O garoto e a rosa escrita por StardustWink


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

E aqui estou eu, depois de mais de uma hora do fim do Contestshipping Day com minha fic. Viva à procrastinação. /joga confetes/

Eu sempre quis fazer um UA que lidasse com almas gêmeas, e acabei me inspirando na melhor fic de kagehina de todo o universo (cujo nome eu não lembro, mas que tá no AO3 e também fala disso então não deve ser tãaaao difícil de achar risos) e escrevi isso aqui. owo Eu quis tentar escrever uma fic toda no presente..... E bom, vamos ver se vocês gostam.

Boa leitura!



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A primeira vez que May percebe a importância de sua marca é enquanto brinca junto de outros colegas na escolinha da esquina de sua casa.

Depois de colocar chá para suas amigas (ou melhor, nada, pois com cinco anos sua imaginação não tem fronteiras e o ar pode-se tornar líquido num piscar de olhos), ela nota a ponta do que parece ser um nome escrito em letra cursiva no pulso da menina ao seu lado quando a mesma levanta a xícara para sua boca.

– Ei, que é isso? - Ela pergunta, testa franzida e lábios rosados em um bico, apontando para a palavra que acabara de ver.

– O quê? Ah, isso? - A outra mostra a palavra outra vez - ela não sabe ler ainda, então não sabe o que diz - e estreita os olhos. - Você não sabe? Mamãe disse que todas as pessoas têm um!

– Eu também tenho...! - A loira à sua direita comenta com a voz tímida, afastando a gola de sua camisa e revelando outra palavra escrita na mesma letra por cima de sua clavícula. - Ela disse que diz o nome do meu príncipe encantado e que no futuro ele vai me achar e vamos viver felizes para sempre!

– Ehhh...? - May murmura enquanto estreita os olhos, uma das mãos indo até a parte de seu pescoço abaixo de sua nuca. - Então vocês não têm desenhos?

Ela se depara com o olhar confuso de suas amigas enquanto lhe encaram, e desce sua mão lentamente. A marca em forma de rosa vermelha queima na pele de trás do seu pescoço.

May tem apenas cinco anos quando descobre que não era tão normal como aparentava ser.

xxx

Ela tem treze anos, sonhos grandes demais para a pequena cidade em que mora e a vontade inebriante de se apaixonar.

– Mas eu tenho certeza que vi, May... - A garota da sua sala do sorriso constante e cabelos longos e azul escuros confessara para ela, um dia, enquanto comiam juntas no intervalo. - No pulso dele, escondido pela camisa... Era um ‘D’. Tinha que ser.

– Por que não pergunta para ele? - Ela perguntara, um sorriso animado formando em seu rosto pela amiga.

– N-não! E se não for eu? Vou morrer de humilhação! - Dawn chiara em resposta, rosto explodindo em vermelho. - Não é tão fácil assim, May...

– Eu sei. - A garota rira, seus olhos perdendo o brilho por um segundo. - Eu sei, mas...

– May. - Ela levantara o rosto e vira sua amiga a olhando com seus orbes azul piscina sérios, um sorriso reconfortante no rosto. - Não se preocupe, ok? Você definitivamente vai achá-lo.

E ela tenta acreditar nisso, pois todo esse negócio de beijos e primeiro amor parecem incríveis quando murmurados pelas garotas de sua classe, e May encontra-se perguntando como seria sentir como se estivesse na beira de um precipício com vontade de cair. Em uma medida drástica, corta seu cabelo bem curto na parte de trás da cabeça, exibindo sua marca de rosa para os olhares curiosos dos corredores na esperança que, um dia, uma mão a pare no meio do caminho e ela finalmente consiga encontrar ele, ele que surge em borrões em seus sonhos e desaparece novamente antes que ela consiga alcançá-lo.

Mas ela não o encontra.

Ao invés disso, ao procurar incessantemente pelo dono da rosa marcada em sua pele, voando com as asas frágeis de sua imaginação de jovem em busca daquela flor, ela recebe o apelido de ‘borboleta solitária’ pelos alunos de sua escola. E a garota continua tentando, pois mesmo que ela caia no caminho tem de levantar e seguir em frente, até o dia que seus olhos espiam o nome ‘Wendy’ encrustado em dourado na parte interna do braço esquerdo do garoto que senta ao seu lado da na sala, de olhos cinzas quase brancos e cabelos num tom tão vivo de escarlate que ela tivera certeza de que pareciam pétalas de rosa. Ela foge para o banheiro assim que a aula acaba e chora, chora até sua garganta doer, chora porque em seus treze anos de vida nunca conseguiu achar ninguém além dela que tem símbolos no corpo ao invés de um nome.

No dia seguinte, May está sorrindo outra vez como se nada tivesse acontecido. Decide que, ao invés de sofrer por algo inevitável, seria melhor empurrar o assunto amor para a parte mais profunda de sua mente e tentar viver sua vida como uma garota normal. Porque era isso que ela era.

Por mais que a marca escondida pelo curativo em seu pescoço dissesse o contrário.

xxx

Suas asas antes frágeis agora são grandes e fortes e multicoloridas, e May entra com um sorriso no rosto pelos portões da grande faculdade à sua frente. Fora há dois anos, enquanto ela e sua melhor amiga Dawn discutiam os pontos fracos de um romance que tinham acabado de ler para a aula de português, que a mesma declarara que poderia fazer algo melhor que isso se tentasse.

E aqui está ela agora, cursando literatura.

A garota dá o primeiro passo com o pé direito, coração palpitando inquieto enquanto passa por muitas outras pessoas daquele lugar desconhecido no qual viveria pelos seus próximos anos. Esse era o ponto ruim de estudar longe de casa; ficaria longe de sua família, de seus amigos, de tudo de familiar que já tivera.

Todavia, ela gostava da possibilidade de um novo começo, mesmo que isso deixasse suas pernas bambas. E ela faria um, seria vitoriosa, e voltaria para casa já com um livro lançado e mostraria para seu irmão chato que não era maluca de seguir um sonho como esse!

Pelo menos era isso que queria.

May demora a se acostumar com a comida do refeitório, mas depois de uma semana já está enchendo dois pratos cheios e bem amiga de uma ruiva mais velha e alta de sua classe de Lit. Estrangeira 1. E ela continua evitando os pensamentos sobre marcas e rosas e borboletas, preferindo se concentrar 100% em sua escrita.

É no primeiro dia do segundo mês de aulas que ela o vê pela primeira vez.

Enquanto dá uma volta pelos corredores de cimento entre a grama verdinha e flores coloridas do pátio em frente ao seu dormitório, espia o que parece ser um garoto deitado por baixo de uma árvore. Ela estreita os olhos com raiva porque essa é uma área designada para as garotas e já é a segunda vez na semana que isso acontece, e trata de pisotear o chão com força até perto dele só para parar abruptamente.

Não porque vê-lo tirou o ar de seus pulmões, não porque era indubitavelmente estranho ver alguém de camisa de mangas compridas em pleno verão, mas porque o cabelo dele é verde num tom tão espalhafatoso que ela tem de piscar umas duas vezes para ter certeza que viu certo.

Que estranho... Ela já vira esse garoto em algum lugar. Agora aonde...

– Vai ficar encarando por quanto tempo? - A garota dá um pulo de susto ao ouvir uma voz, e só aí percebe que o desconhecido está a fitando com o que parece ser irritação. De repente, a raiva de antes por ele estar num lugar reservado volta e ela franze a testa.

– Você sabia que esse espaço é restringido às garotas que moram naquele prédio? - May comenta encarando-o de cima a baixo, e o garoto abaixa o livro que tem em uma das mãos. - O que você está fazendo aqui?

– Lendo, oras. - O garoto responde, uma sobrancelha arqueada em desdém. - Tem muita gente na parte da frente há essa hora, e eu queria um lugar silencioso para ler. Algum problema nisso?

– Muitos! Você não podia simplesmente ficar no pátio do seu dormitório? - Ah, como o ar convencido dele a enche de raiva. É inexplicável como ela consegue conhecê-lo há menos de um minuto e já se sentir tão furiosa assim.

– E arriscar ser atingido por uma bola de futebol? Não, obrigado. - Ele responde, e direciona os olhos para um ponto fixo à sua frente. - E além do mais, aqui é bem mais bonito.

A garota vira os olhos para a mesma direção que ele, uma veia prestes a explodir em sua testa porque ela conhece garotos e se ele estiver olhando para uma menina enquanto diz isso ela vai seriamente lhe dar um soco– E se depara com nada além de flores.

May pisca uma, duas, três vezes. A marca em seu pescoço queima por um momento e ela vira para o estranho outra vez, congelada. Ele estava falando de flores?

– Você é bem estranha, sabia? - A voz dele a acorda outra vez, e dessa vez ele tem um sorriso no rosto. - Fica gritando comigo e me secando quase que ao mesmo tempo.

– Eu definitivamente não estou te secando! - Ela explode no segundo seguinte, os pensamentos de que talvez ele não fosse má pessoa esvaindo de sua cabeça e rosto pincelado de vermelho. - Só estou me perguntando como um garoto pode ter um cabelo tão esquisito quanto o seu. Verde, sério?

A sobrancelha do garoto contrai-se com isso, e ela conta vitória em sua cabeça. Depois, com uma bufada baixa, ele se levanta e fecha seu livro.

– Você é uma novata audaciosa, hein. - O desconhecido a encara uma última vez antes de suspirar. - Bom, que seja. Vou fingir que nunca tivermos essa conversa, é melhor para você.

– Eh? - Ela pisca, observando-o passar por ela atônita, antes do garoto parar uma última vez e olhar para trás.

– E, para sua informação, eu tenho permissão para ficar aqui. Então qualquer coisa que você disser não vai me impedir, garota.

May o observa ir com o rosto surpreso, sentindo sua raiva pulsar dentro de seu corpo. Como ele sabia que ele era uma aluna nova? E quem ele pensava que era para falar com alguém daquele jeito?! Sentia uma vontade enorme de socá-lo agora.

Ela encara as flores uma última vez antes de girar os pés e continuar a andar.

xxx

A segunda vez que ela o encontra não é no pátio, mas sim numa festa de boas vindas feita pelos veteranos no dormitório masculino. A ruiva ao seu lado – Solidad, sua mais nova amiga – falava sobre suas experiências com a faculdade de design que tentara anteriormente, e ela está prestes a comentar alguma coisa quando avista um borrão de verde pelo canto do olho.

Lá está ele em toda sua glória, de pulôver preto de gola alta sorrindo enquanto conversa com algumas pessoas num dos cantos da sala onde estão. Seus movimentos são corteses e ele parece falar com confiança, mas algo no rosto dele a faz pensar que preferia estar em outro lugar.

– May? – Ela se vira para Solidad e pisca, corando um pouco por ter sido pega encarando.

– Desculpa, eu viajei um pouco aqui. – Ela ri sem graça, abrindo um sorriso. – Mas então, onde você estava?

A ruiva a fita por mais uns segundos com uma sobrancelha arqueada e por fim sorri, continuando a falar da vez que passou uma madrugada acordada para terminar um projeto. E, depois de um tempo, May se esquece do garoto parado na parede oposta a elas no corredor.

Isto é, até que ele decide ir a seu encontro.

– Solidad. – A garota de olhos cor do céu vira o rosto na direção do novo integrante da conversa, perguntando-se como não o percebera chegando até ali, até que a ficha cai e a mesma arregala os olhos ao descobrir que aqueles dois se conhecem.

– Ah, Drew! Como vai? – A ruiva sorri casualmente para ele, mal percebendo os olhares atônitos que May dirige de um para o outro repetidamente. – Faz tempo que não vejo você.

– Ando meio ocupado com umas coisas. – O garoto sorri de volta ao responder, deixando claro para ela que sim, eles eram amigos. É aí que o mesmo se vira em sua direção, e ele arqueia uma sobrancelha. – Vejo que conhece a novata.

De novo com esse nome, ela bufa levemente e cruza os braços, tentando parecer o mais intimidadora possível mesmo sabendo que provavelmente não dará certo.

– A May? Sim, ela faz a aula da Fantina comigo. – Solidad arqueia uma sobrancelha outra vez, encarando os dois com curiosidade. – Não sabia que vocês se conheciam.

– Só nos vimos uma vez. – Ela comenta curtamente, ainda encarando o garoto – Drew, como sua amiga ruiva dissera – e o mesmo abre um sorriso entretido.

– Isso mesmo que ela disse. – O garoto concorda com um brilho divertido nos olhos e ela tem de morder seu lábio para lembrar-se de se controlar. – Atrapalhou minha leitura da tarde sem mais nem menos.

– Como eu ia saber que você tinha permissão para ficar no pátio? – May o interrompe com a voz uma pouco elevada, e seu estômago revira com o que ela julga ser raiva quando ele a lança um olhar em seguida. A mesma o espera falar, dizer mais como ela é estranha ou rude, mas Drew permanece em silêncio, antes de se voltar para Solidad mais uma vez.

– Bom, acho que já vou indo. Nos vemos por aí, Solidad. – Ele dirige um último olhar para ela, e sorri mais. –... Até depois, May.

E a garota só pode encarar confusa o garoto que passa por elas em direção à porta. Depois de uns segundos, Solidad se vira para a mesma outra vez, ainda um pouco surpresa.

– Então vocês se conhecem, huh? – Algo no sorriso da garota mais velha a faz engolir em seco. – Parece que tem muita coisa que não sei sobre você.

– Bom... É uma longa história. – Ela murmura com os olhos voltados para o chão porque não é só isso que ela não sabe, é também a marca agora escondida por debaixo de seu cabelo curto que mal alcança o fim de seu pescoço por trás e isso a faz se sentir um pouco culpada.

Por isso, decide contar sobre Drew. Solidad acaba por ser amiga dele desde a escola, e conta que os três cursam a mesma coisa, só que ele está há um ano à frente assim como a ruiva.

A conversa fica por aí, mas May ainda tem suas dúvidas sobre o garoto de cabelo verde. Tinha algo de misterioso nele, que ela não conseguira entender... Era absolutamente estranho.

xxx

A terceira vez que se veem é sim no pátio em frente ao dormitório, e May tem de parar seu trajeto ao ver que não só Drew está lá, mas também aguando algumas flores. Algo queima por dentro de si mesma e ela se acha correndo de volta ao prédio, procurando na recepção pelo lugar onde eles mantinham os utensílios de jardinagem.

Ela é saudada com um olhar confuso do garoto quando aparece com um regador cheio de água e se põe a fazer o mesmo que ele sem mais nem menos.

– O que você está fazendo? – Ele pergunta, e ela mantém os olhos vidrados nas flores – margaridas, junto a mais algumas flores silvestres – pois por algum motivo não consegue encará-lo.

– É meio embaraçoso você estar fazendo isso sendo que nem mora no dormitório, então. – May responde, continuando a molhar o canteiro até que uma mão segura seu pulso e ela sente eletricidade correr por suas veias.

Algo na maneira com que ele hesita antes de falar a diz que não foi a única a sentir isso. Seu rosto fica quente, e ela não sabe por quê.

– Você está fazendo errado. – Ele inclina a mão dela para cima gentilmente, fazendo a água parar de cair. – Não encharque as flores, tente molhar mais a terra.

– C-certo. – Não sabe o motivo de estar tão nervosa, mas faz como indicado. Ambos ficam em silêncio por mais algum tempo.

– Você sempre cuida das flores? – Ela pergunta enfim, quando a água de seu regador já acabou.

– Sim. - Ele responde com um tom de voz calmo, - Eles me deixam ficar aqui se eu fizer isso.

Algo a diz que não é por isso que ele faz essa tarefa – está nos olhos dele, na expressão confortável que tem em seu rosto enquanto abaixa para examinar as flores – mas May não comenta.

– Hm. – Ela murmura, voltando seus olhos para o céu. -... Desculpa por ter atrapalhado sua leitura.

– Não sei se quero te desculpar por isso. – Ele está com aquele sorriso meio convencido no rosto e May está prestes a se irritar de novo quando um som alto de seu estômago a interrompe. Ela cora escarlate, já podendo ouvir a risada abafada do garoto ao seu lado, mas é surpreendida quando o mesmo a puxa por uma das mãos.

– Vamos, antes que você desmaie de fome.

É na terceira vez que se encontram, quando ambos invadem a cozinha do dormitório feminino e ele se oferece para fazer panquecas, que May descobre que Drew pode ser gentil.

xxx

A pergunta é feita por uma de suas companheiras de classe, depois de um período inteiro de faculdade e muitos encontros no pátio do dormitório. May, que fora pega de surpresa por nunca ter pensado sobre isso antes, teve de pedir para a garota a sua frente repetir.

– O nome, May. Você sabe se está em um dos braços? – Ela fala com animação, como se estivesse prestes a descobrir um grande mistério. – Ele nunca deixa de usar blusas de manga comprida, então todas as garotas acham que está por lá. Você já viu?

– E como eu poderia? – A garota pergunta, piscando confusa. Até onde achava, Drew e ela não eram tão próximos – só se encontravam de vez em quando, e discutiam tão frequentemente que ela nem sabia se podia considerá-lo um amigo.

– Bom, vocês passam bastante tempo juntos no jardim do dormitório, não é? – A outra insiste ainda assim, e May nota que outras garotas também começaram a ouvir a conversa. Drew é bem popular, ela sabe disso; e todos os olhares que estavam recebendo estavam lhe deixando um pouco nervosa. – Você já tentou espiar para ver?

A palavra espiar a leva de volta para seus dezesseis anos, quando uma garota tirara à força o curativo de trás de seu pescoço sem sua permissão para confirmar um boato, e ela subitamente sente irritação pulsando por suas veias ao notar que talvez garotas como aquela sejam o motivo de Drew só parecer realmente confortável enquanto está longe de tudo e todos.

– Acho que se ele usa uma blusa de manga comprida é porque quer manter isso para si mesmo. Você deveria respeitar isso. – Ela declara de uma vez só, não esperando mais nenhum segundo antes de recolher sua bolsa e sair da sala. Sabe que isso provavelmente a custará uns olhares feios pelo resto da semana, mas, para ser honesta, May faria aquilo novamente se pudesse.

A pergunta não sai de sua cabeça, porém. Reaparece quando encontra Drew mais tarde, enquanto ambos se sentam debaixo de uma árvore para lerem em silêncio. Os olhos azuis dela continuam desviando-se de seu livro para as mangas pretas do pulôver favorito do garoto ao seu lado e, depois de um tempo, ela desiste de tentar ignorar.

Será mesmo que teria um nome ali? De quem seria? Certamente não Solidad; ela lhe dissera que sua alma gêmea era um garoto excêntrico de sua cidade natal que era também seu amigo de infância.

May arrisca olhar mais uma vez para Drew, notando como ele parecia tranquilo naquele momento. Assim, de perto, ela podia ver com mais precisão a curva de seu pescoço, o tom brilhante de esmeralda de seus olhos e o olhar concentrado que ele mantinha no livro.

Ele é bonito – ela sabe disso, não é tão boba assim para não admitir. Também é talentoso pelos pedaços de texto que ele a deixava ver de vez em quando, assim como hábil em conversar em público. Parecia estar num nível completamente diferente do dela, para ser honesta.

E, por mais que May tentasse, não conseguia imaginar a pessoa que poderia ser apta a ficar ao seu lado.

– Sabe, você continua com essa sua mania.

Ela cora absurdamente ao notar que sim, fora pega no flagra outra vez – May acaba sempre o encarando mais do que necessário por um motivo que não pode explicar – e desvia seus olhos para o chão.

– Desculpa, é só que... – A garota para de falar de repente, sentindo seu coração acelerar por ter quase falado sua dúvida em voz alta. Lá estava ela, tentando invadir a privacidade de um garoto que conhecia há pouco tempo depois de ter dado uma bronca em outras garotas por terem tentado fazer o mesmo.

– Que? – Drew tem uma sobrancelha arqueada e semblante confuso voltado para ela.

– Não, nada! – Ela ri um pouco sem graça, voltando a olhar para o chão com o rosto vermelho.

O silêncio reina por alguns segundos.

–... Ei, levanta. Quero te mostrar uma coisa.

May dirige os olhos para o lado novamente para ver Drew levantado, uma mão estendida em sua direção. A garota encara a mão por alguns segundos antes de aceitá-la, coração acelerando ao notar que ela é maior do que a mesma achava que fosse.

– O que é? – Ela pergunta assim que já está de pé, mas o garoto vira-se de costas e começa a andar sem respondê-la. A mesma bufa de irritação, seguindo-o pelo único propósito de estar curiosa.

– Tem uma parte do jardim que você não conhece. - Ele finalmente responde quando já estão no meio do caminho, se afastando na direção oposta aos prédios da faculdade. Certamente, ela nunca fora ali na vida – Parcialmente pelo prédio velho que fica naquela direção lhe dar arrepios.

– E você está me levando lá por que...? - May continua com a voz um pouco trêmula – ela tem certeza que esse prédio é mal assombrado, já ouviu as histórias, será que ele quer a matar de susto? – antes que seu medo dá lugar a choque quando, ao andar até a parte de trás do prédio, ela dá de cara com mais um canteiro de flores.

– Eu descobri esse lugar algum tempo depois que entrei. – A voz do garoto pode ser ouvida como um eco pela sua cabeça enquanto ele anda para frente até um dos arbustos. – Fico cuidando delas desde então. Você está meio estranha hoje, então eu achei que fazer uma boa ação não seria tão ruim.

May só pode piscar enquanto ele desprendeu delicadamente o caule de uma das rosas, virando-se para ela em seguida.

– Elas têm espinhos, mas você é durona o suficiente para eles, certo? – Ele sorri do modo que a irrita e a deixa confusa e faz seu estômago revirar, estendendo a rosa vermelha em sua direção. – Aqui.

Ela o encara por mais um tempo antes de correr.

Corre porque por um momento, ao olhar nos olhos dele naquele segundo, ela teve esperança de que as mangas pretas da camisa dele não escondiam um nome e sim algo mais. E May sabe depois de dezoito longos anos de decepções e tentativas de puxar os pensamentos sobre amor para o fundo de sua mente que é absolutamente impossível que ela vá um dia a encontrar alguém estranho como ela que nasceu com uma figura tatuando seu corpo.

Nem que essa pessoa seja Drew Hayden, e que ela tivesse sentido algo mais por ele desde o primeiro dia que se conheceram, e que ele escolhera a presentear logo uma rosa sem nunca ter visto a marca escondida em seu pescoço.

Como ela pensara antes, não conseguia imaginar alguém que podia se igualar a ele. Principalmente alguém como ela.

E quando suas pernas perdem as forças e ela cai no chão de seu quarto com a visão borrada de lágrimas, May percebe que está apaixonada por ele.

xxx

Faz uma semana desde que ela não vai ao pátio.

Nos primeiros dias, May teve de correr de qualquer rastro de verde que via nos corredores por medo de encontrar o garoto familiar que assombrava sua mente.

Solidad a procurara um pouco depois em seu quarto, com um olhar preocupado querendo saber o que houve. Talvez fora o cansaço ou a falta de alguém para desabafar, mas May acabou caindo em lágrimas naquele mesmo instante e contando tudo, desde o fatídico dia na escolinha de sua esquina até as rosas de trás do prédio abandonado perto do dormitório feminino.

A ruiva escutara em silêncio, a reconfortando quando preciso, e por fim dissera que tentaria falar com Drew para que ele a desse um tempo para se recompor.

(Ela não deixou de perceber, porém, o olhar significativo que Solidad a dera ao dizer que ‘talvez estivesse deixando de perceber algo essencial’.)

– Mas perceber o que? – Ela encara o caderno à sua frente com aflição, não conseguindo mais se concentrar. Desde aquele dia tinha tal frase ecoando em sua cabeça, e a garota não fazia ideia do que Solidad queria dizer.

May dá uma olhada novamente para o texto escrito em rabiscos na folha – um romance de uma garota que não sabe qual dos dois garotos de mesmo nome é sua alma gêmea – e suspira pesadamente. Se pelo menos fosse tão fácil. Sua mão sobe para a marca em seu pescoço, e ela passa os dedos sobre as linhas com delicadeza.

Lembra-se que sua mãe, gentil e exageradamente animada desde que a mesma era criança, vivia a repetir que aquela pequena rosa era para ser seu tesouro mais precioso, algo que ela deveria ver com carinho. A garota recordava de ter uma briga grande com ela na época, um pouco depois do incidente com seu primeiro amor, e de como não falara com Caroline por quase uma semana.

Mas nós fizemos as pazes, no final. Ela suspira, fechando os olhos, para depois parar o movimento que fazia com as mãos. E... Ela me disse algo naquele dia, não disse? Eu me lembro de ter ignorado completamente, mas...

Com os olhos comprimidos com força, ela tenta procurar por entre suas memórias aquela conversa em especial, antes da fala de sua mãe a atingir em cheio e ela derrubar o lápis que está segurando.

– Você vai saber assim que ver essa pessoa, querida. – A mulher falara sorrindo com um brilho nostálgico nos olhos. – Sejam nomes ou figuras ou o que for, eles te dirão que aquela é a que você procura.

Ela tinha esquecido. Depois de tantos anos fugindo do assunto e se considerando diferente de todo mundo, nunca pensara que uma característica que só vira antes em nomes também pudesse ser aplicada a ela. Mas claro, May era a única pessoa nascida com um símbolo que conhecia, então como poderia pensar em se excluir da regra sem mais nem menos?

A rosa encrustada em sua pele a avisaria quando encontrasse a pessoa certa. E ela tinha avisado sim, naquele primeiro dia do segundo mês de aulas quando ela descobrira que Drew gostava de ficar no jardim do dormitório feminino por causa das flores.

A marca só queimava quando ela estava com ele, não tinha como não ser isso. O coração de May falha uma batida antes de acelerar drasticamente, e a garota não gasta mais nenhum segundo sequer antes de sair correndo pela porta.

Esteja lá, esteja lá, esteja lá...! Ela repete em loop para si mesma enquanto corre para fora de seu prédio, continuando pelas pequenas ruas de asfalto numa busca incessante pelo garoto que poderia se tornar a única exceção de sua vida.

Depois de percorrer o lugar umas duas vezes e tropeçar de encontro ao chão, ela é obrigada a aceitar a possibilidade de que ele talvez tivesse escutado o pedido de Solidad e parado de ir até lá para lhe dar mais espaço.

Porém sabe Drew era teimoso, talvez não tanto quanto ela mas era sim, e May não imaginava que ele pudesse desistir de seu lugar favorito na faculdade só porque ela tinha se afastado dele de repente.

Então, como última tentativa, ela se dirige ao prédio abandonado da escola, corpo tremendo de medo e coração na garganta.

E o encontra, de frente ao canteiro cuidando das rosas.

É claro, é o pensamento que ela tem quando percebe que esta cena estava escrita para acontecer desse modo desde o começo. Não tinha como isso ser de outra forma. Era da natureza deles se desentender bem antes dela fazer essa descoberta, e de May achá-lo logo naquele lugar. Se pudesse, diria ao destino para que ele parasse de ser tão cliché.

O garoto não demora muito tempo para percebê-la – parcialmente porque ela veio correndo até aqui e não se preocupou muito em ser silenciosa – e o mesmo levanta num pulo com os olhos arregalados, pois ele tinha arregaçado as mangas da camisa para mexer na terra e o segredo que provavelmente também esconde por toda sua vida está lá, à mostra.

Nascendo um pouco abaixo de seu pulso esquerdo e quase imperceptíveis pelo seu tamanho pequeno estão asas de borboleta.

May abre um sorriso, sentindo lágrimas se acumularem pelo canto dos olhos, e se joga por cima dele sem mais nem menos, ambos caindo na grama verde ao lado dos arbustos de rosas. Antes que Drew possa piscar ou perguntar o que é que deu nela seus lábios estão por cima dos dele, e a garota pode jurar que seu corpo se incendeia por um momento, queimando da ponta de seus dedos até o interior de sua barriga e concentrando-se por fim na marca presente por trás de seu pescoço.

Ele a puxa pela cabeça para beijá-la novamente quando a garota se afasta pelo susto, mãos fixando-se na sua nuca antes de descerem e traçarem com os dedos a rosa que ela tem escondida. Ela o sente sorrir contra seus lábios, e não pode evitar de fazer o mesmo.

Mais tarde, quando estão ofegantes e com terra nas roupas, Drew provavelmente a irritará durante meia hora dizendo que ela era uma idiota por ter fugido logo quando ele iria se confessar. May responderá que ele também não saberia como prosseguir numa situação como aquela e ele insistirá que sim, saberia por que ele passara por exatamente a mesma coisa durante dezenove anos de sua vida. Eles discutirão novamente, como sempre fazem, e ela perguntará para si mesma como foi ganhar um garoto tão irritante como alma gêmea.

Por agora, no entanto, ela só queria permanecer ali, envolta pelos braços de seu mais novo namorado e se sentindo finalmente completa.

May passeia os dedos pelas asas de borboleta do pulso dele e pensa que, talvez, ela já sabia desde o início que seria assim.


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Notas finais do capítulo

Então é, eu originalmente planejava botar mais gente da fic (tipo o Paul e como ele e a Dawn se acharam, ou o Ash que estudaria na mesma faculdade que a May e por aí vai) mas a fic acabou fluindo assim e eu resolvi deixar por isso mesmo /gota/ Sintam-se à vontade para imaginar os eventos que quiserem com eles no universo da fic, hahaha~

Bom, vou ficando por aqui porque tá tarde bagarai e eu passei o dia inteiro escrevendo (uvu) Até mais!



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