Melodia Mortal escrita por Kirialini


Capítulo 3
Presságios Certos


Notas iniciais do capítulo

Há quanto tempo! Espero que não tenham desistido da história, porque ela certamente vai ser concluída,boa leitura ^-^



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POV Velma

Observação 1: Nunca fui uma pessoa sensitiva. Eu sou aquela que se baseia na razão, na lógica, por mais baratas que sejam, porque tudo sempre tem uma maldita razão. Eu e meus amigos enfrentamos coisas esquisitas desde sempre, já é algo que faz parte de nossa vida, não como um trauma, mas como um vício, esse tipo de situação se impregnou a nossas identidades como um gás tóxico.

Portanto, depois de tanto tempo, tantos casos, eu deveria saber que nem tudo é o que parece e que emoções atrapalham. Porque então aquela sensação ruim quando apertei a mão do Dr. Larkin ainda não passou?

Observação 2: Eu e meus amigos desenvolvemos uma ligação nada lógica com o tempo, somos capazes de sentir o que está acontecendo uns com os outros, saber o que um está querendo dizer sem nenhuma necessidade de palavras, ás vezes acontece de nós falarmos a mesma coisa ao mesmo tempo, tudo por causa dessa sintonia estranha.

Por isso eu podia dizer que Fred, Daphne, Salsicha e até mesmo Scooby também não estavam confortáveis na presença daquele homem.

Tia Thelma convidou o Dr. Larkin para a sala de estar, onde ele sentou aguardando os petiscos que ela foi buscar. Após pedirem licença e desejarem boa noite, Fred e Daphne foram para a biblioteca (Observação 3: Quem eles querem enganar? Devo dizer que estou ‘’chocada’’? Eu sei que algo sério está acontecendo entre dois de meus melhores amigos, por favor!’’) e Salsicha e Scooby subiram para jogar vídeo game, não sem antes roubar uns petiscos da bandeja que minha tia preparava. Eu e Madelyn acabamos na sala de estar sozinhas com Dr. Larkin.

– Senhor, como definiria a área biomédica atual? – eu pergunto meio sem jeito. Não sei como conduzir uma conversa com esse homem, que com sensação ruim ou não, continua sendo um gênio.

– Obviamente necessária, como toda e qualquer profissão dependendo do ponto de vista – ele responde tentando disfarçar o tom de escárnio, sem sucesso.

– Desculpe hein... – solta Madelyn antes que eu possa impedir. Dr. Larkin lança um olhar condescendente a ela, para minha surpresa.

– Não foi minha intenção soar rude, é que ainda existem ignorantes que pensam que a biomedicina é um ramo que se sustenta das desgraças que nos afligem, mas esses ignorantes não veem que é apenas com sacrifícios que existe o progresso real. – ele diz friamente e volta seu olhar para mim – Senhorita Dinkley, certo? Toda vez que alguém me pergunta como eu definiria minha área há um julgamento tolo por trás, respondi apenas com meu costume, peço desculpas.

– Sem problemas, senhor. Eu posso entender sua irritação, as pessoas não pensam em como tudo seria melhor se desistissem por um instante de suas manias tolas em prol de um trabalho inteligente visando progresso. – eu digo, e o Doutor me surpreende com um sorriso, que me assusta ainda mais que sua cara feia normal, pois há algo de desesperada naquilo.

– Exatamente! – ele exclama.

Nessa hora, Tia Thelma entra com uma bandeja de petiscos locais. Observo minha irmã e o Doutor comerem sem muita vontade.

– Larkin, você deveria dormir aqui homem, tem noção do quanto está perigoso sair sozinho, não importa a hora.

–Não vão pegar ele, já é velho, coitado... – diz Maddy. Dou uma cotovelada nela, está muito insolente ultimamente, deve ser por estar se sentindo presa.

– Ela está certa, esses sumiços não parecem ter sentido nenhum, porque começariam a pegar os ricos agora, Thelma? E além de tudo estou de carro. – responde o Doutor com um ar melancólico. – E esses jovens com você aqui por acaso não são a famosa Mistério S/A? Devo temer algo ainda? Se estão aqui certamente já se intrometeram...

– Estamos fazendo o possível para ajudar, senhor, mas não temos os recursos de uma agência de segurança internacional ou poderes que ajudem – eu respondo modestamente – ás vezes eu sinceramente me pergunto se deveríamos nos meter nesse tipo de caso, devemos temer por nós também, e conhecer nossos limites.

– Por o que ouvi sobre você e seus amigos, Srta. Dinkley, se pensassem assim não se envolveriam com caso nenhum – responde o Doutor – Como um nativo preocupado que sou agora, pode me dizer o que já fizeram?

– Tudo aconteceu muito rápido, só fizemos um reconhecimento breve e sem garantias da área e falamos com as famílias dos desaparecidos.

– E como pensam que serão seus próximos passos? Um sequestrador capaz de capturar os mais variados tipos... precisam de auxílio policial, não?

– Acredite, já lidamos com coisas piores, e se precisarmos de ajuda, certamente arrumaremos. – eu digo pensando nos casos bizarros em que não contamos com a polícia.

– Acredito em você e em seus companheiros, sinceramente – responde o Dr. Larkin.

Depois disso a conversa perdeu o ritmo, e com exceção de Tia Thelma que tagarela sobre os mais diversos membros da nossa e de outras famílias, todos se calam e beliscam um ou dois biscoitos. Em um momento, Fred aparece na sala e se apoia no braço do sofá onde eu e Maddy estamos.

– Daph e eu estávamos analisando uns detalhes nas entrelinhas desse caso, tudo é bem incomum, realmente, eu não sei o que pensar – ele diz coçando a cabeça.

– E onde está Daphne? – eu pergunto e Fred sorri.

– Foi jogar enciclopédias em Salsicha e Scooby para fazê-los largar o jogo e falar algo sobre o caso.

– NÃO! A minha coleção original francesa? – Tia Thelma exclama deixando uma xícara cair.

– A coleção original francesa dela?! – eu repito, meu sonho sempre foi surrupiar essa coleção para mim, não vou deixar ninguém danificá-la antes disso.

Fred e Maddy rompem em gargalhadas enquanto Tia Thelma sobe desesperada e gritando.

– DAPHNE BLAKE, LARGUE ESSES VOLUMES AGORA! EU VOU BATER NOS SEUS AMIGOS COM SUA CHAPINHA PARA VER COMO SE SENTE! – podemos ouvi-la mesmo aqui embaixo!

– EU NÃO PRECISO DE CHAPINHA! - Daphne responde.

– AHÃ, SENTEM LÁ, SCOOBERT E NORVILLE!

Salsicha, Scooby, Daphne e minha tia descem, por sorte todos estão rindo, nenhuma discussão séria aconteceu. Espero que as enciclopédias estejam bem. E o cabelo de Daphne também, se não o humor dela fica péssimo.

O bom humor não parece contagiar o Dr. Larkin que se levanta.

– Acho que essa é a minha deixa, srta. Dinkley, foi um prazer conversar com você, espero ter a oportunidade de conhecer mais seus outros amigos dessa equipe de jovens tão... peculiar. – ele diz – Thelma e Srta. Dinkley menor, apesar do velho que sei muito bem que sou, sei me cuidar, a qualquer indício de perigo acelero o carro o máximo que puder.

Depois de um tempo que o Doutor se foi, a turma se reúne na biblioteca. Fred e Daphne já estavam prontos para começar outra análise dos acontecimentos do dia para o caso quando eu me levantei e os encarei.

– É simplesmente muito curioso – eu digo, esperando que eles não entendam a princípio, mas entendem.

– O Doutorzinho? Nem me fale, não aguentei ficar na mesma sala que ele, tipo, ô homem de vibe estranha. – diz Salsicha.

– Vocês não viram nada. A conversa que ele conduziu foi interessada... demais. Perguntou sobre o caso, perguntou sobre nós. Algo absolutamente normal, para um cidadão comum.

– Pois é – diz Daphne – Larkin Connor, biomédico renomado, rico e com reputação individualista de repente começa e visitar parentes na região de origem, uma região que agora corre risco. Será que ele pode ser o tipo de pessoa que se preocupa, mesmo sem deixar transparecer, com seus conterrâneos e familiares?

– Ou pode ser mais um ricasso querendo se candidatar, com promessas de segurança vazias, sempre há lucro nessas situações de medo – sugere Fred.

– Esse homem é uma incógnita, mas não acho que devamos nos centrar demais nele, algumas pessoas são simplesmente assim, enigmáticas, para nosso azar – eu digo. – Aliás... quais são nossos planos para amanhã mesmo?

Interlúdio: Dr. Larkin Connor

Dr. Larkin Connor encontrava-se ajoelhado em pedras pontiagudas com o mar revolto ao seu redor. Seus joelhos já ultrapassados sangravam muito e ele queria gritar de pura agonia. Mas o tormento, físico e mental, era necessário para vê-la face a face.

– Senhora, não tenho certeza se são maduros o bastante...

– Sabe o que sempre fazemos quando não temos certeza, criança? – ela respondeu com sua voz com uma segurança tão velha como o tempo – Ou descartamos, o que não nos é uma opção, ou testamos de uma forma mais eficiente... não são maduros, você diz? Vejamos então como lidam com algo mais direto.

– O que quer dizer? Pare de falar dessa forma tão irritantemente enigmática, não é um maldito jogo!

Ela gargalha, e o som falsamente melódico de sua risada supera o som das ondas bravas.

– TUDO é um maldito jogo, seu imbecil, deixe eu me divertir. – ela então entrou em seu recanto e uns minutos depois voltou com algo que fez o estômago de Larkin revirar. Era algo que parecia uma lava, uma ova... nojento, e em tamanho humano! Quando Larkin finalmente entendeu levantou com o susto.

– Isso é...

– Como você AMA insinuar, sacrifícios podem ser nobres e absolutamente necessários, caro Larkin, mas eles não podem ver do que sou capaz agora, tem que acreditar no que precisam, por enquanto, então vá em frente, então - ela disse oferecendo a ele um punhal enferrujado, que ele aceitou com relutância depois de ajustar suas luvas.

Quando abriu aquela ova nojenta, viu alguém respirar aliviado, quis desistir, mas então lembrou da possibilidade de sua morte iminente e do caráter daquele sacrifício, e cravou o punhal direto em seu alvo.

E em cada punhalada que dava em sua vítima só duas palavras lhe vinham na mente: Sacrifício, Teste.

POV Daphne

Desde ontem a turma está mais apressada com o caso do que nunca, até Salsicha e Scooby tomaram café mais rápido para poder ajudar. Decidimos que hoje iremos revirar a cidade, a busca de qualquer lugar onde um sequestrador possa se esconder. Pois como concluímos ontem não há lógica em levar as vítimas há outro local, a não ser que o propósito seja outro, e nós decidimos nos apegar as possibilidades que são mais fáceis para nós, por enquanto.

Quando estávamos na Máquina de Mistério, Velma recebeu uma ligação.

– Fred, dê a volta e vá para o lado oeste da praia, rápido! – ela disse com voz trêmula.

– Fred obedeceu sem hesitar, e eu coloquei a mão no ombro de Velma.

– O que aconteceu? – pergunto.

– Eu não... é melhor chegarmos, não consigo...

Salsicha e Scooby trocam um olhar preocupado e todos tentamos fazer Velma falar, mas ela não diz nada até que cheguemos na praia.

Logo entendi o porquê de ela não conseguir falar.

Maddy está em pé com o celular na mão do lado de fora de uma pequena multidão ao redor do que é claramente uma faixa policial. Apesar dos curiosos na frente, posso ouvir uma senhora gritar em puro desespero.

– VOCÊS ME DISSERAM! DISSERAM QUE IA FICAR TUDO BEM, DISSERAM QUE MINHA KEELEY IA ESCAPAR VIVA!

– É a Sra. Franklin – diz Salsicha com lágrimas nos olhos.

Velma está tremendo tanto que não consegue sair do lugar. Eu já sei o que provavelmente aconteceu, e me sinto um lixo, mas pego a mão de Fred e entramos na multidão para ver com nossos próprios olhos.

Quase não consigo me impedir de vomitar.

Na areia da praia, está o cadáver terrivelmente esfaqueado de uma jovem.

Em que diabos nos metemos, meu Deus?


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