If I die young escrita por hidechan


Capítulo 5
Capítulo V: Tesouro do Céu


Notas iniciais do capítulo

Tesouro do Céu: Golpe de Shaka (DCZ) que tira os sentidos de seu oponente. #cof. Vão entender o pq na última linha do cap.

Obrigada ;*



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– Você virou ajudante do papai Noel?

Rosa perguntou desconfiada ao ver o rosto do amigo, Matt não conseguiu segurar o riso, porém isso fez seu queixo doer e logo estava fingindo chorar. Na terça-feira, enquanto ia para o trabalho, acabou se desequilibrando e caiu de cara no chão, literalmente; machucou o queixo de modo que levou três pontos.

– Por que pareço ajudante? _disse com a voz embolada.

– Está de verde e vermelho, essa camiseta horrível, e esse curativo parece barba branca de longe.

– Como se machucou assim? _perguntou Edgar, com a voz ríspida.

– Ah... não foi nenhuma briga _se justificou _escorreguei e cai _disse um pouco encabulado.

– Mas quando alguém cai, não usa a mão para proteger? _Rosa olhou para as suas próprias, vermelhas da queda de agora pouco _como você é bobo, Matt.

E novamente o ruivo se forçou para não rir, terminou seu suco e se levantou para jogar o copo no lixo.

– Meu horário de almoço está acabando, vamos na sorveteria no final de semana?

– Claro! _a menina bateu palmas, animada _trabalhe com cuidado.

– Pode deixar, minha princesa.

13 de Dezembro, com o Natal próximo o serviço na serralheria também estava crescendo, se não se esforçasse para terminar o material iria sair bem tarde do trabalho novamente; mas hoje era sexta-feira, dia do pagamento do aluguel.

Exatos 18:00 horas o ruivo acenou para o chefe, indo embora com o dinheiro no bolso. “Uh essa não... acho que não tem nada para comer” olhou com preguiça para a padaria três ruas acima, depois seriam as mesmas três ruas para descer, acrescentadas a caminhada normal para casa. “Droga” acendeu um cigarro e subiu.

O loiro esperava impaciente na porta da casa que outrora fora sua, devia ter pedido uma cópia da chave. Olhou mais uma vez para o relógio, 18:25, ele não precisava tanto do dinheiro assim, era idiotice ficar ali esperando, no frio, com cerveja e um bolo derretendo. “Ok, mais 5 minutos” disse para si mesmo, porém sem real intenção de se levantar e ir embora.

– Mello! Desculpe a demora _o ruivo chamou sua atenção ao pé da escada.

– He- _o loiro se assustou com o curativo enorme no rosto do outro.

– Fui comprar alguma coisa pra comer sabe... hum, o que trouxe de bom ai? _jogou o resto de cigarro escada a baixo e destrancou a porta dando passagem para o amigo.

– O que aconteceu com o seu rosto?!

– Uh, isso... eu cai _sua voz diminuiu dando lugar ao rubor nas bochechas _e não ria, ok! Foi um tombo ridículo.

– Mas Matt! _olhou mais de perto com receio, ele mordeu os lábios como gesto de preocupação.

– Hey, o que foi?

O loiro não respondeu, guardou as latas no congelador como de costume e deixou o bolo sobre a mesa, assim que vira o ruivo ficou sem graça de dizer que era seu aniversario. Matt se juntou a ele deixando suas próprias sacolas ao lado, não pode conter um sorriso ao ver todo aquele chantilly decorando o doce.

– Mels _tomou a atenção pra si usando o apelido que ele mesmo criara _feliz aniversário?

– ...obrigado _concordou com um aceno.

Duas da manhã, o filme era qualquer um de ação policial; Matt ainda tinha animo para fumar cigarros, mas Mello deitara a cabeça em seu colo e estava praticamente adormecido, se ocupava em observar o curativo de baixo para cima esperando o outro parar com a fumaça tóxica. “Isso vai deixar marcas será?” pensou em meio a sonolência. O ruivo levou o cigarro à boca mais uma vez. “Que tipo de tombo foi esse?” foi então que seus olhos arregalaram, a mão direita estava lisa, sem nenhum ferimento.

– Me dê sua mão esquerda _pediu, ainda deitado.

Seu pedido foi concedido sem perguntas, tinha achado que era apenas algum carinho pela parte do outro. A esquerda, como suspeitava, também não tinha nenhum ferimento.

– Matt vo-

Matt então o cortou dando um beijo na mão de Mello e abriu um sorriso doce.

– Vou comprar alguma coisa pra você.

– ...o que? Não precisa disso _soltou sua mão _você não é minha mulher ou coisa do tipo.

– Eu só estava tentando ser legal! _fez bico.

– Quero mais bolo... vai, você não é o Sr. Legal? Bolo de chocolate! Chocolate!!

– Uh cale a boca, vou pegar... aliás, onde comprou?

– Numa padaria perto de casa, desculpa não ser um bolo caro _mostrou a língua pra esse.

– Ah não é por isso... essa receita, mesmo se passasse mil anos, eu ainda me lembraria. Minha mãe era confeiteira, tínhamos uma lojinha pequena _disse sorrindo ao se lembrar _o de chocolate era o nosso sabor preferido, meu e do meu irmão, a ajudante que trabalhava com ela provavelmente é a mesma que fez esse bolo.

– ...Matt, o que aconteceu?

– Não se preocupe com isso, é seu aniversá-

– Me conte.

...

“Éramos quatro, Dhália, minha mãe, Allen meu irmão mais velho, Ryan, meu pai e eu. Nunca fomos mais ou menos ricos e felizes do que as famílias normais, morávamos num prédio na parte central da cidade; meu pai trabalhava numa empresa de automóveis e minha mãe tinha uma confeitaria. Allen estava terminando o colegial, três anos mais velho do que eu, estudávamos na mesma escola. Lembro que domingo era o único dia que estávamos todos juntos, então tanto eu quanto meu irmão, combinávamos de ficar em casa também.

No dia 29 de fevereiro, nosso prédio sofreu um arrastão, cinco pessoas armadas entraram em casa para se esconderem, pois a policia já tinha invadido o local para prendê-los. Um deles estava com muita raiva do assalto ter dado errado, meu pai não conseguiu se conter, tentou ser o herói de todos nós e levou dois tiros a queima roupa. Minha mãe entrou em choque... no final, os caras fizeram ela sofrer bastante, ficou cinco dias internada até que veio a óbito. Nesse meio tempo, Allen desapareceu, ele tinha só 17 anos; quando fiquei sozinho de vez ele reapareceu, me deu um abraço e disse que iria morar com a nossa avó. Claro que era uma mentira, ele tentou viver sozinho, longe de mim, mas no fim cometeu suicídio. Fiquei preso numa casa para menores, fugi, vim morar na comunidade com 16 anos; falando assim, parece que tudo foi rápido, mas esses dois anos foram... apenas solidão e dor, tentando crescer rapidamente, tentando entender por que o destino foi assim.

Mas o tempo passou, agora tenho 22 e tudo o que restou foram memórias, o ser humano é... eu nem mesmo posso relembrar todos os anos de forma correta, pois foi num dia que passa a não existir no calendário de tempo em tempo.”

...

Matt se calou esperando pela resposta que não veio, o outro se limitou a deitar no sofá-cama fazendo um pedido mudo para que fosse acompanhado.

O dia seguinte fora como todos os outros sábados, acordaram perto das 14 horas, comeram o que tinha de sobra e perto das 18 Mello se despediu. O ruivo nada fez então, passara a fitar a tv sem animo: sem a presença do Keehl, começara a se sentir terrivelmente sozinho nos finais de semana.

Domingo, 14 horas e uma tarefa que parecia simples se mostrando impossível para um ruivo desastrado: trocar a lâmpada da sala.

– Vai, Matt, não parece ser tão difícil _Rosa ria enquanto segurava a cadeira que o outro usava como apoio _vou ficar mais alta para trocar as lâmpadas quando nos casarmos _suspirou.

– ...Rosa, uh... eu sou totalmente capaz de fazer isso _murmurou mais para si do que para a pequena, por fim terminou de apertar o objeto e relaxou os braços _acabei, acenda pra mim por favor.

Rosa apertou o interruptor e o quarto se iluminou cegando o homem ainda em cima da cadeira. A menina voltou a apertar o botão e correu para o sofá a fim de continuar seu jogo de cartas.

– Vem! Quero terminar de te derrotar no rouba-monte.

– Então se você ganhar terei que pagar outro sorvete? _jogou mais um três sobre a mesa _e se eu ganhar?

– Isso não vai acontecer _mostrou sua carta coringa roubando todas as cartas do jogo _ganhei!

– ...acho que a lâmpada deveria queimar novamente, quem sabe não tenho mais chances _fingiu chorar arrancando risos da amiga.

Os risos foram cortados por um relâmpago, ela se aconchegou nos braços do ruivo para se proteger ganhando proteção e um beijo no topo da cabeça.

– Não precisa ficar com medo, é só... ah... o Deus Thor brincando com... seu irmão, Noctis..?

– Eu sei que são apenas as nuvens se chocando, mas o barulho me assusta _disse com a voz abafada por ter escondido a cabeça na barriga alheia _e eu já vi esse filme no cinema, o nome do irmão dele é Loki.

O ruivo suspirou, realmente crianças não eram fáceis de serem enganadas. A chuva não permitia que ambos vissem tv ou saíssem de casa, sem terem o que fazer, ambos deitaram no sofá-cama para um longo cochilo.

Depois do incidente da lâmpada, o ruivo passou a observar outras coisas pequenas que aconteciam ao seu redor; as vezes deixava o talher cair sem perceber, as madeiras que antes eram serradas com facilidade, agora demoravam mais e na ultima quarta-feira levou uma bolada no braço por que não foi capaz de desviar. “Isso está certo?” era o pensamento que sempre lhe vinha a mente. Lembrou-se então da consulta meses atrás, o diagnóstico dizia ser um problema neural, isso o afetou na hora, mas deixou de lado. “E o que poderia ser?!” agora, com coisas estranhas acontecendo, tinha voltado a se preocupar.

Mas...

O que ia fazer? Voltar ao médico? Viver se preocupando para sempre até que algo significativo acontecesse? Uh não, não tinha animo para pensar nisso, faria como sempre: se adaptar a situação e ignorar até onde desse. “Sim, parece ser a melhor coisa a se fazer” afinal, sua expectativa de vida não era além da que já levava; um favelado.

Longe dali, com um livro em mãos, Mello se esforçava para não dormir devido ao conteúdo chato do mesmo. Detestava fisiologia, sua pior matéria, porém uma das mais importantes e se não passasse naquela prova ridícula acabaria pegando dependência. Voltara à faculdade no começo do novo semestre, ainda não tinha se livrado do trabalho noturno – dava uma boa fonte de renda – mas prestes a se formar teria que entrar para a residência, além disso, seu objetivo era fazer parte das pesquisas sobre neurologia; ia se esforçar para isso. Já fazia 1 mês desde que vira Matt pela ultima vez quanto mais o tempo passava, mais ficava preocupado com a situação atual.

– Hey, Mello, hoje temos o churrasco da turma 408, vamos?!

– ...que sexta é hoje?

– Segunda sexta-feira do mês, sexta de Dionísio! _o garoto balançou um panfleto colorido nas mãos.

– Não posso.

– Tequila de graça depois da meia noite.

Após a palavra mágica o loiro rumou até a periferia para buscar o amigo. “Vamos para uma festa, ruivo delícia” foi o jeito de tirá-lo de casa sem precisar gastar saliva.

– Então... cinco shots em cinco segundos, isso é insano _o ruivo balançou a cabeça preocupado _são 150 ml de tequila de uma só vez. E já foram cinco canecas de shop... em 30 minutos.

– Saúde!

E como já previsto, bêbados, começaram a trocar caricias felizmente dentro do carro, no campus da faculdade.

– Hum, Mels... _o chamou manhoso enquanto empurrava o corpo para baixo _você é tão gostoso...

O loiro, um pouco menos bêbado, tratou de tapar a boca do outro com um beijo o impedindo de continuar, por mais incrível que pareça estava com vergonha dos elogios – que eram sinceros devido ao álcool. Matt intensificou os movimentos dando sinais que não aguentaria muito mais estava literalmente se deliciando na sua própria luxuria ao ter o outro só para si.

– Matt... devagar... MATT!

O orgasmo veio de surpresa, ficou por um momento desapontado por não conseguir esperar o outro se aliviar antes, felizmente isso fora a peça chave para Matt agarrar seus cabelos e conseguir a proeza de sujar seu peito inteiro respingando até no queixo.

– ...ah... _desabou sobre o corpo abaixo de si_ de-li-cia.

– Delícia vai ser quando conseguir limpar isso aqui... ew _pegou a camiseta que fora jogada anteriormente no banco do lado e limpou ambos, sem tirar o amigo do colo, que pareceu dormir em cima de si.

– Hn, me deixe ficar aqui...

Recebeu um suspiro e um afago nos cabelos como resposta. Olhou a lua através do para-brisa e viu ao longe seus amigos rindo de algo idiota.

– Eu gosto de você... gosto muito de você, Matt.

– ...não vale dizer isso enquanto eu estiver nu de pernas abertas em cima de você _resmungou com sonolência.

– Oh, me desculpe _ligou o rádio, fez o outro mudar de posição ficando de costas para si e ainda o cobriu com a blusa _está melhor agora princesa? _não teve resposta _como você difícil... _suspirou.

E depois de alguns segundos em silencio, Mello cantarolou ao ritmo da musica.

The green eyes
You're the one that
I wanted to find
Anyone who
Tried to deny you
Must be out of their mind…

Green eyes
Green eyes, ohohohoh

– Amo você também _Matt resmungou pouco antes de dormir.

O dia seguinte, o melhor dia para ressacas e um casal, sim, casal, deitados de qualquer jeito no tapete da sala tentando se livrar das dores de cabeça e sede insana.

– Gelo, água, qualquer coisa _resmungou o loiro _por favor, Matt...

– ...só se disser que me ama mais uma vez compro até um chocolate... Mello, você se lembra que se declarou para mim ao som de Green Eyes ontem a noite, certo? Loira, por favor, não quero ficar com essa cara de bunda _levou um tapinha na testa de um Mello com as bochechas rubras.

– Cale a boca, eu cantei aquela droga pra você, não me faça repetir.

Matt abriu um sorriso largo e se levantou, procurou a carteira que estava jogada em baixo do sofá e vestiu a camiseta de mangas compridas emprestada por Mello.

– Vou comprar cigarro, tudo bem?

– Meio amargo, por favor... o que? Quero meu chocolate, só por isso te amo _fez cara de indiferente.

Matt não ligou, apenas sorriu – estaria de volta em 10 minutos e felizmente ambos estariam se sentindo melhor algumas horas após.

O clima gelado fez o ruivo espirrar vezes seguidas, Mello esperou até que parasse com o ataque para continuar.

– Desculpe _resmungou esfregando o nariz.

– Relaxa... ok, agora tente se equilibrar com a outra perna.

O loiro percebeu o nervosismo alheio antes de realizar o simples movimento, claro, depois da tentativa frustrada com a perna esquerda, qualquer pessoa ficaria com receios. Novamente, ele precisou de um esforço razoável para parar em pé. O movimento seguinte era agarrar a bola jogada por Mello, ainda no ar; o ruivo fora acertado algumas vezes bem no meio da testa arrancando um riso nervoso. Trinta minutos depois, ambos sentaram no tapete da sala.

– ...então? _Matt estralou os dedos.

– Uh... eu não tenho certeza, pode ser apenas labirintite, sabe... _deu os ombros _melhor ir a um hospital.

– Uhum _concordou olhando distraído para os livros sobre a estante.

– Não estou dizendo que não é algo sério, Matt, apenas vá e tire essa duvida por favor. Seus sintomas são estranhos.

– Na... eu sei _procurou seu isqueiro, mas não o encontrou, sem paciência, rumou para a cozinha afim de acender o cigarro no fogão _eu sei que é sério _ligou a chama azul _...é neurológico, fiz exames a alguns meses.

Matt não ouviu resposta para a nova informação, então não teve certeza se Mello tinha escutado, quando voltou para sala o amigo estava encostado no parapeito da janela olhando para o movimento na rua. O por do sol estava refletindo em seus cabelos claros fazendo-os brilhar. “Ele é tão... lindo” teve tempo de constatar o obvio antes do mesmo notar sua presença.

– Eu... tenho que sair para trabalhar _anunciou depois de alguns segundo.

– Ah, claro, eu já vou indo _levou a mão na nuca.

– Pode ficar aqui se quiser _deu os ombros _podemos fazer alguma coisa amanhã... e eu tenho tv a cabo.

– ...nã-

– Aceite, é um convite _colocou ponto final da discussão abrindo um sorriso tímido _quando começar a residência não sei mais quando vou ter tempo para essas coisas.

– Ok... obrigado.

Mello mostrou onde tinha toalha, alguma comida e outras coisas que o ruivo pudesse precisar, antes de sair o advertiu para que estivesse acordado por volta das 4 horas, quando finalmente chegasse em casa.

O som alto e as luzes coloridas faziam o loiro sentir ainda mais náuseas do que já estava acostumado quando bêbado, seu ultimo cliente o fizera beber além da conta o Martini caro. Um indiano ainda jovem, beirando os trinta anos, tinha se encantado por Mello assim que atravessou as portas do salão; comprou a noite toda de trabalho e com certeza voltaria em breve. “Preciso ir embora ou vou passar mais mal ainda” fechou os olhos com força tentando barrar os flashes de luzes. O loiro saiu com as chaves do carro nas mãos, estava pronto para deixar o local quando revirou os olhos, tinha se esquecido de falar com sua chefe, sendo assim, deu meia volta.

O escritório de Alice estava como sempre, bagunçado, assim como a ruiva; no momento, porém, estava ocupada com um cup cake azul e rosa.

– Alice, com licença.

– Entre Mels! Aceita um pedaço? Uh, eu não deveria, mas... _fechou os olhos _é daquela padaria perto da sua casa.

– Aliás, conhece a confeiteira de lá? _se lembrou de Matt ter dito algo a respeito.

– Não, infelizmente, se não me casaria com ela agora mesmo _balançou a cabeça, triste _mas o que te trás aqui?

– ...estou caindo fora _disse com meio receio.

– Não! Mas por quê? _seu rosto chocado fez o loiro desviar o olhar para qualquer lugar _não sou uma boa chefe pra você?

– Cale a boca, Alice _riu _voltei pra faculdade, só isso. Alice _a chamou no final de alguns segundos _do que sua irmã... a doença dela.

– Lina faleceu de uma doença horrível _se remexeu desconfortável na cadeira _ela só tinha 14 anos, bom, na época eu tinha 10, mas o nome é degeneração espinocerebelar. Foi perdendo os movimentos, ficou internada um tempão no hospital... durou uns seis anos.

O assunto desagradável morreu ali, Mello se despediu de maneira educada e saiu do escritório. Alice era uma grande amiga, tinha o ajudado quando precisou de um emprego; era realmente incomodo sair de perto dela, porém, aquela não era a melhor hora para pensar em tal situação. O garoto ruivo que o esperava em casa andava tendo certas prioridades em sua vida, e olha só, até tinha de declarado. “Vida louca” procurou não fazer movimentos bruscos por conta da dor de cabeça. Assim que adentrou o apartamento, desviou de toda e qualquer luz indo direto a um banho merecido; ganharia uma xícara de café quando saísse e isso era uma das melhores razões para ter Matt como companhia, o garoto sempre parecia saber do que estava precisando.

Semanas depois

O piso branco combinando com as paredes igualmente brancas faziam um conjunto de luz terrível para os olhos claros de Matt, mas o que mais o incomodava no momento era o plantonista de cabelos alvos e pele clara; ele era constantemente camuflado pela sala. “Que agonia” pensou Matt pela terceira vez enquanto esperava paciente sentado na cadeira branca, da sala branca. Near se virou para seu paciente com um elástico e agulha nas mãos, pediu para que relaxasse e espetou a veia com destreza “Só vai demorar alguns segundos” anunciou enquanto fazia o trabalho. A rotina monótona fez o médico suspirar, quantas vezes somente naquela manhã tinha feito a coleta de sangue? E pior, que tipo de doenças poderia ter todas aquelas amostras? Franziu os lábios ao pensar no perigo de se contaminar; por isso tudo a sua volta deveria ser necessariamente branco, uma gota fora dos vidros e ele saberia de imediato.

– Terminamos _colou o esparadrapo no braço magro _espere alguns segundos antes de levantar.

– Hum _concordou com um aceno _obrigado.

– Senhor Jeevas, não é? _perguntou antes de acrescentar o sobrenome na caixa de amostras _ volte para buscar seus exames em 15 dias. Estará sobre a observação do Dr. Lawliet... e pode ir agora.

O albino se deparou com um sorriso e sua expressão relaxou, abriu a porta da sala para o ruivo passar lhe desejando um bom dia. Mail provavelmente compreendia que aquele trabalho não era simplesmente coletar amostras e tentou conforta-lo da melhor forma possível com a expressão amável. “Me pergunto o que ele tem” pensou ao se voltar para os quatro tubos de sangue, além disso, o médico responsável era seu tutor. “Aquele homem...”

Matt passou pela terceira vez pelas portas duplas, Mello disse que estaria o esperando para almoçar, mas até agora não tinha dado sinal de vida; talvez estivesse ocupado para encontros e o ruivo tivesse realmente atrapalhando, não pode deixar de sentir um nervosismo idiota com o pensamento infantil, sentia-se um adolescente. Depois de mais de vinte minutos, Mello apareceu ignorando a regra “não corra no corredor” e veio de encontro com o namorado, pedia desculpas com um gesto de mãos enquanto recuperava o fôlego. Apesar o afobamento do outro, Matt o observava sem pressa sentado no banco do lado de fora do prédio: O avental branco e os cabelos presos davam a ele um ar sofisticado e muito bonito, sua mente travessa não deixou de imaginá-lo apenas com aqueles trajes na cama.

– Matt, vamos comer, estou faminto! _roubou um selinho do mesmo alcançando sua mão para guiá-lo para o restaurante escolhido.

– Você não deveria tirar isso? _se referiu ao avental branco _apesar... de eu adorar ele.

– Ah... claro, eu vou tirar sim, você tem toda razão _tropeçou nas palavras.

O ruivo percebeu certo nervosismo na voz do outro, como uma ansiedade. Ponderou por um segundo ou dois se deveria perguntar o porquê, não era normal ele agir daquela forma, ainda mais numa semana tranquila como estava sendo. Bom, tirando o fato dos exames de ultima hora que tinha sido submetido é claro.

– Mel... hum, está acontecendo alguma coisa? Estou te atrapalhando?

– Por que está perguntando algo assim?

– ...está agindo estranho.

Ele esperava uma reação exagerada dizendo que era besteira, mas a única coisa que teve em resposta foi o silencio desagradável. “Então é mais sério do que eu pensei” mordeu os lábios, Matt podia ouvir até mesmo o som de sua própria respiração, e os segundos? Passando ridiculamente lentos. “Essa ansiedade vai ME matar” sua mão escorregou para o bolso do jeans a procura do maço de cigarros, porém estavam num restaurante e dessa vez não ia poder disfarçar como sempre. O que fazer? O que dizer? O que esperar de um silencio que não deveria existir?!

– Vamos voltar para casa? Hoje eu já acabei meu plantão! Ou melhor, vamos para algum lugar legal, faz tempo que estou querendo ir ao cinema, o que acha? Está passan-

– PARE!... qual o problema, Mello? Apenas diga de uma vez.

Mello fechou o punho dentro do bolso do avental, dentre os dedos estava o destino daquele sorriso que se abriu na face do outro, um sorriso que seria apagado a qualquer segundo. “Isso não pode estar certo” pensou agora sentindo seus olhos marejarem.

– Hey _insistiu _é o resultado não é? _ganhou um aceno positivo.

E a sua doença, a partir de agora, era a degeneração espinocerebelar.

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Notas finais do capítulo

bjOs da hide



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