P. O. V. Draco

Seus olhos grandes como bolas-de-gude azuis ainda me encaravam quando me inclinei para fixar meus lábios ao seu nariz fino e pálido.

–Não. Você é incrível, Luna Lovegood. –Murmurei enquanto sentia a respiração ofegante dela no meu pescoço quando ela se inclinou para descansar a cabeça na curva do meu ombro.

Ficamos assim por algum tempo, meus braços envolvendo suas costas os dela na minha cintura quando ela se sobressaltou repentinamente.

–Pelas barbas de Merlin! Eu tenho que ir para a aula de Poções! –Ela disse se soltando suavemente de meus braços. Senti o calor de seu corpo franzino deixando o meu com uma careta.

–Certo. Boa aula. –Acrescentei enquanto ela corria o gramado e me lançava um sorrisinho por trás do ombro.

Pansy não esperou nem que ela entrasse no castelo para sair de trás de uma árvore com a maior carranca de desprezo que alguém é capaz de fazer.

–Você a beijou, Draco Malfoy! –Ela gritou, a voz aguda.

–Sério? Você tem certeza? –Perguntei ironicamente.

–Cara, isso foi estranho. –Goyle falou, a voz embargada, enquanto saia de uma moita, com Crabbe em seu encalço. –Além de tudo, Crabbe não parava de peidar ali. –Ele fez uma careta e o outro riu alto.

–Malfoy, essa foi a cena mais estranha que já vi. –Crabbe me deu um tapinha nas costas e eu abri um sorriso torto.

–Viram, crianças? Isso é o que acontece quando se faz um desafio para Draco Malfoy. –Falei, o sorriso se expandindo.

Goyle e Crabbe riram alto, mas Pansy continuava a me encarar colérica.

–Que nojo! Argh! Foi a pior coisa a que eu já assisti! –Ela praticamente vomitava as palavras, a cara inchada e vermelha e os cabelos escorridos jogados para trás de um modo engraçado.

Eu sabia porque ela estava agindo assim, afinal, Pansy sempre esteve atrás de mim por vários anos e eu só a beijara uma vez, o que não foi uma experiência muito legal, mas do mesmo jeito acho que foi algo que ela sempre considerou bastante. E agora ela continuava a praguejar e discutir com Goyle:

–Mulher, você sabe que ele faz o que quiser! Aceite, foi uma brincadeira. –Ele ria.

–Ele está louco! E você apoia uma coisa dessas? Ele beijou a Di-Lua! –Ela berrou e bateu com os pequenos punhos no meu peito.

–Cala a boca, Parkinson! Faz ideia de como está sendo idiota? –Berrei de volta e ela ficou perplexa.

O pequeno aperto na boca do estômago que havia se instalado ali desde que Pansy saíra de trás da árvore apenas ficou mais forte. Eu já não sabia se queria mesmo estar fazendo isso com a Luna.

Um garoto alto e moreno da Sonserina se aproximou de nós, os olhos escuros estreitos em fendas desconfiadas.

–Está ficando com a Di-Lua, Malfoy? –Ele disse, a voz divertida.

–Foi uma brincadeira. Tipo uma aposta. –Goyle falou, rápido e com um ar malicioso.

O sonserino moreno sorriu, divertido.

–Cara, e eu achei que você não conseguia ser pior. –Eu sabia que aquilo soava mal, mas o ar com que ele disse aquilo era de elogio.

O aperto em meu estômago se intensificou. Aquilo seria culpa? Enquanto eu pensava naquilo, vi de relance Gina Weasley andando pelos campos em uma marcha furiosa, seu olhar cravado em mim como garras afiadas.

Será que aquilo significava... Significava que ela havia visto tudo? E que ela havia ouvido alguma parte da conversa que se seguiu? Afrouxei a gravata antes de voltar a atenção para a discussão que se dava na minha frente.

P.O.V. Luna

Assim que entrei na sala de Slughorn, o professor me lançou um olhar divertido e ao mesmo tempo apreensivo.

–Atrasada, Srta. Lovegood. Sente-se lá atrás e que isso não venha a se repetir. –Ele ordenou e eu assenti.

Sentei ao lado de uma garota alta da Grifinória que balançava uma varinha despreocupadamente, mas assim que me viu, se sentou ereta e apontou para os meus cabelos.

–Estão um pouco bagunçados. Deixe-me arrumar. –E, balançando um pouco a varinha e enunciando um feitiço que lhe parecia muito costumeiro pela simplicidade com que enunciava, ela concluiu o trabalho. –Bem melhor.

Sorri e senti as bochechas esquentando ao lembrar de quem havia bagunçado meus cabelos antes de agradecer.

–Sem conversa aí atrás! –Anunciou Slughorn e nos voltamos para ele.

***

Eu vinha voltando para a Sala Comunal, perdida em pensamentos que sempre voltavam:

“Eu tenho de ir ao baile com Neville. Mas beijei Draco. Eu acho que eu gostei de tê-lo beijado, mas essa não é a questão. Ah, como você complica tanto as coisas, Luna?”

E foi em meio a esses devaneios diurnos que esbarrei em Gina, quem estava escarlate e com uma expressão furiosa no rosto.

–Você beijou Malfoy.