Ciclo Vicioso escrita por Lady


Capítulo 1
Prólogo.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do prologo.
Boa leitura.



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Ciclo Vicioso

Além das barreiras do tempo.

~~

Prólogo

Quarta-feira, 09 de julho de 2014, 02:37 AM

Localização: Namimori, Japão.

Nota: Sei exatamente como é querer morrer; como dói sorrir; como você tenta se ajustar, mas não consegue; como você se fere por fora tentando matar o que tem por dentro.

A neve escorria através das nuvens naquela madrugada. O silêncio reinava cruel pela cidade e ainda mais doloroso numa casa em particular, num quarto especifico, onde as sombras lambiam o corpo fragilizado que se encolhia - buscando o máximo de aconchego e calor - sobre a cama de solteiro.

Um gemido mudo escapou dos lábios finos enquanto figura pequena movia-se sob as cobertas. Por um momento a garganta doeu, como se cacos de vidro - ou mesmo garras - estivessem a arranhar sua traquéia por dentro. Deus, aquilo era uma tortura. A tosse seca rasgou seus pensamentos e quando cessara fora apenas para deixar para trás o corpo pequeno ainda mais fragilizado e dolorido.

Agarrando-se mais firmemente ao cobertor, reprimiu um soluço amargurado e silencioso. Estava sozinho e isso doía tanto. Era apenas um adolescente, um frágil, doce e solitário garoto no inicio de sua juventude. E seu pequeno corpo já não suportava mais nada daquilo que sofria, todo o bullying, as agressões físicas e verbais. Porque faziam isso consigo? O que fizera a cada uma daquelas pessoas para elas desejarem sua morte?

E a tal ponto as lágrimas já escorriam, acumulando-se e encharcando parte do travesseiro abaixo de sua cabeça. Tinha a quase certeza de que acordaria na manhã seguinte com olhos vermelhos e inchados - e daria a mãe ingênua e doce a desculpa de que havia caído sabão em seus olhos enquanto banhava-se - e sorriria para Nana antes de ir para mais um dia de torturas em Namimori Ensino Médio.

Rolou, mais uma vez, sob o leito macio. O peito apertava de forma dolorosa, implorando por carinho e misericórdia. Encolheu-se, roçando os dedos nos pulsos feridos e doloridos. Era lamentável o que fazia, mas ele não ligava, por que, por enquanto, aquilo o mantinha firme, são.

Puxou o cobertor para baixo, não tardando em sentar-se sob o colchão macio. Com a visão embaçada, fitou os números escuros no visor luminoso de seu celular. A madrugada ainda se estendia fria fora da casa, mal passava da meia noite e o moreno mal conseguia pregar os olhos sem temer os pesadelos cruéis que tendiam a lhe assombrar. Empurrando a coberta para o lado, pôs-se de pé e ignorando as sombras que o cercavam, aproveitou-se da pouca claridade que o telefone lhe proporcionava e rumou para a mesa de estudos que havia no canto oposto a sua cama.

Desabotoou o primeiro botão de seu pijama antes de puxar uma corrente fina que envolvia seu pescoço, nesta uma chave mediana de tom cobre encontrava-se presa por uma argola pequena. Retirou o cordão e não demorou para que o castanho levasse a chave direto a tranca da segunda gaveta que havia na mesa de estudos. Girou a chave duas vezes antes de um ‘clique’ mudo indicar que a tranca fora liberada.

Um sorriso frágil brincou nos lábios pequenos do jovem solitário. Suavemente abriu a gaveta deparando-se, ali, com as pequenas doses de sua salvação. Algumas caixas e vidros com comprimidos encontravam-se no interior da gaveta, mas a única coisa pela qual o moreno ansiava era a caixinha de jóias avermelhada que se encontrava mais ao fundo e logo quando a obteve em mãos este tornou a fechar a gaveta.

Como celular em mãos o castanho apenas sentou-se sob o piso de seu quarto. A pouca iluminação provinda do telefone era o suficiente para que o moreno identificasse tudo o que residia no interior da pequena caixa de jóias.

Viu seu reflexo através do pequeno espelho que havia no interior da tampa, este que era adornado por veludo negro. No interior da caixa, onde jóias preciosas deveriam residir, o brilho cruel das lâminas reluziu através das orbes castanho-claras do Sawada. Fitou-as, temeroso, como se fosse sua primeira vez novamente – mas Tsunayoshi sabia que não era e que nunca mais seria sua primeira vez naquele pecado miserável.

Hesitante levou a mão para uma das mais recentes adquiridas. Ela brilhava mais do que qualquer outra, ansiando por sangue e pecado, pela dor e pelas angustias contidas. Puxou a manga longa de sua pijama e desfez o curativo sobre o pulso dolorido, e quando o fio afiado da pequena lâmina roçou a pele pálida do pulso fino, o castanho quase gemeu de prazer pela sensação tão fria e repugnantemente deliciosa.

Tsunayoshi quase podia sentir a culpa e a dor remexerem-se, inquietas, abaixo de sua pele, enquanto temia suas próximas ações. E abrindo um sorriso miseravelmente curto ele concretizou seu pequeno doce vicio. Não foi apenas um ou dois, foram vários, mas ele tomou cuidado para não exagerar, por que não poderia dar-se ao luxo de cair inconsciente e ser descoberto, ou mesmo de que pudesse deixar alguma impressão de sangue por seu quarto. Sua mãe desconfiaria.

Limitando-se a simples arranhões que lhe entregavam apenas gotículas simples e pequenas de seu precioso sangue, o moreno suspirou em puro consenso e alivio. Suavemente devolveu uma de suas preciosas amigas à caixa aveludada, isso antes de tornar a fitar seu rosto pálido através do reflexo do pequeno espelho. Ignorou a expressão transmitida por sua própria face e fechou a caixa novamente antes de tornar a envolver as ataduras no pulso, encobri-las com a manga da roupa, erguer-se, abrir a gaveta e devolver o porta-jóias a seu devido lugar. Fechou a gaveta, selando-a novamente com a chave e ao fim devolver o cordão com o único acesso aos seus vícios, a seu pescoço.

Lentamente rastejou de volta para a cama, desligando o celular e buscando, mais uma vez, adentrar na terra dos sonhos, almejando que ao menos pudesse ser disponibilizado a si um pequeno, precioso e feliz sonho, ou mesmo, sonho algum.


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Notas finais do capítulo

Por favor, não deixem de dizer o que acharam do capitulo.
Jya'ne.
Ps: logo postarei a carta de Paginas Desconhecidas.



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