This World Ends With Me escrita por Return To Zero


Capítulo 1
Capítulo I - Preludio da Vida Normal


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ♥



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Muitas vezes eu olhei para o céu e me perguntei se o mundo era simplesmente isso. Um céu azul. Eu sei que o céu não é azul de verdade, é por causa de gases ou algo assim. Eles explicaram na escola, mas eu não prestei atenção.

Mas é só isso mesmo? Um céu e na—

- Will! – ouvi uma voz familiar, que me fez sacudir a cabeça e me lembrar que eu estava a caminho de casa juntos dos meus amigos. Essa voz era de Faith – Divagando de novo?

- Ahn? Eu não... – respondi meio vago, sorrindo para Faith. Ela era pequena, com os cabelos curtos e acastanhados, acompanhados de alguns fios dourados que lhe emolduravam um rosto bem expressivo. As pálpebras cobriam de forma suave seus orbes de cor âmbar.

- Nós devíamos nos reunir de novo, na minha casa. Daquela vez foi tão divertido, não foi? – ela se pendurou nos braços de Alred, que era bem maior que ela. Este ajeitou os óculos, concordando.

Alred tinha os cabelos escuros e enrolados em cachos divertidos, que Faith adorava puxar. Os lábios eram rosados e carnudos, junto com olhos castanhos que nos mirava com certo carinho. Elevei minhas sobrancelhas, reparando que seus traços eram serenos demais, e que lhe fazia parecer anos mais jovem. Ri comigo mesmo. Apesar disso, Alred sempre assumia uma postura madura, quase que heroica ao lado de Faith. Os dois formavam um belo casal. Agora eles estavam andando de mãos juntas.

- Vai ser bom. Assim o Will consegue um tempo de qualidade com a Lucrecia. – ele sorriu pra mim e eu estremeci ao ouvir o nome dela. Lucrecia estava ao meu lado e sorriu, mostrando seus dentes brancos e evidenciando aquelas bochechas que eu adorava apertar. O que eu não fiz no momento, ninguém pode me ver fazer isso. Ninguém pode saber que eu faço isso. Lucrecia corou e eu sorri pra ela. O mundo não existia quando eu olhava pra ela mas, de repente, uma sensação ruim revirou meu estômago e apertei as alças da mochila com as mãos, tentando não esmorecer o sorriso. Logo ela voltou a prestar atenção no caminho, e eu mordi o lábio inferior, tentando me fazer presente na conversa.

Faith sorria e contava sobre como a última festinha em sua casa fora incrível. Infelizmente, eu não pude ir nessa. Eu não pude ir a nenhuma, e agora eles estavam me cobrando.

- Você, definitivamente, tem de ir nessa! – Faith dizia, com seriedade – A Lucrecia precisa de você lá.

- Como assim?

- Ela não consegue se enturmar direito, e ela mesma me disse que sente sua falta o tempo todo – Alred sorriu brincalhão e Lucrecia diminuiu vários centímetros ao meu lado.

- E-Eu nunca disse isso, Alred! Para de ser idiota! – retrucou irritada, apressando o passo e se afastando um pouco

Alred e Faith ainda riam e minha sensação ruim no estômago não havia passado.

- Melhor a gente ir andando. O professor nos encheu de dever. – constatou Faith, com pesar

Nos despedimos e eu corri até Lucrecia, para alcança-la. Ela ainda parecia irritada.

Não era muito alta, das bochechas rosadas e também usava óculos. Os cabelos ondulados lhe caiam pelos ombros de forma engraçada e, no sol, possuíam um brilho avermelhado.

- Por que você sempre fica assim quando eles falam sobre a nossa relação? – perguntei, ela não virou o rosto para mim

- Porque nós não temos nada. Você sabe disso, eu sei disso, eles também sabem!

- Tch. Calma, Lucrecia. – abracei-a, mesmo com a crescente sensação ruim no meu estômago.

Lucrecia sempre gostou de mim. Eu sempre gostei de Lucrecia. Sempre agíamos como namorados, então, por que não podíamos ser?

Ela simplesmente não aceitava. E isso já estava ficando ridículo e cansativo. Abracei-a mais forte mesmo assim, e lhe dei um beijo na testa de despedida.

Meus pais já estavam em casa quando cheguei. Amontoados no sofá, vendo televisão; nos cumprimentamos e eu subi para o meu quarto. Tomei banho, vesti meu pijama e chequei meu celular para novas mensagens. Nada de importante, algumas cutucadas por parte de Alred e Faith e alguma outra coisa da Lucrecia. Sei lá...

Transfalland sempre foi muito calma, bem desse jeito. Mal havia desastres naturais ou guerras, invasões alienígenas ou nada ameaçador. Estávamos vivendo em uma plena era de paz. Nem assassinatos ou roubos andavam ocorrendo direito. Isso era chato.

Alguns dias antes do Natal, porém, um grande rumor se espalhou. O bastante pra deixar a nação bem assustada. Um meteoro em rota de colisão com a Terra. Um meteoro gigantesco em rota de colisão com a Terra.

Me joguei na cama, achando graça. Tudo estava chato. Até mesmo esse rumor ridículo era chato.

Em todo lugar, em todos os meios de comunicação, só se falava do tal meteoro que iria acabar com a Terra. As igrejas estavam mais insuportáveis que o costume e todos estavam desesperados.

Revirei os olhos. Como se um meteoro desse tamanho fosse passar despercebido até agora. Se é que ele é tão grande assim. Se é que ele existe mesmo.

Coloquei meus fones e decidi ir dormir. Estava frio, como de costume para aquela época, mas eu não quis fechar a janela. Quando eu estava quase, mas quase pegando no sono, algo me interrompeu.

Não sei bem ao certo o que era. Um tipo de tremor, bem fraco, que foi aumentando com certa velocidade e, de repente, a noite foi se tornando clara e quente. Como em uma cama elástica, houve o barulho ensurdecedor de um impacto muito forte, o que praticamente me jogou da cama, me fazendo chocar de costas contra minha estante. Xinguei baixo quando meus livros caíram em cima de mim.

As pessoas saíram de suas casas, ou esticaram os pescoços nas janelas, assustadas. Houve um tumulto em minha casa, meu pai correu até meu quarto para checar se estava tudo bem, e depois, ao da minha irmã.

Alguns minutos de murmúrios incessantes, descobri vários carros subindo a rua. Tão pesados que mal conseguiam andar, pelo visto.

- Mas o que diabos foi aquilo? – perguntei, procurando meus óculos para enxergar melhor. Ao longe, uma fumaça escura se destacava entre o mar de árvores do parque ali perto e os carros pareciam estar seguindo para lá.

Sorri de canto. Algo me chamou. Eu não conseguia ficar parado enquanto a coisa mais interessante da minha vida ocorria, há alguns quilômetros dali.

Então eu, William Sheph-Hazzard, pulei a janela, agarrei a bicicleta e pedalei com toda a vontade e adrenalina do meu ser até alcançar um dos carros. Tomei todo o cuidado possível para não ser visto e contornei o parque na primeira oportunidade, deixando a bicicleta em algum lugar, e adentrando o aglomerado verde por entre as árvores. Estava escuro, mas as luzes dos carros conseguiam iluminar boa parte. Fora um estranho brilho avermelhado que irradiava de algum lugar.

Prossegui com cuidado. Eu não queria que eles achassem que eu estava envolvido naquilo tudo. Eu só queria... Olhar...

Ouvi vozes combinando uma espécie de rota. Mas o clarão vermelho estava perto, eles não conseguiam ver? Até podia se sentir o calor da luz, de tão próxima que estava. Mesmo assim, eles deram as costas e seguiram por outro caminho. Andei com cautela até a fonte de calor.

- Puxa... – suspirei, observando a cena. Não havia cratera ou algo do tipo. Apenas alguns fragmentos espalhados pelo chão. Pareciam pedras preciosas, e brilhavam numa espécie de frequência. Me abaixei para analisar um deles mas ainda estavam quentes do impacto. Pulei para trás, normalizando a temperatura do dedo com saliva. Infelizmente, ouviram o grito que soltei de forma involuntária e vieram correndo, como animais ferozes. Tentei correr para o outro lado, mas algo me puxou pelo pé e me arrastou para uma parte mais densa. Recuperei meu folego, mas me mantive em alerta.

Havia uma figura à minha frente. Na verdade, não tinha forma. Era negra, com pequenos pontos brilhantes, como um cobertor de céu noturno estrelado. Era a coisa mais bizarramente bela que eu já havia visto. Ela ficava lá, sem fazer nada em especial, como se fosse uma espécie de gelatina que despencou do céu e aquilo me encantou de um jeito assustador.

Aos poucos, a tal figura foi se materializando. Pude notar, em meio a escuridão, duas pernas, dois braços, uma forma humana. Ela se espreguiçou e sua voz soou doce.

- Vamos andando. Não quero você envolvido nisso.

Disse e deu um passo que, por um infeliz acaso, foi em cima de um galho seco. O barulho parecia mais alto que o normal, e os homens correram em direção a ele.

- Ali! Estão ali! – gritavam – Tem mais de um! Atirem!

A recém-formada figura humana parecia estar em choque, pois não se moveu. Segurei em seu pulso e nos embrenhamos entre o mar de árvores, até finalmente sairmos do outro lado – que por sorte, era o local onde minha bicicleta estava.

Coloquei-a na garupa.

- Se segura firme! – disse, animado

- Me segurar aonde?! – ela exclamou, se abraçando ao meu corpo. Ela estava quente

Pedalei, mas uma vez, com toda a minha força até minha casa. Pulamos a janela e recuperamos o fôlego lá, encostados na parede. Curiosamente essa parte de trás da minha casa estava vazia, mas logo conseguimos ouvir os passos pesados daquelas homens. Logo, um pequeno grupo saiu invadindo as casas, perguntando onde “ela” estaria. Nós levaram todos para a sala mas, por algum motivo, nem se importaram com “ela” que estava sentada abaixo da janela, me olhando com uma expressão agradecida. “Ela” se levantou e saiu pela janela, e nunca mais seria vista.

O homem me jogou contra o chão, junto de minha irmã. Dora Winnyfred tinha os cabelos curtos, era magra assim como eu e insistia em vestir roupas que não eram “apropriadas” pra ela. Eu a achava linda de qualquer jeito. Dora parecia extremamente nervosa, mas pareceu se acalmar quando eu sorri para ela.

Virei o rosto. Minha mãe estava em prantos e meu pai a abraçava, em uma tentativa de protegê-la.

- Não tem mais ninguém aqui! – meu pai gritou, apertando mais minha mãe entre seus braços – Vão embora agora!

Um dos homens ajeitou a arma colossal em suas mãos e mirou em meu pai. Eles não podiam fazer isso... Podiam? O homem ao seu lado tocou em seu ombro e fez que “não” com a cabeça, e ele relaxou.

Em seguida, mais homens saíram dos cômodos, todos com respostas negativas. Um chiado e um botão apertado.

“O alvo se distanciou!”

Saíram apressados pela porta, gritando e se espalhando por aí. Me recostei melhor na parede, arfando. O sorriso ainda estava em meu rosto. Dora me olhava desconfiada, já mais relaxada. Passou a mão pelos cabelos.

- O que você fez dessa vez, William? – perguntou, elevando uma das sobrancelhas

- Eu? Por que vocês sempre jogam a culpa em mim quando essas coisas acontecem? – perguntei, me fingindo ofendido

- Você é o único que não está contente com essa onda de paz.

Revirei os olhos perante o argumento idiota e fomos cuidar da minha mãe. Ela ainda chorava nos braços do meu pai, que a abraçava forte.

- Calma. Eles já foram. – beijou-lhe a testa com carinho, e isso reviveu aquela sensação estranha no estômago, mas eu sorri mesmo assim.

Eu sempre fico sorrindo. Sorriso...

Sorriso, sorriso...


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