ela não era mais uma menina. Era uma mulher.

- Eu não quero morrer. – sua voz tremeu. – Mas eu não deveria estar viva. – pensou em si mesma, e no acidente que sofrera há 10 anos atrás e como Mukuro a resgatara. Secou as lágrimas que caiam do rosto e deu de ombros como se conformasse com o futuro que lhe aguardava. – Eu completarei a missão. – disse em tom firme, abrindo um largo sorriso, embora Mukuro pudesse ver nele uma simples ilusão de que tudo ficaria bem.

Chrome se viu sentada, solitária no café do aeroporto. Ouviu a chamada do voo que acabava de chegar da Itália. Levantou-se, ajeitou seus papéis e os óculos escuros no rosto. O braço na tipóia ainda doia um pouco. Precisava encontrar Guido Greco. Precisava dar continuidade aos planos de Mukuro.