Minha História Clichê escrita por Isa Oliveira


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura. ^^



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Encarava o teto de meu quarto sem ânimo. Hoje teria um jogo qualquer de novo. As pessoas geralmente tinham folga, ou saiam mais cedo de seu trabalho, mas comigo era diferente. Meu trabalho dependia dos jogos.

Eu morava num bairro de classe média, com minha mãe e meus dois irmãos. Meu pai havia se divorciado de minha mãe, por conta de as loucuras que a mesma fazia. Poderíamos estar vivendo com este, mas infelizmente nossa guarda era de mamãe. Por quê? Simples, além de ter o direito de receber pensão, havia “comprado” testemunhas, que tiraram todas as chances que tínhamos de felicidade.

Vivia saindo e gastando o dinheiro que recebíamos da pensão com roupas e sapatos caros. Não passávamos fome, ou necessidade de algo. Mas era difícil... Eu queria pelo menos um pouco de liberdade, sempre ela era quem comprava minhas coisas, sempre comprando o mais barato. Por isso comecei a trabalhar... Ela não se importava, claro, desde que eu não deixasse de fazer os serviços domésticos de casa, nem que deixasse faltar nossas refeições diárias, ou de que não deixasse faltar suas refeições diárias. Jeremy e Jessica eram gêmeos de onze anos, e eu quem os educava e sustentava, já que morávamos ali somente para o luxo de nossa mãe.

Comecei a trabalhar na entrada do estádio do Mineirão, vendendo salgados e bebidas. Conseguia em torno de 200 reais por dia na lanchonete, felizmente as pessoas que iam ali, tinham condições de comprar algum lanche, e conseguia convencê-los a comprar.

Com muito esforço, me levantei e troquei de roupa. Algo simples, all star, jeans e blusa de frio. Amarro meu cabelo e com ajuda do pó compacto consigo disfarçar minhas olheiras e imperfeições na pele. Amarro meus cabelos, visto as marcações que tinha, por ter dormido com cabelos molhados.

Para quê ir bonita? Simples, para atrair clientes.

Depois de conferir se as crianças estavam bem, deixo a comida para a primeira e segunda refeição pronta.

Saio de casa e me arrependo de não ter pegado o guarda-chuva, o céu mostrava sinais de que choveria mais tarde.

Espero o ônibus que eu usaria para chegar ao estádio, e logo estou embargada em refrãos de músicas que me acalmam encostada a janela.

Era cerca de nove horas da manhã, cedo, comparado ao horário do jogo (14h00pm), mas era necessário.

Faria dezoito anos naquele mesmo ano, no próximo mês, e então poderia me mudar com Jeremy e Jessica.

Já juntava dinheiro para conseguir comprar uma boa casa, e nos dar sustento. Mamãe e eu já havíamos discutido sobre isso, mas eu lutaria até não ter mais forças pelos meus irmãos. Eu lutaria por uma vida digna, faria o possível e o impossível para conseguir.

– Faço por dois reais pra você. Que tal? – a senhora assente, e me entrega o dinheiro. Ela tinha seu rosto pintado de verde e amarelo, e com certeza era uma torcedora fiel, via em seu semblante a ansiedade.

Suspiro, esticando meu corpo, sentia muita dor nas costas. Ainda era meio dia, eu tinha muitas horas de trabalho pela frente.

É claro que eu torcia pela minha seleção. Graças à televisão de Sarah, uma mulher que vendia bebidas perto de mim, os vendedores (incluindo a mim) podíamos ver e torcer pelos nossos jogadores.

– Olá. – levanto meu olhar, encarando o homem de lindos olhos acinzentados em minha frente. Pelo seu sotaque podia ver que não era brasileiro, mas a blusa de nossa seleção era a qual ele vestia.

– Olá, senhor. – seus cabelos eram escuros, ao contrário de seus olhos, que tinham um misto de seriedade e ansiedade.

– Coca-cola. – ele diz e eu assinto, desviando meu olhar de seus traços.

– Quantas?

– Seis, médias, por favor. – com muito custo consigo entender o que diz.

O faço, mas o belo homem faz um gesto de negação com a cabeça.

– Não? O que foi?

– Seis. – ele diz novamente. Sorrio.

– Seis? – faz que sim novamente.

– Um, dois, três, quatro, cinco, seis.

– Não... – ele suspira.

Ergo seis dedos, e ele nega novamente. Delicadamente abaixa três dedos meus, e sorri.

Guardo três refrigerantes.

– Três.

Finalmente parece satisfeito.

– Quanto?

– 4,35 reais. – ele me entrega duas notas de vinte.

– O que? – eu rio.

Ele bate em sua testa.

– De onde você é?

– Estados Unidos.

– Four thirty-five. – digo sem ter certeza do que falava.

– Oh... – ele sorri. Entregando-me a quantidade certa de dinheiro.

Chegam dois homens atrás dele, rindo.

– Thomas! – o loiro diz. Começam a conversar em sua língua nativa, me sento novamente em meu banco.

– Senhora... – ele tinha cabelos cor de mel.

– Sim?

– Você tem salgado?

– Sim. – sorrio.

Eles escolhem um salgado qualquer, cada um deles.

– Qual seu nome? – o loiro pergunta, demoro um segundo para entender o que pergunta.

– Anny. – pego o dinheiro que me oferece.

– Sou Jake. Este é Thomas – aponta para o lindo homem de olhos claros – e este é Lucas.

O homem de cabelos cor de mel sorri.

– O jogo vai demorar. – Thomas diz para os amigos.

– Você tem companhia, moça bonita? – ele pergunta, me olhando. Seus cabelos loiros e seus olhos verdes eram apaixonantes.

– Não. Pode se sentar. – aponto aos bancos na frente da lanchonete. Era um lugar arrumado, bonito, e atraia fregueses, o dono era um senhor gentil que me deixava ficar com cinqüenta por cento do dinheiro que ganhava, por dia, e ainda me pagava 300 reais semanalmente.

– Quantos anos tem você? – a forma com que falava era engraçada, e me fazia ter vontade de rir.

– Dezessete. E vocês?

– Dezessete? – Lucas não entende.

– Seventeen.

– Eu tenho... – Thomas sacode a cabeça, e ergue dois dedos em uma mão e três em outra.

– Vinte e três. – Jake faz que tem vinte e dois, e Lucas vinte e três – De que cidade vocês são?

– Flórida.

– Cidade.

– Miami. – Thomas finalmente entende.

– Que legal! Por que torcem pelo Brasil? – me refiro à suas blusas.

– Meu pai e de Lucas é brasileiro. – Jake diz.

– Eu amo o Brasil. Venho aqui sempre que pude. – ignoro seu erro de português, e rio.

– Vai Pelé! – Lucas grita.

~~”~~

Depois de muito conversar com os três homens, Thomas pede meu número e lhe passo. Havia algo em seus olhos que eu queria ver novamente.

Aproximadamente as 13h20pm, eles se levantam para entrar no estádio.

Ignoro o pensamento de que eles deviam ter entrado antes, já que pareciam ser de alta classe social e ter lugares reservados.

Eles saem de vista e suspiro. Mas logo uma figura de pele incrivelmente clara se põe em minha frente novamente.

– Olá, senhora. – ele se senta.

– Não vai ver o jogo, Thomas? – não consigo controlar meu sorriso. Ele dá um sorriso mínimo. Se algo que eu pude perceber em Thomas e que tinha certeza, era que ele era um homem sério.

– Não irá mudar se eu for. – seu sotaque era belo.

– Tem certeza? Você...

– Quero ficar com você, bela moça. Faz pouco tempo que lhe conheci, quero conhecer mais. – sinto um formigar familiar em minhas bochechas.

Oh, como aquilo era clichê, eu interessada em um homem do exterior que havia vindo ver os jogos da copa. E como eu era tola... Ele morava em outro país, e já fantasiava histórias de nosso futuro em minha mente. Qual é, uma garota que nunca havia namorado e sequer beijado alguém aos lábios, uma garota inocente. Era o que eu sabia desde o começo, mas continuei a me iludir.

– Que acabe... Estou apaixonada. – digo olhando para minhas mãos.

Estava sentada em minha cama, olhando para as mãos que ele havia tocado um pouco antes de ir embora para o hotel.

No fim do jogo, os três rapazes se despediram meigamente de mim. Eu sentiria saudades, sabia que era pouco provável ver os três rostos angelicais novamente.

Mas isso mudou quando Thomas me convida para passar com ele na tarde do dia seguinte.

Em todo o resto de meu dia eu suspirava, lembrando dos momentos em que conversamos. Era tão compreensível, tão belo, tão amável e ao mesmo tempo sério.

Mal podia agüentar esperar chegar o fim do dia.

~~”~~

Acordo e pulo da cama, olho no relógio em minha estante de livros, 10h45am.

Tomo um relaxante banho e me olho no espelho quando estou pronta. Minha maquiagem era completamente simples, pó compacto, rímel e blush.

A minha roupa também era básica. Uma grande blusa preta estampada com alguma frase em inglês que eu nunca tentei decifrar, leggin cinza e all star.

Desço e confiro as horas, 11h37am.

Quando começo a preparar o almoço, ouço uma voz conhecida atrás de mim.

– Aonde vai? – era Lucy, minha mãe.

– Sair com um amigo. Vou deixar o almoço pronto, não se preocupe.

– Amigo? Você não tem amigos. – se senta na bancada.

– O fiz ontem.

– E já vai sair com ele?

– Por favor, não faz isso. Estou tão feliz hoje, não estraga a minha felicidade... Só quero me divertir um pouco, você mais que ninguém sabe que as únicas coisas que faço são trabalhar e estudar, nunca me divirto. Estou te pedindo, por favor... Não estrague tudo. – suspiro, e desvio meu olhar da panela com arroz para a bela mulher em minha frente.

Ela sorri, e se pronuncia.

– Pode deixar essas coisas... Eu faço isso. Vá terminar de se aprontar.

– O que?

– Eu faço o almoço, vai. E não precisa se preocupar com a janta. Eu cuido disso. – o sorriso em meu rosto era grande.

– Muito obrigada. Já estou pronta. Acha que estou bem? – eu nunca havia pensado em perguntar aquilo para Lucy, mas era preciso, e eu estava mais do que disposta a começar a ter um novo relacionamento com minha mãe. Acima de tudo eu amava-a.

– Está linda. Mas não vai pentear o seu cabelo?

Arregalo os olhos e corro para meu quarto. O penteio e olho-me no espelho. Nem me lembrava da ultima vez que me sentia assim... Bela.

Afinal, sempre dizem que ninguém feliz se acha feio. Era verdade.

Ouço o soar da campainha, e passo por entre o corredor rapidamente. Abro-a e o vejo.

– Olá... – digo, ele sorri.

De inicio era só mais um cliente, mas depois se tornou bem mais que isso. Como alguém conhece uma pessoa e se apaixona por ela no mesmo dia? Alguém fraco, talvez?

Talvez eu tenha sido fraca, mas hoje me sinto forte. Mudaria-me no dia seguinte para Miami com Thomas. Minha mãe havia mudado, por quê? Não faço a mínima ideia, se eu havia gostado? Eu havia amado!

Thomas havia ficado por um mês em Belo Horizonte, por mim. Assim que fiz dezoito anos, Thomas conseguiu me convencer a me mudar para os EUA, eu aceitei, moraríamos juntos. Causaria confusões? Talvez, mas não nos importávamos, só queríamos ficar juntos... Depois de seis meses morando com Thomas, me pediu em casamento. E no dia de nossa lua de mel, o dia em finalmente completa por Thomas, quando fui sua, engravidei-me de um lindo menino. Que nascera no dia quinze de outubro. Thomas era um pai coruja, sempre, desde minha gestação. Deixamos até de ter relações sexuais por causa do bebê, o que era fofo. Um mês depois do parto, finalmente tivemos nossos desejos realizados.

E novamente engravidei... Dessa vez era uma menina, que fazia aniversário no dia vinte de agosto.

Fomos uma família feliz, com seus desentendimentos sim. Mas sempre unidos.

– Te amo meu amor. – disse, o encarando. Ele saia de casa para ir para seu escritório, era um advogado bem sucedido, e eu uma escritora, esquecia seu guarda-chuva, e eu havia o lembrado na última hora. Miami estava fria.

– Eu também te amo mais do que você possa imaginar.

O abraço apertado. Ele era o amor da minha vida, era um em um milhão.

– Nunca agradeci tanto pelo futebol existir...

Ele ri. Se não fosse o futebol, onde eu estaria agora?

~~”~~

Esta é a minha história. A minha história clichê...


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler. ^^



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