Por que... elas tem tanto medo?

As pessoas, sabe?

Eu só quero encontra-lo...

Eu... eu tenho medo de sair á procura dele... porque...

Eu me lembro daquela garotinha... acho que o seu nome era Jessica... sim, ela se chamava Jessica. Foi esse o nome que aquele homem gritava... eles eram tão parecidos...

Ela estava caminhando perto das árvores, secas e sem folhas. Estava escurecendo, e acho que ela ia para casa. Mas... eu queria que aquele homem viesse até mim... ele era tão parecido... eu tinha quase certeza...

Eu apareci para ela... mas não sai das árvores... ela tinha olhos grandes e era curiosa... e estava indo para casa, mas queria brincar mais... a convidei para brincar um pouco, talvez de esconde-esconde... ela aceitou sorrindo.

Brincamos por algum tempo. Foi divertido. Sempre é divertido. Eu esqueço. Mas eu estava esperando que aquele homem viesse busca-la... já estava quase escuro, e ela queria ir para casa, mas ele nem tinha chegado ainda...

Pedi para que ela esperasse mais um pouco, e ela o fez. Mas não queríamos mais brincar de esconde-esconde. Ela era muito animada, e gostava de correr. Sua brincadeira preferia era apostar corrida. Mas dessa vez, ela quis brincar de pega-pega. Eu disse que não, que era melhor outra brincadeira. Não queria machuca-la. Mas ela insistiu, tentando pegar minhas mãos. Acho que ela queria que eu corresse atrás dela... mas eu me afastei, e ela continuou vindo até mim.

Me descuidei, e ela pegou minha mão, puxando-me. E aqueles monstros saíram de algum lugar, negros e compridos... eles a pegaram, e eu não pude salva-la. Tentei, mas não pude. Ela usava um vestidinho muito bonito. Ele agora estava em tiras na minha mão. Fiquei muito triste. Pobre Jessica...

Fiquei triste, e não demorou muito mais para que aquele homem viesse. Ele gritava o nome de Jessica... foi horrível. Ele me olhou com nojo e medo, provavelmente não sabia que estávamos brincando. E eu sempre esqueço.

Elas sempre querem brincar um pouco mais, e insistem em segurar minha mão. Elas esticam-se até as pontas dos pés para segurar minha mão. E eu lembrei... daqueles rostos horrorizados... não os delas... nunca são os rostos delas, elas sempre me pedem ajuda, e eu sempre tento ajudar... só consegui salvar o vestido... o rosto daqueles que zelam por elas... eu não sou um monstro como eles pensam... nós dois sentimos muita tristeza naquele dia.

Vou sentir saudade de Jessica.

Achei que ele estava sozinho naquela sala... mas ouvia vozes. Mesmo assim, tinha que entregar-lhe o vestido de Jessica... ele precisava mais dele do que eu... mas tinham dois homens lá também. E eles nunca mais apareceram... nenhum dos três...

Acho que ele ainda tem o vestido dela.

Em algum lugar.

Mas, no fim... não era ele. Aquele homem, o pai de Jessica, não era quem eu procurava.

Ele tinha cabelos pretos, pele clara e um sorriso. E olhos muito bonitos. Grandes, e muito bonitos.

Mas não era ele.

Tinham grandes diferenças entre eles.

O pai de Jessica, não tinha cabelos compridos e bagunçados. Não gostava de usar um casaco banco. Estava sempre sorrindo, mas não mostrava os dentes, e não tinha as bochechas cortadas. Acho que ele não sentia essa dor. Acho que ele não gostava do escuro, e não gostava do vermelho. E com certeza ele se lembrava de mim... mesmo depois de tanto tempo, eu procuro por ele.

Ás vezes, eu encontro suas páginas rabiscadas.

Elas me contam o que acontece.

As vezes, á noite, eu o vejo entrando nas casas, e sinto que estou perto. Uma vez, ele me viu. Veio até mim, e seu casaco já não era branco, e sim vermelho, assim como a lâmina da faca. Ele me abraçou, e disse...

—Não desista de mim...

Era noite, e estava frio.

—Vá dormir – disse para ele – Não vou desistir... Jeff.

Naquela noite, ele dormiu.

Era um pequeno anjo sorridente.

Talvez eu conte para ele sobre Jessica, mão acho que eles se dariam muito bem.

Mas ela gostava, e ele gosta de correr.

Nenhum deles correu de mim...