Para o Meu Amor, Emmett escrita por thysss


Capítulo 91
Capítulo 91


Notas iniciais do capítulo

Ouçam a música!



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If I talk to God – The Last Goodnight

http://www.youtube.com/watch?v=FCjuZGCuAZI

 

            Quando a semana chegou, meu corpo protestava pelas dores e pelo cansaço, sentia meus músculos ainda tensionados por toda maratona de exercícios que meu pai exigira durante os dias a fio. Isso que eu só estava meio período no campo de treinamento, o que me fazia ter pena dos outros homens, que dependiam disso, que passavam o dia ali.

            A sexta feira amanheceu chuvosa, mas mesmo assim, lá estávamos nós, com a farda de treinamento, os capacetes a postos e a arma em mãos, prontos para sairmos atirando no campo montado com bonecos para alvo.

            - Vocês nunca vão escolher a situação do dia – meu pai berrava.

            E nessas horas eu me esquecia que ele era meu pai.

            - A situação não está fácil para o país... – ele continuava gritando, seus pés batiam com força contra o chão, e vez ou outra ele batia no peito, mostrando orgulho por estar servindo ao país, treinando soldados para, se preciso, se unir a guerra.

            Foi nesse instante que eu me dei conta da realidade, pode ter demorado, mas foi como um banho de água fria para mim. Meu filho agora tinha um ano, minha mulher pode estar grávida, e eu estou aqui. Meus olhos se arregalaram com a constatação, não que eu nunca houvesse me dado conta, o problema é que eu nunca havia percebido quão perto eu estava, de verdade, de lutar.

            Meu peito se comprimiu, não que eu tivesse arrependido, quero dizer, eu fiz pensando em meu filho – não é assim que os pais agem? – e eu nunca me arrependeria de estar fazendo isso para tirá-lo da guerra, para evitar que, futuramente, fosse ele nesse campo de batalha se deparando com uma guerra civil.

            Guerra Civil.

            Isso ecoou em minha cabeça, minutos mais tarde, quando caminhávamos para os chuveiros, e, de repente, joguei a arma que ainda carregava, joguei-a no chão como se o cano houvesse me queimado, ou me dado um choque, joguei-a com raiva por me dar conta de que eu poderia estar prestes a perder minha família e não havia me dado conta.

            Querida, não me compreenda mal, talvez nem eu tenha entendido naquele momento, talvez eu nem tenha me explicado direito, mas tudo pareceu, de repente, tão confuso para mim.

            Eu via a minha frente soldados com minha idade, uns com mais, outros com menos, alguns loucos de vontade de lutar pelo país, e minha cabeça rodava – eu me lembro como se houvesse sido ontem. Meus olhos percorreram de um homem ao outro, e tudo que eu pensava é que não poderia entrar em batalha.

            Há meses atrás, quando eu havia aceitado esse acordo com meu pai, eu nunca havia realmente pensado que o país entraria em uma guerra civil. O norte lutava com o sul e nós estávamos no meio, o que, unido a nossa condição de cidade interiorana, deveria nos deixar longe, mas isso não podia me consolar. Nem isso podia.

            Muitos diziam que, provavelmente, para nós seria apenas uma guerra acontecendo em outro lugar, e eu juro que tentei pensar assim, mas meu coração se apertou ao pensar na possibilidade de ir a guerra e deixar Rose sozinha aqui, eu queria outro filho, então seria assim? Ela engravidaria, Victor continuaria crescendo e eu perderia tudo com dias na guerra?

            Não que eu assumisse que iria morrer, porque eu tinha mais motivos que o suficiente para permanecer vivo, mas só de pensar em me afastar meu peito se comprimia.

            Pela primeira vez eu pensei pelo seu ponto de vista, querida, e eu lamento só ter pensado nisso tão tarde, mas, talvez tenha sido melhor, caso eu houvesse dado ouvidos a você, daqui a alguns anos seria nosso filho nessa situação. Não seria pior?

            Eu tentei me concentrar no fato de que Rosalie pelo menos teria alguém em quem se apoiar, quero dizer, se Victor fosse a guerra nós rezaríamos muito, mas, acima de tudo, eu estaria ao lado de Rosalie para confortá-la até que ele voltasse para casa.

            Agora ela não teria ninguém.

            Olhei para a arma no chão e desejei nunca mais ter de tocá-la, desejei, como poucas vezes em minha vida, e pedi a Deus para ficar afastado. Para que a guerra parasse, para que eu me ferisse e não pudesse ir, qualquer coisa bastaria, qualquer desculpa, desde que eu não fosse.

            Aquela noite, quando eu cheguei em casa, Rose me esperava na sala, com Victor em seus braços e um sorriso terno no rosto, quando os vi, meu coração se encheu de amor, e meu peito voltou a doer. Eu os abracei com tanto amor, que poderia até sufocá-los. Apeguei-me aos dois de tal modo que, minutos mais tarde ainda podia sentir o calor deles contra meu peito. E, como sabendo que eu me encontrava nessa confusão interna, Rosalie não me perguntou nada, e eu não poderia ficar mais agradecido.

            Isso me fez voltar a rezar para que desse certo, para que eu não fosse a guerra.

            Naquela noite nós não fizemos amor, e fui eu quem ninou Victor para colocá-lo no berço, abraçando seu corpinho contra meu peito, sentindo o calor daquele pequeno ser contra meu peito, fazendo meu coração voltar a se encher de amor. Acredito que levei mais tempo que nunca para colocá-lo no berço, mas eu, simplesmente, não queria soltá-lo.

            E quando o fiz, depois de beijar suas bochechas gorduchas, foi para voltar ao meu quarto e encontrar a minha Rosalie deitando na cama a minha espera. Ela se abraçou ao meu corpo, e eu me senti seguro – quando deveria ser eu fazendo-a se sentir segura.

            Mas era exatamente disso que eu precisava.

            Durante a madrugada, eu acordei suando, e sozinho na sacada eu chorei, desesperado pela situação em que havia me metido.

            Então eu rezei, e rezei.

 


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Notas finais do capítulo

n/a: espero que gostem!
e deixem reviews


beijos.
até o próximo.



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