If I die young escrita por hidechan


Capítulo 8
Capítulo VIII: Born to be alive


Notas iniciais do capítulo

- Nascidos/Feitos para viver.
— Penúltimo cap! Enjoy :3
— Não foi o maior dos caps... hn.
— Gente! Assistam Gintama s2. Muito amor ~



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– Não vai mesmo ficar com remorso?

Ao ouvir a pergunta, Mello parou pela segunda vez a caneta no ar.

– Uh, cale a boca... viver na favela não é orgulho para ninguém _e assinou de vez o contrato.

Agora a casa de sua falecida mãe pertencia a um senhor de 68 anos, que feliz pelo fechamento da compra, apertou calorosamente a mão do loiro. Com Mail morando consigo no centro, não tinha mais sentido manter aquela casa fechada, afinal, como dissera anteriormente, ninguém deveria ter orgulho de morar em tal lugar; aquilo deveria servir apenas como incentivo para melhorar de vida.

De volta ao carro, olharam pela ultima vez a comunidade. Os olhos verdes se tornaram um tanto melancólicos ao se erguerem para a ladeira que estava acostumado a subir. “Ainda posso ouvir a senhora Keehl chamar por mim da janela...” seus lábios repuxaram para um sorriso singelo, não sabia dizer se um dia ainda voltaria àquele lugar. Era seu ultimo passo no tratamento: se desse errado ou pior, se não desse resultado algum, então com certeza tudo se tornariam apenas boas lembranças – Rosa, seu trabalho na serralheria, os cigarros durante a subida do morro – tudo logo poderia se perder em meio a um quarto frio de hospital.

Em meio a um coração gelado e sem vida.

Matt tratou de tirar tais coisas da cabeça, do que adiantaria pensar naquilo se nem mesmo seus médicos poderiam prever o futuro? Seja como for, viveria o presente da mesma forma como sempre fez; se adaptar a nova condição e não sentir nada além de seu tédio costumeiro. Ok, agora um pouco regado de prazeres e sorrisos com Mello, mas ainda sim, sendo o mesmo Mail Jeevas de sempre.

Mello resmungava algo como “odeio essa música velha” enquanto Matt assoviava ao mesmo ritmo ignorando a irritação do parceiro – no fundo ele sabia que era apenas birra, era uma boa música! Quem no mundo poderia dizer que as músicas de Michel Jackson eram ruins?

Parados no farol, Matt observou a rua onde estavam, agora longe da comunidade ele mirou um ou dois prédios, prédios que lhe traziam certa nostalgia. O ruivo juntou as sobrancelhas, aquilo não poderia... poderia? Seus lábios foram tomados por uma surpresa que ele não sabia dizer se era desagradável ou não: estavam passando na rua de seu antigo lar. O prédio azul agora estava na cor bege, mas ainda era o mesmo portão branco, o mesmo jardim pequeno e mal cuidado. Mello percebeu sua agitação e perguntou o que acontecia, a resposta veio curta e simples “Acabamos de passar pela minha antiga casa”. O loiro não fez menção de parar apenas engoliu seco e continuou a seguir pelo bairro de classe média.

– Não é como se eu odiasse esse lugar... _comentou após muitos minutos _eu amo meu irmão e pais... o Allen era tudo na minha vida quando pequeno.

As lágrimas não foram contidas, Matt apenas virou seu rosto em direção a janela ao seu lado e ficou em silencio. No rádio, ‘Even Heaven Cries’ acompanhava a tristeza de seu coração, afinal, se até o céu chora então tudo bem se sentir assim; realmente fazia anos que Mail não pensava naquelas coisas, porém ele não se esqueceu de propósito.

Se ele não se forçasse a tal, acabaria enlouquecendo.

Quando recebeu a noticia que Allen havia cometido suicídio, odiou aquela pessoa com todas as suas forças: odiou aquele que prometeu nunca lhe deixar sozinho, odiou aquele que dizia o amar mais do que todas as coisas no mundo... odiou também amá-lo tanto ao ponto de querer enlouquecer para esquecer aquela dor.

Allen Jeevas e Mail Jeevas eram amantes.

Tinha percebido que o afeto pelo mais velho passara de fraternal quando desejou tocar seu corpo, com 14 anos já estava claro para o pequeno o que era certo e errado. “E eu estava errado” confirmou em pensamentos; seu irmão, para sua surpresa, acabou percebendo e aceitando a aproximação. Tinham trocado apenas um selar de lábios até o dia da tragédia, não tiveram tempo nem ao menos de dizerem o que sentiam um pelo outro.

– Matt... Matt?

– ... _a voz distante o tirou do devaneio, Mello o mirava preocupado.

– Vamos... anime-se, que tal irmos a uma loja de eletrônicos?! Acho que não fará mal te mimar um pouco _disse abrindo um largo sorriso.

Matt sorriu de volta automaticamente, então em sua mente novamente a pergunta: Como é possível amar duas pessoas? Allen ainda era importante, Mihael também!

O ruivo deu os ombros, Allen estava morto, não mais pensaria naquelas coisas enquanto estivesse ao lado do homem que o tanto fazia sorrir.

Seres humanos são assim afinal.

– Quero comer bolo depois _resmungou.

– De chocolate _o loiro completou, animando-se um pouco mais.

– Hey... eu te amo.

A confissão repentina fez as bochechas de Mello tomarem um forte tom carmesim, não era difícil ouvir aquelas palavras do ruivo romântico, ainda assim ficava sem jeito quando pego desprevenido. “Não diga isso assim de repente, idiota” pensou mordendo os lábios.

O céu já estava escuro quando o casal retornou ao hospital, Mello faria plantão e Matt teria um exótico encontro com seus médicos: depois das tentativas frustradas de Beyond –e de muita resistência por parte do mesmo – revolveram então envolver novamente L na batalha. O ruivo ainda não entendia muito bem a relação entre os irmãos, algo um pouco conturbado e que ao mesmo tempo ele podia perceber um amor fora dos limites; algo que ‘fraternal’ se tornava bastante limitado. Quando foram encontrá-lo pela primeira vez, Beyond não parecia o mesmo: ficou quieto e envergonhado, como se estivesse na presença de uma pessoa muito acima dele. Lawliet, entretanto, apenas explicava como seria o tratamento a partir dali, as vezes lançava alguns olhares ansiosos ao irmão, outras vezes tocava em seu cabelo com carinho tentando dizer alguma coisa.

Bizarro, essa era a palavra que mais passou a usar estando na presença de ambos.

Divertido, divertido também era outra palavra que frequentemente passava por sua cabeça.

Eles eram responsáveis por muito dos sorrisos do garoto; sendo alguns anos mais jovem, era tratado como criança o tempo todo – ao passo de ganhar doces de Lawliet e a luvas com desenhos de animais de Beyond. Todo o carinho o deixava constrangido, claro, porém muito confortável. Depois do dia cheio, ia embora com Mello, caso o mesmo não tivesse plantão, e terminava seu dia ao lado daquela pessoa tão importante. Como teria coragem de reclamar de uma vida assim? O ‘antes’ era bom, o ‘agora’ também... e essa era a capacidade de Mail Jeevas de se adaptar a qualquer situação.

“Seria uma pena se isso tudo acabasse”.

– Ah... _Matt levou as mãos na boca, como se tivesse acabado de dizer alguma besteira _droga.

– O que foi? _Beyond perguntou de imediato, chegando uma seringa perto demais de seu rosto _sente alguma coisa? Talvez eu possa resolver com um pouquinho de morfina.

– Não! Nã... não, estou bem _disse aos tropeços.

“Esse tipo de sentimento... quando passou a existir? Mais do que ninguém, sei que um dia isso vai acabar”.

Lentamente, levantou sua mão e tentou desenhar a letra “K” no ar, era um teste simples de coordenação motora; nada, sua mão tremeu violentamente e por fim não conseguir movê-la. Sua doença progredia dia após dia, antes apenas deixava de correr ou rebater as bolas de basebol, hoje, já deixa de subir escadas e escrever. E o que será amanhã? Deixará de comer... deixará de respirar?

Mail Jeevas era forte, entretanto só de pensar no futuro, seus olhos marejavam com densas lágrimas. Foi assim que ele parou de imaginar como seria se casar com Mello ou fazer uma viajem de verdade para o Nepal.

Foi assim que Mail Jeevas passou a viver cada dia como o último e dessa forma, esconder todos os medos dentro de si.

Forçando a si mesmo para não pensar no amanhã, fechando todos seus sonhos na caixa de Pandora. “Sorrir era tão fácil, veja! Apenas basta viver o agora” e dizendo isso se levantou da cadeira onde fazia os últimos testes do dia; se encontraria com Mello na porta do hospital e juntos iriam para casa.

– Vamos garoto Jeevas, hoje eu te levarei até o térreo _Beyond deu um sorriso maldoso e começou a empurrar a cadeira de rodas.

– Ah eu posso ir andando... bom, que seja _aceitou a mordomia, demoraria uma vida para ir sozinho de qualquer forma.

– O... o que? Meu irmão, você...!

O ruivo se assustou com expressão exagerada de Lawliet, o médico apático nunca esboçava nada do gênero, entretanto naquele singelo momento seu rosto parecia exibir o maior assombramento de sua vida.

– Oras, me deixe fazer isso, prometo que não correremos nos corredores _cantarolou antes de bater a porta do consultório.

– O.. que foi isso de agora pouco?!

– Hum? Não vejo nada acontecendo _esperou pelo elevador, ansioso.

– Não minta pra mim, velho caquético! O Lawl –

– MATT!

A fala fora cortada por um acesso de tosse, um dos muitos que ele passaria a ter desde então. Além da fala, a deglutição também é diretamente afetada pela falta de funcionamento pleno do sistema nervoso. Beyond o ajudou da maneira que pode, logo estavam recuperados do susto.

– Não me mate de susto, ok? Combinado?! Muito bem!

– ...uh, você... nem parece um médico _reclamou ganhando um soquinho de leve no ombro.

– Obrigado Dr. Lawliet! _um loiro sorridente avistou ambos da porta de entrada.

– De nada estagiário burro.

Outra reação exagerada, agora por Mello – e Matt agora tinha certeza que o mundo estava para acabar.

– BEYOND?!

– Tsc, pegue esse cara zuado e vão embora logo.

– O que diabos está acontecendo?!

Hospital Santa Helena, o hospital particular mais bem conceituado do país, graças ao excelentíssimo Dr. Lawliet – pediatra nas horas vagas e pesquisador de doenças raras. Sua aparência relaxada, a falta de jaleco e às vezes até de calçados não o impediram de tal status. Uma mente brilhante, um gênio.

Entretanto não estamos aqui para contar a história desse médico, não desse, mas sim daquele que se encontra no último andar daquele extenso hospital. O andar onde os pacientes passam já inconscientes sob as macas frias, onde enfermeiros têm receio de andarem sozinhos pelos corredores mal assombrados, onde a maioria dos médicos auxiliares, passam três ou quatro vezes por dia, branco como cadáveres, amedrontados e ansiosos. O andar do centro cirúrgico.

E o que causa todo aquele pavor? Com certeza não é o fato da cena de horror dos corpos cortados e do sangue jorrando pelo chão, não... na realidade, aquilo tudo nem tinha um nome próprio, era conhecido apenas como:

Beyond Birthday, ou Dr. B.

O Moreno andava pelos corredores, sempre bem humorado, cantarolando sua melodia preferida o dia todo: “Cortar, serrar, parafusar, costurar... cortar, serrar, parafusar, costurar. Não passamos de um pedaço de carne e sangue”. Algo que talvez ele mesmo tenha inventado. E como era de conhecimento geral, B. nunca deixa seu local de trabalho para nada – todas as refeições eram servidas em sua sala, que mais parecia um quarto desorganizado.

Em quase 20 anos, é a primeira vez que Dr. Beyond B. desceu os mais de sete andares para acompanhar um paciente e respirar ar puro.

– Então, calma! Aquele velho gagá realmente nunca tinha feito aquilo?! Que droga é essa! Por acaso estamos num mangá shounen?

– Ele é assim, só isso _Mello deu os ombros tentando prestar atenção na estrada a sua frente_ não tem nada de mais.

– ...e o que isso poderia significar? Aposto que ele se apaixonou por mim _mandou um beijo no ar.

– Cale a boca.

– Uh... por que está de mau humor?

A resposta foi dada por um par de lágrimas, o ruivo engoliu em falso. “Mas que diabos?!” O loiro ainda mantinha seus olhos na rua, as duas mãos firmes no volante.

– Mel? _levantou a mão para tocar em seu rosto, mas a mesma tremeu, ficou imóvel no ar sem que ele conseguisse ir adiante; insistiu uma, duas, três vezes.

“Ah... entendo...”

Beyond não estava sendo apenas ‘legal’ com ele, Mello não estava de mau humor ou coisa parecida, as pessoas ao seu redor não começaram a agir estranho do nada; a razão era simples. “Me diz... o que eu faço?”

O sol da manhã era sempre um incomodo, mas Mello insistia em não fechar as cortinas de linho; Matt fora despertado antes das oito, se sentindo extremamente cansado sem nenhuma razão aparente. Abriu os olhos lentamente tentando não ter suas retinas queimadas pelo excesso de luz, girou o corpo com dificuldades em direção à porta para ter alguma visão do corredor.

– M... Mello? _sua voz saiu rouca por falta de uso _onde... onde você... ca... ralho.

– Bom dia _uma cabeça loira apontou dentro do cômodo _como se sente?

Fez sinal de positivo com a cabeça, de tempos em tempos, ficava difícil controlar as palavras e hoje era um dia assim.

– Vamos tomar café? _continuou com seu monólogo _hoje Rosa virá, então se apronte o quanto antes.

– ...Ro... Rosa _sorriu _saudades.

– Tenho certeza que sim!

Matt fora levantado com cuidado e colocado na cadeira de rodas, se espreguiçou enquanto levado até a cozinha, estalou o pescoço, bocejou, arrumou o cabelo como pode, fechou então os olhos por alguns segundos: Cerca de dois anos atrás, fazia isso de forma natural, sem ao menos perceber. Caminhar, arrumar os cabelos, acender o cigarro, comer o que tinha no armário enquanto lia o jornal; se ele soubesse que isso um dia se tornaria quase surreal em sua vida, talvez tivesse prestado mais atenção em cada pequeno movimento... passaria algum tempo observando como as mãos podem fazer movimentos suaves e precisos, como seus pés mexiam de forma ritmada.

– Vê... como perdemos... pe... pequenas coisas _disse ao nada, observando o companheiro encher sua xícara com chá preto _como... é suave... e... pre... preciso.

Mello não ouviu, se empenhava em adoçar o chá sem exageros – como era fanático por doces, sempre errava na quantidade.

Rosa não demoraria a chegar, antes do almoço a pequena já estava a tocar a campainha, ansiosa, de mãos dadas com o pai. Souberam na condição do ruivo apenas algumas semanas atrás, Mello contou a eles tudo o que estava acontecendo, desde seu relacionamento com o mesmo até sua doença incurável. Ao contrário do que pensara a principio, o gentil Sr. Edgar e sua menina Rosa aceitaram todos os fatos, queriam encontrá-lo e dizer o quanto era importante a presença do Jeevas em suas vidas.

E mais uma vez o mundo se mostrava não tão perdido assim.

– Matt! _a loirinha ria até perder o fôlego enquanto tentava prendem inutilmente uma presilha azul nos cabelos cor de fogo do amigo _seu cabelo é muito liso!

– ...hum _concordou com um aceno abrindo um sorriso.

– Pronto _desceu do colo do mesmo a buscou um espelho _viu, agora fazemos parzinho _apontou para seus próprios cabelos _uma loira muito mais linda do que esse cabelo de tigela ai.

A gargalhada do mais velho chegou aos ouvidos do concentrado Mello, que travava uma conversa sobre política com pai de Rosa. Eles olharam para ambos como se fossem duas crianças, bom, mas como não compará-los a uma quando Matt e Rosa combinavam as presilhas de seus cabelos? Além da camiseta da mesma cor.

– Acho que está perdendo seu companheiro para uma linda princesa _Edgar comentou rindo da situação _porém, essa princesa tem aula amanhã, vamos embora meu anjo? Matt precisa descansar.

– Podemos voltar? _murmurou a pequena.

– Cl... claro! _Matt a envolveu num abraço apertado _obrigado por ter vindo hoje.

A frase dita com clareza fez seus olhos marejarem, se sentiu aliviado por ainda poder dizer coisas sem perder o controle de sua voz. Rosa, que era a mais apta chorar naquele momento delicado, sorriu para dar forças ao tão estimado amigo. “Vai ficar tudo bem” era o que os olhos brilhantes diziam.

Mail fez questão de se levantar, e com a ajuda de Mihael, caminhou até a porta de entrada para despedir de ambos.

– Essa não... será a primeira, nem... a ... a última vez, Rosa!

– Sim! Voltarei em breve, então espere por mim. Obrigada Sr. Keehl.

– Vão com cuidado _despediu o loiro.

– ...Mello.

– Sim? _respondeu vendo pai e filha entrarem no elevador.

“Não... quero desistir, com certeza ficarei bem.”

>>>

– Pressão está subindo! Mas que droga!!

– Morfina.

– Vamos, Matt... vai ruivo idiota, REAGE!

Próximo cap: The Last Song.


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