O CHÁ DE AURORA

Yolanda não estava nem um pouco feliz por levar sua irmã caçula, Aurora, ao chá das senhoras. Mas sua mãe alegara estar muito ocupada para cuidar da menina, e além disso logo Aurora teria idade para frequentar o chá, então seria bom já ir se habituando.

O chá foi realizado na casa da Sra. Chawnk, a velha e espalhafatosa víuva, e todas as mulheres da sociedade estavam presentes. A conversa girava em torno de boas lojas para vestidos de festa, coisa que não interessava a pequena Aurora e pelo que a menina percebeu, não interessava outra mulher na mesa.

- Acho que a senhora também não gosta muito de vestidos? – disse, sobrepondo sua voz sobre as demais.

As outras mulheres se calaram e lançaram um olhar à Minerva, que permanecia em silêncio. Ela sorveu o líquido da xícara e sorriu para a menina.

- Ela não tem dinheiro para frequentar essas lojas. – disse Genevive, a mulher de cara de cavalo, em tom de repreensão, tanto para a jovem Aurora, pela sua audácia em interrompê-la, quanto para Minerva, por ainda frequentar o nobre chá das mulheres da sociedade.

- Realmente eu não tenho esse dinheiro. – disse em tom modesto. Todos sabiam que o casamento de Minerva havia sido um fracasso. O marido perdera todo o dinheiro de ambas as famílias numa negociação e então se mudara para a capital deixando a esposa sozinha na cidade.

- Então a senhora é pobre? – perguntou a menina, ousada e curiosa, toda a noção que ela tinha de pobreza era a dos empregados da família.

- De certa forma. – disse a mulher, sempre com um sorriso no rosto.

- Mas, como o seu marido deixa? – perguntou a menina ainda mais curiosa, às vezes ela ouvia conversas entre os pais atrás das portas e seu pai sempre dizia que nunca deixaria faltar nada em casa.

- Ela não tem marido. – cortou Genevive, mordaz.

A menina olhou assustada para a mulher delicada à sua frente, de certa forma gostava dela, mas sua mãe sempre dizia que mulheres que não tinham marido não eram pessoas de bem.

- Ele está na capital, trabalhando, para recuperar o dinheiro que tinhamos. –respondeu Minerva, terminando o chá.

- Mas por que a senhora não está com ele? – questionou a menina.

- É minha função, ficar e dar suporte.

As outras mulheres olhavam aturdidas perante a ousadia da criança, embora muito se especulasse sobre o casamento de Minerva, ninguém sabia ao certo a relação que a jovem esposa mantinha com o marido. Aurora olhou para a mulher sem entender.