Eu Quase Namorei o Ídolo da Minha Irmã escrita por Vlk Moura


Capítulo 23
Funeral


Notas iniciais do capítulo

Yara



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Não sei quando a bagunça foi pior se quando Richard fez o infeliz comentário para minha irmã ou quando ela descobriu que não voltaria para o Brasil naquele dia. Os empresários já tinham saído, Cítro estava dormindo depois de brigar com o astro do Rock enquanto eu ficava no balcão vendo os dois tentarem se matar. Vlad desceu a escada e os observou, deu um grito que os assustou e principalmente a mim, brigou com os dois e depois saiu da casa e ficou sentado de fora, supus que minha irmã dormira e por isso ele saíra do quarto.

– A cidade é muito longe daqui? - Yeva perguntou sem um destinatário.

– Depende, você pretende chegar lá como? - Richard perguntou coma voz seca.

– A pé - ela deu de ombros - Não sei dirigir. - ela falou como se fosse o mais óbvio.

– Nesse caso é muito longe - Richard se levantou - Vai fazer o quê?

– Comprar minha passagem - todos nós trocamos olhares - Eu estou perdendo aulas e não pode continuar assim.

– Você não pode ir - Citro falou - O funeral será entre hoje e amanhã, você não pode nos largar assim.

– Sinto muito, Citro - ela arrumou a blusa mais próximo do rosto.

– Não... - Vlad entrou - Por favor, fique.

– Vladimir, desculpa, eu não consigo, você sabe que é difícil para mim e...

– Fique - Richard falou - Fique aqui e...

– Então, Vladimir, não poss...

– Fica - eu falei, ela me olhou parecendo surpresa, fui até ela e peguei suas mãos entre as minhas - Por favor, fica, eu preciso de você aqui e... - me aproximei dela - tenho uma ideia para alegrar o funeral - ela me olhou e sorriu, confirmou - Ótimo - eu a abracei.

– Sabia que ficaria sob um pedido meu. - Richard falou, todos o olhamos.

– Qual o problema dele? - Cítro perguntou se aproximando de mim e da minha gêmea - Você ainda vai a cidade?

– Vamos - eu e ela estavamos de mãos dadas - Preciso encontrar algumas pessoas.

Fomos até o carro, entrei na frente com Citro, Yeva atrás me perguntou o que eu pretendia fazer. Estiquei para ela um papel cm partituras e uma letra, um Pen Drive, ela me olhou confusa, Citro nos olhava de lado ou pelo espelho retrovisor para tentar entender o que minha irmã fazia.

– A música que ele cantou no hospital - falei - Ele compôs e foi a última música que a Laila ouviu antes de morrer - dei de ombros e olhei para Citro - O que você acha?

– Estranho - ele olhou - Vai mandar para alguém?

– Para a banda dele, tenho todos os emails, vou enviar o audio e a partitura, pretendo passar em algum lugar e escanear.

Ele encostou o carro, descemos todos, algumas meninas o pararam para pegar autógrafos, eu e minha irmã seguimos para escanear e enviar tudo, ela ligava um computador e logava no meu email enquanto eu escaneava, anexamos tudo, selecionei os emails e enviei.

Citro nos ofereceu o quarto de seu hotel para que pudéssemos ensaiar, ele e Yeva seriam meus treinadores. Eu cantaria, algo que eu não fazia há muito tempo. Os dois dividiam fones e escutavam a voz desafinada e ritmada de Richard enquanto eu cantava, Citro era o que melhor percebia meus erros principalmente após pegar o violão e começar a tocar junto comigo, conseguimos sincronizar e Yeva gritava animada, não parecia mais tão chateada quanto antes.

– Posso fazer um pedido a vocês duas? - Citro perguntou antes de sairmos do carro, eu e minha gêmea trocamos olhares e confirmamos - Tomem conta deles, eles irão precisar de muito apoio.

A casa dormia, nós duas seguimos o dormir.

Acordamos e nos arrumamos para o funeral, os empresários iriam nos buscar, Richard usava um terno reto e um chapéu que ao meu ver não parecia combinar com o estilo, a barba por fazer e o cabelo comprido bagunçado preso a um coque mal-feito. Vlad usava uma camisa preta com uma calça social, arrumava os óculos a todo instante, mas em nenhum momento estava realmente torto. Yeva usava um vestido até os joelhos preto, uma meia calça e uma bota, uma blusa que percebi que não era dela, eu usava um vestido preto, uma meia-calça e um sapato de salto, usava um blusa que Richard me emprestou. Os empresários usavam ternos pretos, tanto o homem quanto a mulher.

De fora do cemitério era possível identificar emissoras de TV de todo o mundo, asiáticas, brasileiras, americanas, europeias, africanas... Todos queriam uma imagem do funeral, como eu odiava aquilo, tive de passar por isso quando meus pais morreram, no mundo da fama as pessoas são proibidas de sofrerem a sós.

Yeva e eu ficamos sempre juntas, alguns atletas começaram a chegar e a cumprimentar Vlad, Richard e Citro, nós duas eramos ignoradas quando esqueciam de nos apresentar. Tive de deixar minha irmã quando os empresários me chamaram e avisaram que a banda de Richard procurava por mim. Encontrei com os rapazes sentados de fora, usavam camisas brancas, coletes pretos, gravatas pretas e calças pretas, eles me analisaram de cima a baixo, um comentou algo que o fez receber uma cotovelada.

– Você é a autora disso? - um deles balançou uma folha, era a partitura.

– Não, o Richard é, eu só distribui a vocês - sorri.

– Você... Acho que eu te conheço - um falou - De onde a conheço?

Enquanto ele refletia aproveitei para pedir para que arrumassem seus instrumentos, que me emprestassem um microfone, conectamos as caixas de som do lugar onde ocorria o funeral, entramos sem que a maior parte dos convidados nos percebessem, comecei a cantar. Observei o público se virar para nós em um instante e no instante seguinte olharem para Richard estático nos ouvindo, logo em seguida abriram um caminho que o levava até nós, eu sorri para ele e pude perceber seus olhos marejarem. Olhei para todos, minha irmã estava ao fundo e batia os dedos na perna no ritmo da música, Vlad estava sentado a um canto chorando, Citro isolado também chorava.

Uma virada na música que se fosse em um show seria bem mais intensa, pelo que percebi, mas para nós ali foi algo suave que me fez soltar uns "oh, aw", aguardar o meu espaço e voltar a cantar. Quando parei muitos choravam, alguns dos que me acompanharam também, olhei para minha irmã, não a encontrei ali. Mas agora ela estava sozinha, Vlad apoiava Richard e Citro que estava sobre o corpo de Laila aos prantos, senti que algumas lágrimas me escorriam pelo rosto, limpei com as costas das mãos, agradecia a banda que comentou estar ansiosa para a volta de Richard, avisei-os que logo eu os chamaria para tocarem com o astro.

Logo todos dispersaram. Em um jeito tradicional brasileiro, os homens levantaram o caixão e começamos a seguir até o tumulo, de fora encontrei minha irmã que ao me ver correu até mim.

– Me desculpe - ela dizia seguidas vezes - Vou voltar para a casa, diga ao Vladimir que sinto muito, mas não poderei ficar por mais tempo.

Confirmei e a vi entrar em um táxi.

Conforme todos dispersavam, Richard me chamou para voltarmos para casa, confirmei e fui com ele até o carro. Ele ainda estava abalado pela música, mas me agradeceu por ter feito aquilo, disse que não fora nada, apenas que eu gostaria que tivessem feito o mesmo no enterro dos meus pais. Quando chegamos a casa imaginei encontrar minha irmã, mas nem mesmo as malas dela estavam no quarto, desci a escada correndo, Vlad entrava e gritava pela minha irmã, ficamos nos encarando por algum tempo.

– Ela voltou - Richard falou nos esticando um bilhete - "Não podia ficar mais, fiquei por você, Yara, mas eu não suporto mais nem um segundo nesse ambiente, peço desculpas a todos". Essa pequena idiota. - ele praguejou.

– Que horas são? - Vladimir perguntou procurando por um lugar que marcasse a hora.

– Ela já deve estar pegando o voo - falei - Ela saiu cedo do funeral.

Vlad subiu a escada pulando degraus, pegou as malas e pediu para Richard levá-lo ao aeroporto, eu queria entender por que ele estava tão preocupado em relação a minha irmã, mas eu não podia ignorar minha preocupação, ela estava muito estranha e parecia me esconder algo, isso me perturbava.

Richard voltou cansado, eu estava tomando chá, servi um pouco para ele e o vi adormecer com a cabeça em meu colo, enrolado ao cobertor como se aquilo fosse protegê-lo de qualquer mal, ele ainda chorava. Passei a mão pelo seu cabelo e pude entender porque minha irmã se apaixonara por ele, ele era sensível, forte, e talvez marrento demais, mas era uma boa pessoa.

Dormi sobre as costas do astro.


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