Capitulo 2

– Vvv... Você é meu pai? – pergunto surpreso.

– Sim, sei que não sou o tipo de pai exemplar, mas você tem que aceitar isso, o mais rápido possível, você é um semideus, filho de uma mortal comigo, você tem poderes que outros humanos nem mesmo sonham que existam e eu preciso que você comece seu treinamento imediatamente, mas vou deixar que você descanse esta noite e comece amanhã seu treinamento.

Fico sem palavras, é a primeira vez que vejo meu pai, mas nunca me imaginaria nessa situação, antes que eu consiga pensar mais, Hades se levanta e me acompanha até a porta, eu o sigo em silêncio, mas antes de sair, não consigo me segurar e pergunto:

– Você não ama minha mãe? – ele se surpreende e noto uma pontada de tristeza em meio a aquele olhar frio – Digo, porque você a abandonou?

– Você precisa aprender muito sobre os deuses ainda, filho, agora, caminhe reto nesta direção – ele diz apontando para a direita – e entre na segunda porta, Quíron e Beatriz devem estar lá, eles irão lhe levar até seu quarto.

Antes que eu responda, a porta se fecha atrás de mim e me vejo sozinho no corredor, eu devo estar sonhando, só posso estar sonhando, aquele homem não é meu pai, assim que eu dormir irei acordar no meu quarto no apartamento de minha mãe. Sigo caminhando por onde Hades falou até achar a porta e entrar, vejo Quíron, mas ele não está em sua cadeira de rodas, e a imagem que vejo me faz pular para trás e bater a cabeça na parede, da cintura para cima ele ainda era o homem de cabelos grisalhos que eu vi antes, mas da cintura para baixo, ele tinha um corpo de cavalo, e eu não estou brincando, literalmente um corpo de cavalo, com patas, rabos e tudo. Ele me oferece a mão e tenta explicar:

– Ah, olá John, antes que me pergunte, sim, eu tenho um traseiro de cavalo – ele diz rindo, mas logo ajeita a expressão e me parece com um comandante do exército – Eu sou um centauro, metade homem, metade cavalo, creio que devo lhe apresentar à Beatriz – ele conclui apontando para a garota – Rachel, este é John, filho de Hades e esta é Beatriz Grace, filha de Afrodite.

A garota era linda, devia ter a minha idade, tinha cabelos castanhos lisos, olhos azuis-claros, usava uma armadura de combate que a deixava com uma aparência mais bonita ainda, não sei quanto tempo fico olhando para ela, até que ouço a voz dela:

– Não vai me cumprimentar? – ela diz com a mão estendida em minha direção, eu aperto a mão dela.

– Bem, tenho que ir agora, a senhorita Beatriz vai lhe apresentar ao acampamento, se é que isso pode ser chamado de acampamento. – Quíron diz, abre a porta e deixa a sala.

– Então, você já conhece os deuses olimpianos, não? – ela pergunta e não consigo evitar olhar nos seus lindos olhos.

– Ah, sim, aprendi sobre eles na escola, como Dionísio, o deus do sol – digo quase gaguejando.

– Dionísio, deus do sol? – ela pergunta rindo – Dionísio é deus dos vinhos, Apolo é deus do sol, creio que terei que lhe explicar sobre tudo – ela revira os olhos.

– É, eu acho – digo, dando um sorriso sarcástico.

Ela começa a me explicar a história dos deuses, semideuses, monstros e tudo sobre a mitologia grega, eu me seguro para não dormir, mas até que não é tão difícil olhando para os olhos dela. Depois de algum tempo, ela percebe que não estou ouvindo e diz:

– Bem, acho que é o bastante por hoje – eu agradeço a ela com um olhar, que ela retribui. – Me siga, vou lhe levar até o dormitório.

Eu a sigo por uma série de corredores até entramos em uma sala com algumas camas, mas diferente da ala hospitalar, vejo cinco camas de um lado e cinco do outro.

– Pode escolher uma cama, qualquer uma, não temos muitos campistas por aqui – ela diz e dá de ombros, escolho a cama ao canto direito do refeitório e me deito, vejo ela deixar a sala e tudo que aconteceu hoje volta à minha mente, muita informação para processar de uma vez só, mas decido tentar dormir, também estava morrendo de cansaço, fecho os olhos.

De repente, acordo num lugar diferente do dormitório ou do meu quarto em minha casa, estou no meio de um lugar destruído, queimado, cortado, mas percebo pelas arvores, chalés queimados, que aquilo antigamente foi um acampamento, mas agora já parecia ter sido destruído há anos, quando olho para o chão, dou um grito, vejo ossos, e pelo tamanho, me parecem humanos, fecho os olhos na esperança de acordar deste pesadelo, mas quando abro, vejo duas figuras se mexendo, olho melhor e percebo que são duas pessoas caminhando, corro até elas, ignorando o cenário devastado em minha volta, mas quando chego na frente deles, percebo que eles não estão me vendo, olho de novo para eles, confuso.

Uma das pessoas é um garota, ela me parece daquele tipo de garota que estão sempre batendo nos garotos na escola, mas vejo que as suas roupas estão todas rasgadas, e há muitos cortes em seus braços e corpo, ela está se apoiando no garoto ao seu lado, ele tem uma pele muito pálida, cabelos negros e usa roupas negras, também rasgadas e cheio de cortes, mas não tantos quanto a garota. Fico com pena daqueles dois, mas então me lembro de algo que Beatriz disse, sobre o Acampamento Meio-Sangue, que havia sido destruído dois meses antes, pelo que ela me descreveu, aquele ali me parecia esse acampamento, então percebo que o garoto está olhando diretamente pra mim, eu pergunto:

– Quem é você? Onde nós estamos?

– No que restou do Acampamento Meio-Sangue, meu nome é Nico di...

Antes que o garoto termine de falar, acordo com alguém falando o meu nome, abro os olhos e percebo que estou suando, vejo Beatriz me sacudindo com as mãos, dizendo:

– Acorde, acorde, temos um dia longo pela frente...